Crítico de teatro, diretor, jornalista e escritor, Paulo Francis marcou a história do jornalismo brasileiro. Dotado de espírito crítico aguçado, o carioca Franz Paul da Matta Heiborn tecia comentários polêmicos sobre política, cultura e comportamento na imprensa escrita e, depois, na televisão. Seus textos no Pasquim o colocaram na mira do regime militar – foi preso e perseguido. Na Globo, o jornalista foi comentarista dos principais jornais da casa, a partir de 1981. De Nova York, ele participou da criação da primeira versão do Manhattan Connection, do GNT, e, depois, do Milênio, da GloboNews.
De Franz Paulo a Paulo Francis
Franz Paul da Matta Heilborn – mais conhecido como Paulo Francis – é filho de Adolfo Luís Heilborn e Irene Trannin Heilborn. Cursou o primário em um internato na Ilha de Paquetá e o secundário no Colégio Santo Inácio, em Botafogo. No início dos anos 1950, frequentou a Faculdade Nacional de Filosofia na Universidade do Brasil. Em 1954 e 1955, fez um curso de literatura dramática na Universidade de Columbia, em Nova York e foi aluno do renomado crítico e autor teatral Eric Bentley.
No início dos anos 1950, Franz Paul Heilborn integrou o Teatro do Estudante, companhia de Paschoal Carlos Magno e, por sugestão do diretor, passou a assinar Paulo Francis. Em 1952, recebeu o prêmio de ator-revelação pelo seu trabalho em A Mulher de Craig, peça de George Kelly montada pela companhia Artistas Unidos e dirigida por Henriette Morineau.
Depois de uma temporada estudando teatro nos Estados Unidos, voltou ao Brasil como diretor. Com a companhia Teatro Nacional de Comédia, dirigiu O Dilema de um Médico de Bernard Shaw, em 1956; O Telescópio de Jorge Andrade, Pedro Mico de Antônio Callado e Uma Mulher em Três Atos de Millôr Fernandes, em 1957.
O olhar crítico sobre a produção teatral do Rio de Janeiro levou Paulo Francis a assinar em 1956 uma coluna na Revista da Semana, então sob a direção do jornalista Hélio Fernandes. No ano seguinte, foi para o Diário Carioca, onde trabalhou até 1963 e consolidou sua fama de crítico de teatro rigoroso e polêmico.
De 1959 a 1962, Paulo Francis foi também o editor assistente da revista Senhor, dirigida por Nahum Sirotsky e, mais tarde, por Odylo Costa, Reynaldo Jardim e Edeson Coelho. Na revista, escrevia artigos e notas, pautava os ensaios sobre cultura e comportamento, escolhia a ficção estrangeira e titulava grande parte da publicação.
Jornal da Globo: Paulo Francis (1982)
Comentários de política
Em 1963, passou a assinar a coluna política Paulo Francis Informa e Comenta, publicada diariamente no jornal Última Hora. Depois do golpe militar em 1964, foi perseguido e ficou três anos desempregado, escrevendo textos anônimos. Em 1967, trabalhou durante um tempo na Civilização Brasileira e editou, com o poeta e tradutor José Lino Grünewald, o suplemento dominical Quarto Caderno, publicado no Correio da Manhã.
Em 1968, passou a editar também a Diners, revista oferecida gratuitamente aos portadores do cartão de crédito e que lançou jornalistas como Ruy Castro e Telmo Martino. Em dezembro daquele ano, logo após a decretação do AI-5, Paulo Francis foi preso ao desembarcar no aeroporto do Rio de Janeiro, quando voltava de uma viagem a Nova York. Deixou a prisão em janeiro de 1969. O Correio da Manhã havia sido fechado, e a Diners encerrou meses depois. O jornalista viajou, então, pela Europa fazendo matérias como freelancer para a revista Realidade. Nessa época, entrevistou o filósofo Bertrand Russell, na Inglaterra.
Entre 1969 e 1976, Paulo Francis assinou uma coluna na Tribuna da Imprensa e colaborou com O Pasquim, semanário carioca dirigido por Tarso de Castro, Jaguar, Sérgio Cabral e Claudius e que contava, ainda, com a colaboração de Millôr Fernandes, Ziraldo, Henfil, Fortuna, Ivan Lessa e Luiz Carlos Maciel, entre outros. Em novembro de 1970, foi preso durante um mês, junto com outros oito integrantes do jornal.
Em junho de 1971, foi viver em Nova York, subsidiado por uma bolsa da Fundação Ford conseguida por intermédio de Fernando Gasparian, da editora Paz e Terra. Continuou a ser correspondente de O Pasquim e da Tribuna da Imprensa e passou a escrever artigos para as revistas Status, História, Mais e Visão. Em 1975, casou-se com a jornalista Sônia Nolasco e passou a ser correspondente da Folha de S. Paulo.
Em 1977, Paulo Francis estreou na Folha de S. Paulo a coluna O Diário da Corte, na qual opinava, em notas curtas, sobre diversos assuntos, desde política internacional à última performance “escandalosa” de Dercy Gonçalves. O jornalista deixou a Folha em 1990, e O Diário da Corte passou a ser publicada no Estado de S. Paulo. Em 1992, a coluna passou a ser publicada também em O Globo.
Jornal Nacional: Comentário de Paulo Francis (1986)
TV Globo
Na Globo, Paulo Francis estreou em 1981, como comentarista de política internacional do Globo Revista. No mesmo ano, também foi o comentarista do Jornal da Globo, falando sobre política e assuntos da atualidade. De Nova York, o jornalista também entrava no Jornal Nacional, emitindo opiniões sobre variados assuntos, de política internacional à cultura.
A partir de abril de 1993, quando Lillian Witte Fibe assumiu como editora-chefe e apresentadora do Jornal da Globo, passou a comentar diariamente os destaques das principais redes de televisão norte-americanas. Em 1995, dividiu com Joelmir Beting e Arnaldo Jabor uma coluna de opinião. No vídeo, adotava uma voz arrastada e um jeito característico que o tornaram, desde então, uma das mais imitadas personalidades brasileiras.
A partir de 1993, ao lado de Lucas Mendes, Caio Blinder e Nelson Motta, Paulo Francis fez parte do grupo de debatedores do programa Manhattan Connection, transmitido pelo canal pago GNT. A partir de junho de 1996, passou a trabalhar no Milênio, programa da Globo News produzido por Edney Silvestre, no qual entrevistou personalidades internacionais como o economista John Kenneth Gailbraith.
Fim da URSS (1991)
Paulo Francis morreu em 4 de fevereiro de 1997, em Nova York, vítima de ataque cardíaco.
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Publicações
É autor de diversos livros, como Opinião Pessoal (Civilização Brasileira, 1966), Certezas da Dúvida (Paz e Terra, 1970), Nixon x McGovern: As Duas Américas (Francisco Alves, 1972), Paulo Francis Nu e Cru (Codecri, 1976), Cabeça de Papel (Civilização Brasileira, 1977), Paulo Francis – Uma Coletânea de Seus Melhores Textos já Publicados (Editora Três, 1979), Cabeça de Negro (Nova Fronteira, 1979), O Afeto que se Encerra (Civilização Brasileira, 1980), Filhas do Segundo Sexo (Nova Fronteira, 1982), O Brasil no Mundo (Paz e Terra, 1985) e Trinta Anos Esta Noite – 1964: O que Vi e Vivi (Companhia das Letras, 1994). O jornalista Daniel Piza reuniu frases e artigos de Francis no livro Waaal – O Dicionário da Corte de Paulo Francis (Companhia das Letras, 1996). Em 2008, foi lançado um romance póstumo, Carne Viva (Companhia das Letras, 2008).