Por Memória Globo

João Miguel Júnior/Globo

“O teatro é meu meio de expressão, gosto demais”. Em entrevista ao 'Jornal Hoje', em 1979, Oswaldo Loureiro fez questão de declarar seu amor pela dramaturgia: ele nasceu para atuar. Oswaldo veio de uma família de artistas: a mãe era cantora lírica, o pai, jornalista e ator; as irmãs, bailarinas do Theatro Municipal. Sua estreia profissional ocorreu em 1955, aos 23 anos de idade, quando integrava a companhia de teatro de Henriette Morineau, na peça 'Vestido de Noiva' – famosa montagem de Nelson Rodrigues. Foi um começo grandioso para o jovem que se tornaria também diretor de dezenas de peças de teatro, espetáculos de televisão e musicais.

Oswaldo Loureiro atuou em mais de vinte novelas na Globo, entre elas 'Sangue e Areia' (1967) e 'Véu de Noiva' (1969), de Janete Clair, 'Roque Santeiro' (1985), de Dias Gomes, e 'Que Rei sou Eu?' (1989), de Cassiano Gabus Mendes. Como diretor, colaborou com o seriado 'O Bem-Amado' (1980-1985), o humorístico 'Os Trapalhões' (1982-1988), e o programa de variedades 'Batalha dos Astros' (1983).

Oswaldo Loureiro em Mico Preto, 1990 — Foto: Acervo/Globo

Início da carreira

Ainda criança, atuou em alguns filmes, como 'O Brasileiro João de Souza', 'É Proibido Sonhar', e 'Romance Proibido', gravados em 1944, quando Oswaldo tinha apenas doze anos de idade. Mas foi nos anos 1950 que o jovem se decidiu mesmo pelo teatro, quando ingressou na companhia de Henriette Morineau. Em entrevista para o 'Jornal Hoje', em 1979, ele se disse muito orgulhoso por ter começado no teatro profissional atuando em uma peça de Nelson Rodrigues: “Vestido de Noiva era um clássico da dramaturgia brasileira, que o Nelson Rodrigues conseguiu fazer possivelmente a peça mais importante do nosso teatro, o que para mim foi uma sorte muito grande.”

Em 1956, integrou o elenco de 'Otelo', de William Shakespeare, pela Companhia Tônia-Celi-Autran, CTCA, com direção de Adolfo Celi. Na década seguinte, atuou nos espetáculos 'Com a Pulga Atrás da Orelha', de Georges Feydeau, 'Beijo no Asfalto', de Nelson Rodrigues, 'A Ópera dos Três Vinténs', de Bertolt Brecht, 'Se Correr o Bicho Pega, se Ficar o Bicho Come', de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar.

Estreia na televisão

Estreou na televisão em 1964, atuando em 'O Direito de Nascer' na TV Tupi. Em 1967, Oswaldo Loureiro integrou uma das primeiras turmas de atores da Globo. Começou interpretando o ranzinza Antônio, em 'Sangue e Areia', casado com Encarnación, vivida por Neuza Amaral, seguido pelo mecânico Chico de 'Véu de Noiva' e do ambicioso Otávio em 'Corrida do Ouro' (1974), novela escrita por Lauro César Muniz.

Paulo Gonçalves, Oswaldo Loureiro e Cláudio Marzo em Véu de Noiva, 1969 — Foto: Acervo/Globo

Oswaldo seguiu atuando no teatro, em paralelo com a carreira na televisão. Nos anos 1970, viveu os protagonistas Ceronte, do espetáculo 'Gota D’água', de Chico Buarque; Cristal, em 'A Longa Noite de Cristal', de Vianinha; e o Paco de 'Dois Perdidos Numa Noite Suja', de Plínio Marcos.

Estreia como diretor

Na Globo, estreou como diretor de televisão à frente da novela 'Cuca Legal', escrita por Marcos Rey. O argumento do folhetim se baseava na peça 'Boeing-Boeing', do autor francês Marc Camoletti, e foi escrito por Oswaldo Loureiro e Paulo Pontes. 'Cuca Legal' contava as aventuras de Mário Barroso (Francisco Cuoco), um aviador solteirão que tentava se decidir entre três mulheres, com quem estava envolvido: Virgínia (Françoise Fourton), Irene (Suely Franco) e Fátima (Yoná Magalhães).

Luta sindical

Nos anos 1980, engajou-se na luta sindical pelo reconhecimento da profissão de ator e em defesa da liberdade de expressão – Loureiro chegou, inclusive, a ser presidente do Sindicato dos Artistas. Em dezembro de 1983, quando o elenco da peça 'Vargas' aguardava a decisão do governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, sobre a manutenção do espetáculo em cartaz na cidade, Loureiro foi firme ao dizer que a situação era um boicote político. Na época, o musical escrito por Dias Gomes e Ferreira Gullar levara milhares de pessoas ao teatro, e empregara 70 profissionais.

Ainda em 1983, Oswaldo ganhou o troféu Mambembe de Melhor Ator, pela atuação na comédia 'Motel Paradiso', onde interpretava um banqueiro inescrupuloso na peça dirigida por Juca de Oliveira. Ao longo da carreira, o ator atuou em mais de 140 peças.

'Os Trapalhões'

Em 1982, dirigiu os esquetes de 'Os Trapalhões', que eram gravados no Teatro Fênix. Os esquetes eram encenados como se fosse um programa ao vivo, com o mínimo de pausa para a mudança de cenários e figurinos. Em entrevista ao Memória Globo, Dedé Santana diz que aprendeu muito com o estilo de direção de Oswaldo Loureiro: “Ele era muito bom em marcação, era ótimo. Eu não sei se era a prática que ele tinha de teatro, mas as marcações eram perfeitas: ‘Você vem para cá, você vai para lá… Eu quero você ali’. Eu prestava atenção nas marcações, porque eu sempre gostei de dirigir” .

Em 1985, na minissérie 'Tenda dos Milagres' (1985) viveu o antagonista de Pedro Arcanjo (Nelson Xavier), Nilo Argolo, um médico-legista influente que tenta provar a superioridade da raça branca através de pesquisas científicas com a ajuda do inescrupuloso delegado Francisco Mata Negros (Francisco Milani).

Em 1989, destacou-se como um dos conselheiros do Reino de Avillan, na novela de Cassiano Gabus Mendes, 'Que Rei Sou Eu?'. A trama fazia uma sátira ao Brasil e tinha como um dos núcleos cômicos os conselheiros do reino – uma crítica bem-humorada ao Congresso Nacional - Gaston Marny (Oswaldo Loureiro), Bidet Lambert (John Herbert), Bergeron Bouchet (Daniel Filho).

Oswaldo Loureiro: novelas da Globo

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Oswaldo Loureiro: novelas da Globo

Década de 90

Seu compromisso com a profissão o levou a se tornar diretor do Teatro Guaíra, em Curitiba, onde desenvolveu o projeto Teatro para o Povo, que levou mais de 700 pessoas às salas, nos anos 1990. Também nessa época, Oswaldo Loureiro se destacou na Globo por sua atuação na minissérie 'Desejo', onde viveu o rígido general Sólon, que reprimia a personagem de Deborah Evelyn, Alcmena, a irmã da protagonista Ana (Vera Fischer).

A novela 'Quatro por Quatro' (1994) foi outro trabalho que realizou nesta década, tendo interpretado o rígido Olegário, padrasto da protagonista Babalu (Letícia Spiller). Em seguida, fez participações nas novelas 'Cara e Coroa' (1995), 'O Fim do Mundo' (1996), 'Salsa e Merengue' (1996) e 'Pecado Capital' (1998).

Cinema

Oswaldo Loureiro era uma criança quando apareceu no cinema pela primeira vez. Ao longo de sua trajetória profissional, não deixou o cinema de lado, tendo participado de mais de 30 filmes, como 'O Homem Nu' (1968), 'As Confissões de Frei Abóbora' (1971), 'O Beijo no Asfalto' (1981), 'Para Viver um Grande Amor' (1984), 'Sonho de Verão' (1990), e 'Simão, o Fantasma Trapalhão' (1998).

Sua última atuação na Globo foi na comédia romântica 'A Lua me Disse' (2005), de Maria Carmem Barbosa e Miguel Falabella, onde interpretou o delegado Boaventura.

Oswaldo Loureiro morreu aos 85 anos, no dia 3 de fevereiro de 2018, em São Paulo. Ele sofria do Mal de Alzheimer.

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