Numa tacada Temer conseguiu:
1) desviar a atenção sobre o fracasso do governo em aprovar Reforma da Previdência.
2) produzir noticiário positivo em relação à agenda da segurança pública (ainda que polêmica).
3) intervir na segurança pública de um Estado governado há anos pelo PMDB sem esvaziar o PMDB do Estado.
Vejamos os desdobramentos do decreto no Congresso e na Justiça.
Sou carioca da gema e moro no Rio desde sempre, por opção. Sou um dos milhões de cidadãos perplexos com a onda de violência e a inoperância/incompetência/omissão das autoridades.
Torço e milito em favor de uma cidade melhor e mais justa, pacificada. Mas não me iludo com medidas que podem até ter algum efeito no curto prazo, mas não resolvem efetivamente o problema.
Não creio que a intervenção promova por si a identificação da banda podre das polícias, ou a elevação dos salários e a melhoria das condições de trabalho dos bons policiais. Também não tenho motivos para acreditar – depois de tantas promessas – que se interrompa por decreto o vergonhoso fluxo de armas e drogas que irriga quadrilhas apadrinhadas por gente graúda. Para completar, o treinamento dos soldados não compreende o exercício da função policial. E entrar nas favelas dominadas por traficantes e/ou milicianos não é algo que os generais gostariam de fazer se fossem instigados a opinar. Não desse jeito. Muito menos no Rio.
Em tempo: quem acompanhou a missão do Exército Brasileiro no Haiti (nossos soldados honraram a farda atuando como “capacetes azuis” da ONU) sabe que há diferenças importantes entre os marginais das favelas haitianas e os traficantes e milicianos fortemente armados (e amparados por políticos e empresários infiltrados nos governos e na sociedade).
Queremos atitude.
Mas queremos inteligência sem oportunismo político.
E uma ampla devassa que não se restrinja às favelas, ou aos mais pobres e negros.
André Trigueiro