O papel de mulher simples que lutava para criar os filhos sozinha fez sucesso e trouxe reconhecimento para a atriz Yara Cortes. A novela era 'Dona Xepa', de 1977, onde ela interpretou a feirante que dava nome a trama. A personagem marcou história na teledramaturgia brasileira, coroou uma carreira que começou no teatro, passou pelo cinema e se consolidou na televisão.
Odete Cipriano Cerpa nasceu em 22 de setembro de 1921, no Rio de Janeiro. De família rica, foi criada em internato após a morte da mãe. Enfermeira voluntária do Exército, serviu na base de Paranamirim, em Natal (RN) durante a Segunda Guerra Mundial. Depois, trabalhou como aeromoça em duas companhias aéreas e como telefonista internacional. Seu último emprego, antes de virar atriz, foi em uma firma de construção.
Nos anos de internato, representava em festas por incentivo dos professores. Iniciou sua carreira artística após ser aprovada em teste para a Companhia de Teatro Dulcina. Foi nesse grupo que passou a usar o nome artístico, Yara Cortes. Estreou em 1948, na peça 'Mulheres', de Claire Boothe, na Companhia Dulcina-Odilon. Esteve no elenco de diversas peças, entre as quais: em 1949, na montagem de 'As Solteironas dos Chapéus Verdes', de Germaine Acremant, dirigida por Dulcina de Morais; em 1959, em 'O Mambembe', de Artur Azevedo, dirigida por Giani Ratto. No cinema, estreou em 1960, no filme 'O Palhaço, o que É?', de Carlos Manga. Ao longo da vida, faria mais quatro filmes.
Seu primeiro trabalho em televisão foi em 1951, participando de teleteatros da TV Tupi, como 'O Grande Teatro Tupi'. Mudou-se para os Estados Unidos em 1965. Em 1969, de volta ao Brasil, participou da novela 'Os Acorrentados', de Janete Clair, dirigida por Daniel Filho na TV Record.
Começou a trabalhar na Globo em 1971, na novela 'Minha Doce Namorada', de Vicente Sesso. Dois anos depois, voltaria a trabalhar numa trama escrita por Janete Clair, a novela 'O Semideus'. Posteriormente, ainda faria outros papéis nas novelas 'O Rebu' (1974), de Bráulio Pedroso, e 'O Grito' (1975), de Jorge Andrade.
Seu primeiro papel de destaque viria em 1976, na novela 'O Casarão', de Lauro César Muniz. O triângulo amoroso formado por Carolina (Sandra Barsotti em sua fase jovem e, posteriormente, Yara Cortes), João Maciel (Gracindo Jr. e Paulo Gracindo) e Atílio (Dennis Carvalho e Mário Lago) representava o principal conflito da trama. Carolina cedia às pressões da família e, embora apaixonada por João Maciel, se casava com Atílio. Em entrevista ao Memória Globo, Aracy Balabanian, que interpretou a filha de Carolina na trama, lembrou que uma cena em que a personagem de Yara Cortes apenas chorava enquanto João Maciel (Paulo Gracindo) declarava seu amor em um monólogo ganhou um artigo do jornalista Artur da Távola, em O Globo. O texto ressaltava o choro de Carolina e definia a cena como “um dos melhores momentos da televisão brasileira em 1976”. Na novela, quarenta anos depois, com a morte de Atílio, Carolina realizava o sonho de viver com a pessoa que realmente amava. O reencontro de Carolina e João Maciel, agora interpretados por Yara Cortes e Paulo Gracindo, foi gravado na Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro, e é considerado uma das mais belas cenas da teledramaturgia brasileira.
Dona Xepa
Em 1977, veio o papel pelo qual seria mais lembrada: o de Dona Xepa, na novela homônima, adaptada por Gilberto Braga a partir da peça de Pedro Bloch. A trama mostrava a feirante Dona Xepa, interpretada por Yara Cortes, que, abandonada pelo marido, criara sozinha os dois filhos, Edson (Reinaldo Gonzaga) e Rosália (Nívea Maria). Apesar dos sacrifícios da mãe, depois que os filhos ascenderam socialmente, passaram a sentir vergonha da feirante. A novela teve a melhor média de audiência entre as exibidas naquele horário até então, foi vendida para dez países e, em janeiro de 1980, recebeu o 'Grande Prêmio Teleguia de Ouro', concedido pela crítica mexicana.
'Dona Xepa': cena em que Rosália (Nívea Maria), com vergonha da mãe (Yara Cortes) em seu casamento, pede que ela não abra a boca, para ira da feirante.
Depois de 'Pecado Rasgado' (1978), estreia do autor Silvio de Abreu na Globo, Yara Cortes voltaria a um papel de destaque em 1979, em 'Marron Glacé', de Cassiano Gabus Mendes. A novela narrava os acontecimentos do bufê Marron Glacé, envolvendo a proprietária, Clotilde (Yara Cortes), a Madame Clô, seus funcionários e suas filhas. Apesar de ser rica, elegante e dona do bufê, Clô não escondia sua origem humilde e era querida por todos. No ano seguinte, a atriz reviveria a personagem em participação especial no primeiro capítulo da novela 'Chega Mais' (1980), de Carlos Eduardo Novaes, na cena do casamento de Tom (Tony Ramos) e Gelly (Sônia Braga).
Yara Cortes ainda faria nove novelas, entre as quais, sucessos como 'Roda de Fogo' (1986), de Lauro César Muniz; 'Mandala' (1987), de Dias Gomes, depois substituído por Marcílio Moraes, com colaboração de Lauro César Muniz; e 'Top Model' (1989), de Walther Negrão e Antonio Calmon. A última novela de que participou foi 'História de Amor', de Manoel Carlos, em 1995. Na trama, interpretou a personagem Olga Moretti.
'História de Amor': cena com a família de Carlos: a avó materna, Olga (Yara Côrtes), seu pai, Mauro (Umberto Magnani), a madrasta, Rafaela (Marly Bueno), e a noiva, Paula (Carolina Ferraz).
Outros trabalhos na Globo
O trabalho de Yara Cortes na Globo, no entanto, não se resumiu às novelas. Fez dois episódios do 'Caso Especia'l, em 1973 e 1975. Em 1980, integrou o elenco do seriado 'O Bem-Amado', de Dias Gomes, baseado na novela homônima de sua autoria, exibida pela Globo em 1973. A série contou com novos personagens que não existiam na novela original, enquanto outros deixaram de existir. Zilka Sallaberry, que interpretava a delegada Donana Medrado na trama original, não pôde retomar seu papel, pois estava no ar no Sítio do 'Picapau Amarelo'; em seu lugar, entrou a delegada Chica Bandeira, interpretada por Yara Cortes.
A atriz também atuou nas minisséries 'Tenda dos Milagres' (1985), de Aguinaldo Silva e Regina Braga, baseada na obra homônima de Jorge Amado, 'O Pagador de Promessas' (1988), adaptação de Dias Gomes da peça de sua autoria, e 'A Madona de Cedro' (1994), de Walther Negrão, baseada no romance de Antonio Callado. Nos anos 1990, participou de três episódios do programa 'Você Decide'.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc minissérie - O Pagador de Promessas (1988)
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Yara Cortes morreu no Rio de Janeiro, em 17 de outubro de 2002, aos 81 anos, de insuficiência respiratória, causada por um câncer no pulmão.