Dica de ouro para um 2025 mais leve

Pensei em escrever sobre isso quando assistia a uma aula do médico Ricardo Balsimelli em um curso sobre saúde mental ("Mente sem véu", na plataforma Vida Veda de estudo de ayurveda, a medicina milenar indiana). Ricardo é especialista em acupuntura, medicina chinesa, ayurveda e instrutor de mindfulness.

Ele falou do livro "Por que as zebras não têm úlceras", de Robert Sapolsky, professor de Ciências Biológicas e Neurológicas, que apresenta cientificamente uma das mais consistentes teorias para lidar melhor com o estresse, já que ele faz parte da nossa vida.

A zebra fica estressada quando vê o leão surgir na savana. Então, concentra todas as suas energias e capacidades para fugir do predador. Uma vez que consegue escapar, a zebra volta à mesma vida despreocupada de antes. O problema dos seres humanos é conseguir alcançar esse tipo de comportamento mesmo na ausência do leão.

Por que nós, diante de perrengues no trabalho ou da discussão com o parceiro, ficamos estressados e ansiosos por um longo período?

—Temos baixa capacidade de desfusão cognitiva, ou seja, uma dificuldade imensa de nos “soltar” daquilo que nos estressou — explica Ricardo.

A boa notícia é que podemos desenvolver essa habilidade de desapegar dos perrengues e seguir a vida. E uma das ferramentas mais poderosas é a prática de mindfulness, o exercício da atenção plena. Essa técnica de meditação surgiu nos anos 1970, nos Estados Unidos, como parte de um programa de redução de estresse na Universidade de Massachusetts.

Ricardo define mindfulness como um estado de consciência e de atenção ao momento presente, sem julgamentos, análises, críticas ou comparações:

— É uma das formas mais estudadas de meditação, com dezenas de pesquisas comprovando seus benefícios para redução dos transtornos de ansiedade, estresse, dor crônica e depressão.

O exercício de mindfulness é simples, mas exige regularidade. Para praticar, basta sentar-se numa posição confortável, fechar os olhos e buscar esse estado de presença. Geralmente fazemos isso voltando a atenção para a respiração, que funciona como uma âncora meditativa — estratégia para evitar que a mente viaje e os pensamentos nos atropelem.

— É comum a mente divagar. Basta voltar a prestar atenção para a respiração. Isso é um exercício: essa movimentação de a atenção fugir e voltar é um dos pontos mais importantes da prática.

Ricardo explica que temos dois estados de funcionamento da mente: o estado mindfulness (de atenção ao momento presente) e o não mindfulness ou doing (fazendo, em inglês). A mente doing tem a ver com nosso instinto de sobrevivência: ela analisa o que aconteceu no passado para orientar nossas ações no futuro. Ela é a nossa parte que prevê os problemas e busca soluções: o pneu furou, será que vou atrasar no trabalho? Será que ligo para o seguro ou tento trocar?

É normal, diante das questões do dia a dia, termos algum grau de estresse e ansiedade. Balsimelli afirma que nossa mente tende a se concentrar nos processos negativos. É um mecanismo natural de defesa: revisitar as más experiências para tentar evitar que passemos novamente por sofrimento. Mas a mente acaba focando demais nos perigos que podem surgir e isso vira um ciclo.

— Quando a mente entra nesse processo de pensar o tempo todo em possíveis ameaças e experiências negativas, ela se descola do momento presente. E acabamos passando grande parte do tempo presos a situações que não são verdadeiras e sofrendo por antecipação.

O mindfulness ajuda a quebrar esse looping, pois volta a atenção para presente. A ideia é sentir e perceber o que está acontecendo de fato, do jeito que está acontecendo, sem querer controlar o presente e sem excesso de expectativa sobre o que vai acontecer no próximo instante. A atitude é de menos julgamento, menos críticas, menos comparações.

Dessa maneira, vamos treinando a nossa mente desapegar das desventuras e a ver das coisas de um modo mais leve.

— O mindfulness faz esse recondicionamento. Assim como treinamos o corpo com atividade física para melhorar o condicionamento físico, o tônus muscular e a postura, podemos fazer um processo semelhante com a nossa mente.

Tudo bem se preocupar com o futuro, mas ajustando essas preocupações para não serem excessivas nem trazerem sofrimento.

— Que elas nos ajudem a ter uma vida melhor, com um certo planejamento, mas sem um controle excessivo de tudo — conclui o especialista.

• Sente-se em uma posição confortável (descruze as pernas, apoie os pés no chão, relaxe os ombros e os braços, apoie as costas);
• Feche os olhos;
• Perceba o seu corpo: o toque da roupa na pele, a temperatura do ambiente, os pontos de apoio ou contato dos braços, das pernas…
• Sinta a umidade da boca, dos olhos;
• Volte agora a atenção para a sua respiração: perceba o ar que entra e sai das narinas, sem forçar ou conduzir;
• Caso se distraia, tudo bem. Volte gentilmente a atenção para a respiração;
• Permaneça alguns minutos (pode começar com 5) mantendo o foco na respiração;
• Devagar, volte a atenção para seu corpo, procurando perceber da ponta dos pés ao topo da cabeça;
• Com suavidade, vá trazendo os movimentos de volta para o seu corpo, mexendo os dedos dos pés, das mãos. Faça os movimentos que seu corpo pedir, espreguice;
• Perceba a luz que passa através das suas pálpebras. E, quando quiser, abra os olhos.

Faça todos os dias, de preferência no mesmo horário.