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Informações da coluna
Mariana Barbosa
No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.
Rennan Setti
No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.
A aposta da BlaBlaCar na integração carona e ônibus
RESUMO
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GERADO EM: 18/12/2024 - 20:33
"BlaBlaCar expande para ônibus no Brasil enfrentando desafios regulatórios"
A BlaBlaCar expande seu modelo de caronas para incluir passagens de ônibus, enfrentando desafios regulatórios. Com 18 milhões de usuários no Brasil, a empresa busca monetização e crescimento, com 60% dos compradores de passagens sendo ex-caroneiros. O Brasil se destaca como principal mercado em transações, impulsionando a matriz a investir mais no país. Com cobertura de 83% do território nacional, a empresa movimenta milhões em faturamento e planeja crescimento contínuo até 2025.
Startup francesa que popularizou as caronas via aplicativo, a BlaBlaCar se transformou em um marketplace de passagens de ônibus das viações regulares — um modelo que tem sido cada vez mais adotado pelas startups que tentam inovar no transporte rodoviário, mas enfrentam fortes resistências regulatórias e disputas nos tribunais, como Buser e Flixbus.
Hoje apenas 34% das passagens de ônibus são feitas pelas plataformas digitais, com a Clickbus, do grupo JCA (dono das viações 1001 e Cometa), na liderança. Todas essas plataformas estão de olho nos 66% que ainda não se digitalizaram em um mercado que movimenta R$ 20 bilhões ao ano.
Com uma base de 18 milhões de usuários cadastrados nas caronas desde que chegou ao país, há 9 anos, a BlaBlaCar tem conseguido atrair esse usuário para os ônibus, garantindo assim uma forma de monetização. Levantamento da BlaBlaCar revelou que 60% dos clientes que compraram passagens já eram caroneiros.
A regulação nacional não permite que motoristas particulares cobrem por viagens. A plataforma diz conectar caronistas e motoristas interessados em compartilhar custos específicos da viagem (combustível e pedágio), sem visar lucro. Segundo a empresa, a violação dessas regras resulta no bloqueio do membro.
Mas mesmo sem visar lucro, em alguns estados as associações de empresas de ônibus têm obtido vitórias judiciais para proibir as caronas. Foi o que aconteceu no Paraná, em decisão judicial proferida esta semana. A empresa diz que ainda não foi notificada, mas que vai trabalhar para reverter a decisão.
— O Superior Tribunal de Justiça já reafirmou a legalidade das caronas e rejeitou firmemente a comparação entre carona e serviços de transporte comercial de passageiros, ressaltando que o modelo da BlaBlaCar é fundamentado no compartilhamento de custos de viagem e gera importantes benefícios ambientais — diz Tatiana Mattos, diretora da BlaBlaCar no Brasil. Ela afirma que outros tribunais estaduais, como o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), também já reconheceram a legalidade da atividade da BlaBlaCar.
Segundo Tatiana, o consumidor que opta pela carona geralmente está viajando sozinho e recorre ao modal por falta de cobertura de ônibus ou quando tem flexibilidade de horário ou ainda pressa para chegar mais rápido.
— Metade do inventário de carona são de rotas que não são cobertas por ônibus — diz a executiva.
Ela não abre números de viagens de carona e ônibus intermediadas pela plataforma, mas diz que o primeiro deve crescer 33% este ano, enquanto o ônibus, 206%. Esse crescimento no marketplace de passagens fez com que o Brasil se tornasse, desde o ano passado, o principal mercado em número de transações, atrás apenas da própria França.
O Brasil responde por 25% do total de deslocamentos intermediados pela BlaBlaCar nos 21 países em que atua. Mas não é só no Brasil que a empresa tem se diversificado. Na Europa, a empresa opera com vários modelos: em alguns mercados como França e Espanha, além das caronas, ela também é dona de alguns ônibus. Em outros, ela só comercializa bilhetes de ônibus em parceria com empresas regulares. Na Espanha, o marketplace também vende passagem de trem.
Faturamento bruto
Segundo estimativa de mercado, a BlaBlaCar movimenta entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões de faturamento bruto com a venda de passagens de ônibus no Brasil, algo como 3% a 5% das vendas online. A empresa recebe uma comissão pela venda. Mas o potencial de crescimento, diante da perspectiva de digitalização, tem feito a matriz dobrar a aposta no Brasil. A empresa aumentou a verba de marketing para o Brasil em 50% nos últimos dois anos e prevê um incremento de 70% em 2025.
A plataforma da BlaBlaCar cobre 83% do território nacional, com passagens de 210 viações para 30 mil rotas, somando ônibus regular e caronas. Ficam de fora as rotas de empresas do grupo JCA, por exemplo, que privilegia a própria plataforma.
— A Clickbus não é a única plataforma que pertence a um grupo de ônibus. É a realidade do mercado. Mas aos poucos as empresas têm percebido que todos os canais são importantes. Quanto mais exposição ela tiver, mais vai vender — diz Tatiana.
Desde a sua fundação, a BlaBlaCar levantou €637 milhões (R$ 4,1 bilhões). Globalmente, a empresa passou a operar no azul há dois anos.
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