Francisco Wianey Pinheiro é o caçula de 18 irmãos. Mudou-se para São Paulo com apenas dois anos. Na capital paulista, conciliou o trabalho com os estudos de jornalismo na PUC-SP.
Antes mesmo do final da faculdade, porém, teve seu primeiro contato com a imprensa. Trabalhou na área de comunicação do Bradesco e ali tornou-se responsável pela transmissão de dados por teletipo, um precursor do telex. Graças a esta habilidade, foi chamado para transmitir as matérias que os repórteres fizeram na inauguração do Morumbi. “Meu primeiro evento não foi como jornalista, mas num trabalho jornalístico para a Gazeta”, explica. Logo ingressou na redação dos jornais Gazeta e Gazeta Esportiva, primeiro com um trabalho próximo ao de contínuo; posteriormente, como repórter.
Como jornalista, trabalhou em uma série de veículos: além da Gazeta, esteve no Diário da Noite, na France Press e no Jornal da Tarde. Em seguida, foi contratado como repórter da Folha de S. Paulo e logo assumiu a posição de chefe do Departamento de Informação e Comunicação das Sucursais. Posteriormente, foi transferido para o Rio de Janeiro, onde passou a dirigir a sucursal carioca da Folha. No período em que esteve no jornal, uma das coberturas mais marcantes da qual participou foi a da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, em um acidente de carro em 1976. “Eu estava indo para casa e ouço no rádio a notícia da morte. Fiz meia-volta, voltei e fiquei exatamente 50 horas dentro da redação [do jornal Folha de S. Paulo], sem sair, preparando a edição de segunda-feira. Tivemos sorte porque nós tínhamos uma entrevista de gaveta com ele. E fizemos um caderno de 16 páginas, um caderno importante, muito bonito.”
Paralelamente, ingressou no movimento sindical – o que, mais tarde, lhe traria problemas para se colocar no mercado de trabalho. Deixou a Folha, teve uma rápida passagem pela agência de publicidade DPZ e, no início dos anos 1980, voltou à imprensa, desta vez na TV Globo em São Paulo.
Na emissora, começou no telejornal 'Bom Dia São Paulo' e logo firmou-se como subeditor. Naquela época, o telejornal ainda era relativamente novo (entrara no ar em 1977), além de pioneiro: foi o primeiro matutino da TV Globo. Também foi no 'Bom Dia São Paulo' que se iniciaram os primeiros experimentos de entrada ao vivo, além de novas fórmulas no estúdio, com convidados tomando café-da-manhã enquanto comentavam os principais fatos do dia. “Eu acredito que o 'Bom Dia' foi uma das viradas no jornalismo da Globo. Ele apresentava uma proposta nova, de um jornalismo não tão camisa de força”, comenta o jornalista comparando com os demais telejornais da época.
Posteriormente, Wianey Pinheiro teve rápidas passagens pelos telejornais 'Hoje', 'Jornal Nacional' e 'Jornal da Globo'. Em 1981, foi chamado por Alice-Maria, então diretora de telejornais da Globo, para ajudar na reformulação do 'Jornal da Globo', na época produzido e apresentado no Rio de Janeiro. A proposta era que além da parte noticiosa houvesse espaço também para conteúdos mais reflexivos, trazendo convidados para comentar, na bancada, os mais variados temas.
Em seguida, Wianey foi convidado pelo então diretor da Central Globo de Jornalismo (CGJ), Armando Nogueira, para substituir Alberico de Sousa Cruz na chefia do Centro de Produção de Notícias (CPN), que assumira outro cargo no jornalismo da Globo. A ideia era tornar o CPN um ponto de convergência de todo o sistema noticioso da CGJ. Coube a ele introduzir inovações: “No período que eu assumo o CPN, imediatamente implanto duas coisas importantes: o JP, Jornal da Pauta, que eles brincavam de chamar de Jornal do Pinheiro. Era onde a gente consolidava, por escrito, todas as notas, o que estava acontecendo na produção jornalística da emissora, em todas as praças. De manhã, circulava por todo o jornalismo. E, quando isso adquiriu mais densidade, se criou a famosa reunião da Caixa de Conferência. Quando terminavam os telejornais, particularmente o Jornal Nacional, reuniam-se todos os editores, inclusive os apresentadores, e nós fazíamos um grande debate com todo o país [representantes das cinco emissoras da Rede Globo: São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre], através de um sistema de conferência, no qual se criticava o jornal que acabou de ir ao ar e também se projetava o jornal do dia seguinte.”
Durante o governo Figueiredo, o último do regime militar, ainda sob censura, acompanhou a cobertura de eventos políticos importantes como o atentado à bomba no Riocentro (1981), as eleições estaduais de 1982, a campanha Diretas Já, em 1984; e a morte de Tancredo Neves (1985). “Para a eleição [de Tancredo Neves] no Congresso Nacional, nós fomos para Brasília porque era um fato extraordinário. Pela primeira vez, tínhamos um âncora ali [Eliakim Araújo], no cenário da Praça dos Três Poderes, para fazer a ancoragem do trabalho. No dia, fomos totalmente censurados, outro jornal foi para o ar. O General Newton Cruz tomou conta da cidade. Um negócio terrível, que lembrava quase os primórdios do regime militar. Foi muito ruim, muito triste para nós e, consequentemente, para o país.”
Wianey Pinheiro fala da época da campanha das Diretas
Em 1986, Wianey Pinheiro assumiu a chefia nacional de redação do Jornalismo da TV Globo, um cargo de supervisão de todos os telejornais da rede. Em seguida, saiu da Globo e teve uma breve passagem pela Rede Bandeirantes, em São Paulo. Retornou à Rede Globo com a função de promover ajustes nos departamentos de jornalismo das afiliadas.
Em 1989, assumiu o cargo de editor regional de São Paulo. E, nesse mesmo ano, se veria envolvido em uma dos episódios mais polêmicos de sua carreira: a edição do debate entre Fernando Collor de Melo e Luiz Inácio Lula da Silva, candidatos que disputavam, no segundo turno, as eleições para presidente – as primeiras do país por voto direto após 29 anos.
Coube a Wianey editar o compacto que foi ao ar no 'Jornal Hoje' que, para alguns jornalistas, não retratava com fidelidade o debate ao selecionar os melhores momentos do Collor e os melhores momentos do Lula. Wianey discorda da avaliação: “Já no meio do debate, eu tinha a clara noção de que o Lula estava perdendo. E ao final, eu concluí que ele tinha perdido o debate. Marquei reunião cedíssimo, começamos com o núcleo do 'Hoje', debati sobre as nossas impressões. Demos o mesmo tempo, exatamente, para os dois. Por quê? Porque o critério é esse, o debate teve duas horas, nós temos que fazer [o compacto com] seis minutos. Durante as duas horas, eles tiveram exatamente o mesmo tempo; durante os seis minutos, elementar, têm que ter o mesmo tempo. Em seis minutos, você também passa o mesmo que nós sentimos em duas horas: que o Lula perdeu o debate.” Para o 'Jornal Nacional', a edição foi refeita e acabou provocando críticas do PT e daqueles que preferiram a edição que foi ao ar no 'Hoje'. O fato provocou tanta polêmica que a partir de 1989 nenhum debate promovido pela Globo é editado; todos são exibidos ao vivo.
Após este episódio, em 1990, Wianey Pinheiro desligou-se da empresa. Dirigiu, então, alguns projetos especiais no departamento de Jornalismo da extinta TV Manchete. Após menos de um ano, saiu da emissora para montar, junto com os colegas de TV Globo, Luiz González e Woile Guimarães, a GW Comunicação, uma produtora de marketing político e comunicação corporativa. Dentre seus principais trabalhos estão as duas campanhas de Mário Covas ao Governo do Estado de São Paulo, em 1994 e 1998; as de Geraldo Alckmin à Prefeitura, em 2000, e ao Governo do Estado, em 2002; e a eleição de José Serra à Prefeitura de São Paulo, em 2004. Após tantos anos de estrada, Wianey conclui: “Ainda acho que o jornalismo, a notícia, a reportagem, é o melhor jeito de a gente buscar a verdade.”
FONTES:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Wianey Pinheiro (21/09/2001); MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional – A notícia faz história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2005; http://www1.folha.uol.com.br/poder/778633-socio-de-marqueteiro-de-serra-atua-para-aliado-de-dilma-no-parana.shtml; http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?id=947670. |