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Informações da coluna
William Helal Filho
Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.
O assassinato do bicheiro Maninho e a guerra de sangue na família Garcia
Mortes do contraventor e de seu pai, há 20 anos, abriram disputa entre parentes que segue até hoje, pelo controle dos negócios ilegais; relembre
RESUMO
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GERADO EM: 30/09/2024 - 13:45
Guerra familiar: trama e crimes no Rio
O assassinato do bicheiro Maninho desencadeou uma guerra na família Garcia pelo controle dos negócios ilegais. A disputa sangrenta envolveu herdeiros, incluindo execuções e sequestros, revelando intrigas e violência no submundo do crime no Rio de Janeiro. A perplexidade e burstiness da narrativa revelam uma trama complexa e repleta de reviravoltas, com personagens marcantes e crimes não resolvidos, destacando a intrincada teia de interesses e rivalidades no universo da contravenção carioca.
O bicheiro Waldemir Paes Garcia, mais conhecido como Maninho, tinha acabado de sair da academia Body Planet, na Freguesia, Zona Oeste do Rio. Um dos maiores contraventores da capital fluminense, o criminoso estava em sua motocicleta Kawazaki Ninja, com o filho de 15 anos na garupa, quando, por volta das 20h30 daquela terça-feira, 28 de setembro de 2004, foi alvo de um atentado. Atingido por quatro disparos de fuzil a queima roupa, Maninho morreu enquanto era levado para um hospital.
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Filho caçula do bicheiro, Waldomiro Paes Garcia Júnior, o Mirinho, também foi baleado. O adolescente sobreviveu, mas não chegaria aos 30 anos de idade. O rapaz se tornaria uma das vítimas da guerra de sangue na família Garcia que começou depois do assassinato do pai dele e segue até hoje.
Quando morreu, Maninho era dono de 1500 bancas de bicho e 7 mil máquinas de caça-níqueis no Rio na Tijuca, no Centro e na Zona Sul do Rio. Filho querido do veterano bicheiro Waldomiro Garcia, o Miro, ele ascendera à cúpula da contravenção carioca em 1986, com a morte de Ângelo Maria Longa, o Tio Patinhas. Padrinho de Maninho e sócio de seu pai, Tio Patinhas não tinha filhos e, por isso, o controle de seus negócios foram herdados pelo afilhado de então apenas 24 anos de idade.
O criminoso com ares de galã e fama de mau se tornou um rosto conhecido. Foi chamado de "novo rei do Rio" na capa da revista Domingo, do Jornal do Brasil, em parte graças a sua influência na escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, uma das maiores do Rio, da qual ele era dirigente e patrono.
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Após a morte de Maninho, o velório na quadra da escola atraiu uma romaria de cartolas do carnaval carioca. Entre eles, o então presidente de honra da Beija-Flor, Aniz Abrão David, além de craques do futebol como Edmundo, Renato Gaúcho e Romário. Também na cerimônia, o bicheiro Miro, pai do bandido assassinado, acompanhava tudo alternando-se entre uma máscara de oxigênio e tragadas de cigarro. O veterano da contravenção morreria 34 dias depois, vítima de um enfisema pulmonar.
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Maninho, que também era envolvido com contrabando de armamento pesado, era um cara violento. Na série "Vale o escrito", do Globoplay, o delegado Vinicius George conta que o bicheiro estrangulou até a morte um homem no estacionamento da quadra do Salgueiro, diante de várias testemunhas.
Em 1986, O contraventor estava na cantina La Fiorentina, no Leme, quando cismou que outro homem tinha olhado para a mulher dele. Aquele homem era Carlos Gustavo Santos, o Grelha, um estudante de Engenharia que estava sentado com o ator Tarcísio Filho, o Tarcisinho, filho dos astros Tarcísio Meira e Glória Menezes. Quando Grelha e Tarcisinho deixaram o restaurante, Maninho e seus capangas foram atrás. Eles fecharam o Monza do ator no Túnel Novo, e Grelha foi atingido com um disparo.
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A bala atingiu a coluna vertebral do estudante, que nunca mais voltou a andar. Julgado pelo crime, o bicheiro foi absolvido porque um segurança assumiu a culpa. Grelha processou Maninho, que em 2002 foi condenado a pagar o equivalente a R$ 1 milhão em indenização. Mas morreu sem quitar a dívida.
O patriarca e seu herdeiro foram presos em 1993, juntamente com outros oito chefes do jogo do bicho, entre eles Castor de Andrade e Capitão Guimarães, todos condenados por formação de quadrilha num julgamento que gerou comoção na sociedade, conduzido pela juíza Denise Frossoard. Maninho ficou três anos e meio no Presídio Ary Franco, em Água Santa, na Zona Norte, mas continuou gerenciando seus negócios ilegais até morrer no atentado que deu início a uma guerra na família Garcia.
Uma linha de investigação sobre o assassinato dizia que o bicheiro fora morto porque vinha tentando tomar o controle de pontos de máquinas de caça-níquel na Zona Oeste do Rio. O contraventor Rogério Andrade, herdeiro de Castor, foi considerado o principal suspeito. Mas o crime nunca foi solucionado.
O fato é que depois do atentado, abriu-se uma sangrenta disputa entre os herdeiros de Maninho. Em 2009, o pecuarista Rogério Mesquita, homem de confiança do bicheiro, foi executado em plena luz do dia, a duas quadras da Praia de Ipanema, na Zona Sul. Mesquita era desafeto de Zé Personal, genro do bicheiro, que foi considerado o principal suspeito de sua morte. Pouco mais de dois anos depois, foi a vez do próprio Personal ser morto numa emboscada em um centro espírita na Praça Seca.
Personal era marido de Shanna Garcia, irmã gêmea de Tamara Garcia. De acordo com investigações, as duas, filhas mais velhas de Maninho, romperam relações em meio às divergências em torno da divisão de pontos do jogo do bicho e de máquinas de caça-níqueis deixados pelo pai e o avô.
Em 2017, Mirinho, o irmão mais novo delas, aquele mesmo que havia sobrevivido ao atentado na saída da academia, foi sequestrado e morto. Dois anos depois, a própria Shanna foi baleada em seu carro na Barra da Tijuca, mas sobreviveu. No ano seguinte, o bicheiro Alcebíades Paes Garcia, o Bid, irmão mais velho de Maninho, foi assassinado depois de deixar o desfile do Salgueiro. Ele tinha passado anos fora do Rio, mas voltara naquele carnaval dizendo que queria retomar o que era seu "por direito".
O principal suspeito do crime é Bernardo Bello, outro genro de Maninho, casado com Tamara Garcia. Considerado foragido, Bello tem cinco mandados de prisão contra ele. Mas a maior preocupação dele não é a Justiça, e, sim, a rivalidade com Rogério Andrade, chefe de outra grande rede da contravenção.
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