Por Memória Globo

Renato Velasco/Globo

Ricardo Linhares Godinho é filho do militar Coaraciara Brício Godinho e da dona de casa Eliana Linhares Godinho e passou parte de sua adolescência em Brasília, devido à transferência de seu pai para a capital. Quando voltou para o Rio de Janeiro, prestou vestibular para jornalismo, que cursou na faculdade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entrou na Globo em 1983 e, no ano seguinte, já atuou como colaborador na minissérie 'A Máfia do Brasil'. Na Globo, Ricardo Linhares contribuiu para programas humorísticos, novelas e minisséries de sucesso, como 'Anos Rebeldes', 'Celebridade' e 'Viva o Gordo'.

Ricardo Linhares sempre pensou em ser escritor, mas achava que não conseguiria viver do ofício. Continuou escrevendo seus próprios textos – inclusive peças de teatro – durante a faculdade e participou de concursos literários, chegando a ganhar alguns prêmios. No jornalismo, porém, só atuou como estagiário. Antes de completar 20 anos, começou a trabalhar na TV Educativa, escrevendo o telecurso Qualificação Profissional. Em 1983, Ricardo Linhares participou de um curso ministrado pelo roteirista Doc Comparato na Casa de Artes de Laranjeiras. Logo depois, foi convidado a integrar a equipe de roteiristas do programa 'Caso Verdade', seu primeiro trabalho na Globo. Baseado em histórias enviadas por cartas pelos telespectadores, Ricardo Linhares escreveu os roteiros dos seguintes episódios: 'Vencer a Vida' (1983); 'Amar a Vida' (1983); 'Começando a Vida' (1984); e 'O Amor Acontece na Vida' (1986).

Ricardo Linhares - memoriaglobo/RicardoLinhares_36.jpg — Foto: Memória Globo

O público quer ver a realidade retratada na ficção. Ele é conservador, mas não quer viver num mundo de conto de fadas. Quer que a novela espelhe a realidade em que vive. E o público está cada vez mais preparado para, através da novela, ter contato com realidades diferentes daquela do seu dia a dia".
— Ricardo Linhares

Naquele mesmo ano, Ricardo Linhares participou de uma oficina para redatores de humor realizada pela Globo. A partir dessa oficina, comandada por Paulo José, o autor começaria a escrever para o humorístico 'Viva o Gordo' (1986), estrelado por Jô Soares, um dos grandes sucessos da Globo nos anos de 1980. Na mesma época, Ricardo Linhares também escreveu para o Teletema, programa de mesmo formato que o 'Caso Verdade', porém com histórias ficcionais, que o substituiu na grade de programação. O autor assinou as tramas de 'O Sequestro' de Lauro Corona (1986), 'Esse Tal de Rock’n Roll' (1986) e 'O Mistério das Esmeraldas' (1986).

Em 1984, Ricardo Linhares assinou seu primeiro trabalho como colaborador, na minissérie 'A Máfia no Brasil', de Leopoldo Serran. A obra era uma adaptação do livro homônimo de Edson Magalhães, e o roteiro final coube a Paulo Afonso Grisolli e Roberto Farias. No ano seguinte, Ricardo Linhares voltou a colaborar em uma minissérie, desta vez com Doc Comparato: 'O Tempo e o Vento' (1985). Baseada em 'O Continente', primeira parte da trilogia escrita por Erico Veríssimo, a minissérie teve sua trilha sonora criada especialmente por Tom Jobim. A primeira experiência de Ricardo Linhares em novela veio ainda durante a década de 1980, depois de um curso para novos autores promovido pela Casa de Criação Janete Clair, da Globo. Aguinaldo Silva o convidou para ser seu colaborador em 'O Outro' (1987). A novela contava a história dos personagens Paulo Della Santa e Denizard de Mattos, ambos interpretados por Francisco Cuoco, e apresentou Malu Mader no papel de Glorinha da Abolição.

Saber que as pessoas estão gostando da novela e estão interessadas no destino dos personagens é mais gratificante. Nesse momento, o personagem passa a ser amigo do espectador. Da mesma maneira que você se interessa pelos seus amigos, o público se interessa pelos personagens da novela. Isso também acontece comigo, porque eu gosto de ver novela, minissérie, seriado.”

Em 1993, Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares criaram um novo endereço para personagens fantásticos: a cidade Tubiacanga. Os autores buscaram inspiração na obra do mestre Lima Barreto para criar Fera Ferida, povoada por tipos e influências de romances como 'Triste Fim de Policarpo Quaresma' e contos como 'Nova Califórnia'.

No ano seguinte, Ricardo Linhares trabalhou ao lado de Walther Negrão na novela 'Fera Radical' (1988). Protagonizada por Cláudia (Malu Mader), que pretende vingar a chacina que dizimou sua família 15 anos antes, a novela era livremente inspirada na peça 'A Visita da Velha Senhora', do suiço Friederick Durrenmatt. Em 1989, Ricardo Linhares, Aguinaldo Silva e Ana Maria Moretzsohn assinaram juntos a trama de 'Tieta', adaptada do romance 'Tieta do Agreste', do escritor Jorge Amado. A novela narrava a volta por cima da jovem Tieta, que é expulsa de casa pelo pai e volta, 25 anos depois, rica e exuberante, para se vingar da humilhação que sofreu. A personagem era interpretada por Cláudia Ohana, na primeira fase, e por Betty Faria, na segunda.

Webdoc sobre a novela Tieta com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a novela Tieta com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

O público quer ver a realidade retratada na ficção. Ele é conservador, mas não quer viver num mundo de conto de fadas. Quer que a novela espelhe a realidade em que vive. E o público está cada vez mais preparado para, através da novela, ter contato com realidades diferentes daquela do seu dia a dia".

Em 1990, o autor escreveu 'Lua Cheia de Amor', em coautoria com Ana Maria Moretzsohn e Maria Carmem Barbosa. Protagonizada por Marília Pêra, a novela era inspirada na peça homônima de Pedro Bloch, na qual o autor Gilberto Braga também havia se baseado para escrever Dona Xepa, exibida pela Globo em 1977. Lua Cheia de Amor contou com a supervisão de texto de Gilberto Braga.

No ano seguinte, Ricardo Linhares colaborou com Gilberto Braga na tarefa de escrever 'O Dono do Mundo' (1991), que trazia um dos grandes vilões da história da teledramaturgia, o mau-caráter Felipe Barreto (Antonio Fagundes). Assim como Aguinaldo Silva, Gilberto Braga tornou-se outro grande parceiro, com quem Ricardo Linhares escreveu boa parte de seu trabalho na televisão.

Webdoc sobre a novela O Dono do Mundo com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a novela O Dono do Mundo com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Um ano depois de 'O Dono do Mundo', o autor voltou a trabalhar com Gilberto Braga, colaborando na minissérie 'Anos Rebeldes' (1992), que narrava a história de quatro jovens durante o conturbado período que se iniciou com o golpe militar de 1964. Em seguida, ainda em 1992, Ricardo Linhares escreveu uma das tramas exibidas em 'Retrato de Mulher', seriado cuja proposta era contar em cada episódio a história de uma mulher diferente, sempre interpretada por Regina Duarte.

Webdoc sobre a minissérie Anos Rebeldes com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a minissérie Anos Rebeldes com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Também em 1992, o trio de autores Ricardo Linhares, Aguinaldo Silva e Ana Maria Moretzsohn voltou a dividir a autoria de uma novela. 'Pedra sobre Pedra' era ambientada na cidade fictícia de Resplendor, na Chapada Diamantina, e contava a história da disputa entre as famílias de Murilo Pontes (Lima Duarte) e Pilar Batista (Renata Sorrah).

Webdoc sobre a novela Pedra Sobre Pedra com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a novela Pedra Sobre Pedra com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Eu não acredito que a novela tenha o poder de mostrar ao público o que ele não quer ver – porque ele rejeita. Mas existem coisas que o público já está pronto para ver, e nós, escritores, temos que intuir que coisas são essas e mostrá-las.”

Em 1995, Ricardo Linhares foi convocado para supervisionar, ao lado de Ana Maria Moretzsohn, o texto da primeira temporada de 'Malhação'. Voltado para o público juvenil, 'Malhação' pretendia abordar as questões pertinentes àquele universo, como o início da vida sexual, o relacionamento com os pais e as incertezas sobre que carreira profissional seguir. A ideia de ambientar a novelinha em uma academia de ginástica foi de Andréa Maltarolli e Emanuel Jacobina, quando os dois participaram de uma oficina de roteiro da Globo.

Nós escrevemos à medida que a novela vai sendo assistida e vamos sentindo a reação das pessoas. Há quem não goste disso, principalmente quem está de fora, os críticos, que falam mal da novela por se tratar de uma obra aberta. Mas eu acho que o grande barato da novela é justamente ser uma obra aberta".

Ricardo Linhares voltou a dividir com Aguinaldo Silva a autoria de uma novela em 'A Indomada' (1997), que contava a história dos habitantes da fictícia Greenville, cidade de colonização inglesa. A novela apresentou a dupla de vilões Pitágoras Mackenzie (Ary Fontoura) e Maria Altiva Pedreira de Mendonça e Albuquerque (Eva Wilma) e teve a participação especial de Lima Duarte, no papel de Murilo Pontes, personagem que interpretara em outra trama assinada pelos autores, 'Pedra sobre Pedra' (1992).

Webdoc sobre a novela A Indomada com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a novela A Indomada com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

No ano seguinte, Ricardo Linhares escreveu 'Meu Bem Querer' (1998), primeira novela que assinou sozinho. Ambientada em São Tomás de Trás, uma cidadezinha fictícia do interior do Nordeste, a trama escrita por Ricardo Linhares para o horário das 19h misturava romance, humor e fantasia. 'Meu Bem Querer' (1998) era protagonizada pelos atores Murilo Benício e Alessandra Negrini, como Antônio e Rebeca. Outro destaque da história era Custódia, personagem de Marília Pêra, uma mulher misteriosa e sombria que desperta a curiosidade de todos.

Em 2001, o autor voltou a trabalhar com Aguinaldo Silva em 'Porto dos Milagres', livre adaptação de 'Mar Morto' e 'A Descoberta da América pelos Turcos', do escritor Jorge Amado. Dois anos depois, assinou mais uma novela como autor titular, 'Agora é que São Elas' (2003). Exibida às 18h, a história era ambientada em São Francisco das Formigas, cidade fictícia comandada pelo poderoso prefeito Juca Tigre, vivido por Miguel Falabella, que voltava a atuar em novelas após oito anos.

Webdoc sobre a novela Porto dos Milagres com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a novela Porto dos Milagres com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Em 2004, com a morte de Leonor Bassères, principal colaboradora do autor Gilberto Braga, Ricardo Linhares foi convidado para integrar a equipe de roteiristas da novela 'Celebridade'. Grande sucesso no horário das 20h, 'Celebridade' tinha como tema principal o mundo da moda, contando a história da empresária Maria Clara Diniz (Malu Mader) e da vilã Laura Prudente da Costa (Cláudia Abreu).

O vilão é mais fascinante, sempre foi. Quem é mais fascinante: a Branca de Neve ou a rainha má? É a rainha má, mas a Branca de Neve é fundamental para torcermos por um final feliz. Em novela, acontece o mesmo. Neste momento, acho que nosso grande desafio é humanizar os heróis".

A parceria com Gilberto Braga funcionou bem, e surgiu a oportunidade de os dois dividirem, pela primeira vez, a autoria de uma novela: 'Paraíso Tropical' (2007). Ambientada em Copacabana, a novela narrava a trajetória das gêmeas Paula e Taís, vividas por Alessandra Negrini, e trazia personagens marcantes como a prostituta Bebel (Camila Pitanga), o mau-caráter Olavo (Wagner Moura) e o autoritário Antenor Cavalcante (Tony Ramos).

Webdoc sobre a novela Paraíso Tropical com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a novela Paraíso Tropical com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Quatro anos depois, os dois autores assinariam juntos outra novela, Insensato Coração. Em 2013, Ricardo escreveu o remake de 'Saramandaia'. Em 2015, foi autor de 'Babilônia', mais uma parceria com Gilberto Braga e João Ximenes Braga.

Webdoc sobre a novela Insensato Coração com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a novela Insensato Coração com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Quando o trabalho do ator é rico, forte – e queremos mais é que seja assim –, nós vamos criando a partir do que ele nos oferece. Isso desperta nossa imaginação. O ator nos dá material, e nós damos de volta. É uma troca constante, que dura a novela inteira.”

FONTES

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por Ricardo Linhares em 15/10/2007 e 28/09/2011.
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