Por Memória Globo, Memória Globo

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As heroínas românticas foram uma constante na trajetória de Nívea Maria na televisão. Curiosamente, porém, o seu primeiro papel foi o de um violinista sapateiro numa peça infantojuvenil chamada 'Lírio', quando tinha só 11 anos. Nívea Maria já tinha feito trabalhos em várias emissoras quando, em 1972, foi contratada pela Globo para viver a Helena de 'O Primeiro Amor', de Walther Negrão. Com uma vasta carreira artística na televisão, com cerca de 60 trabalhos, entre novelas, séries e especiais, Nívea Maria é referência para artistas de toda as gerações.

Ele já era essa pessoa com sensibilidade para escrever sobre mulheres. Posso dizer que eu fui a primeira Helena do Maneco.
Entrevista exclusiva da atriz Nívea Maria ao Memória Globo em 12/11/2008, sobre seu entendimento quanto a função do ator.

Entrevista exclusiva da atriz Nívea Maria ao Memória Globo em 12/11/2008, sobre seu entendimento quanto a função do ator.

As heroínas românticas foram uma constante na trajetória de Nívea Maria na televisão: “Eu comecei, desde a primeira novela, fazendo as ingênuas românticas. Eram meninas puras e sonhadoras, que viajavam na sua história de amor e acreditavam que todo mundo era bom. Eu não sei se pelo meu biótipo, mas eu me encaixava bem nessas personagens, segundo os diretores e produtores da época”.

Curiosamente, porém, o seu primeiro papel foi o de um violinista sapateiro numa peça infantojuvenil chamada 'Lírio', quando tinha só 11 anos: “Meu personagem era masculino. Era a história de um sapateiro e uma princesa, e a princesa deveria ser loura, de olhos azuis. Eu era morena e fiz o violinista sapateiro”.

Início da carreira

Nívea Maria Cândido Graieb nasceu em São Paulo, em 7 de março de 1947, filha do advogado Carlos Caldas Graieb e de Maria de Lourdes Cândido Graieb. A mãe, pianista, ensinou-a a recitar poesia desde criança e a matriculou no balé. “Assim mamãe plantou a sementinha de atriz em mim”, comenta.

Nívea subiu ao palco pela primeira vez em 1958, na peça 'Lírio', sob a direção de Lívio Rangan: “Para mim, era uma brincadeira criar o personagem, fazendo reverências de homem. Eu acho que essa coisa lúdica e essa brincadeira me levaram a ser atriz. Eu sou uma atriz que gosta de fazer brincando aquilo que faz”.

Vieram os comerciais de produtos femininos na TV. Um deles chamou a atenção do diretor Walter Forster, que a convidou para fazer uma figuração no 'Colégio de Brotos', da TV Paulista, uma espécie de 'Você Decide' da época. “Ficava quieta no meu canto da sala de aula, até que um dia me deram uma fala e, no dia seguinte, me deram mais duas, mais três… Até que a atriz principal ficou doente. E eu a substituí. Começou a minha trajetória”, conta.

A primeira telenovela foi na TV Excelsior, em 1964: 'A Moça que Veio de Longe', de Ivani Ribeiro: “Fiz só os dois últimos capítulos, uma caboclinha com poucas falas”. Trabalhou em outras quatro novelas na emissora antes de se transferir, no ano seguinte, para a TV Tupi, a convite de Cassiano Gabus Mendes. Na nova emissora, protagonizou sua primeira novela, 'O Preço de uma Vida' (1965), de Thalma de Oliveira. Era a apaixonada Tula.

Na época, tudo na televisão era enorme, a câmera, a iluminação; e nós pequenos ali, naquele vídeo. Você mesmo se maquiava, ajudava o contrarregra. Assim era a televisão.

Na Globo

Depois de se casar com o ator Edson França (1930-2004), a atriz ficou afastada da televisão por quase quatro anos, para cuidar dos filhos. Em 1972, foi contratada pela Globo para viver a Helena de 'O Primeiro Amor', de Walther Negrão. Ainda naquele ano, interpretou mais uma personagem romântica, a Terezinha de 'Uma Rosa com Amor'. A série de mocinhas sonhadoras foi quebrada com a Soninha de 'O Semideus' (1973), de Janete Clair. “Foi a primeira vez que eu peguei uma personagem com um perfil psicológico complicado e desconhecido para mim. Ela era uma mentirosa que acabava acreditando nas próprias mentiras. Para mim, foi uma oportunidade de amadurecimento maior como atriz”, destaca.

De volta à Excelsior, fez a novela 'Sangue do Meu Sangue' (1969), de Vicente Sesso, integrando um elenco que contava com nomes como Tônia Carreiro, Fernanda Montenegro, Francisco Cuoco e Glória Menezes.

Na novela 'Gabriela' (1975), adaptação do romance de Jorge Amado por Walter George Durst, veio uma das personagens emblemáticas de sua carreira: Jerusa, namorada de Mundinho Falcão (José Wilker) e neta do coronel Ramiro Bastos (Paulo Gracindo). “Eu e Wilker criamos uma química muito boa: o Mundinho e a Jerusa fizeram um grande sucesso”, lembra.

Divorciada de Edson França, a atriz se casou com Herval Rossano (1935-2007), com quem teve uma filha, Vanessa. Nessa época, trabalhou em várias telenovelas das 18h dirigidas por Rossano, todas adaptações de clássicos da literatura, como 'A Moreninha' (1975), escrita por Marcos Rey, inspirada na obra de Joaquim Manuel de Macedo. “As novelas das 19h e das 20h já eram um sucesso, e a novela das 22h também tinha sido implantada. Então, às 18h, não se sabia bem qual era o caminho, e o escolhido foi o de adaptar romances brasileiros”, pontua.

Depois vieram 'O Feijão e o Sonho' (1976), adaptada por Benedito Ruy Barbosa da obra de Orígenes Lessa, na qual interpretou Maria Rosa dos 18 aos 45 anos; 'Dona Xepa' (1977), adaptação de Gilberto Braga da peça de Pedro Bloch; 'Olhai os Lírios do Campo' (1980),adaptação de Wilson Rocha do livro de Erico Verissimo; e 'Terras do Sem Fim' (1981), adaptada por Walter George Durst do romance de Jorge Amado.

“Herval me chamava para atuar não porque éramos casados, mas porque eu me encaixava nas personagens. Tanto que, em Dona Xepa, por exemplo, eu fui chamada pelo Gilberto Braga, e pedi a ele para fazer a antagonista, porque vinha fazendo só as protagonistas boazinhas.”

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a novela O Feijão e o Sonho com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

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Entrevista exclusiva da atriz Nívea Maria ao Memória Globo sobre o diretor Herval Rossano.

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A estreia do novelista Manoel Carlos na Globo, 'Maria, Maria' (1978), adaptação do romance Maria Dusá, de Lindolfo Rocha, teve Nívea nos papéis das gêmeas Maria Alves e Maria Dusá. “Ele já era essa pessoa com sensibilidade para escrever sobre mulheres. Posso dizer que eu fui a primeira Helena do Maneco”, afirma.

Depois de passar um período no Chile, acompanhando Herval Rossano, que foi trabalhar na TV local (chegou a fazer uma novela no país, 'El Juego de la Vida', em 1983), foi escalada para o elenco da minissérie 'Anos Dourados' (1986), de Gilberto Braga, no papel de Beatriz, mulher do major Dornelles (José de Abreu). “É um dos meus personagens queridos. Eu acabara de perder minha mãe e estava muito triste, e foi ela quem me levou a ser atriz. E achei que devia, então, encerrar a carreira. [O diretor] Roberto Talma me convenceu quando disse para fazer este trabalho em homenagem a ela. Foi lindo, uma mulher que recomeça a vida”, conta.

Ainda em 1986, a atriz se transferiu para a TV Manchete, onde atuou na novela 'Mania de Querer'. Voltou para a Globo no ano seguinte, para viver a Zilda de 'Brega & Chique', de Cassiano Gabus Mendes. Em 1988, atuou em 'Vida Nova', de Benedito Ruy Barbosa. Na novela, encarnou Gema, uma mulher sensual e exuberante, bem diferente das personagens que fez anteriormente. Nívea começou os anos 1990 trabalhando em duas novelas: em 'Gente Fina', de Luiz Carlos Fusco, viveu a Joana; e em 'Meu Bem, Meu Mal', de Cassiano Gabus Mendes, interpretou Berenice, uma manicure fofoqueira. Em 1992, foi convidada a integrar o elenco de 'Pedra sobre Pedra', de Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn, no papel de Ximena Vilares. “Ousei pedir ao diretor Paulo Ubiratan para fazê-la com sotaque português, talvez por hábito lúdico de brincar com as coisas. Foi também mais uma forma de homenagear a minha mãe, que era portuguesa", confessa.

Meu Bem, Meu Mal: Berenice conhece Felipe

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Pedra Sobre Pedra: Ximena acoberta Jorge Tadeu

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O ano de 1995 foi de dupla estreia: Nívea participou da primeira temporada de 'Malhação' e, com a novela 'Explode Coração', de Gloria Perez, inaugurou o Projac. “Hoje, quando entro lá, eu me lembro de quando nós fomos convidados a fazer uma visita às instalações. O Projac tinha um estúdio ainda em formação, era uma coisa pequena, um prediozinho só”, lembra.

Ela voltou a trabalhar com Gloria Perez em 'O Clone' (2001), na qual viveu Edna, a assistente do médico geneticista Albieri (Juca de Oliveira); em 'América' (2005), na qual foi Mazé; e em 'Caminho das Índias' (2009), vencedora do Emmy Internacional, na qual viveu a indiana Kochi Meetha.

Em 'Insensato Coração', de 2011, escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares, Nívea Maria foi Carmen Pereira; no mesmo ano, ganhou de Miguel Falabella o papel de Regina Collaboro, em 'Aquele Beijo'. Em 2012, integrou o elenco da novela 'Salve Jorge', de Gloria Perez, como Isaurinha, mulher de Arturo (Stênio Garcia) e mãe de Celso (Caco Ciocler). Em 'Além do Tempo, de 2015', escrita por Elizabeth Jihn, interpretou Zilda. No ano seguinte, interpretou Dona Mocinha, em 'Sol Nascente', trama de Walther Negrão, Suzana Pires e Júlio Fischer.

Por sua atuação como a Dona Maria da minissérie 'A Casa das Sete Mulheres' (2003), escrita por Maria Adelaide Amaral e Walther Negrão, a partir do romance de Letícia Wierzchowski, recebeu o prêmio de melhor atriz da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). “Eu costumo dizer que a personagem resgatou o meu prazer de interpretar, porque ela era uma rocha: amarga, sofrida, frustrada, desagradável com as filhas, aparentemente sem amor e, no entanto, no fundo, a mulher mais frágil do mundo. E fiz isso do começo ao fim da minissérie, sem escorregar”, reflete.

Fontes

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