Por Memória Globo

Renato Velasco | Arte/Memória Globo

William Bonner é fascinado pelo telejornalismo. Assumiu a bancada do 'JN' em 1996, depois de ter passado pelo 'Jornal Hoje', 'Jornal da Globo' e 'Fantástico'. Um texto claro e objetivo – aliado a imagens de impacto – é o que acredita ser fundamental para que a informação chegue sem ruídos à casa dos milhões de telespectadores que assistem ao 'JN', de segunda a sábado. “Televisão é sensacional. Quando a gente tem uma imagem retumbante, uma baita imagem ao vivo, vejo que estamos fazendo – no gerúndio – História”. Liderou importantes inovações em mais de duas décadas de bancada e alerta que para fazer um bom telejornal, o essencial é saber trabalhar o espetáculo e a informação. “Um telejornal é programa de televisão e jornal ao mesmo tempo. Ele tem que ser interessante e ter notícia”, comenta.

Depoimento - William Bonner: Inovações no JN (2015)

Depoimento - William Bonner: Inovações no JN (2015)

O tem a obrigação de mostrar aquilo de mais importante que aconteceu no Brasil e no mundo. Quando acontece algo importante, as pessoas ligam no JN: elas sabem que ali vai ter a notícia.

William Bonner nos bastidores da campanha dos 50 anos da Globo — Foto: Alex Carvalho/Globo

Início da carreira

William Bonemer Júnior estudou Publicidade na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e desejava se tornar redator publicitário. A ideia de mudar o sobrenome surgiu quando ele se tornou apresentador do 'SPTV – 3ª Edição', em 1986: percebeu que seria uma pessoa pública e não queria ser confundido com o pai, o pediatra William Bonemer, que tinha um consultório na cidade.

Antes disso, Bonner trabalhou na TV Bandeirantes: em 1985. Um amigo o convidou para um teste, que precisou ser feito em off, já que ele ostentava uma barba fora dos padrões televisivos da época. Logo, Bonner foi promovido para a bancada do 'Jornal de Amanhã', da mesma emissora.

Estreia na Globo

Cinco meses depois, em junho de 1986, Bonner recebeu um convite da Globo para apresentar o 'SPTV – 3ª Edição' e aprendeu a fazer telejornalismo na prática. Na sede da Globo em São Paulo, teve que editar matérias, decupar fitas e conhecer todos os segredos de uma ilha de edição.

Em 1987, passou a apresentar o 'SPTV – 2ª Edição' em horário nobre. Chegou a ser escalado para o 'Globo Rural', em rede nacional, mas pediu para deixar o programa poucos meses depois. Foi convidado ir ao Rio de Janeiro cobrir as férias de Marcos Hummel no 'Jornal Hoje'. “No primeiro 'Jornal Hoje' da minha vida, morreu o Chacrinha. Acabei indo parar na sala do 'Globo Repórter' e ajudei a produzir um programa sobre a morte dele”, relembra.

'Fantástico' e 'Jornal da Globo'

Seu primeiro dia como apresentador do 'Fantástico' foi um pouco mais calmo. Bonner chegou à bancada do show da vida em 1988, quando o programa completava 15 anos e passava por uma grande reformulação. Ao lado de Valéria Monteiro e Sérgio Chapelin, a cada domingo, o jornalista construía uma imagem cada vez mais forte junto ao público. “No mesmo dia em que fui convidado para o programa, quando voltei para o hotel, fiquei sentado na cama e pensei: ‘agora quero fazer o 'Jornal Nacional'”.

Antes de alcançar seu sonho, Bonner seguiu na bancada do 'Fantástico' até dezembro de 1990, acumulando a função com a apresentação do 'Jornal da Globo', onde ficou de 1989 a 1993; e, novamente, do 'Jornal Hoje', onde assumiu os postos de editor-chefe, com o jornalista Carlos Absalão, e de apresentador, ao lado de Cristina Ranzolin.

“O único segredo que guardei na minha vida”

O convite para integrar a bancada do 'JN' chegou em 1996, quando voltava de férias. Por telefone, o diretor da Central Globo de Jornalismo, Evandro Carlos de Andrade, o chamou para apresentar o telejornal e ainda pediu para que mantivesse segredo absoluto sobre o convite. Com humor, Bonner se lembra da conversa: “Eu falei: ‘ok, Evandro, [o segredo] só não vale para a Fátima [Bernardes], não é?’ Mas ele disse que não podia contar nem para a Fátima. Aí fiquei nervoso. Depois, ele me ligou de novo e disse que tinha reavaliado algumas coisas e que eu podia contar para a Fátima”. Bonner realmente só dividiu a notícia com a então esposa Fátima Bernardes – até a mudança na bancada vir à tona, sequer contou para os pais sobre o novo desafio. Segundo ele, foi o único segredo que conseguiu guardar na vida.

A estreia ocorreu em 1° de abril de 1996, ao lado de Lillian Witte Fibe. A dupla foi mantida até 1998 – quando Fátima Bernardes assumiu a cadeira ao lado de Bonner. Em 1999, no mês de aniversário do 'Jornal Nacional', o jornalista assumiu também o posto de editor-chefe.

Jornal Nacional: Estreia de William Bonner e Lillian Witte Fibe (1996)

Jornal Nacional: Estreia de William Bonner e Lillian Witte Fibe (1996)

Coberturas marcantes

Bonner participou de coberturas históricas à frente do 'JN', como a dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. A edição daquela noite e as das noites seguintes valeram ao 'Jornal Nacional' a indicação como finalista do Prêmio Emmy Internacional.

O jornalista conta que um dos momentos mais difíceis de sua carreira foi a cobertura da morte do jornalista Tim Lopes, assassinado em 2 de junho de 2002. O 'Jornal Nacional' foi ao ar com uma edição especial homenageando o colega de trabalho, encerrada com a leitura de um editorial e, em seguida, com os aplausos de todos os colegas, de pé, vestidos de preto, na redação. Nos bastidores, o apresentador não conteve o choro após o fim do programa.

Entre outros destaques de sua carreira estão as ancoragens fora da bancada, como em dois eventos no ano de 1998: o dia da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, quando transmitiu o jornal da frente do Palácio da Alvorada, e durante a Copa do Mundo da França, ocasião na qual um estúdio foi montado em Paris. Bonner também ancorou o 'JN' diretamente de Roma durante a cobertura da morte do Papa João Paulo II (2005); nos ataques de traficantes à cidade de São Paulo (2006); nas enchentes de Santa Catarina (2008); no acidente aéreo da TAM, no aeroporto de Congonhas (2007); na eleição e reeleição do primeiro presidente negro americano, Barack Obama (2008 e 2012, respectivamente); e no incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (2013).

Desde 2002, quando o jornalismo da Globo passou a entrevistar os candidatos às eleições presidenciais nos telejornais, cabe a William Bonner, primeiro ao lado de Fátima Bernardes, e depois junto a Patrícia Poeta e a Renata Vasconcellos, realizar a tarefa no 'Jornal Nacional' para o primeiro e segundo turno (quando existe). Os candidatos – na bancada do 'JN' no Rio e, em caso de reeleição, no Palácio Alvorada em Brasília – são questionados pelos apresentadores sobre questões polêmicas em suas propostas de governo. Bonner também tem assumido a função de mediador dos debates presidenciais, tarefa que ele considera das mais desafiadoras, sobretudo pela necessidade de disciplina e rigor no cumprimento das regras que garantem igualdade de tratamento a todos os participantes do debate.

Em 2011, Fátima Bernardes deixou o 'Jornal Nacional' para comandar seu próprio programa, e Bonner passou a dividir a bancada com a jornalista Patrícia Poeta. Três anos depois, nova parceira de bancada. No dia 3 de novembro de 2014, Renata Vasconcellos assumiu a cadeira ao lado do editor-chefe.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc jornalismo sobre os atentados de 11 de Setembro (2001), com entrevistas exclusivas

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Webdoc jornalismo sobre a ocupação da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão (2010), com entrevistas exclusivas

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Outra cobertura marcante realizada pelo 'Jornal Nacional' foi a ocupação da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão pelas forças de segurança do estado do Rio de Janeiro e a implantação da Unidade de Polícia Pacificadora. A cobertura rendeu ao telejornal o tão esperado prêmio Emmy Internacional na categoria Notícia, que foi recebido por Bonner e por parte da equipe, em cerimônia nos Estados Unidos.

Conquistas e reconhecimentos

Para celebrar os 40 anos do 'Jornal Nacional', Bonner lançou, em agosto de 2009, o livro 'Jornal Nacional – Modo de Fazer', pela Editora Globo. Um texto com informações de bastidores, em que o autor explica como é feito o telejornal mais importante da televisão brasileira. “Tenho um orgulho danado de ser do 'Jornal Nacional' e de trabalhar na Rede Globo. Quero poder continuar aqui durante muito tempo, feliz”, resume. No ano seguinte, Bonner tem uma nova conquista, desta vez um tanto imprevista. Em 2010, ganhou o “Shorty Awards”, considerado o Oscar do Twitter, na categoria jornalismo. Sua atuação bem-humorada na rede social fez de sua conta um enorme sucesso.

Mobilidade e nova linguagem no 'JN'

Movimento. Esse foi o conceito da mudança do formato do 'Jornal Nacional', em 2015. Em abril, o público percebeu a transformação a partir do novo cenário – que permitia a livre movimentação dos apresentadores e das câmeras. Um telão da liberdade aos correspondentes e colaboradores para que pudessem conversar ao vivo – e em tamanho real – com Bonner e Renata Vasconcellos. A mudança trouxe também uma linguagem mais informal ao telejornal e fez parte de um projeto da divisão de Jornalismo e Esporte.

Bonner lembra: “No final de 2013, eu fui convidado pelo Ali Kamel para coordenar um grupo de trabalho cuja missão seria estudar novos formatos e novas linguagens para o telejornalismo da Globo. Por sugestão do Ali, formei grupos. O projetão era: eu coordenaria um grupo de trabalho de formato e linguagem, que trabalharia com outros dois eixos”. Fizeram parte desses grupos de trabalho: Márcia Menezes, diretora do G1, Cristiana Piasentini, diretora de jornalismo da Globo em São Paulo, e Gustavo Poli, diretor do Globoesporte.com. A principal mudança foi o fim das câmeras sobre trilhos e a adoção de uma steadicam.

Temos que partir do princípio que precisamos conquistar a atenção das pessoas. E não se conquista a atenção das pessoas hoje se ficarmos estáticos, precisamos de movimento. O movimento tinha que se dar não apenas com o trânsito de apresentadores pelo cenário. Era preciso que mesmo quando os apresentadores estivessem parados, o cenário tivesse movimento e isso só é possível se a câmera se movimentar.

Também em abril de 2015, durante a comemoração dos 50 anos da Globo, Bonner mediou um encontro inédito com 16 profissionais que se reuniram para lembrar grandes coberturas jornalísticas. A série especial de cinco episódios foi ao ar no último bloco do 'Jornal Nacional'.

Em 2017, o 'Jornal Nacional' passou a ser transmitido em um novo estúdio. “O cenário novo foi um projeto da equipe do Alexandre Arrabal. Tive um papel assim bem ativo na hora de fazer o estudo de utilização de câmeras, sugerindo alguns enquadramentos”, comenta Bonner. O novo cenário foi montado dentro de um espaço que reúne jornalistas de TV e internet – em uma área de 1.370 m², ocupados por 189 postos de trabalho, 18 ilhas de edição, três de pós-produção, duas cabines de locução e salas de reunião. Tudo ao redor do moderno estúdio do 'JN', com câmeras robotizadas e a redação ao fundo, revelando os bastidores da redação.

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Em 2019, o 'JN' comemorou 50 anos com a edição de um livro, organizado pelo Memória Globo, em que William Bonner assinou um dos capítulos. O telejornal também realizou uma série especial, recebendo apresentadores de praças e afiliadas para ocupar a bancada do 'JN' aos sábados.
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William Bonner e Renata Vasconcellos na estreia do novo estúdio do Jornal Nacional, 2017 — Foto: Cicero Rodrigues/Memória Globo

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