Por Memória Globo

Acervo/Globo

Se dependesse dos pais funcionários públicos, Pedro Paulo Rangel seria oficial da Marinha. Sem nenhum artista na família, quando tinha 11 anos, tomou gosto pelo teatro graças a um vizinho do bairro carioca do Rio Comprido que era ator amador: “Eu tive contato, pela primeira vez, com o teatro, que eu não sabia nem da existência”, conta. Fascinado com aquele novo mundo, encasquetou que seria ator. Como não havia muitos papéis para a sua idade, escreveu uma peça em que pudesse atuar: 'Quando os Pais Entram de Férias'. Algumas montagens mais tarde, entrou para o elenco de uma peça infantil, encenada na Igreja de Santa Terezinha. Lá conheceu Marco Nanini, com quem estudaria no Conservatório Nacional de Teatro, atual Escola de Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Unirio.

Pedro Paulo Rangel em 'Saramandaia' - 1ª versão, 1976. — Foto: Acervo/Globo

Início da carreira

[No início da carreira na televisão] Eu pegava aquele monte de texto para decorar e fazia muito esforço, lutando contra a minha inibição. Na televisão, só muito tempo depois que eu desenvolvi algum relacionamento com a câmera. O teatro te dá um tempo maior para você elaborar as coisas. (…) Só quando eu fui fazer a 'TV Pirata', isso muitos anos depois, com a obrigação de fazer cinco, seis tipos diferentes por dia, é que me deu um relaxamento, no sentido amplo mesmo da palavra, para poder lidar bem com o ritmo da televisão.

Pedro Paulo Marques Rangel teve a sua primeira experiência em teatro profissional em 1968, na peça 'Roda Viva', de Chico Buarque, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa. Dois anos depois, fez sua estreia na televisão, contratado pela TV Tupi de São Paulo para o elenco da novela 'Super Plá', de Bráulio Pedroso. “Eu fazia um garçom. E era uma coisa difícil, porque eu era muito nervoso, então, a bandeja de cálices fazia muito barulho na minha mão. Mas eu estava cercado de amigos: a direção era do Antônio Abujamra, Bráulio escrevia, tinha o Antonio Pedro e a Marília Pêra, que era a turma com quem eu estava fazendo 'Roda Viva' no teatro”. No ano seguinte, ainda na Tupi, participou da novela 'Toninho on the Rocks', de Teixeira Filho.

Em 1972, quando atuava na peça 'Castro Alves Pede Passagem', de Gianfrancesco Guarnieri, foi visto pelo diretor Moacyr Deriquém, que o convidou para trabalhar na TV Globo. Estreou como Gastão, personagem da novela 'Bicho do Mato', de Chico de Assis e Renato Correia de Castro. Naquele ano, também esteve em 'A Patota', de Maria Clara Machado, contracenando pela primeira vez na TV com o amigo Nanini. Três anos depois, viveu um personagem de sucesso: o Juca Viana de 'Gabriela', adaptado do romance de Jorge Amado por George Walter Durst. Nela, protagonizou o primeiro nu masculino da televisão, numa cena que mostrava o casal Juca e Chiquinha (Cidinha Millan) sendo atirado na rua, depois de ser flagrado na cama. “Lá de longe, pequenininho, mas a gente gravou sem roupa”, diz.

Ainda em 1975, ganhou seu primeiro protagonista, o jovem aventureiro Carlos de 'O Noviço', adaptação de Mário Lago da peça de Martins Penna. Na novela, que teve apenas 20 capítulos, contracenou com Jorge Dória, Isabel Ribeiro, entre outros, sob a direção de Herval Rossano. Um ano depois, em 'Saramandaia' (1976), de Dias Gomes, interpretou seu primeiro galã, Dirceu. “E foi o único galã que eu cometi”, brinca.

Na Globo

Na Globo, fez ainda nesta época 'O Pulo do Gato' (1978), de Bráulio Pedroso; no ano seguinte, voltou para a Tupi, onde fez 'Dinheiro Vivo' (1979), de Mário Prata; depois, manteve-se afastado das novelas por quase dez anos. Trabalhou no cinema, atuando em filmes como 'Prova de Fogo' (1980), de Marco Altberg, e 'Menino do Rio' (1982), de Antonio Calmon, e deu prosseguimento à carreira no teatro. Em 1982, recebeu seu primeiro Prêmio Moliére de Melhor Ator por 'A Aurora da Minha Vida', de Naum Alves de Sousa. Ele ganharia mais dois: em 1989, por 'Machado em Cena – Um Sarau Carioca', de Luís de Lima; e, em 1994, por sua interpretação como Padre Antônio Vieira, no monólogo 'O Sermão da Quarta-Feira de Cinzas'.

Voltou a trabalhar na Globo em 1981, mas na linha de shows da emissora. Convidado por Jô Soares, atuou em esquetes humorísticos no programa 'Viva o Gordo' (1982). A experiência foi tão bem-sucedida que, anos depois, entrou para o elenco da segunda temporada de 'TV Pirata' (1988), um marco do humor na televisão brasileira. “Olha, era bárbaro. E uma das melhores coisas era poder experimentar, naquele horário, dentro da TV comercial”, conta. Em 1988 também voltou às novelas, como Audálio “Poliana”, o sócio boa-praça de Raquel Accioli (Regina Duarte) em 'Vale Tudo', de Gilberto Braga. “Ele só via o lado bom das coisas, por isso ele tinha esse apelido de Poliana”, lembra. Em seguida, fez a sua primeira minissérie, 'O Primo Basílio', adaptação do romance de Eça de Queiroz, feita por Gilberto Braga e Leonor Bassères.

'TV Pirata': 'Brega in Rio'

'TV Pirata': 'Brega in Rio'

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre o programa 'TV Pirata' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre o programa 'TV Pirata' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Ganhou de Aguinaldo Silva um dos personagens mais marcantes de sua carreira em 1992: o homossexual Adamastor, de 'Pedra sobre Pedra'. “Os personagens gays não eram tão comuns como hoje. Então, eu fiquei meio no fio da navalha, não sabia como ia fazer. Aí fui experimentando, e a rua me dava o feedback. Pela reação das pessoas, eu fui sacando que estava fazendo de uma maneira que elas gostavam”. Em seguida, fez as novelas 'O Mapa da Mina' (1993), de Cassiano Gabus Mendes, e 'A Indomada' (1997), de Aguinaldo Silva; e a minissérie 'Engraçadinha… Seus Amores e Seus Pecados' (1995), de Leopoldo Serran, entre outros trabalhos. No ano 2000, desdobrou-se entre a novela 'O Cravo e a Rosa' e as minisséries 'A Invenção do Brasil', de Guel Arraes e Jorge Furtado, e 'A Muralha', de Maria Adelaide Amaral.

'Pedra Sobre Pedra': cena em que Adamastor (Pedro Paulo Rangel) se declara para Carlão (Paulo Betti).

'Pedra Sobre Pedra': cena em que Adamastor (Pedro Paulo Rangel) se declara para Carlão (Paulo Betti).

Outro personagem de grande sucesso foi o cinéfilo Argemiro Falcão, o Gigi, irmão da vilã Bia Falcão (Fernanda Montenegro), de 'Belíssima' (2005), novela de Silvio de Abreu. Em 2012, interpretou o pacífico Zé da Carmem em 'Amor Eterno Amor', de Elizabeth Jhin. Além de seus trabalhos em novelas e minisséries, sua carreira inclui participações em seriados e especiais da TV Globo, como 'Você Decide' (1992-1998), 'A Diarista' (2004), 'Os Aspones' (2004) e 'Sob Nova Direção' (2005). Em 2009, integrou o elenco de 'Som & Fúria', adaptação feita por Fernando Meirelles da série de TV canadense 'Slings & Arrows'. Em 2013 fez uma participação especial como Lucien no seriado 'O Dentista Mascarado'.

'Belíssima': Gigi (Pedro Paulo Rangel) e as vedetes.

'Belíssima': Gigi (Pedro Paulo Rangel) e as vedetes.

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Pedro Paulo Rangel faleceu em 21 de dezembro de 2022, no Rio de Janeiro, aos 74 anos. O ator estava internado em decorrência de uma doença pulmonar crônica.

Fonte

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