Por Memória Globo, Memória Globo

Bob Paulino/Memória Globo

Foi assistindo ao filme 'Todos os Homens do Presidente', sobre o Escândalo Watergate, que Roberto Kovalick desejou, pela primeira vez, ser correspondente. Repórter da Globo desde 1990, passou por Nova York, Tóquio, Londres e contabiliza inúmeras viagens e coberturas pelo mundo: “Foi o melhor período na minha carreira de jornalista. Eu fiquei dez anos no exterior. Como experiência de vida, é algo impressionante", revela.

O que eu vivi e o que eu vi como correspondente nenhum dinheiro compra. Você ir ao lugar, conversar com as pessoas, levantar informações da vida delas, estar no lugar e na hora certa. Nada faz a gente crescer tanto como jornalista e como ser humano do que isso.

Início da carreira

Roberto Kovalick Amado nasceu em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, no dia 24 de março de 1965. Formou-se em Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1986 e, no mesmo ano, começou a estagiar na Rádio Gaúcha, em Porto Alegre. Logo em seguida, foi trabalhar na RBS TV, afiliada da Globo, onde ficou três anos. “Foi uma geração muito boa, do Marcelo Canellas, da Sônia Bridi, do Marcos Losekann. A gente denunciou um esquema no Detran de venda de carteiras de motorista que foi parar no 'Jornal Nacional'. Ganhamos prêmios por essa reportagem”, lembra.

Foi para a Globo em 1990, como repórter da editoria Rio do 'Jornal Nacional'. “Vi os meus ídolos trabalhando ao meu lado. Eu ficava fascinado de conviver com o Sérgio Chapelin”, confessa. Nessa época, também fez reportagens para o 'Jornal Hoje', o 'Globo Cidade', o 'Globo Comunidade' e o 'RJ', além de ter apresentado o 'Bom Dia Rio', ao lado de Cláudia Cruz. Dois anos depois de sua entrada na Globo, participou de coberturas marcantes: a da Rio-92, a da Chacina da Candelária e a do sequestro do menino Pedro Tiago de Orleans e Bragança, da Família Real: “Fiquei umas duas semanas fazendo plantão em Petrópolis. Foi uma época que teve muito sequestro no Brasil”.

No ano seguinte, Kovalick fez parte do time de jornalistas da Globo convocados para a missão de explicar para a população as novidades do Plano Real, que seria implementado em fevereiro de 1994, pois a transição entre as moedas (Cruzeiro e Real) era de difícil compreensão. Kovalick e outros repórteres acompanharam as reuniões da equipe econômica do governo e davam informações sobre as medidas que estavam sendo tomadas.

Em junho de 2000, atuou na cobertura do sequestro do ônibus 174. Enquanto esteve no Rio, especializou-se em reportagens policiais, nas quais várias vezes trabalhou ao lado do repórter Tim Lopes, assassinado por traficantes em 2002. “Antes de isso acontecer, a gente se sentia como o Super-Homem, achava que nada jamais iria acontecer conosco. Foi uma pessoa com quem trabalhei muito, era meu amigo pessoal, frequentava a casa dele. A gente achava que era polícia e ladrão, e o assassinato do Tim Lopes nos mostrou que era uma guerra. Passamos a nos comportar como se estivéssemos cobrindo uma guerra”, ressalta.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Entrevista exclusiva do jornalista Roberto Kovalick sobre o sequestro do ônibus 174, em 2000.

Entrevista exclusiva do jornalista Roberto Kovalick sobre o sequestro do ônibus 174, em 2000.

Foi a Brasília para noticiar a crise no Senado, que culminou com as renúncias dos senadores Antônio Carlos Magalhães (ACM) e José Roberto Arruda, em maio de 2001. Ainda na capital federal, participou da cobertura das eleições de 2002 e apresentou o 'Espaço Aberto', da GloboNews. “Fui para Brasília porque queriam um repórter com perfil mais investigativo. O meu trabalho era acompanhar as investigações do Ministério Público e da Polícia Federal. Fique cinco anos lá e fiz muitas reportagens sobre corrupção”, explica.

Correspondente internacional

De 2005 a 2008, foi correspondente em Nova York: “Eu sempre quis ser correspondente, sempre foi uma ambição pessoal e profissional”. Sua primeira tarefa na nova função foi fazer uma reportagem para o 'Fantástico' sobre Michael Jackson. Em 2006, foi para o Haiti cobrir a morte do general brasileiro Urano Bacellar, comandante da Força de Paz da ONU, e as eleições locais. “É engraçado, os haitianos tinham uma revolta muito grande contra a Força de Paz, mas não contra o Brasil. Só que os brasileiros eram 70% da Força de Paz. A gente acompanhou as eleições até o fim. Nossa última reportagem, foi a festa na rua, as pessoas com camisas da Seleção brasileira em cima dos tanques de guerra do Brasil”, conta. Como correspondente, Kovalick noticiou a morte de Slobodan Milosevic, “o carniceiro dos Balcãs”, que morreu em março de 2006 no centro de detenção do Tribunal de Haia, na Holanda. Ainda nos Estados Unidos, cobriu a destruição de Nova Orleans pelo furacão Katrina, a eleição do presidente Barack Obama e a crise econômica.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a cobertura da Eleição de Barack Obama em 2008, com entrevistas exclusivas.

Webdoc sobre a cobertura da Eleição de Barack Obama em 2008, com entrevistas exclusivas.

O trabalho do correspondente é traduzir para o telespectador brasileiro como funcionam as coisas no exterior, como elas vão afetá-lo.

Chegou a Tóquio em 2009 para se tornar o primeiro correspondente da emissora no Japão. No começo, precisou treinar profissionais locais para o modo brasileiro de fazer televisão, enquanto se adaptava aos hábitos japoneses. “Não existe país mais diferente do Brasil. Tudo funciona ao contrário. No Brasil, se a Bolsa de Valores está subindo, é verde, se está caindo, vermelho. No Japão é o contrário. Mas, em muitos aspectos, é mais fácil trabalhar no Japão do que nos Estados Unidos, porque os japoneses conhecem e admiram o Brasil, têm muita curiosidade em relação ao nosso país”, reflete.

Terremoto no Japão

Em março de 2011, Kovalick encarou o seu maior desafio profissional até então: mandar informações para o Brasil sobre o terremoto e o tsunami que atingiram o Japão. Quando começou o desastre natural, Kovalick estava em Quioto fazendo uma reportagem sobre um novo robô – ele se especializou por lá em matérias sobre tecnologia. Enviou as primeiras notícias sobre a tragédia ainda na estação ferroviária daquela cidade, a caminho de Tóquio, fazendo entradas ao vivo ao longo da programação desde a manhã. “A gente não sabia o que tinha acontecido em Tóquio. Chegamos lá, e a cidade estava deserta”, conta. Tudo isso em meio a um drama pessoal: ele e sua equipe demoraram a ter notícias de seus familiares residentes no Japão.

Quando estava a caminho da região atingida pelo tsunami, houve o acidente com a usina nuclear de Fukushima. Tomou um caminho mais longo e difícil e, graças a isso, foi o primeiro repórter a chegar a Sendai, a cidade mais atingida, depois de uma viagem de mais de 20 horas. “O tsunami foi na sexta. No sábado, a gente já estava em Sendai. Conseguimos botar matéria direto de lá no 'Jornal Nacional'”, lembra.

Webdoc sobre a cobertura do Acidente de Fukushima em 2011, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a cobertura do Acidente de Fukushima em 2011, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Um olhar estrangeiro

Kovalick falou ao espectador sobre sua experiência no país na série 'Correspondente, um Olhar Estrangeiro', no 'Jornal Hoje': “Uma das dificuldades de viver lá é que a gente não consegue ler. Hoje, eu já consigo ler os números, mas os caracteres, não. Em muito restaurante que eu ia, sabia quanto ia pagar, mas não o que ia comer”.

Em julho de 2013, Roberto Kovalick assumiu o posto de correspondente em Londres. Em 2014, cobriu a crise política na Ucrânia, que deflagrou a independência da Crimeia e sua anexação à Rússia. O correspondente noticiou no 'JN' do dia 20 de fevereiro que a União Europeia havia imposto sanções ao governo da Ucrânia após mais de setenta pessoas terem sido mortas em confrontos na Praça da Independência. As imagens que se seguiram à matéria eram de guerra: policiais disparando com rifles automáticos contra opositores.

Em janeiro de 2015, Kovalick integrou a equipe que cobriu os atentados terroristas na França, com ataques ao semanário Charlie Hebdo e a um supermercado judaico. Dezessete pessoas morreram nas duas ações. “Estava uma loucura em Paris. Foi uma cobertura muito tensa porque não se sabia de onde poderia surgir um novo ataque. Os terroristas estavam armados pelas ruas”, explica.

Roberto Kovalick com o cinegrafista Paulo Pimentel, cobrindo o ataque terrorista ao jornal Charlie Hebdo em Paris, 2015 — Foto: Acervo pessoal Roberto Kovalick

De volta ao Brasil

Em janeiro de 2016, o jornalista retornou de Londres ao Brasil para ser repórter especial em São Paulo. Entre suas reportagens iniciais, destacaram-se uma série especial sobre as eleições de 2016 para o 'Jornal Nacional' e a cobertura da Operação Lava Jato.

O bloqueio de batalhões feito por familiares de policiais militares, impendido a saída da corporação, fez com que o Espírito Santo chegasse a uma gravíssima crise de Segurança Pública em fevereiro de 2017. Tudo começou no dia 03. Foram mais de 200 mortes em 22 dias. No dia 11 de fevereiro, para o ‘JN’, Kovalick acompanhou o patrulhamento em Vitória, de colete e capacete, e fez um sobrevoo, em um dos helicópteros do Exército. Entrou ao vivo no ‘JN’ em seguida. A crise no sistema prisional brasileiro já tinha feito vítimas em outros estados nos primeiros dias do ano.

Força Federal reforça ruas de Vitória com 3 mil policiais. 'Jornal Nacional, 11/02/2017

Força Federal reforça ruas de Vitória com 3 mil policiais. 'Jornal Nacional, 11/02/2017

Em abril de 2017, Kovalick e Thiago Capelle produziram uma série especial para o 'Jornal Hoje', a ‘Super Safra Agrícola’. No ar de 04 a 06 de abril, o trabalho mostrou o crescimento da lavoura nos últimos anos, os desafios para escoar a produção e o impacto na mesa dos brasileiros. Em agosto do ano seguinte, Kovalick fez uma série para o 'Hora 1' sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU. Assinado por vários países, incluindo o Brasil, o documento firmou 17 metas que visam a garantir mais igualdade social e de gênero, preservação da natureza, economia justa, entre outros temas. Também em agosto, foi lançado o livro ‘Correspondentes’, publicação do Memória Globo, em parceria com a Globo Livros. A obra reúne memórias de vinte jornalistas que compartilham com o leitor narrativas sobre bastidores da notícia. E por falar em livro, em 2021, Kovalick lançou ‘Seja Inesquecível: Acabe com o medo, domine a linguagem corporal e verbal e use a neurociência para expressar ideias e encantar qualquer público’, em parceria com outros três autores, Leny Kyrillos, Robson Gonçalves e Cíntia Borsato.

Meses antes de assumir o 'Hora 1', Kovalick trabalhou intensamente na cobertura do rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, que ocorreu no dia 25 de janeiro de 2019. Kovalick esteve na cobertura in loco, desde o dia 27. Atualizou as informações sobre o trabalho de buscas às vítimas e seguiu acompanhando o caso ao longo dos dias seguintes para vários telejornais. "A gente foi fazendo o que a gente chama de plano-sequência, quando você começa a falar, a câmera deriva para a imagem, você continua narrando, se errar não faz mal, se gaguejar não faz mal, você vai narrando o que a câmera está mostrando. E a gente fez toda nossa cobertura praticamente com isso: eu ia narrando, eu praticamente não tinha texto. Depois o editor ia só emendando as coisas. A gente viu os bombeiros entrando [na lama] até a cintura, e eu narrando as coisas, narrando aquela tragédia. Alguns fatos explodem na minha memória, como aqueles helicópteros chegando com corpos e pedaços de corpos pendurados em redes, em cestas. (...) À noite eu só sonhava com helicópteros carregando corpos. Foi uma noite terrível, terrível, mas a gente estava lá para mostrar tudo", relembra.

As notícias da madrugada

Roberto Kovalick na estreia do cenário novo do Hora Um, em 2021. — Foto: Globo/Mauricio Fidalgo

Ainda em 2019, Kovalick apresentou o bloco de São Paulo do 'Bom Dia Brasil' por duas semanas de fevereiro e, dois meses depois, começou a apresentar o 'Jornal Hoje' aos sábados, em escala de rodízio. Em setembro, um grande desafio: Kovalick foi convidado para apresentar o 'Hora 1', primeiro telejornal da grade da emissora, que vai ao ar entre 4h e 6h, de segunda a sexta, direto de São Paulo. "Era um grande sonho meu apresentar um telejornal, ser o apresentador fixo. Eu tinha absoluta certeza que eu poderia contribuir com a TV Globo trazendo minha experiência, as coisas que eu vi, as coisas que eu aprendi, para uma bancada e fazer um telejornal", destaca Kovalick.

Tenha um dia iluminado.
— Kovalick fecha, assim, as edições do 'H1'.

Para estar ao vivo das 4h às 6h da manhã, Kovalick passou a seguir uma rotina elaborada com a ajuda de médicos e nutricionistas. Ele acorda às 23h e toma café às 23h30. Chega à emissora à meia-noite para entrar ao vivo, às 4h. Sai da Globo por volta das 7h e, às 8h, almoça. Já o jantar é ao meio-dia. Logo depois, passa a usar óculos escuros para simular o entardecer e ir dormir às 15h. "Nosso cérebro reconhece que, quando está escuro, é hora de dormir, quando está claro, é hora de acordar. E todo nosso corpo reage a isso. (...) É diferente do Japão. No Japão, eu estava 12 horas na frente, porém, eu estava respeitando esse ciclo. Eu ia dormir quando estava escuro, e estava acordado quando estava claro", explicou.

Em abril de 2021, Kovalick passou a acumular o cargo de apresentador com o de editor-chefe do telejornal, substituindo Sérgio Coelho. Na bancada do 'Hora 1', o âncora enfrentou os desafios da pandemia da Covid-19, viu duas importantes mudanças de cenário do jornalístico -- passou a ser apresentado da redação em 2021, dividindo o estúdio com o 'JH' e o 'JG', e ganhou um espaço ainda mais tecnológico em 2024 -- e testemunhou uma das tragédias climáticas mais impactantes no litoral Norte de São Paulo, em fevereiro de 2023. Na ocasião, ele viajava com a família em sua folga de carnaval quando viveu as consequências de uma forte chuva que caiu na madrugada do dia 19. Kovalick trouxe as informações de Juquehy, em São Sebastião, para vários telejornais e programas da Globo, tendo ele também sido vítima das enchentes, que inundaram o primeiro andar da casa em que estava hospedado. Tornou-se um verdadeiro correspondente da tragédia. De acordo com a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros, pelo menos 65 pessoas morreram por conta das chuvas.

Roberto Kovalick conta como forte chuva atingiu casa onde estava com a família no litoral de São Paulo. 'Encontro', 20/02/2023

Roberto Kovalick conta como forte chuva atingiu casa onde estava com a família no litoral de São Paulo. 'Encontro', 20/02/2023

Correndo com o Hora 1

No dia 28 de dezembro de 2022, Kovalick disse, em tom de brincadeira, que correria a São Silvestre de 2023. Seria a sua principal meta para o ano novo que estava prestes a começar. Terminado o telejornal, Alessandro Jodar, apresentador de esportes do 'Hora 1', e a produtora Erica Hideshima, também do Esporte, sugeriram que a brincadeira se tornasse um projeto real. E assim foi criado o 'Correndo com o Hora 1', quadro que acompanhou a rotina de preparação do jornalista para cumprir a sua meta. Depois de correr 15km na São Silvestre, Kovalick se fez um novo desafio, correr uma meia-maratona, proposta que estendeu o 'Correndo com o Hora 1' por todo o ano de 2024.

'Correndo com Hora 1': Kovalick participa da Corrida de São Silvestre. 'Hora 1', 02/01/2024

'Correndo com Hora 1': Kovalick participa da Corrida de São Silvestre. 'Hora 1', 02/01/2024

Ao longo de seus anos à frente do 'Hora 1', Kovalick foi criando seu próprio jeito de apresentar o telejornal. Preza sempre pela qualidade da informação, mas com o cuidado de transmiti-la de forma leve e alto-astral, sempre que possível. E foi assim que criou seu bordão, que fecha as edições: "Tenha um dia iluminado".

Fontes

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