Paulo Goulart nem precisou sair de casa para começar a carreira artística: seu primeiro emprego foi o de DJ, operador de som e locutor de uma rádio fundada pelo pai na cidade de Olímpia, interior de São Paulo. O ator chegou a estudar Química Industrial no Liceu Eduardo Prado, mas a vocação e o seu característico vozeirão falaram mais alto. Foi contratado como radioator por Oduvaldo Vianna, que apostou em seu potencial. Sua estreia na Globo aconteceu em 1969, em 'A Cabana do Pai Tomás', adaptação de Hedy Maia do romance homônimo de Harriet Beecher Stowe. Desde então, Paulo Goulart brilhou em mais de 20 novelas na Globo, além de minisséries e outros programas.
EXCLUSIVO: Entrevista do ator Paulo Goulart ao Memória Globo, em 03/04/2002, sobre o início da sua carreira na TV e no teatro.
Início da carreira
O primeiro emprego de Paulo Goulart foi o de DJ, operador de som e locutor de uma rádio fundada pelo pai na cidade de Olímpia, interior de São Paulo: “Eu queria ter algum outro ofício, porque rádio, embora fosse uma grande coqueluche, não era encarado como uma profissão” –, mas a vocação e o seu característico vozeirão falaram mais alto. Foi contratado como radioator por Oduvaldo Vianna, que apostou em seu potencial. “Foi a primeira pessoa que sacou esse meu talento, essa coisa histriônica dos atores sem uma formação de escola”, conta.
EXCLUSIVO: entrevista do ator Paulo Goulart ao Memória Globo, em 03/04/2002, sobre o início da sua carreira no rádio.
O sobrenome artístico de Paulo Afonso Miessa veio do tio radialista Airton Goulart. O ator, que tinha de 17 para 18 anos quando entrou para a Rádio Tupi, logo estreou na TV também. “A televisão estava começando, era 1951. Nós éramos contratados da rádio, e a TV Tupi era sustentada pelo rádio. Então, tínhamos também a obrigação de fazer televisão. O primeiro programa que eu fiz na TV foi com o Mazzaropi!”
No ano seguinte, foi contratado pela TV Paulista para integrar o elenco da novela 'Helena', a adaptação de Manoel Carlos do romance de Machado de Assis. Pouco depois, conheceu Nicette Bruno, com quem se casou. A atriz fazia parte da companhia Teatro de Alumínio e o convidou para fazer um teste. Aprovado, ele fez sua estreia no teatro ainda em 1952, na peça 'Senhorita Minha Mãe', de Louis Verneuil, dirigida por Abelardo Figueiredo. O casal fundou, em 1953, a companhia Teatro Íntimo Nicette Bruno (Tinb), e em 1956, o ator se mudou para o Rio de Janeiro, para participar da montagem de 'Vestido de Noiva', de Nelson Rodrigues, ao lado de Henriette Morineau. “Convivi com Madame Morineau durante uns três ou quatro anos. Ela foi uma pessoa extremamente forte na minha formação profissional.”
No ano seguinte, estreou no cinema em Rio Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos. Depois de uma breve passagem pela TV Continental, de 1958 a 1959, mudou-se com a família para Curitiba em 1962, onde trabalhou na Escola de Teatro Guaíra, no Teatro de Comédia do Paraná e na TV Paraná. De volta a São Paulo, Goulart foi convidado a trabalhar na TV Excelsior, onde atuou em novelas como As Minas de Prata (1966), adaptação do romance de José de Alencar por Ivani Ribeiro, Os Fantoches (1967) e O Terceiro Pecado (1968), ambas escritas por Ivani Ribeiro. “Nós gravávamos nos estúdios da Vera Cruz, porque a Excelsior ainda não tinha seus estúdios definitivos”, lembra.
Estreia na Globo
Sua estreia na Globo aconteceu em 1969, em A Cabana do Pai Tomás, adaptação de Hedy Maia do romance homônimo de Harriet Beecher Stowe. No mesmo ano, foi um dos protagonistas de Verão Vermelho, de Dias Gomes. O personagem do ator, Flávio Avelar, integrava o triângulo amoroso central da história, formado ainda por Adriana (Dina Sfat) e Carlos (Jardel Filho). “Era uma temática bastante arrojada para a época: uma mulher casada que deixou o marido para viver com outro homem”, analisa.
Em 1972, deu vida ao industrial Claude Antoine Geraldi em 'Uma Rosa com Amor', de Vicente Sesso. Personagem marcante na trajetória do ator, Claude era a paixão da solitária Serafina Rosa, vivida por Marília Pêra. A química entre o casal foi um dos pontos altos da novela, conquistando a torcida do público. “Claude era um francês, que tinha problemas para se naturalizar, e por isso se casava com uma secretária meio feiosa, que mandava flores para ela mesma. Foi, talvez, a primeira novela de comédia”, relembra.
Ainda na década de 1970, Goulart teve mais uma passagem pela TV Tupi, atuando em novelas como 'Éramos Seis' (1977), adaptação do livro de Maria José Dupré por Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho, e 'Gaivotas' (1979), de Jorge Andrade. De volta à Globo, atuou em 'Plumas e Paetês' (1980), de Cassiano Gabus Mendes, no papel de Gino. “Foi fantástico! Aquele guarda italianão, que falava com aquele sotaque, gostava de comida… Eu adoro! Foi um retorno maravilhoso", conta.
Ainda nos anos 1980, fez 'Jogo da Vida' (1981), de Silvio de Abreu, interpretando Silas Ramos Cruz; 'Transas e Caretas' (1984) e 'Roda de Fogo' (1986), de Lauro César Muniz; e 'Fera Radical' (1988), escrita por Walther Negrão, como Altino Flores. “Meu personagem vivia em cadeira de rodas, e eu sou uma pessoa muito vigorosa na vida real. Nicette que o diga, coitada. De vez em quando eu esbarro nas coisas e quebro tudo!”, se diverte.
Em 1988, atuou na minissérie 'Chapadão do Bugre', (1988), de Antônio Carlos da Fontoura, a partir da obra de Mário Palmério, na TV Bandeirantes. Voltou à Globo dois anos depois, em 'Gente Fina', de Luiz Carlos Fusco e Marilu Saldanha, e em seguida fez 'O Dono do Mundo' (1991), de Gilberto Braga, na qual viveu Altair, pai do vilão Felipe Barreto (Antonio Fagundes). “Eu estou sempre fazendo o papel de pai de atores que têm quase a minha idade. Eu comecei muito cedo a fazer personagens que são pais, talvez porque, na vida real, eu seja um paizão – e me orgulho disso!”, analisa.
No remake de 'Mulheres de Areia' (1993), de Ivani Ribeiro, interpretou o vilão Donato, outro papel marcante em sua trajetória. “Donato era uma pessoa má por princípio, um assassino. Mas eu me agarrei numa só coisa: um grande amor, ou melhor, a paixão por uma adolescente. Então, em nome disso, ele cometia todas as atrocidades; e, quanto mais apaixonado, pior ficava. Mas isso me abastecia como intérprete”, revela.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc novela - 'Mulheres de Areia' (1993)
Depois de passagens pelo SBT, onde integrou o elenco da novela 'As Pupilas do Senhor Reitor' (1995), adaptação de Lauro César Muniz do romance homônimo de Júlio Dinis, e pela Rede Bandeirantes, onde trabalhou em 'O Campeão' (1996), de Ricardo Linhares e Mário Prata, Goulart voltou a trabalhar na Globo, onde encarnou o aviador Ulisses da novela 'Zazá' (1997), de Lauro César Muniz.
Em 2002, foi escalado para viver o vilão Farina na novela 'Esperança', de Benedito Ruy Barbosa, e foi o sensível Mariano de 'América' (2005), de Gloria Perez. Padrasto da protagonista Sol (Deborah Secco), seu personagem sofria de um problema cardíaco grave e não tinha dinheiro para se operar. O seu estado de saúde era um dos motivos que levaram Sol a tentar a sorte nos Estados Unidos – principal trama da novela.
Em 'Duas Caras' (2007), interpretou mais um personagem mau-caráter: o professor Heriberto Gonçalves, um homem que só agia de acordo com seus próprios interesses. Em 2010, participou da novela 'Cama de Gato', de Duca Rachid e Thelma Guedes, no papel do amargo e vingativo Severo, pai de Verônica (Paola Oliveira) e genro de Gustavo (Marcos Palmeira). E em 2011 foi o Dr. Eliseu Vilanova de 'Morde & Assopra', de Walcyr Carrasco. Goulart também participou de minisséries como 'O Auto da Compadecida' (1999), adaptada por Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão a partir da peça de Ariano Suassuna, 'Aquarela do Brasil' (2000), de Lauro César Muniz, 'Um Só Coração' (2004) e 'JK' (2006), ambas de Maria Adelaide Amaral, e 'Amazônia – de Galvez a Chico Mendes' (2007), de Gloria Perez. O último trabalho do ator na televisão foi na minissérie 'O Tempo e o Vento' (2014).
Prêmios
Em 1974, por sua atuação em 'Orquestra de Senhoritas', de Jean Anouilh, com direção de Luís Sérgio Person, ganhou os prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e Molière de Melhor Ator. Em 2006, a família Goulart foi homenageada na 18ª edição do Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro. Paulo Goulart, Nicette Bruno e seus filhos Beth Goulart, Bárbara Bruno e Paulo Goulart Filho receberam um troféu especial, pela união e trabalho desenvolvidos nos palcos em mais de 20 anos de carreira.
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O ator morreu em 13 de março de 2014, em São Paulo.
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