Nascido em Volta Redonda, no dia 15 de fevereiro de 1973, Renato Ribeiro Soares da Silva estudou Comunicação Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de 1990 a 1994. Seu primeiro estágio foi na Rádio JB AM, durante o período da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92. Em 1993, fez prova de estágio para o jornal O Dia e começou a trabalhar. “Nem queria ser jornalista esportivo, gostava mais de política, mas a porta que se abriu foi no Esporte. Acabei gostando e fiquei”. O primeiro grande evento esportivo que cobriu foi o Pan-Americano, em Mar Del Plata (1995). No ano seguinte, fez parte da equipe de O Dia que foi para as Olimpíadas de Atlanta. “Eu era bem novo. Era um sonho cobrir Olimpíada”, conta o repórter, que tinha 23 anos apenas.
Entrada na Globo
Foi contratado em abril de 1997 pela Globo, depois de três meses de teste. Para Renato Ribeiro, ser repórter de televisão é muito peculiar porque envolve uma série de habilidades: “A voz, a presença diante da câmera, um tipo de texto completamente diferente do jornal impresso. Durante os meses de teste, paguei uma fonoaudióloga para aprender a usar a voz. De vez em quando, eu falava ‘tlês’ ao invés de ‘três’, e precisa corrigir isso”.
No início de sua trajetória na emissora, fazia matérias apenas para o Globo Esporte e o Esporte Espetacular. Com o tempo, começou a participar dos outros telejornais. Primeiro os locais, depois os de Rede, como Bom Dia Brasil, Jornal da Globo e, por último, Jornal Nacional e o Fantástico. “É uma hierarquia natural na qual as coisas vão acontecendo. Quando você começa no Esporte, o que mais faz é ir a treino, da mesma forma como você cobre buraco de rua quando você está começando na Geral. Eu ia a treino de clubes todo dia, o que é desafiador porque às vezes não tem notícia. Então, isso ensina a buscar ideias criativas, roteirizar uma história de um minuto. É onde você rala mais”, revela.
Na Globo, o primeiro grande evento que participou foi em 2000, nas Olimpíadas de Sydney, acompanhando o futebol: “No mundo esportivo, passar a cobrir a seleção brasileira é importante. É um degrau. Ir para um primeiro grande evento na Globo, assusta um pouco. É uma cobertura que você se expõe demais. São várias reportagens por dia, muitos vivos. Então, se você não está preparado profissionalmente, pode até ter uma reação inversa para a sua trajetória”.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc sobre a cobertura da Olimpíada de Sidney (2000) com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
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Momento marcante
Em 2001, Renato Ribeiro foi além do esporte na cobertura da final da Copa Mercosul, entre Flamengo e San Lorenzo, na Argentina. Ele presenciou a queda do presidente Fernando De La Rua. “Acho que foi o momento mais marcante na minha carreira. Foi um divisor de águas na forma como passei a ser visto dentro da TV, e até na forma de eu ver o que era capaz de fazer”, ressalta.
Havia uma crise política e econômica grande na Argentina, com passeatas e greves diárias. O jogo foi cancelado no dia e, como a Globo não tinha correspondente em Buenos Aires na época, Ribeiro assumiu a cobertura e conseguiu registrar ao vivo, no Jornal Nacional, a fuga do presidente. Na véspera, o repórter tinha saído para comer e viu a Rua 9 de Julho, a maior de Buenos Aires, tomada de manifestantes com panelas na mão, à 1h da madrugada. Ribeiro voltou para o hotel, acordou o cinegrafista Roberto Beckert e juntos foram para a Praça de Mayo. No dia seguinte, houve novo protesto, desta vez bem mais violento: “O exército não queria que a imprensa internacional os filmasse batendo no povo. Então, miravam na gente. Tínhamos que sair correndo por aquelas ruelas do centro de Buenos Aires. Tínhamos um caminhãozinho para transmissão ao vivo alugado que posicionamos nos fundos da Casa Rosada. Durante o Jornal Nacional, o Fernando de La Rua fugiu de helicóptero. A gente registrou essa imagem ao vivo. Esse episódio marcou bem a minha vida”.
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Copas do Mundo: 2002, 2006 e 2010
Já em 2002, Renato integrou a equipe que foi para a Copa do Mundo. Foram inúmeras experiências novas nessa cobertura. Foi no Japão que viu pela primeira vez um GPS e também um celular com câmera. O repórter que em Ulsan, uma cidade do interior da Coreia do Sul, não tinha hotel e a solução encontrada foi ficar em motéis por quase 20 dias. “Os motéis tinham quartos mínimos, com uma parede bem fina. Os donos se recusaram a fechá-los só para a imprensa internacional, preferiram deixar só dois andares de cada motel. A gente descobriu isso chegando lá e foi uma confusão. Não tinha frigobar, tinha cama redonda, espelho no teto, canal de televisão só em coreano. Na recepção, só se falava em coreano. A gente se comunicava por mímica”, conta.
Renato Ribeiro passou dois meses viajando e esteve em quatro países diferentes durante a Copa do Mundo do Japão e da Coreia: “Eu tinha uma missão na cobertura: ir na frente para receber a seleção. Quando começou o “mata-mata”, ia para os estádios cobrir os jogos do Brasil de mala e cuia porque dali já viajava para a próxima cidade em que a seleção fosse jogar”.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc sobre a cobertura da Copa da Coreia do Sul e do Japão (2002) com entrevistas exclusivas.
Webdoc sobre a cobertura da Olimpíada de Atenas (2004) com entrevistas exclusivas.
Na Copa da Alemanha, em 2006, teve uma missão diferente: o jornalista chegou um ano e um mês antes em Berlim para trabalhar como correspondente. Ribeiro se mudou com a esposa e os dois filhos. “Nunca tinha ido à Alemanha na minha vida. Lembro que nem dormi na véspera da viagem, de tão ansioso e nervoso que eu estava. Passei em Londres para pegar um equipamento e fui sozinho sem equipe. Contratava cinegrafistas e produtores alemães freelancers para fazer as matérias”, lembra.
Quando chegou, ficou impressionado com a estrutura. Encontrou tudo pronto para receber o Mundial, o que se podia notar já na Copa das Confederações. Sua responsabilidade não se restringia apenas às matérias relacionadas ao futebol. Ele tinha também que mostrar o país da próxima Copa do Mundo no campo da política, economia e cultura: “Cobri a eleição da Angela Merkel como chanceler e fiz várias reportagens pela Europa que não tinham a ver diretamente com futebol. Mas a minha primeira preocupação era estar presente em um lugar em que a Globo não existia, ou seja, entrar em mailing de assessorias de imprensa para que as pautas chegassem”.
O repórter conta que o que mais o marcou nesse período foi o mergulho no universo alemão e entender a relação deles com a sua própria história. Segundo Renato Ribeiro, até essa Copa, principalmente as gerações com mais de 40 anos sentiam muito o estigma da Segunda Guerra Mundial, do nazismo, assunto considerado tabu. “Era muito difícil ver um carro com uma bandeira da Alemanha. Eles eram muito reticentes quanto a demonstrações de nacionalismo e de amor ao seu país. Tinham medo disso. Acho que a Copa do Mundo foi um divisor de águas para esse sentimento mudar um pouco, tanto pela presença dos mais jovens, que não tinham vivido isso, quanto por ser o primeiro grande evento da Alemanha unificada. Fala-se muito do legado que esses eventos deixam nos países, mas acho que na Alemanha o grande legado foi uma mudança na relação com sua autoimagem”, destaca.
Em 2010, Ribeiro foi cobrir a copa da África do Sul. Uma experiência riquíssima para o repórter. “A África era um território virgem na imprensa brasileira. Para onde se apontasse a câmera, havia uma novidade. Havia uma tentativa de se romper com o preconceito de como era visto o continente, porque a gente sempre pensava no pior no que se referia à África. Nos surpreendemos muito. O povo sul-africano é o que mais vou guardar com carinho”, relembra.
O mais difícil de enfrentar na África do Sul, na opinião de Renato, foi entender a questão racial do país. Ele viajou por 15 países do continente africano e se deparou com diversas realidades: “Os códigos do país são bem diferentes dos nossos. O principal desafio de trabalhar em coberturas internacionais é você ter um olhar brasileiro do que está acontecendo. Tentar se despir dos preconceitos de como aquele lugar é visto, buscar entender um pouco da ótica de quem vive naquele lugar e não ter uma visão estereotipada do país que você está abordando”.
Olimpíadas
Se tivesse que escolher entre uma cobertura esportiva, Ribeiro ficaria com as Olimpíadas: “A Copa mexe mais com o brasileiro, mas acho o dia a dia das Olimpíadas mais instigante”. Em Atenas (2004), ele foi o responsável por acompanhar o atletismo e a natação. “Tinha a expectativa do Michael Phelps, que já despontava como fenômeno e conquistou seis ouros. Foi bem bacana poder ver de perto surgir um superatleta, o maior de todos os tempos. Com os ouros de Pequim somados, ele se tornou o maior atleta olímpico da história”, conta.
Um desafio para todo repórter de Esporte é a linha tênue entre o profissional e o torcedor. Ribeiro conta que se acostumou a não demonstrar seus sentimentos vendo um jogo: “Na seleção, ainda revelo as emoções. Em jogos de clubes, aprendi a me conter. Sou capaz de não mexer um músculo vendo um jogo. Às vezes, vou ver jogo com meu filho e nem comemoro o gol”.
Em maio de 2012, o Jornal Nacional exibiu a série Olimpíadas Escolares com reportagem de Renato Ribeiro Soares. “É um projeto do Comitê Olímpico do Brasil que mobiliza milhões de crianças e adolescentes no país. Uma das matérias foi com uma menina de Joinville, que corria descalça, e ela foi para a Olimpíada de Londres como reserva no revezamento. São várias histórias que mostram como o esporte está presente na vida do brasileiro mesmo em condições adversas”, detalha.
O jornalista também fez a cobertura da Olimpíada de Londres ao lado de Marcos Uchoa, Tino Marcos, Guilherme Roseguini e Pedro Bassan. “Fui como repórter e coordenando para a Globo. Foi muito difícil, porque a gente não tinha os direitos. Usávamos imagens do COI que chegavam depois, fotos e a gente só podia entrevistar os atletas fora da área de competição. Na época, a gente alugou uma sala no mesmo prédio do Sport TV. Nosso desafio era levar os atletas para aquele lugar e não onde a concorrência estava. E deu certo. A primeira medalha foi da Sarah Menezes, do judô, eu fui cobrir no estacionamento do ginásio. Fiz o encontro da Sarah com a família. Isso se repetiu ao longo da Olimpíada inteira”, lembra.
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Morte de Nelson Mandela
A cobertura da morte de Nelson Mandela, em 2013, foi um dos momentos marcantes na carreira de Renato Ribeiro: “Eu morei na África do Sul. Fui correspondente lá e tinha uma ligação com o país e eu tinha deixado pronto uma biografia dele que passou no Bom Dia Brasil. Só que o Mandela morreu no dia do sorteio da Copa, mas o funeral ia durar dez dias e dava pra ir. Fui com Cleber Schettini, o repórter-cinematográfico. Lá, encontrei com o Rodrigo Alvarez. E foi uma semana de cobertura incrível, porque ele foi uma das maiores figuras do século 20, um exemplo de líder”.
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Copa do Mundo do Brasil
Pouco antes da Copa do Mundo do Brasil, em 2014, Renato Ribeiro fez uma matéria sobre o renascimento do futebol alemão. A reportagem foi ao ar exibida no Esporte Espetacular: “Eu sugeri a matéria por causa da final entre dois times alemãos na Champions League (2013). A gente acabou repetindo a matéria na final da Copa. Acabou sendo uma profecia”.
Durante o evento, Renato acompanhou a Seleção da Alemanha e os jogos nas cidades de Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte e, por último, Rio de Janeiro, onde a Alemanha, derrotou a Argentina por 1 a 0 e ganhou o torneio. “Até retomei as aulas particulares de alemão para chegar afiado. As pessoas da comissão técnica praticamente eram as mesmas desde que morei na Alemamanha, em 2005, o que facilitou muito. E a Alemanha ficou na Vila de Santo André, em Santa Cruz de Cabrália, e estabeleci uma relação muito próxima da seleção alemã”, conta.
Mudanças no Esporte
Em 2016, o jornalista foi promovido a diretor executivo do Esporte e coordenou a Olimpíada no Rio. “Foi um desafio estar atrás das câmeras, mas gostei. Eu achava que ia envelhecer como repórter, mas a carreira foi tomando outro caminho. Eu sabia que logo depois iam vir mudanças profundas no Esporte. Assumi em setembro e um mês depois veio a primeira mudança já com a liderança do Roberto Marinho Neto, que foi a saída do Esporte do Jornalismo. A gente fica sendo um terceiro pilar de conteúdo na estrutura da Globo: Entretenimento, Jornalismo e Esporte”, destaca.
No ano seguinte, quando se deu o processo de fusão do Esporte da Globo, SporTV e globoesporte.com, Renato assumiu a direção da redação. Em abril de 2018, passou a ser o diretor de Conteúdo do Esporte: “O Esporte assume que tem um lado de negócios para a empresa, e trabalha para a Globo e Globosat. Hoje, também estamos muito focados nos esportes eletrônicos, que tem crescido e tem um público emergente enorme”.
A Copa do Mundo da Rússia foi o primeiro evento planejado e com o Esporte integrado. Ele ficou 45 dias no país. “Ao juntar todas as plataformas numa só, a gente tinha que ter a garantia de que não ia pasteurizar e ficar tudo igual. E fizemos mudanças radicais. Tiramos a ancoragem dos programas da porta da Seleção Brasileira e levamos para um lugar mais emblemático, que remetesse a Rússia. E a operação dos estúdios era remota e o comando estava no controle da emissora. E o sucesso da Copa foi importante para mostrar que as mudanças deram certo”, ressalta.
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