O historiador Daniel Aarão Reis, professor da UFF, que na década de 1960 integrava o comando da Dissidência Universitária da Guanabara que idealizou o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, foi preso e torturado na ditadura.
Ele elogia o filme “Ainda Estou Aqui” de Walter Salles. "É muito bom" . Mas faz uma ressalva. "Acho que o Waltinho deu um drible no Marcelo Rubens Paiva", diz ele se referindo ao autor do livro do mesmo nome que inspirou o filme.
"Ressalvados os elogios de praxe, minha crítica é a seguinte: o filme concentra-se quase exclusivamente na tragédia familiar e deixa quase na obscuridade a luta da Eunice Paiva, que é o aspecto central do livro. O filme suscita piedade e emoção. As pessoas choram. Isso tudo é muito positivo. Mas penso que seria melhor se o filme suscitasse ânimo de luta, coragem para enfrentar a adversidade".
Para ele, este ânimo de luta seria alcançado "evidenciando a luta da Eunice que, aliás, não foi uma heroína isolada, houve dezenas de mães e avós que batalharam a mesma batalha que ela (isso também poderia ser mostrado pelo filme, num lance rápido, mas aí seria exigir demais, e ninguém é perfeito) ".
Daniel acha que também faltou no filme ressaltar o papel de um punhado de advogados (no caso Lino e Nélio Machado)" que também mostrara, imensa coragem, porque não era qualquer um que estava disposto a trabalhar pro bono pelos chamados terroristas quando ninguém estava interessado neles e todos temiam aproximar-se deles".
"Enfim, para resumir, acho que o filme poderia ensejar emoção, piedade e compaixão, como o fez, mas poderia também, se seguisse o livro (que é muito melhor que o filme), apresentar uma lição de vida, de coragem, de altivez, virtudes que fazem falta e de que precisamos muito, sobretudo nestes sombrios dias atuais e que tiveram na Eunice uma grande representante, mas foram compartilhadas por outras mulheres e pelos nossos melhores advogados."
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