Para o jornalista Woile Guimarães, o conflito é algo inerente ao jornalismo. “O jornalista tem que retratar a realidade. E a realidade às vezes não é a que as pessoas gostariam de ver, nem a que as autoridades gostariam que fosse retratada”, reflete.
Woile Guimarães nasceu em 15 de dezembro de 1938, em Glicério, noroeste de São Paulo. Mudou-se para a capital em 1958. Sempre gostou de ler e de escrever, tendo colaborado inclusive com algumas publicações estudantis, mas resolveu estudar engenharia. Nem chegou a prestar exame: para custear os estudos, precisava de um emprego, e o encontrou no jornalismo.
“Eu comecei a trabalhar em 1959. Naquela época, a profissão de jornalista ainda não era regulamentada. As redações escolhiam os seus profissionais através de concursos”, lembra. E foi assim, através de concurso, que Woile Guimarães conseguiu emprego de revisor no jornal Folha de S. Paulo. Em pouco tempo, tornou-se repórter e, em seguida, secretário de redação. A engenharia ficara para trás.
Em 1964, foi trabalhar na secretaria gráfica do Jornal da Tarde. Transferiu-se, depois, para a Editora Abril, e escreveu nas revistas Quatro Rodas e Cláudia. Foi, ainda, o primeiro secretário gráfico da revista Realidade. Em 1966, assumiu o cargo de secretário de redação e, depois, de editor-chefe da publicação.
Ao sair da Abril, em 1968, trabalhou numa cooperativa de profissionais, responsável pela produção da revista Bondinho, então distribuída gratuitamente numa rede de supermercados. “Era uma revista de serviços sobre São Paulo. Pesquisávamos todos os assuntos, os serviços, os bares, os restaurantes, enfim. E fazíamos a indicação ali. Havia uma interação muito grande com o público do supermercado por causa da seção de cartas, por causa do texto”, lembra. Nesse período, entre outros trabalhos, editou uma revista de fotografia patrocinada por uma rede de lojas de foto e ótica.
Woile Guimarães assumiu a chefia da edição de esporte de O Estado de S. Paulo em 1970. No mesmo ano, porém, voltou para a Editora Abril: a revista Placar acabara de ser lançada, e Woile foi convidado a assumir o cargo de secretário de redação. Na Copa de 1970, viajou para o México, como responsável pela cobertura de Placar e da revista Veja. No ano seguinte, assumiu a secretaria de redação da revista Cláudia. Em seguida, retornaria ao Jornal da Tarde, para assumir a chefia de reportagem.
Em 1975, Woile Guimarães começou a trabalhar na revista TV Guia. Foi nessa época que teve seus primeiros contatos com a Globo. A emissora, que já havia contratado o jornalista Luís Fernando Mercadante, com quem ele trabalhara na redação do Jornal da Tarde, estava investindo no jornalismo de São Paulo. Sua entrada na Globo era questão de tempo. Após uma reunião com Armando Nogueira e Alice-Maria Reiniger, que então ocupavam os cargos de diretor-geral e diretora executiva da Central Globo de Jornalismo, entusiasmados com artigos e matérias que o jornalista escrevera na TV Guia, Woile Guimarães foi chamado para trabalhar na emissora em São Paulo.
Ainda em 1975, Woile começou a trabalhar como chefe de reportagem. “Eu quis realmente aprender tudo de televisão. Então, entrava muito na ilha para editar. Aquilo, para mim, era uma coisa nova, um veículo novo. E passei a editar matérias, passei a sair muito com repórteres”, lembra. Na redação de São Paulo, trabalhava ao lado de jornalistas como Dante Matiussi, Helena de Grammont, além do próprio Mercadante. Esse foi um período de grande transformação no jornalismo e na própria redação de São Paulo.
“Houve um fato que levou a Globo a melhorar o esquema em São Paulo: um grande incêndio no Rio de Janeiro [em 1976]. Armando, Alice, Cid Moreira, Sérgio Chapelin, todos desembarcaram em São Paulo. E as pessoas realmente viram como as coisas eram ruins ali na redação. A empresa foi obrigada a se reestruturar, houve uma grande reforma. Ao mesmo tempo, chegava uma revolução, da qual também tive a honra de participar, que foi a introdução do jornalismo eletrônico”, recorda. Em 1977, veio o convite para assumir o cargo de chefe de redação e editor regional.
A primeira grande cobertura de que participou na Globo foi a da visita ao Brasil do Papa João Paulo, em 1981. “Eu fui responsável pela cobertura, que foi um show de televisão, na medida em que conseguimos dar imagens do Brasil inteiro, desse périplo que o Papa fez”, conta. A agilidade era um dos primeiros frutos da renovação tecnológica: “Ainda trabalhamos com filmes, mas o ENG [Electronic News Gathering] nos deu velocidade, e a possibilidade de fazer uma cobertura ampla, cobrindo na frente, antecipar coisas, por coisas no ar no mesmo dia”.
Webdoc jornalismo - João Paulo II no Brasil (1980)
Em seguida, veio a cobertura da Copa do Mundo de 1982. Woile Guimarães coordenou, junto com Armando Nogueira, a equipe que cobriu a competição na Espanha. Na volta para o Brasil, foi convidado a se transferir para o Rio de Janeiro, onde assumiu a direção dos telejornais de rede da emissora. Ficou diretamente responsável pelo 'Bom Dia Brasil', pelo 'Jornal Hoje', pelo 'Jornal Nacional' e pelo 'Jornal da Globo'. Também acompanhava a elaboração dos principais programas jornalísticos, como o 'Fantástico', o 'Globo Repórter' e o 'Globo Rural', criado em 1980.
Woile Guimarães foi um dos responsáveis pela criação da “caixa de conferências”, reunião diária com todos os editores do 'Jornal Nacional' e os representantes das cinco emissoras associadas da Rede Globo (São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre). Em cada região, havia um aparelho em formato de caixa, com microfone e um alto-falante, através dos quais os jornalistas se comunicavam, fazendo uma avaliação da edição do telejornal que fora ao ar e planejando a do dia seguinte.
Em 1985, assumiu a direção dos telejornais comunitários, e voltou para São Paulo. Nas eleições presidenciais de 1989, deixou a Globo para trabalhar na campanha de Mário Covas. O jornalista voltaria a trabalhar na emissora a tempo de ajudar na cobertura do segundo tuno das eleições em São Paulo.
Woile Guimarães deixou a Globo em 1990. Foi trabalhar com o jornalista Sérgio Motta Mello na TV Um, na qual permaneceu durante um ano. Saiu para fundar, com os jornalistas Luiz Gonzáles, Wianey Pinheiro e Gilnei Rampazzo, a sua própria empresa, a GW Comunicação, uma das maiores produtoras de televisão do país.
FONTE:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Woile Guimarães em 17/09/2001. |