Por Memória Globo, Memória Globo

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Um pouco de sorte e muito de ousadia. Assim o então iniciante Tino Marcos, escalado para cobrir a Copa do Mundo dos EUA, em 1994, definiu o lance que o tornou o único repórter nos gramados da final entre Brasil e Itália. Foi quando a Seleção brasileira se sagrou tetracampeã mundial, depois de um hiato de 24 anos. “A Globo decidiu que deveria ter um repórter em campo, embora a Fifa (Federação Internacional de Futebol) não permitisse. Então, entrei como auxiliar de câmera. No momento da volta olímpica, pensei: ‘Vou me vestir de coragem, vou tentar’”. Tino pulou as placas de publicidade, driblou dois anéis de seguranças e alcançou o gramado do estádio Rose Bowl, em Los Angeles. “Entrevistei os jogadores ao vivo! Fui identificado, dois seguranças me pegaram e me levantaram. Estava no céu!”. As entrevistas com os campeões Mazinho, Taffarel, Romário, Ricardo Rocha e Branco lhe valeram um furo de reportagem e elogios do colega, o narrador Galvão Bueno, que Tino guarda como seu maior troféu. “É o maior patrimônio que tenho nesses anos”.

“O esporte tem o papel de transformar, ensina a cair e levantar. E alegra as pessoas. O drama é intrínseco ao esporte: são sempre duas forças que se opõem, apenas uma delas vai vencer, e você não sabe qual.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Depoimento - Tino Marcos: O técnico Parreira

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Depoimento - Tino Marcos: Olimpíada de Atenas (2004)

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Início da carreira

A carreira consagrada de Tino Marcos Batista Fernandes, o Tino Marcos, como repórter esportivo por mais de três décadas começou na mídia impressa. Depois de concluir o curso de comunicação social, o filho do comerciante de móveis Faustino Ruiz Fernandes e da esteticista e professora aposentada Maria Aparecida Ruiz Fernandes trabalhou em dois jornais cariocas: O Dia e Jornal dos Sports.

Sempre gostei de escrever e achava que o meu caminho seria o jornal.

Mas um estágio na Globo, em 1985, inaugurou a parceria diante das câmeras, algo até então impensável para ele, por conta da timidez. Quanto à especialidade, ele nunca teve dúvidas: “Desde pequeno, sempre fui um consumidor voraz de noticiário esportivo. Frequentador de Maracanã, ouvia rádio e lia jornal. Não se concebe um jornalista esportivo que não sabe quem foi o campeão mundial de 1954”.

Estreia como repórter

Depois de um ano como estagiário, Tino Marcos foi contratado como repórter em maio de 1986, passando a integrar a equipe do jornalismo esportivo da emissora, destacado para acompanhar a Seleção brasileira – com eventuais participações em coberturas nas eleições, no carnaval e em pautas de comportamento. Sua primeira grande cobertura foi a Copa do Mundo na Itália, em 1990.

Tino Marcos foi o jornalista que mais tempo esteve ao lado da seleção verde-amarela ininterruptamente: ele acompanhou mais de 200 jogos. E produziu reportagens para todos os programas jornalísticos da Globo, do Globo Esporte ao Esporte Espetacular, do Bom Dia Brasil ao Jornal da Globo. Mas foi no Jornal Nacional que ele veiculou a maior parte de seu trabalho por mais de três décadas: “Levei apenas sete meses até emplacar a minha primeira matéria no JN. Sempre foi uma participação frequente e continuada”.

A proximidade com a Seleção brasileira e a ética profissional lhe valeram, além de momentos memoráveis, o respeito de técnicos e jogadores. Romário e Ronaldo Fenômeno também foram alguns atletas com quem Tino estreitou relações. O Fenômeno chegou a lhe emprestar as chuteiras com as quais havia feito o gol de bico, garantindo a vitória brasileira na semifinal contra a Turquia, na Copa da Coreia e do Japão, em 2002. “Ele não entendeu o pedido, mas tirou a chuteira e me deu. Fiz a passagem para o Jornal Nacional segurando a chuteira com a qual ele tinha feito o gol da vitória”, lembra.

Ao longo da sua carreira, Tino Marcos acompanhou Olimpíadas, Copas do Mundo, edições da Copa América, Copas das Confederações e inúmeros eventos esportivos, como os Jogos Pan-Americanos. Viu de perto a alegria da conquista do tetracampeonato, em 1994, na Copa do Mundo dos EUA, e do pentacampeonato, na Copa da Coreia e do Japão, em 2002. Também acompanhou a tristeza após a derrota na Copa do Mundo da França, em 1998, e o drama envolvendo o jogador Ronaldo Fenômeno.

Ele também registrou momentos importantes de outras modalidades, como a medalha de ouro para o iatismo com os velejadores brasileiros Torben Grael e Robert Scheidt, nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, e de Atenas, em 2004; e o bronze no judô com os lutadores Carlos Henrique Guimarães e Aurelio Miguel, na Olimpíada de Atlanta, e Flávio Canto e Leandro Guilheiro, em Atenas.

Outra história marcante aconteceu durante a Olimpíada de Atenas, em 2004, quando o corredor brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, que liderava a maratona, foi inesperadamente derrubado por um fanático religioso irlandês. O atleta retomou a prova e ficou com o bronze, sendo aplaudido de pé ao entrar no estádio. Sua obstinação lhe valeu a medalha Pierre de Coubertin, concedida a atletas que valorizam o espírito esportivo. Tino acompanhou tudo de perto: “Vanderlei veio na nossa direção quando terminou, se ajoelhou, chorou. Fizemos uma entrevista exclusiva ali”.

Passagem pelo Globo Esporte e pela SporTV

Em agosto de 2007, assumiu o cargo de editor-chefe e apresentador do Globo Esporte, ao lado de Glenda Kozlowski, com quem já dividira a apresentação do Esporte Espetacular, em 2001. No programa, entrevistou grandes ídolos do esporte, como Maradona, Zico, Kaká e Di Stéfano.

Mas a voz das ruas foi mais forte, e Tino, depois de 15 meses à frente do Globo Esporte, voltou à reportagem, integrando o núcleo da Seleção brasileira, ao lado do jornalista João Ramalho. O pontapé inicial do núcleo, que geraria produtos ligados à seleção, aconteceu com uma série jornalística sobre os 23 jogadores convocados para a Copa da África do Sul, em 2010. Cada perfil de cinco minutos – sobre os craques Neymar, Ganso, Grafite, Gomes, entre outros – foi exibido ao longo de 23 edições do Jornal Nacional. Tino Marcos viajou pelo país e foi para a Europa para colher depoimentos e histórias de vida dos atletas, numa empreitada de fôlego que lhe tomou meses de entrevistas, gravações e edições. “Nosso foco era na origem, nos primeiros passos, nas dificuldades que eles tiveram”, esclarece.

Antes de voltar ao núcleo da seleção, Tino Marcos emplacou um programa fora da TV aberta. Grande contador de histórias, a experiência de edição o ajudou a criar um projeto no SporTV, em 2005. O programa Navegando abordava um de seus esportes favoritos, o iatismo: “(O iatismo) é o esporte olímpico que mais deu medalhas ao Brasil, mas sempre teve um acompanhamento aquém do que representa”.

Séries

Produzir séries de reportagens tornou-se a principal tarefa do veterano jornalista esportivo. Em 2011, estreou no Jornal Nacional a série Campeonato Brasileiro. Em cinco reportagens, Tino mostrava a rotina de treinamentos, a dieta, a preparação dos jogadores nas posições de goleiro, lateral, zagueiro, meio-campo e atacante.

Em 2013, pouco antes da Copa das Confederações, Tino Marcos estreou no Jornal Nacional uma série de reportagens sobre os seis times participantes do torneio. Cada programa, dedicado a uma seleção, buscava desvendar a história de cada time, os craques, a importância do futebol em cada país, e trazia entrevistas com jogadores, treinadores e torcedores.

Em maio de 2014, o repórter voltou a emocionar com uma série sobre os 23 jogadores convocados para a Seleção brasileira. Exibida no Jornal Nacional, as reportagens mostravam a origem dos craques, as dificuldades na infância e a realização do sonho de jogar um Mundial.

Grandes coberturas

Na Copa do Mundo no Brasil, em 2014, Tino Marcos foi o principal repórter da Globo na cobertura. Acompanhou todos os passos da seleção: da estreia vitoriosa contra a Croácia até as duas dramáticas derrotas para a Alemanha e a Holanda.

Tino Marcos lembra momentos da carreira com a Seleção: "É uma honra ver tudo isso". 'Rumo à Copa', 06/05/2014

Tino Marcos lembra momentos da carreira com a Seleção: "É uma honra ver tudo isso". 'Rumo à Copa', 06/05/2014

Tino Marcos na Copa do Mundo do Brasil, 2014. — Foto: João Miguel Júnior/Globo

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Tino Marcos foi um dos 16 jornalistas convidados a participar da série especial do Jornal Nacional sobre os 50 anos da Globo, exibida em abril de 2015. Com mediação de William Bonner, os profissionais dividiram memórias de grandes coberturas jornalísticas. Em março de 2015, o jornalista anunciou que se afastaria do dia a dia da redação por dez meses, em um período sabático. Voltou ao trabalho em fevereiro de 2016, retorno marcado por uma entrevista com o tenista Rafael Nadal, exibida no Esporte Espetacular.
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O repórter participou da cobertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Entre suas principais matérias, estão a vitória da judoca Rafaela Silva, que conquistou medalha de ouro no terceiro dia da competição; o ouro de Martine Grael e Kahena Khunze na vela; e a conquista da medalha de ouro pela seleção olímpica de futebol no Maracanã.

No ano de 2017, Tino Marcos transmitiu ao vivo a apresentação de Neymar no Paris Saint-German e realizou séries especiais para o Globo Esporte. No Rio, mostrou os voluntários que trabalharam nas Olimpíadas e viram de perto as conquistas dos atletas. E viajou até a China para revelar como vivem os torcedores, aspirantes e jogadores de futebol.

Na Copa de 2018, na Rússia, Tino Marcos voltou a repetir a bem sucedida série da Copa anterior com um perfil dos 23 jogadores da Seleção brasileira e do técnico Tite. Ele acompanhou ao vivo a trajetória do Brasil na Copa, desde a estreia, com um empate contra a Suíça, até a eliminação nas quartas de final na derrota para a Bélgica por 2 x 1.

A cobertura da Copa América em 2019 teve um gostinho especial. “Foram exatos 30 anos depois da minha primeira Copa América. Também no Maracanã, também com vitória do Brasil”, lembra o jornalista.

Antes da pandemia de Covid-19 assolar o mundo, Tino Marcos produziu uma série especial sobre as Olimpíadas de Tóquio, ainda inédita, afinal o evento não pôde acontecer em 2020.

Saída da Globo

Em fevereiro de 2021, aos 58 anos, Tino Marcos decidiu encerrar sua trajetória como repórter e deixar a Globo após 35 anos. Ao site GE, o jornalista atribuiu a decisão ao desejo de se dedicar mais à família e a sensação de dever cumprido. Sua última série de reportagens foi exibida em julho daquele ano, no 'Jornal Nacional'. Ao lado do repórter Kiko Menezes, ele mostra a conexão de regiões do Brasil e dos brasileiros com esportes que seriam disputados nas Olimpíadas de Tóquio.

Tino Marcos se orgulha de fazer parte de uma geração que inaugurou um novo tratamento para o jornalismo esportivo: unindo um texto mais analítico e crítico a um estilo mais coloquial. “O esporte sempre teve essa característica de ser um espaço experimental de se fazer televisão”.

E o que, afinal, representa o esporte para Tino Marcos?

O esporte tem o papel de transformar, ensina a cair e levantar. E alegra as pessoas. O drama é intrínseco ao esporte: são sempre duas forças que se opõem, apenas uma delas vai vencer, e você não sabe qual.

Fonte

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