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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.

RESUMO

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GERADO EM: 11/12/2024 - 13:35

Tom Jobim: Do Mar à Montanha

Tom Jobim deixou Ipanema pelo Jardim Botânico, apaixonando-se por árvores e pássaros. O maestro trocou a praia pela montanha, tornando-se crítico do bairro antigo. Com 30 anos de sua morte, é lembrado em peça, álbum e exposição.

Tom Jobim queria porque queria ser fotografado aos pés de uma árvore. E não era qualquer árvore. Tinha que ser a gigantesca sumaúma que ele gostava de admirar durante seus passeios no Jardim Botânico. Naquela terça-feira, 24 de agosto de 1982, o maestro de então 55 anos mostrou fôlego de novinho ao descer a ladeira da Rua Lopes Quintas até o arboreto criado pela corte portuguesa no século XIX. Caminhou meia hora pelas aleias, identificando plantas e pássaros como um especialista até chegar lá. "Não disse que valia a pena?", falou o compositor, olhando para a sumaúma.

Os laços de Tom Jobim "com o verde e o silêncio" datavam de 1979. Foi quando o autor de "Garota de Ipanema" abriu mão do famoso bairro na orla carioca para morar no Jardim Botânico, à margem da Floresta da Tijuca. "Dediquei uma vida à praia. Chega um momento em que a gente precisa deixar a praia para fazer uma porção de outras coisas". Com a mudança, ele se instalou numa casa ampla "na montanha, debaixo do sovaco de Cristo". Ali, o músico encontrou justamente o que vinha procurando: Piano grande na sala, o som de grilos à noite e o sol iluminando as ruas pela manhã.

"Ipanema agora é um lugar úmido, cheio de limo no chão. Os edifícios sufocaram as ruas, e o sol não chega. Ficou só uma recordação, uma fotografia na parede", reclamou Tom Jobim.

Tom Jobim: "Chega um momento em que a gente precisa deixar a praia" — Foto: Cristina Zappa
Tom Jobim: "Chega um momento em que a gente precisa deixar a praia" — Foto: Cristina Zappa

O Tom Jobim da montanha era um "síndico de si mesmo". Avô de netos da mesma geração que o filho de 2 anos, João, diz que chegou à idade de "apagar os rastros" como sábio xamã mexicano Don Juan, dos livros de Carlos Castañeda. Visita e recebe poucos amigos. Policia-se "para não passar o dia com as pernas dobradas debaixo do piano" e se tornou um dos frequentadores mais assíduos do Jardim Botânico. "Vou aprendendo os nomes dessas árvores todas. É o mínimo que se pode fazer quando se ama alguma coisa", disse o maestro, cuja morte completou 30 anos no último dia 8 de dezembro.

O carioca Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim nasceu no bairro da Tijuca, na Zona Norte do Rio, mas ainda era bebê quando a família se mudou para Ipanema. Na época, o bairro na Zona Sul era o lugar de quem queria viver perto da praia, mas não tinha dinheiro para morar em Copacabana. Foi lá que sua mãe fundou o Colégio Brasileiro de Almeida, no prédio que mais tarde abrigaria a Faculdade da Cidade, na Rua Saddock de Sá. Em Ipanema, Tom teve o privilégio de nadar e pescar camarões na Lagoa Rodrigo de Freitas e de dormir sob a sombra de pitangueiras.

Grande parte da inspiração de Jobim na música tem origem em Ipanema. Ele e o poeta Vinicius de Moraes estavam sempre no antigo Bar Veloso, de onde viam à jovem Helô Pinheiro passando em direção à praia. Movidos pela beleza da moça, compuseram "Garota de Ipanema", o maior sucesso de ambos na indústria fonográfica, conhecida e regravada no mundo inteiro. "Até hoje é aquele negócio, se um guarda de trânsito me multa, eu me aproximo, dou bom dia e digo que sou o autor daquela música 'Garota de Ipanema'", disse o compositor na entrevista em 1982.

Tom Jobim e sua irmã Helena na casa do compositor no Jardim Botânico, me 1990 — Foto: Ana Lontra/Instituto Antonio Carlos Jobim
Tom Jobim e sua irmã Helena na casa do compositor no Jardim Botânico, me 1990 — Foto: Ana Lontra/Instituto Antonio Carlos Jobim
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