Renata Vasconcellos saiu direto da universidade para a bancada de um telejornal. Mais do que isso: sua estreia coincidiu com a do primeiro canal de notícias 24h no ar, a GloboNews. A jornalista estreou em 1996, ao lado de Eduardo Grillo no boletim 'Em Cima da Hora' do turno da tarde. De lá para cá, passou pelas bancadas do 'Bom Dia Brasil', 'Jornal Hoje' e 'Fantástico'. A partir de 2005, a jornalista tornou-se apresentadora substituta do 'Jornal Nacional', cuja bancada assumiria oficialmente, ao lado de William Bonner, em 2014.
Além de apresentar o 'Jornal Nacional', Renata Vasconcellos assume a função de editora-executiva do telejornal. É dela a responsabilidade pela elaboração das chamadas exibidas ao longo do dia durante a programação. Os primeiros anos de bancada foram intensos e históricos. Noticiou a crise que levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, a série de denúncias envolvendo seu sucessor Michel Temer e o atentado ao então candidato à presidência Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral, além de duas tragédias socioambientais: Mariana e Brumadinho.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Entrevista exclusiva da jornalista Renata Vasconcellos ao Memória Globo, sobre o início da sua carreira.
Entrevista exclusiva da jornalista Renata Vasconcellos ao Memória Globo, sobre sua trajetória desde a estreia na GloboNews até a apresentação do Bom Dia Brasil na Globo.
Início da carreira
Renata Fernandes Vasconcellos nasceu no Rio de Janeiro em 10 de junho de 1972. Cursou Publicidade e Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC) no Rio de Janeiro e fez estágios em agências de publicidade, até ser aprovada no concurso que selecionou a equipe pioneira da GloboNews.
Desde a entrada no canal de notícias, em 1996, passou pelas bancadas do boletim 'Em Cima da Hora', mais tarde substituído pelo 'Jornal da GloboNews', do 'Bom Dia Brasil', 'Jornal Hoje' e 'Fantástico'. Desde 2014, apresenta, ao lado de William Bonner, o 'Jornal Nacional'.
A jornalista estreou ao lado de Eduardo Grillo no boletim 'Em Cima da Hora' do turno da tarde. Apresentou eventualmente também o ‘Jornal das Dez’ e os programas ‘Pelo Mundo’ e ‘Arquivo N’. Na GloboNews, Renata Vasconcellos participou de grandes coberturas e perdeu a conta do número de vezes que ficou horas seguidas no ar para narrar os acontecimentos em tempo real. Só em 1997, isso aconteceu com a vinda do Papa João Paulo II ao Brasil, a morte da princesa Diana e a libertação da residência do embaixador japonês no Peru.
A entrada na rede
A partir de 1997, Renata passou a apresentar o 'Jornal Hoje' aos sábados, enquanto seguia na GloboNews. Em 2000, foi sua primeira temporada no 'Fantástico', realizando reportagens e um quadro de serviço ao consumidor. "A gente dava resultados de pesquisa do Inmetro, com sabão em pó, água sanitária, farinha, feijão. E o desafio era transformar numa coisa palatável, interessante e prazerosa para quem estivesse assistindo.”
Renata Vasconcellos sucedeu a Leilane Neubarth na bancada do 'Bom Dia Brasil', ao lado de Renato Machado, em 02 de dezembro de 2002. Em depoimento ao Memória Globo, a jornalista destacou o perfil diferente do telejornal, que lhe permitia desempenhar o papel de âncora, amarrando as reportagens e destacando a importância das notícias. A partir de setembro de 2011, com a transferência de Renato Machado para o escritório da Globo em Londres, passou a dividir a apresentação do telejornal com Chico Pinheiro. Os dois conduziam o ‘Bom Dia Brasil’ em parceria com a equipe de comentaristas e com os apresentadores que entravam de Brasília e de São Paulo.
Para a análise dos acontecimentos do Brasil e do mundo, a apresentadora ressaltou a importância de ter especialistas como Miriam Leitão, Alexandre Garcia e Renato Machado, que em 2011 assumiu o posto de comentarista internacional. Renata destacou o formato mais informal do telejornal. O estúdio amplo permitia aos apresentadores circular entre a bancada e o set de entrevistas, montado como uma sala de estar, por onde já passaram convidados tão diferentes quanto a presidente Dilma Rousseff e conjuntos de rock.
O trabalho da jornalista começava bem cedo. Como o 'Bom Dia Brasil' era exibido de segunda a sexta, às 7h30, Renata costumava chegar à redação por volta das cinco da manhã. E muitas vezes, já teve que ir para o trabalho ainda mais cedo, como na ocasião das coberturas do tsunami de 2004 no Sudeste Asiático e do acidente nuclear de 2011 no Japão.
Em 29 de abril de 2011, o 'Bom Dia Brasil' começou às 6h50, para mostrar toda a cerimônia do casamento do príncipe William, neto da rainha da Inglaterra e segundo na linha de sucessão para o trono britânico, com Kate Middleton. Com a ajuda de comentaristas extras como o embaixador Marcos Azambuja, a consultora de moda Glória Kalil e o bispo anglicano Filadelfo Oliveira Neto, Renata Vasconcellos e Renato Machado explicaram em detalhes a cerimônia real, com direito à análise das roupas e das joias dos noivos e convidados.
Por vários anos, Renata Vasconcellos produziu para o 'Bom Dia Brasil' a coluna 'Coisas do Gênero', com matérias sobre comportamento feminino, que abordavam assuntos como moda, mulheres de 50 anos e a relação de avós com os netos.
A partir de 2005, a jornalista passou a ser apresentadora substituta do 'Jornal Nacional'. Em janeiro de 2011, quando ocorreu a tragédia causada pelas chuvas na região serrana do Rio de Janeiro, ela estava cobrindo as férias de Fátima Bernardes. Renata ancorou o telejornal de Teresópolis, em cima de uma tábua colocada sobre os escombros, tendo como cenário a completa destruição da área.
Renata relembra: “Foi um evento que pegou de surpresa todo mundo. Até porque foi chuva atípica, um volume de chuva incomensurável. Fui mandada para lá na manhã seguinte e, ao longo do dia, vimos a dimensão daquela tragédia. Todos os jornais de rede ancoraram do local. Durante o dia, fazia matérias que entrariam no ar no 'Jornal Nacional', enquanto à noite eu ancorava o jornal. Foi o pior desastre natural da história da região serrana. Havia lugares completamente devastados, um cenário de destruição completa. As pessoas viravam errantes, porque não tinham para onde ir. Foi dramático. A gente montou um cenário para fazer ao vivo a ancoragem, no meio da lama e escombros… Entrei de Teresópolis, uma das cidades mais atingidas. Foi uma experiência muito importante para mim”.
Renata Vasconcellos ancora o 'Jornal Nacional', ao vivo, de Teresópolis, uma das cidades mais atingidas pelas chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro e mostra um resgate impressionante. Jornal Nacional, 13/01/2011
Renata Vasconcellos ganhou pela primeira vez o Prêmio Comunique-se em 2009. Tornaria a vencer a premiação dois anos depois e em 2013. Nas três ocasiões, foi eleita a melhor âncora de TV.
'Fantástico'
A partir de 6 de outubro de 2013, a jornalista trocou as manhãs dos dias de semana pelas noites de domingo. Ela assumiu a apresentação titular do 'Fantástico', formando dupla com Tadeu Schmidt. Como ela já havia passado pelo programa anos antes, não chegou a ser uma novidade, mas ainda assim Renata se sentiu desafiada, afinal era um programa de estilo bem distinto.
A partir de 6 de outubro de 2013, a jornalista trocou as manhãs dos dias de semana pelas noites de domingo. Ela assumiu a apresentação titular do 'Fantástico', formando dupla com Tadeu Schmidt. Como ela já havia passado pelo programa anos antes, não chegou a ser uma novidade, mas ainda assim Renata se sentiu desafiada, afinal era um programa de estilo bem distinto.
Estreia de Renata Vasconcellos como apresentadora do 'Fantástico', 06/10/2013.
A nova empreitada era diferente de tudo que já tinha vivido em termos de ancoragem, mas a experiência de se deslocar eventualmente no cenário do 'Bom Dia Brasil' lhe deu segurança. Claro, havia novidades e um período de adaptação, fosse no estilo de figurino, fosse no tom, por vezes mais informal que o adotado em telejornais de bancada. Tadeu e ela chegaram a ter algumas aulas de teatro. "Essa dinâmica mais solta, mais divertida, mais desencanada que eu aprendi no 'Fantástico' foi muito intensa", recorda ela. A rotina também mudou: a urgência de entrar ao vivo em plantões, por exemplo, dava lugar a batalhas para conseguir entrevistas exclusivas com personagens que se destacavam de última hora ou ao longo da semana. Foi o caso da conversa que teve com o cantor Roberto Carlos, à época das discussões sobre biografias não autorizadas.
Roberto Carlos fala sobre polêmica das biografias. 'Fantástico', 27/10/2013
'Jornal Nacional'
A experiência no Show da Vida foi intensa, mas durou pouco mais de um ano. No dia 15 de setembro de 2014, Patrícia Poeta anunciou, no final da edição do 'Jornal Nacional' daquele dia, que em novembro deixaria a bancada do telejornal para se dedicar a um projeto no entretenimento. Com isso, a partir do dia 3 de novembro, Renata Vasconcellos passou a dividir a bancada do 'JN' com William Bonner, acumulando a função de editora-executiva.
Jornal Nacional: Estreia de Renata Vasconcellos (2014)
"Volto para o factual do dia a dia com o 'Jornal Nacional'. Acho que essa bagagem que eu tive desses anos todos na GloboNews, no 'Bom Dia Brasil', mesmo no 'Fantástico' me deu a chance de poder nadar nessas águas, porque se você não tem um pouquinho dessa bagagem fica muito pesado', diz Renata, ciente do "peso da camisa" do 'JN'.
Brincando ao dizer ser pé quente em relação a mudanças, ela testemunhou a chegada no novo cenário do telejornal, em 2015 -- que permitiu que ela e Bonner circulassem mais e fossem até o telão para falar com repórteres -- e do novo estúdio, em 2017. "Acho que a partir dali se inaugurou também uma nova era, com câmeras-robô, equipes extremamente treinadas para projetar imagens, gráficos. Ao mesmo tempo, você vê a redação, tem o calor da redação."
Os primeiros anos na bancada do 'JN' foram intensos. “Com a velocidade da internet, a notícia não espera mais”, afirma ela, que é uma das responsáveis pela elaboração das chamadas exibidas ao longo do dia durante a programação. “Num dia normal, são três chamadas. Mas já chegamos a entrar de dez em dez minutos”, conta Renata que, logo nos primeiros anos, testemunhou eventos históricos. Noticiou os desdobramentos da operação Lava Jato (a partir de 2014), a crise que levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (2015) e a série de denúncias envolvendo seu sucessor Michel Temer (2016). Para além da política, acompanhou as tragédias socioambientais como as de Mariana (2015) e Brumadinho (2019) e apresentou o telejornal de estúdios especiais nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016) e de Moscou, na Copa da Rússia (2018).
De um estúdio montado no Parque Olímpico do Rio de Janeiro, viveu a emoção de entrevistar medalhistas brasileiros, como a judoca brasileira Rafaela Silva; as duplas de vôlei de praia Ágata e Bárbara e Alison e Bruno; e os canoístas Isaquias Queiroz e Erlon de Souza, primeiros ganhadores do país na modalidade. Dois anos depois, na Copa do Mundo da Rússia, além de apresentar o telejornal tendo a Praça Vermelha como cenário, ela também saiu um pouco da rotina de bancada ao ir às ruas de Moscou para fazer matérias de comportamento. “Pude compartilhar com o público: ‘olha, gente, a Rússia que eu vi foi essa, quero dividir com vocês’. Passei 40 dias lá, cobrindo, foi muito bom, inesquecível.”
Em 2018, destacaram-se também as coberturas do assassinato da vereadora Marielle Franco e da campanha eleitoral, entremeada por um momento de forte apreensão: a facada no então candidato Jair Bolsonaro, em 6 de setembro. Prontamente, Renata apresentou um plantão de cerca de três minutos, assim que a notícia chegou: "Foi uma situação muito grave, uma cobertura muito ‘a quente’. Lembro de terminologias médicas sobre as quais eu nunca tinha ouvido falar, e tinha que ler aquilo ao vivo".
Foi necessária muita preparação para fazer as entrevistas com presidenciáveis no 'Jornal Nacional'. Esse planejamento envolve várias pessoas, com pesquisa minuciosa e debates intensos sobre possibilidades de réplicas e tréplicas.
"Você vê a quantidade de compromissos e responsabilidades que vão se adensando em um momento como esse: identificar fake news, saber discerni-las, desmenti-las naquele momento. Não tem volta, porque aquilo está ao vivo", resume Renata.
Na entrevista com o então candidato Jair Bolsonaro, em 28 de agosto, Renata precisou ser incisiva quando o candidato resolveu abordar uma suposta diferença salarial entre ela e William Bonner. “Sim, eu poderia, até como cidadã, e como qualquer cidadão brasileiro, fazer questionamentos sobre os seus proventos, porque o senhor é um funcionário público, deputado há 27 anos. Eu, como contribuinte, ajudo a pagar o seu salário. O meu salário não diz respeito a ninguém. E eu posso garantir ao senhor, como mulher, que eu jamais aceitaria receber um salário menor de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu. Mas agora eu vou devolver a palavra ao senhor, para o senhor continuar o seu raciocínio."
Renata fala com orgulho da importância que o ‘Jornal Nacional’ dá para mostrar os vários Brasis. E lembra com carinho do momento em que apresentadores de outras praças foram convidados para ancorar o telejornal, à época de seus 50 anos, em 2019. "A gente trouxe apresentadores de outras regiões para mostrarem um pouco do seu trabalho, de como é que é o seu dia a dia em outras regiões, você vê outros sotaques, regionalismos, o que eles tinham prazer e orgulho de mostrar, quais eram os problemas também que eles mostravam. Isso sempre aconteceu, eu acho, de uma forma muito intensa no JN, e, claro, agora mais do que nunca que a gente está cada vez mais consciente da importância disso. Vejo isso se espraiando pela empresa, na cultura da empresa, na nossa cultura, na nossa visão de mundo."
Pandemia
Em 2020, a decretação da pandemia de Covid-19 provocou fortes mudanças nas rotinas de todos e muitos embates entre o que a ciência propagava e a crença de negacionistas.
Isso tudo para além da preocupação com a doença em si. Mas a missão profissional sempre falou mais alto. "Eu me lembro do Bonner me ligar e falar: 'Você está preparada?’ Eu falei: 'Estou inteira, vamos junto'. Eu me lembro de muitos relatos de pessoas que precisavam assistir ao ‘Jornal Nacional’, ver o Bonner, me ver na televisão todos os dias quase como um (pensamento): ‘Nós estamos aqui, amanhã a gente vai estar aqui, vamos seguindo... Um dia de cada vez’."
Foi assim, um dia de cada vez, que superaram as adversidades e apresentaram o telejornal durante todo o período pandêmico. Eventualmente, foram responsáveis também pela leitura de editoriais, defendendo a ciência e a cobertura da imprensa. Foram enfáticos também quando foi necessário se unir a vários outros veículos no consórcio de imprensa que levantou dados diários sobre novos casos e mortos pelo país, informação cuja divulgação passou a ser dificultada pelo governo federal a partir de 3 de junho de 2020.
Brasil ultrapassa 50 mil mortos pelo coronavírus. Bonner e Renata leem editorial em solidariedade às famílias. Jornal Nacional, 20/06/2020
"Muitas vezes, uma escalada ganha outro tom, formato. Às vezes, frases mais curtas, às vezes um silêncio, você tira o som da vinheta. (...) Sobem os créditos de forma respeitosa, você mostra as vítimas da Covid atrás. Nem tem o nosso ‘boa noite’, não é necessário, não cabe.”
Renata cita os exemplos do assassinato do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, em 5 de junho de 2022, e dos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 para mostrar como uma notícia de impacto vai se desdobrando em novas camadas. “De cara, o desafio é entender o tamanho que a notícia tem. A gente está o tempo inteiro se perguntando isso, e depois os inquéritos, as investigações, as punições, o que representa tudo isso.”
Nas eleições de 2022, uma mudança marcou as entrevistas com os presidenciáveis. Elas foram realizadas nos Estúdios Globo, fazendo com que Renata e Bonner não apresentassem o restante do telejornal do dia. Uma medida que visava a segurança em tempos tão polarizados e permitia também que houvesse mais gente assistindo presencialmente à conversa.
"Nós podemos errar, nós podemos eventualmente até nos emocionar no ar, e quando a gente erra a gente rapidamente admite: 'Erramos e vamos corrigir', pedimos desculpas. Isso encoraja as pessoas: 'Olha, é possível ter outras formas de se ver, de se pensar'. Enfim, o ‘Jornal Nacional’ é também um pouquinho disso, reflete essa transformação do povo, da nossa gente. Acho que é um dos papéis do jornalista se mostrar aberto a ouvir, a ponderar, mesmo que não concorde, com outras opiniões, com outros pontos de vista. E parece que em um Brasil, e até em um mundo tão polarizado, a gente mais do que nunca precisa se empenhar nessa missão."
FONTES:
Depoimentos de Renata Vasconcellos ao Memória Globo em 12/03/2012, 29/04/2019, 08/04/2024, 16/04/2024. |