Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

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Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

RESUMO

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GERADO EM: 21/11/2024 - 11:25

Pedido de prisão de Netanyahu gera polêmica internacional

Pedido de prisão de Netanyahu por crimes de guerra em Gaza gera perplexidade. Apoio dos EUA a Israel questionado. Biden pode ser hipócrita ao criticar, após celebrar pedido de prisão de Putin. Conflito entre Israel e Palestina destaca necessidade de solução de dois Estados para paz. Biden criticado por postura anti-Palestina.

O procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI) pediu a prisão por crimes de guerra de Benjamin Netanyahu, premier de Israel, de seu ex-ministro da Defesa e de lideranças do Hamas (algumas já morreram). Os juízes da corte ainda precisam decidir se aprovam o pedido. Portanto o primeiro-ministro israelense deve ser considerado formalmente um acusado de ter cometido atrocidades em Gaza. Entre os itens citados estão — provocar a fome de civis, provocar tratamento cruel, levar adiante assassinatos, atacar civis intencionalmente, extermínio, perseguição e outros crimes contra a humanidade.

Ao longo de mais de um ano de guerra em Gaza, depois do atentado cometido pelo Hamas, Netanyahu teve amparo e apoio formal do governo de Joe Biden para realizar essas ações agora descritas pela justiça internacional como crimes contra a humanidade. Inclusive ontem (quarta-feira), a administração americana vetou uma resolução na ONU que pedia um cessar-fogo no conflito e a libertação de reféns israelenses. Todos os outros 14 países do Conselho de Segurança votaram a favor.

Quando houve o pedido de prisão de Vladimir Putin no mesmo TPI por crimes contra a humanidade na Ucrânia, o governo Biden celebrou. Agora, vamos ver qual será a reação americana ao pedido de prisão de Netanyahu. Provavelmente, será hipócrita e criticará. Faz parte do presidente americano ser um covarde e isso estará no seu legado. Vale lembrar que o premier israelense poderá viajar aos EUA, que não são signatários do Tratado de Roma que criou o Tribunal Penal Internacional. O primeiro-ministro, no entanto, não poderá ir para uma série de países, incluindo Brasil, França, Reino Unido e Alemanha. Se for, poderá ser preso. Basicamente, está na mesma situação que Putin. Por outro lado, poderá ir a Moscou.

Já são mais de 44 mil mortos nas ações israelenses em Gaza, incluindo milhares de crianças. Há registros de mais de 700 bebês mortos nas ações israelenses. Óbvio que Israel possuía o direito de se defender depois do atentado do Hamas. A reação, no entanto, é desproporcional de acordo com a justiça internacional e uma série de países. Alguns, como a África do Sul e o presidente Lula do Brasil, chegam a acusar Israel de genocídio. Dentro dos EUA, nesta quarta, 20 senadores do Partido Democrata pediram o fim do envio de armas ofensivas para Israel.

Os EUA fornecem há décadas mais de US$ 3 bilhões por ano para Israel. Esse valor foi incrementado em US$ 14 bilhões no último ano, depois da Guerra de Gaza. Parte sem dúvida serve para ajudar Israel a se proteger de inimigos como o regime do Irã, que prega a destruição do Estado judaico. Mas um número elevado deste montante foi usado em Gaza, onde a quase totalidade das edificações foram destruídas ou danificadas, incluindo a quase totalidade das escolas e dos hospitais.

Caso Biden tivesse se esforçado, já teria havido um cessar-fogo meses atrás, reféns israelenses teriam voltado para as suas famílias e milhares de vidas palestinas teriam sido salvas. Gaza é um território palestino que recebeu centenas de milhares de refugiados palestinos que saíram ou foram expulsos de suas casas em vilas palestinas que passaram a ser controladas pelo recém-criado Estado de Israel em 1948. Até 1967, estava nas mãos do Egito, quando passou a ser ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias. Os israelenses construíram assentamentos ilegais, que foram desmantelados cerca de 20 anos atrás. A administração foi passada para a Autoridade Palestina, que acabou sendo derrubada pelos terroristas do Hamas em uma miniguerra civil. O grupo passou a controlar o território, embora as fronteiras terrestres tenham ficado controladas por Israel e Egito e o espaço aérea e marítimo pelos israelenses.

A única saída para o conflito é a solução de dois Estados, com uma Palestina independente em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, além de uma solução para a questão dos refugiados. O agora criminoso de guerra Netanyahu é contra uma Palestina independente e membros de seu governo querem a anexação de Gaza, Cisjordânia e até mesmo a expulsão de palestinos. O Hamas tampouco reconhece o direito de Israel existir, embora tenha no passado aceito uma hudna (trégua) por tempo indeterminado nas fronteiras pré-1967.

Donald Trump chegou a propor uma solução de dois Estados, que na prática implicava na rendição dos palestinos. Já Biden jamais apresentou uma solução e pode ser descrito como o mais anti-Palestina presidente dos EUA na história.

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