O passado com um pé no presente.
Informações da coluna
William Helal Filho
Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.
O avião abatido pelo traficante Pablo Escobar com 107 pessoas a bordo
Há 35 anos, aeronave da Avianca explodiu no ar por ordem do chefe do Cartel de Medellín, que queria matar candidato a presidência; Comparsa contou detalhes do crime
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você
GERADO EM: 29/11/2024 - 14:45
Atentado de Pablo Escobar: Detalhes Chocantes Emergem
Há 35 anos, Pablo Escobar mandou explodir avião da Avianca, buscando matar candidato a presidente, mas falhou. Detalhes foram revelados por seu ex-braço direito em 2018. Escobar, chefe do Cartel de Medellín, usava violência para proteger seu império de drogas, sendo um dos homens mais ricos do mundo. O atentado faz parte de uma série de ações brutais durante a guerra contra o tráfico na Colômbia nos anos 80.
O voo 203 da companhia Avianca decolou do Aeroporto Internacional de Bogotá com destino a Cali, na Colômbia, às 7h13 da manhã, levando 107 pessoas a bordo. Seis minutos depois, quando o avião já tinha alcançado a altitude de 13 mil pés, uma bomba supostamente acionada por um passageiro sentado perto da asa direita destruiu o Boeing 727, matando todos a bordo e mais três pessoas que estavam em terra e foram atingidas por pedaços da aeronave, na cidade de Soacha.
- Armamento pesado: O primeiro fuzil AR-15 apreendido com bandidos no Estado do Rio
- Um bicheiro assassinado: A morte de Maninho e a guerra de sangue na família Garcia
O atentado, ocorrido há 35 anos, não chegou a ser totalmente solucionado, mas é certo que o ataque foi encomendado pelo poderoso traficante Pablo Escobar, então chefe do Cartel de Medellín, com o objetivo de matar o então candidato a presidente César Gavíria, que vinha prometendo fechar o cerco em torno da indústria ilegal de cocaína na Colômbia. Só que o político não estava na aeronave. Gavíria tinha desistido de embarcar minutos antes, por sugestão de sua equipe de segurança.
- Histórias Inesquecíveis: Assine a newsletter do Acervo e as demais do Jornal O GLOBO
Condenado por envolvimento com o atentado, o colombiano Dandeny Muñoz Mosquera, um sicário de Escobar, está cumprindo pena em regime fechado até hoje. Mas a dinâmica do atentado permaneceu como um ponto de interrogação até que, em 2018, o ex-braço direito do traficante morto em 1993 deu uma entrevista ao site "The Daily Beast" contando todos os passos de um dos crimes mais terríveis da história da Colômbia, desde o planejamento até sua execução, no dia 27 de novembro de 1989.
Pablo Escobar começou sua trajetória de crimes vendendo cigarros ilegais. Nos anos 1970, começou a trabalhar para traficantes de drogas, até que fundou o Cartel de Medellín, em 1976. Em pouco tempo, o colombiano se tornou principal nome do comércio ilegal de cocaína, enviando dezenas de toneladas de pó para os Estados Unidos todos os anos. Na década de 1980, o bandido chegou a figurar na lista da revista "Forbes" como um dos homens mais ricos do mundo, dono de bilhões de dólares.
- Comando Vermelho: Como um decreto da ditadura deu origem à facção
- A fundação do PCC: Organização foi formada após jogo de futebol na cadeia
O traficante construiu sua trajetória subornando e assassinando autoridades. Como mostra a série "Narcos", da Netflix, com o ator Wagner Moura no papel principal, Escobar trabalhava com uma estratégia que ele chamava de "plata o plomo" (dinheiro ou chumbo, em português). Assim, quando alguma autoridade se apresentava como empecilho para seus negócios, a pessoa podia escolher entre aceitar propina e fazer vista grossa para os crimes dele ou ser morta a mando do traficante.
Nos anos 80, a Colômbia e os Estados Unidos começaram a aumentar a pressão sobre os barões da droga. A Casa Branca enviava milhões de dólares, armamentos, agentes e até helicópteros para ajudar o país latino no combate à indústria da cocaína. Mas os chefes dos cartéis reagiam a qualquer medida nesse sentido com bombas e tiros. Em 1984, o ministro da Justiça, Rodrigo Lara, foi assassinado a mando de Escobar depois que uma operação destruíra laboratórios de refino de cocaína na selva.
A tensão chegou ao ápice em 1989, que é considerado até hoje o ano mais violento da história recente na Colômbia, marcado por explosões de prédios e execuções. Até mesmo o campeonato nacional de futebol foi cancelado depois de 318 jogos devido ao assassinato de um árbitro pelo Cartel de Medellin.
- "Ainda estou aqui": A morte de Rubens Paiva e a luta de uma mulher pela verdade
- Bomba no Riocentro: O que aconteceu com militares envolvidos no atentado em 1981
Enquanto o governo anunciava que começaria a extraditar chefes do tráfico para os Estados Unidos, onde eles estavam sendo processados por lavagem de dinheiro, os criminosos respondiam gerando terror. Em agosto, o senador Luis Carlos Galán, candidato favorito para vencer as eleições presidenciais no ano seguinte, foi morto pelos capangas de Escobar com uma rajada de tiros quando caminhava na direção de um palanque, onde faria um discurso, em Soacha.
Em setembro, a detonação de um carro-bomba deixou mais de 70 feridos e destruiu a sede do jornal "El Espectador", em Bogotá. Mas o pior ataque viria a acontecer no dia 27 de novembro daquele ano.
Por meio de informantes, Escobar sabia que o também candidato à presidência César Gaviria pegaria o voo 203 da Avianca de Bogotá para Cali e deu a ordem para derrubar a aeronave. Na entrevista de 2018 ao site "The Daily Beast" em 2018, o criminoso Jhon Jairo Velásquez Vásquez, mais conhecido como Popeye devido ao passado na Marinha da Colômbia, contou os detalhes de como o cartel fez para embarcar uma bomba na aeronave e explodir o Boeing 727 em pleno voo.
- Scuderie Le Cocq: As duas mortes na origem do grupo de extermínio
- Vigário Geral: Fotos mostram crueldade da chacina que marcou o Rio
Na versão de Vásquez, especialistas em explosivos instalaram a bomba em uma maleta e enviaram um jovem capanga para executar o ataque. Os bandidos enganaram o rapaz, dizendo que na valise havia apenas um gravador que seria acionado quando ele a abrisse, após a decolagem, com o falso objetivo de registrar a conversa de passageiros ao lado. Popeye contou que ele próprio reservou um assento perto da asa direita, para que a detonação atingisse o tanque de combustível naquela asa.
Segundo o assassino, que comandava uma rede de sicários e chegou a ficar 23 anos preso devido a crimes como sequestro, homicídios e terrorismo, um agente do Departamento de Administração da Segurança (DAS) foi subornado para entregar a valise para o capanga ludibriado já dentro do avião. Assim, seis minutos depois de o Boeing 727 alçar voo do Aeroporto Internacional El Dorado, na capital colombiana, a aeronave explodiu no céu, matando um total de 110 pessoas.
Foi um crime de brutalidade inimaginável, mas que não alcançou seu objetivo, já que Gaviria, candidato a presidente jurado de morte, desistira de embarcar no avião para Cali quando estava a caminho do aeroporto. Apenas nove dias depois, em um outro terrível atentado encomendado por Escobar, a sede do DAS em Bogotá foi destruída pela explosão de cerca de 500 quilos de dinamite que estavam dentro de um ônibus em frente ao prédio. Setenta pessoas morreram naquele dia.
César Gaviria seria eleito presidente em maio de 1990 e, um ano depois, Escobar decidiu se entregar para evitar a extradição, após o governo colombiano aceitar suas condições. O bandido ficou preso durante 13 meses em uma mansão luxuosa construída apenas com esse propósito, mas decidiu fugir em julho de 1992. Pouco mais de um ano depois, Escobar foi morto com um tiro na cabeça durante uma emboscada policial, em 2 de dezembro de 1993, um dia depois de completar 44 anos.
Inscreva-se na Newsletter: Histórias Inesquecíveis