Protagonista de novela já aos 17 anos, intérprete de Xica da Silva, em 1996, na TV Manchete, Taís Araujo iniciou sua carreira de atriz na TV após passagem pelo teatro e uma breve trajetória como modelo. Contratada em seguida pela Globo, em 1997, atuou em dezenas de produções, entre novelas, séries e programas de auditório, sempre em papéis marcantes, como a Preta, de ‘Da Cor do Pecado’ (2004), e a Helena, de ‘Viver a Vida’ (2009).
Início da carreira
Taís Bianca Gama de Araujo é o nome completo da atriz Taís Araujo, que nasceu no dia 25 de novembro de 1978, em Duque de Caxias, cidade da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Na verdade, seu nome de batismo não incluía o Ramos, que foi incorporado ao se casar com o também ator Lázaro Ramos. Ele, por sua vez, adotou o Araujo. Filha da pedagoga Mercedes Reis Gama de Araujo e do economista Ademir Matias de Araujo, morou no bairro de Pilares, mudou-se para o Méier e, a partir dos dez anos de idade, foi para a Barra da Tijuca, onde a família se fixou.
Ainda na escola, fazia teatro como atividade paralela. Antes de iniciar sua trajetória como atriz na TV, Taís trabalhou como modelo, quase por acaso, por sugestão da modelo Monique Evans, que a viu em um salão de beleza e sugeriu que a jovem produzisse um book de fotos. Nessa breve carreira, fotografou para capas de revista, como a edição da Capricho que festejou o fim do apartheid na África do Sul, em 1994. A edição trouxe Taís Araujo e a modelo Carolina Amaral na capa.
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Depoimento – Taís Araujo: infância e início da carreira
TV Manchete
Em paralelo à carreira de modelo, Taís seguiu estudando teatro. E foi em meados dos anos 1990, enquanto atuava em uma peça infantil, que a jovem recebeu a proposta para o seu primeiro papel na TV. Kátia d’Angelo, diretora da peça ‘Procura-se um Amigo’, em que Taís trabalhava, sugeriu que o diretor Régis Cardoso, da TV Manchete, desse um papel à jovem promissora. Taís fez o teste para trabalhar em ‘Tocaia Grande’ (1995), adaptação de Duca Rachid, Mário Teixeira e Marcos Lazarini da obra homônima de Jorge Amado. No final da adolescência, Taís estreava, então, em novelas como Bernarda. “Era muita novidade, eu não sabia absolutamente nada, só tinha feito teatro, nunca tinha feito nada de audiovisual, a não ser comercial. Então, era tudo muito novo, mas também, como eu era muito nova, fui acolhida pelos atores, então era meio mascote de todo mundo”, relembra.
Durante a gravação de ‘Tocaia Grande’ houve uma troca de diretores, Régis Cardoso deixou a direção, assumida por Walter Avancini, que liderou também a novela seguinte da emissora, ‘Xica da Silva’ (1996). Taís não teve dúvidas em consultar o diretor para saber se haveria um papel para ela. Em um primeiro momento, a resposta foi negativa, mas, algum tempo depois, Avancini a convidou para viver a protagonista da novela, Xica da Silva. A trama de Walcyr Carrasco traz a história de uma mulher negra escravizada que é liberta, casa-se com um homem branco e torna-se uma mulher poderosa, dona de escravos. Avancini sempre foi conhecido como um diretor extremamente exigente, mas com bons resultados dramatúrgicos. Com Taís Araujo não foi diferente. Devido aos embates com Avancini, Taís, por mais de uma vez, pensou em abandonar a novela. Persistiu e levou consigo tudo o que aprendeu com o diretor, como destaca: “Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou principalmente disciplina, comprometimento, me ensinou tudo, tudo, tudo”.
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Depoimento – Taís Araujo: 'Xica da Silva'
Na Globo
Mesmo trabalhando muito – ‘Xica da Silva’ teve mais de 200 capítulos –, a atriz conseguiu completar os estudos e se formar em Jornalismo, no Rio de Janeiro. Nessa época, já estava na Globo, convidada pelo diretor Carlos Manga para integrar o elenco de ‘Anjo Mau’ (1997), de Maria Adelaide Amaral. Como Vivian, precisou gravar uma cena difícil, em que sua personagem sofria um estupro. Em seguida, atuou no episódio ‘Jogos Proibidos’, do seriado ‘Mulher’ (1998), de Daniel Filho, Antonio Calmon e Elizabeth Jhin, no papel de uma jovem que engravidava precocemente, e em ‘Meu Bem Querer’ (1998), de Ricardo Linhares, como Edivânia, que sentia vergonha da mãe pobre.
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Depoimento – Taís Araujo: 'Anjo Mau - 2ª versão'
Nos anos 2000, seguiu emendando trabalhos, como a prostituta Selminha Aluada, na novela ‘Porto dos Milagres’ (2001), de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares; Dandara, da minissérie ‘O Quinto dos Infernos’ (2002), de Carlos Lombardi; e a protagonista Preta, em ‘Da Cor do Pecado’ (2004), de João Emanuel Carneiro, trama que abordava o preconceito racial, a primeira da Globo com uma protagonista negra em novela contemporânea e urbana. “Posso te falar de composição. Eu tinha na minha cabeça: ‘Vou fazer uma princesa de verdade, uma princesa maranhense’. Não essa princesa [com] que a gente está acostumado, mas a princesa que vai à luta pelas coisas dela", explica.
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Depoimento – Taís Araujo: 'Da Cor do Pecado'
Dois anos depois, em ‘Cobras e Lagartos’, também de João Emanuel Carneiro, Taís Araujo pôde viver sua primeira anti-heroína, Ellen, em uma novela em que o diretor Wolf Maya estimulava a improvisação. A parceria com o autor continuou em 2008, em ‘A Favorita’, novela em que a atriz esteve no papel de Alicia, personagem autodestrutiva, filha de um vereador corrupto.
Helena
Protagonista de ‘Viver a Vida’ (2009), de Manoel Carlos, Taís Araujo foi a primeira Helena negra. O papel foi conquistado pela própria atriz: “Eu sou uma pessoa que corre atrás das coisas. Eu vi uma notinha no jornal e liguei para o Manoel Carlos: ‘É verdade que a sua próxima Helena vai ser uma mulher negra? Queria fazer teste’. Ele falou: ‘Mas você é muito nova’. ‘Não, eu tenho 30 anos, não tão nova assim, quero fazer teste, me testa?’. Eu tinha ido morar na França, estava lá quando recebi a ligação dele chamando para fazer a personagem. Larguei tudo, vim fazer a novela”. E complementa dizendo a importância que o papel teve para a consolidação da sua carreira e seu amadurecimento pessoal: "Depois de ‘Xica da Silva’, de ‘Da Cor do Pecado’ – não dá para eu mensurar qual é a mais importante –, mas eu acho que ‘Viver a Vida’ foi a novela mais importante que eu já fiz na minha vida, porque ela fez eu ser a atriz e a mulher que eu sou. Quando acabou essa novela, eu falei: ‘Que tipo de atriz eu quero ser?’. E aí tudo mudou na minha vida, tudo mudou: o modo de interpretar, o modo de olhar o mundo, o modo de olhar o Brasil, o modo de ler um texto, tudo mudou. Essa novela me fez parar e olhar de forma madura para a carreira que eu queria ter. Eu devo muito a essa novela, muito!".
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Depoimento – Taís Araujo: 'Viver a Vida'
Pouco depois do nascimento de seu primeiro filho, em 2011, – a atriz é mãe de duas crianças, um menino, nascido em 2011, e uma menina, de 2015 –, Taís Araujo teve a chance de experimentar uma personagem de outro universo, em uma novela das 19h que fez muito sucesso. No papel da doméstica Maria da Penha, em ‘Cheias de Charme’ (2012), de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, a atriz cantou e dançou como uma das integrantes das Empreguetes, grupo musical brega formado com as personagens de Leandra Leal e Isabelle Drummond.
“A relação do empregado doméstico com o patrão brasileiro é complexa, é uma relação esquisita que mistura trabalho com afeto, com abuso, com um monte de coisa. A gente teve a chance de discutir tudo isso em uma novela das sete. A gente discutia de forma leve, com humor. Aí veio a PEC das Domésticas que foi aprovada, e a gente vê como uma novela impacta a sociedade”, destaca a atriz. Em 2013, poucos meses depois do final de ‘Cheias de Charme’, o Brasil aprovou a chamada PEC das Domésticas, um marco histórico na luta pelos direitos das empregadas domésticas no Brasil.
Em 2015, ao lado do marido Lázaro Ramos, Taís Araujo atuou como protagonista de um seriado que tratou de preconceitos, mas com leveza. O casal na vida real repetiu a parceria na ficção em ‘Mister Brau’, no ar de 2015 a 2018, criação de Jorge Furtado, que apresentava um cantor negro de sucesso que sai de Madureira, na Zona Norte do Rio, para um condomínio de luxo, sem abrir mão das raízes. A personagem de Taís, Michele, era esposa, mãe, dançarina, coreógrafa e empresária da dupla. Na primeira cena do seriado, os dois estão tomando banho na piscina de casa, e os vizinhos chamam os seguranças, pensando se tratar de uma invasão, porque havia pessoas pretas em um local pretensamente não apropriado a elas.
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Depoimento – Taís Araujo: 'Mister Brau'
Em ‘Aruanas’ (2019), série de Estela Renner e Marcos Nisti exibida no Globoplay, a atriz lidou com outra questão importante, a proteção do meio ambiente. Na ocasião, interpretou a advogada Verônica, que trabalha ao lado das personagens de Débora Falabella e Leandra Leal em uma ONG que atua na preservação da Amazônia. “A gente ficou na Amazônia 40 dias filmando, foi uma ótima experiência, muito diferente. É muito bom quando a gente começa a fazer novela ou uma série fora, porque a gente cria um núcleo muito forte”, explica.
Trabalho em casa
A novela ‘Amor de Mãe’ (2019) reservou para Taís Araujo outra advogada, Vitória, personagem complexa que revê valores após se tornar mãe, com desafios que ela sequer imaginava quando começou o trabalho. Em função da pandemia de Covid-19, as gravações foram interrompidas em março de 2020, e a trama só voltou ao ar um ano depois . A crise sanitária alterou não apenas a rotina profissional da atriz, mas toda a sua dinâmica pessoal. Em casa, junto com o marido, Taís Araujo passou a assumir as tarefas do dia a dia e o apoio ao estudo dos filhos, o que aumentou a união da família.
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Depoimento – Taís Araujo: 'Amor de Mãe'
Ainda durante a pandemia, o casal se manteve em atividade, trabalhando no seriado ‘Amor e Sorte’, lançado em setembro de 2020 na Globo. Depois de colocar os filhos para dormir, eles iniciavam as gravações, dando conta literalmente de todas as etapas de produção, com apoio virtual. Luz, câmera, som, tudo era feito pelos dois, em casa, sem contato físico com outros profissionais.
Também com Lázaro Ramos, desta vez como diretor, Taís Araujo participou em 2020 do quadro ‘Falas Negras’, exibido pela Globo no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. O programa especial convidou atores para interpretarem falas de personalidades importantes, como Nelson Mandela, James Baldwin, Milton Santos, Virgínia Bicudo, Muhammad Ali, Luiza Bairros e Marielle Franco. À atriz, coube a interpretação de Marielle. Ela passou dias vendo entrevistas da ativista e vereadora, assassinada em 14 de março de 2018, para estudar seus trejeitos e, até, sua respiração.
Já com a rotina normal praticamente retomada – o fim da pandemia só seria decretado em maio de 2023, mas as flexibilizações eram uma realidade em 2022 –, Taís Araujo fez dois papéis em ‘Cara e Coragem’ (2022), novela das 19h escrita por Claudia Souto. Foi Clarice e Anita, sósias que tinham personalidades opostas. Apesar dessas características, buscou construir as personagens tentando encontrar suas possíveis similaridades.
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Para além da atuação, Taís Araujo foi apresentadora nos programas ‘Super Bonita’, no GNT; ‘Globo de Ouro’, na edição do Viva; e ‘Pop Star’, na Globo, além de ser jurada em ‘The Masked Singer’, exibido no Multishow e na Globo. “Eu adoro fazer o trabalho de apresentadora, acho divertido, é um lugar que eu exploro pouco, queria explorar mais. Então é meio aprender fazendo, meio camicase”, reflete.
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Cinema e teatro
Entre os trabalhos realizados em cinema, Taís Araujo foi protagonista no filme ‘Medida Provisória’ (2022), dirigido por Lázaro Ramos, no papel da médica Capitu. Recebido com elogios no Brasil e em festivais internacionais, ‘Medida Provisória’ se passa em um futuro distópico e fala de maneira contemporânea sobre racismo, partindo de uma falsa medida de reparação que, na verdade, era uma maneira de expulsar pessoas negras do país. Entre os filmes de que participou estão também ‘Garrincha - Estrela Solitária’ (2003), de Milton Alencar, em que interpretou Elza Soares, e ‘A Guerra dos Rocha’ (2008), de Jorge Fernando, como Carol.
Com Lázaro Ramos, a atriz fez ainda uma longa temporada da peça ‘O Topo da Montanha’, da dramaturga norte-americana Katori Hall, também de temática racial. Lançada em 2015, em São Paulo, os dois viajaram pelo país em uma montagem que mostrava o que supostamente teria acontecido na última noite de vida do reverendo e ativista Martin Luther King. O texto cria um encontro fictício entre ele e uma camareira do hotel, no qual os assuntos principais são os direitos civis, o racismo e a política.
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Depoimento - Taís Araújo: Consciência Negra
No universo da dramaturgia, tanto nos palcos e em frente às câmeras quanto em relação às equipes de produção, Taís Araujo percebe uma evolução no tratamento da questão racial, em comparação ao início de sua carreira, mas acredita que há um caminho ainda a percorrer. “Acho que faltam, para o futuro, criadores, a nossa história ser contada por nós. Autores negros à frente das histórias, diretores negros à frente. Todo mundo ali contando a sua história”, avalia.
FONTE
Depoimento de Taís Araujo ao Memória Globo em 03/07/2024; 'Tais Araújo dá o que falar ao atualizar capa da década de 90 da Capricho'. In: https://vejasp.abril.com.br/coluna/pop/tais-araujo-antes-depois-capricho/, acessado em: 08/2024. |