Renata Ceribelli diz que o maior desafio de sua carreira sempre é o que ela está vivendo naquele momento. E 2014 começou de forma instigante para a jornalista: ela tornou-se a nova correspondente especial do 'Fantástico' nos Estados Unidos. Sua primeira entrevista na atual função foi a entrevista exclusiva com o lutador de MMA Anderson Silva, após o acidente durante a luta contra Chris Weidman, em janeiro. “Cada momento tem o seu desafio. Eu quero viver o de agora, este tem que ser o mais difícil. Se não você fica numa zona de conforto”, observa Renata.
Nascida em São José do Rio Preto (SP), no dia 7 de abril de 1964, Renata Ceribelli é filha de uma professora e diretora de escola, e de um advogado e também fiscal de renda do Estado de São Paulo. Formada em Comunicação Social pela PUC de Campinas, construiu sua carreira no jornalismo televisivo.
“O repórter de televisão era considerado pelos jornalistas da imprensa escrita um alienado, um segurador de microfone, era uma pessoa que não era aceita na classe, como jornalista. Na faculdade eu falava que não queria televisão, queria jornalismo impresso”, relembra Renata, que neste período teve a oportunidade de fazer estágio na TV Campinas, hoje EPTV, afiliada da Globo.
Em 1985, quando se formou, a diretora da EPTV na época a chamou para uma conversa.
“Ela me disse que eu não levava jeito para repórter, que não queria me desestimular, mas que eu era muito tímida, não iria funcionar. Então, a minha colega de estágio, que nunca se tornou repórter, ficou com a vaga e virei rádio-escuta.”
Para exercer tal função chegava às 5h na redação e era a responsável por ligar para os Bombeiros, polícia rodoviária e apurar o que tinha acontecido durante a noite. Mas um dia a sorte bateu na porta dela. E não foi um dia qualquer. Foi justamente quando o Cometa Halley passava pela Terra, em 1986. O repórter Gilson Filho, responsável pela cobertura, não pôde fazer a matéria e sugeriu o nome da Renata. “Ele falou: ‘Olha não vou poder gravar, pega essa menina aí que está atrás desse telefone. A menina é boa, fez estágio e saía para a rua comigo.’ Tive muita sorte. Parece que estou sempre no lugar certo e na hora certa”, conta Renata.
De Campinas, a repórter foi para Ribeirão Preto para trabalhar na afiliada da Globo de lá, onde conquistou três prêmios Vladimir Herzog. Com a reportagem “Heróis da Resistência em Justiça e Perigo, Menores Trabalhando”, ganhou o prêmio máximo de TV, em 1987. Na matéria, ela contou a história de uma senhora que cuidava de crianças abandonadas.
“Todo mundo da região entregava uma criança deficiente para ela cuidar. Então, aquilo ali virou um lugar de abandono de crianças que eram negadas, rejeitadas pela família porque tinham nascido com alguma doença.”
Neste mesmo ano recebeu uma proposta para ir trabalhar no SBT, que ficava na capital paulista. “O SBT não tinha jornalismo na época e o Boris Casoy foi para lá e fundou o TJ São Paulo e o TJ Brasil. Pediram indicação para o diretor do Estadão (O Estado de S. Paulo), em Campinas, e ele deu alguns nomes que achava bacana, e me indicou. Já fui para lá pensando num trampolim”, diz a jornalista, que ficou quase dois anos na emissora, engravidou dos gêmeos Marcela e Rodrigo e durante a licença maternidade pediu demissão.
Renata recebeu também duas menções honrosas pelas reportagens “Menores Drogados por Cola”, em 1988, e “Asilo de Velhinhos”, em 1989.
Nesse período, voltou para a Globo para cobrir férias e trabalhou com hard news. “Em 1990, o presidente Collor assumiu e, um dia, estava tendo uma greve. Tive que entrar ao vivo e me deu um branco na hora. Fiquei vendida e fui super mal ao vivo. Acabei não sendo contratada”. Do hard news, Renata foi trabalhar com aquilo que fez durante muito tempo: notícias ligadas à cultura e comportamento.
“A TV Cultura nessa época vivia um período muito bom, em que se firmava como TV pública de qualidade. Não existia TV a cabo, então, as informações e os bons programas para classe A, com linguagens mais sofisticadas, aconteciam ali”.
Ela foi para a emissora fazer o programa Vitrine, que também falava dos bastidores de televisão. A partir do trabalho que desenvolveu lá foi chamada, em 1994, para o 'Vídeo Show', com uma equipe em São Paulo, e para apresentar o 'Você Decide' (1995). “O que me chamou atenção era o momento de interatividade que a televisão vivia.”
Renata apresentou o 'Você Decide' por apenas um ano e ficou quatro no 'Vídeo Show' fazendo matérias sobre os bastidores dos programas da Globo e entrevistando artistas. “Acho que foi o ponta pé inicial desse jornalismo de entretenimento, de celebridade. Hoje, fala-se muito de celebridade, mas com intenção de fofoca. Antes não era esse o espírito”.
'Vídeo Show': Na estreia do formato diário do programa, Renata Ceribelli faz sua primeira matéria. Apresentação de Miguel Falabella, 11/04/1994.
Em janeiro de 1999, a jornalista foi para o 'Fantástico', onde está até hoje. Nestes 15 anos na revista eletrônica fez diversas entrevistas, como a com a apresentadora Hebe Camargo e com a jovem Nayara, que ficou na mão de um sequestrador, no caso Eloá. “Ela não queria dar entrevista de jeito nenhum. Fiquei duas semanas em São Paulo, tentando negociar, indo sem câmera, conversando, explicando a importância dela falar, e no fim consegui. E ela deu um depoimento importantíssimo para a Justiça”.
Outro destaque na sua carreira foi a série “Que Família é Essa?”, que fez para a comemoração dos 30 anos do 'Fantástico', em 2003. O projeto, dirigido por Cláudio Paiva, contava a história dessas três décadas do programa a partir dos 30 anos da família brasileira. “Acho que foi uma das coisas mais prazerosas que fiz no 'Fantástico'. Nem teve tanta repercussão, mas foi uma coisa que me ensinou muito. A gente começou pelo IBGE, pesquisando como era a vida da família brasileira. Em 1970, 99,9% das famílias eram formadas por pai, mãe e filhos. Hoje, menos de 50% tem essa configuração”.
CEntrevista exclusiva de Renata Ceribelli com Nayara Rodrigues que, pela primeira vez, conta o que aconteceu durante o período que permaneceu sequestrada no apartamento da amiga Eloá, 'Fantástico', 02/11/2008.
Um dos momentos de maior destaque na trajetória profissional da jornalista foi a participação do quadro 'Medida Certa' (2011), ao lado de Zeca Camargo, e coordenado pelo professor de Educação Física Marcio Atalla. Renata conta que foi difícil aceitar o pedido do diretor do Fantástico, Luiz Nascimento, e que no início ela chegou a achar até que ele estava brincando.
“Aí o Luizinho foi brilhante e falou: ‘Em nenhum momento você vai deixar de ser jornalista. Você vai, na verdade, fazer uma reportagem. Vai experimentar no seu corpo tudo aquilo que a gente fala com o nosso público, que tem que comer saudável’. Ele me convenceu aí.”
O esforço valeu a pena. “Foi difícil assumir que estava com mais de 80 quilos. Mas acho que minha participação deu uma humanizada porque é um horror essa cobrança contra a mulher. Acho que a gente é muito vítima. Tem que ser magra, tem que ser bonita. Pode envelhecer, mas não pode parecer que envelheceu”, comenta a jornalista, que no final dos três meses do desafio propôs a Caminhada Medida Certa, que chegou a reunir 12 mil pessoas para se exercitar pelo Brasil.
Quando perguntada qual a melhor reportagem da sua vida, Renata tem a resposta na ponta da língua: “Só pode ser essa porque foi a que mais trouxe retorno. Quando você consegue levar saúde, informação e fazer as pessoas acreditarem, movimentar as pessoas, isso é realmente sensacional”.
Episódio do quadro “Medida Certa” com os resultados do programa de reedução alimentar e exercícios físicos do qual Renata Ceribelli e Zeca Camargo participaram, 'Fantástico', 26/06/2011.
Em dezembro de 2011, ela encarou outro desafio: tornou-se apresentadora do 'Fantástico' ao lado de Zeca Camargo e Tadeu Schmidt. “Foi um susto enorme. Era impensável que a Fátima (Bernardes) fosse sair do 'Jornal Nacional' e que a Patrícia (Poeta) fosse assumir, não era algo esperado. Foi muito bacana a maneira como eu fui convidada porque era quase uma premiação, um reconhecimento do público com a minha figura dentro do 'Fantástico'”, comenta a jornalista, que apresentou o programa por quase dois anos, até setembro de 2013, quando saiu para se preparar para ser correspondente internacional do programa dominical.
Outro ponto de destaque na carreira de Renata foi a cobertura do carnaval de São Paulo. Durante cinco anos, a jornalista narrou o desfile, depois de ter trabalhado na concentração, na dispersão, no meio da avenida e de ter feito camarote com o ator Guilherme Karam. “Narrar carnaval é uma cobertura muito difícil. Foi um desafio profissional porque você narra vendo o desfile por meio de 36 câmeras do sambódromo. Os cinegrafistas registram as imagens, o diretor corta e você tem que narrar em cima. Tem que identificar rápido aquilo que você vai contar para quem está em casa assistindo o desfile pela televisão.”
Como correspondente do 'Fantástico' nos Estados Unidos, Renata Ceribelli já fez reportagens que mobilizaram a audiência, como a do menino Louis, de 12 anos, que recebeu o diagnóstico da doença retinose pigmentária, que leva à cegueira, e que pediu à família para viajar pelo mundo antes de perder a visão. Ou a matéria sobre a construção do novo World Trade Center, marco simbólico dos atentados de 11 de setembro. Em agosto de 2014, Renata também fez a matéria, com grande repercussão, sobre a origem da campanha do balde de gelo que, através de mobilização nas redes sociais, visa arrecadar fundos para o combate da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).
Em 2018, foi a vez de estar à frente do 'Fant 360', projeto em que o 'Fantástico' fazia gravações em 360 graus, para que o telespectador visse as imagens de uma perspectiva diferente, por todos os ângulos.
'Fant 360': Renata Ceribelli conhece os maori, primeiros habitantes da Nova Zelândia
“Vi a chegada do computador nas redações. Vi passar dos efeitos dos anúncios publicitários mecânicos para os digitais, a entrada da computação gráfica. Então, mudou a cara da televisão e acho que a gente vai reaprendendo. Costumo dizer que quando comecei no jornalismo a gente falava que estava vivendo na era da imagem. De repente, a gente passa para a era da televisão. E agora internet. Então, imagina o que é ser repórter sem Google? Acho que isso é uma mudança muito grande no jornalismo.”
FONTE:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Renata Ceribelli em 27/02/2012 e 30/05/12. |