“Minha formação é na escola da vida”, diz Reinaldo Batista Figueiredo, o Reinaldo, do grupo Casseta & Planeta. Ele é filho de um comerciário e de uma dona de casa. Estudou até o ensino básico, mas despontou cedo para o chamado ” profissional multimídia”. Trabalhou em jornal, fez música e desenho. Tudo ao mesmo tempo.
Mas a tentativa de seguir a carreira musical não foi adiante. Reinaldo chegou a entrar para o Instituto Villa-Lobos, mas desistiu na metade do caminho. “Era um instituto muito moderno, de vanguarda, uma escola experimental na época, muito legal. Circulavam por lá figuras como Paulinho da Viola e Ivan Lins. Só que no meio do curso comecei a trabalhar no Pasquim. Eu já era meio multimídia, ao mesmo tempo que eu tentava fazer música, também tentava fazer desenho.”
Por ser “multimídia”, Reinaldo trabalhou em diversos jornais e na televisão, lançou quatro livros e ainda faz parte do quarteto Companhia Estadual de Jazz.
A ida para o Pasquim foi incentivada pelos irmãos. Eles sugeriram que Reinaldo levasse seus cartuns até o jornal. Lá, o humorista passou a conviver com Millôr Fernandes, Ivan Lessa, Henfil, Jaguar, Ziraldo e Sérgio Augusto.
“Para minha sorte, o Jaguar e o Ziraldo publicaram meu trabalho numa página inteira, “de cara”. Foi surpreendente porque eu não tinha ideia de que ia começar tão bem assim nessa atividade. Passei a me dedicar mais ao desenho de humor, trabalhava no Pasquim todo dia e também participava dos trabalhos da redação. Essa que foi a minha escola, na verdade”.
No Pasquim, Reinaldo conheceu Hubert e Cláudio Paiva e com eles fundou, em 1984, o jornal de humor Planeta Diário.
“Depois, o Jaguar foi me empurrando umas tarefas de editor do Pasquim. Passei a editar, principalmente, humor. Ao lado de Hubert e Cláudio inventávamos seções e isso foi uma espécie de laboratório para o Planeta Diário”.
Quando fundou o Planeta, Reinando ainda estava no Pasquim e fazia charges para a Tribuna da Imprensa. Mas quando o jornal criado com os amigos deu certo, ele passou a de dedicar apenas ao Planeta.
“Virou moda e vendia cem mil exemplares. O grande barato era que a gente fazia uma réplica de um jornalzão, como se fosse dos anos 1950. Era engraçado porque nós três éramos cartunistas, a gente curtia muito essa parte visual e era feito tudo a mão. Não tinha esse negócio de computador, colávamos as letrinhas no papel, era totalmente artesanal. Aos poucos a gente foi arrebanhando colaboradores”, orgulha-se Reinaldo.
'Wandergleyson Show'
O sucesso foi tamanho que a turma do Planeta Diário foi convidada a escrever um especial de fim de ano de humor para a TV Bandeirantes. Na época, Cláudio Paiva tinha saído do grupo para ir trabalhar como redator na TV Globo, então Reinaldo e Hubert convidaram Marcelo Madureira para reforçar o time e os três escrevem o Wandergleyson Show.
“A gente chamou o Luiz Fernando Guimarães, o Pedro Cardoso e a Carina Cooper. Era um programa no estilo de esquetes, bem inspirado naquele clima Monty Python, aquelas coisas totalmente absurdas, sem conexão uma com a outra, a única conexão era o tal do Wandergleyson, um músico de boate meio vagabundo, que tocava órgão num elevador”.
'TV Pirata'
Até que no final de 1987, Cláudio Paiva, convida Reinaldo, Hubert, Marcelo e a turma do Casseta Diário – Bussunda, Cláudio Manoel, Beto Silva e Helio De la Peña – para fazerem parte da redação de um novo programa de humor da emissora, a 'TV Pirata', que estreou em 1988 e ficou no ar até 1990.
No mesmo período da estreia da 'TV Pirata', os sete humoristas foram também convidados a fazer um show de humor no Jazzmania, nas segundas-feiras, chamado de 'Eu Vou Tirar Você Desse Lugar', responsável por unir de vez os dois grupos.
“O Paulinho Albuquerque cismou que a gente tinha que fazer um show ao vivo. O Bussunda e o Claudio Manoel também tinham um amigo, que era o Mu Chebabi, que veio a ser o nosso compositor, é o nosso Tom Jobim, nosso Quincy Jones. Então, a gente fazia as letras, o Mu fazia a música. Virou um show cult. E aproveitei para praticar o meu lado músico também, me escalei para ser o baixista da banda.”
'Casseta & Planeta'
Quando a 'TV Pirata' saiu do ar, os sete ‘cassetas’ se reuniram e criaram o embrião do 'Casseta & Planeta'. A direção da Globo gostou do conteúdo, mas queriam alguma cara conhecida na tela. Assim nasceu o 'Doris Para Maiores', em 1991, programa mensal, que ficou menos um ano no ar porque a própria Doris Giesse pediu para sair, pois queria fazer carreira no jornalismo e não no humor. Em 1992 eles estreiam o 'Casseta & Planeta, Urgente!', um programa que tinha como slogan “jornalismo mentira, humorismo verdade.”
Dos personagens que interpretou ao longo dos 20 anos que o 'Casseta & Planeta' ficou no ar, Reinaldo destaca o Devagar Franco, uma paródia do então presidente da República, Itamar Franco.
Outro personagem político que interpretou foi a paródia de Fernando Collor de Mello e da Rosane Collor.
“Foi o primeiro papel feminino que eu fiz. Depois dela fiz outros personagens femininos, culminando com a Ótima Bernardes, que também é um personagem célebre”.
Casseta & Planeta, Urgente!: Ótima Bernardes na Copa da Coreia e Japão (2002)
Em determinados momentos, teve oportunidade de fazer paródias e contracenar com os próprios "homenageados", como foi o caso do Rubinho Pé de Chinelo, que fez cena com o próprio Rubens Barrichello, numa participação especial. Mas de todos os personagens, seus preferidos são o Osama, marido da Jurema, e o Sucker, da dupla de policiais Fucker & Sucker, que fazia com o Hubert.
“Esses dois personagens são os que eu mais gostei de fazer, até porque o Sucker eu não precisava usar minha voz, que sempre foi o meu problema. Eu era dublado por um dos maiores dubladores do Brasil.”
Casseta & Planeta, Urgente!: Fucker and Sucker
A morte do Bussunda, em 2006, marcou todos do grupo.
“Foi um negócio indescritível, um baque horroroso para gente, não dá nem pra descrever. E o pior foi que uma semana depois morreu o Paulinho Albuquerque, o nosso produtor de shows, dos discos. Foi uma paulada mesmo. Muita gente até pensou que o programa fosse acabar, mas o Bussunda não gostaria que o programa acabasse. O recomeço foi difícil, mas o humor serve de alívio para essas horas. Na verdade, acho que ajuda você a não cair numa depressão aguda.”
Para ele, o programa 'Casseta & Planeta' deixou uma contribuição importante para o humor brasileiro: “Nossa liberdade de linguagem maior, de usar mais paródia, de usar mais referências culturais gerais”.
O começo para Reinaldo foi difícil. “Eu quase não falava, fui sendo empurrado. O Zé Lavigne foi me obrigando a abrir a boca no programa, porque eu era muito tímido. Mas até hoje não me considero ator. Sou um desenhista que sabe fazer caretas. Um autor que interpreta”, afirma Reinaldo, que encarou o papel de autor e ator em dois filmes do grupo, 'A Taça do Mundo é Nossa' (2003) e 'Seus Problemas Acabaram' (2006).
Literatura e música
Na literatura, publicou quatro livros. O primeiro foi em 1984, 'Escândalos Ilustrados', uma coletânea de cartuns que havia feito para o Pasquim. O segundo foi o 'Apelo à Razão' (1986), feito em conjunto com Hubert e Cláudio Paiva, assinado pelo Perry White.
“Quando a gente fez o Planeta Diário, o Perry White era um personagem importante, era o dono do Planeta Diário, era como se fosse um Roberto Marinho do Planeta. O Perry White era personagem da historinha do Super-Homem, que era o dono do Daily Planet. E aí deu até um problema para gente porque os donos do Super-Homem, a Warner e a DC Comics, uma poderosa empresa de comunicação americana, impediu a gente de usar o nome Perry White depois. Mas o Planeta Diário eles não tinham registrado em português”.
Os dois últimos livros que publicou foram 'Desenhos de Humor' (2007) e 'Noite de Autógrafos' (2010), ambos de desenho. Além disso, mantém seu blog dentro da página do Casseta&Planeta sempre ativo. “Coloco lá o que eu desenho, comentários variados sobre diversos assuntos e tem música também. Gosto de relembrar o nosso repertório dos discos do Casseta & Planeta. Tenho também o blog do Comendador Albuquerque, uma homenagem que eu fiz justamente para o Paulinho Albuquerque, esse cara que foi uma figura chave na nossa história”.
O lado musical, Reinaldo leva até hoje, com seu quarteto Companhia Estadual de Jazz. “Eu era o baixista em todos os shows do Casseta & Planeta. Aí muitos anos depois, comecei a tocar mais música instrumental, comecei a tocar baixo mesmo, contrabaixo, baixo acústico e acabei formando o quarteto, que sempre faz shows”, conta Reinaldo, que também participar uma vez por mês da Rádio Batuta, programa que o Instituto Moreira Salles mantém no site. “O Arthur Dapieve faz um programa sobre música clássica, Ricardo Silveira faz outro sobre instrumental brasileiro, Zélia Duncan faz um sobre intérpretes, cantores, e eu faço esse sobre jazz”.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Vídeo produzido pelo Memória Globo sobre a estreia do Casseta & Planeta (ainda como Casseta Popular & Planeta Diário) na Globo, durante o Carnaval de 1990, com entrevistas exclusivas de Bussunda, Helio De La Peña, Hubert e Reinaldo.
Webdoc sobre concepção e formato do programa “Casseta & Planeta, Urgente!”, com entrevistas exclusivas ao Memória Globo.
Webdoc sobre composição dos personagens do programa “Casseta & Planeta, Urgente!”, com entrevistas exclusivas ao Memória Globo.
Webdoc sobre a criação do personagem Maçaranduba, do programa “Casseta & Planeta, Urgente!”, com entrevistas exclusivas ao Memória Globo.
Webdoc sobre a criação do personagem Seu Creysson, do programa “Casseta & Planeta, Urgente!”, com entrevistas exclusivas ao Memória Globo.
Webdoc sobre a comemoração do pentacampeonato no programa “Casseta & Planeta, Urgente!”, com entrevistas exclusivas ao Memória Globo.
FONTE:
Depoimento de Reinaldo ao Memória Globo em 20/05/2013 |