Nilton Nunes foi responsável pela identidade visual da Globo desde a inauguração da emissora, em abril de 1965. Dez anos depois, com a entrada de Hans Donner na empresa, formou uma dupla que trabalhou junta por quase 30 anos e produziu algumas das vinhetas e aberturas mais conhecidas da televisão brasileira.
Nilton de Oliveira Nunes nasceu em Varginha, Minas Gerais. Estudou Belas Artes em Manaus e Belém, acompanhando as mudanças do pai militar, José Pedro Nunes, e da mãe, Maria Mendes Nunes. “Fiz Belas Artes, cursinhos de propaganda, desenho de publicidade. Tudo que fosse ligado à arte, eu queria aprender: escultura, pintura, gravura, serigrafia, tudo”, lembra.
Já no Rio de Janeiro, trabalhou com o comerciante Abrahão Medina na produção do programa 'Noite de Gala', da TV Rio. Nilton Nunes cuidava de toda a parte de arte e decoração para o programa e, também, para a cadeia de lojas de eletrodomésticos Rei da Voz, de Medina. “Eu fui para fazer vitrines e cenografia. Entrei nessa área de cenografia, que também me fascinou. Fazíamos muitas peças de teatro e decoração de rua. Na época do Natal, ele decorava a cidade inteira com aqueles papais-noéis gigantescos. E aquilo me impressionou muito, me fascinou”, revela. Em seguida, conheceu pessoas ligadas à televisão, como o cenógrafo Monteiro Filho, através das quais começou a trabalhar na Globo, ainda em abril de 1965.
Durante a montagem da emissora, Nilton Nunes participou de toda a implantação da identidade visual na programação, como as aberturas e as vinhetas: “Comecei desenhando praticáveis, tapadeiras. Eu tinha muita habilidade para desenhar perspectivas, então, imaginava o posicionamento da câmera em relação ao cenário. Fazia isso no início”. Depois, sob o comando de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, foi escolhido para chefiar o recém-criado departamento de Arte: “Começamos a atender a programação, o jornalismo, o comercial. Tudo que vinha a gente fazia. Montei uma equipe de oito pessoas”.
Parceria com Hans Donner
Dez anos depois, quando o designer Hans Donner chegou à Globo, formou com Nilton Nunes uma dupla de criação que esteve à frente de importantes inovações estéticas da programação. Mas a parceria não emplacou de primeira: “Foi difícil no início: Hans não queria saber de mim. E o trabalho dele era maravilhoso, eu adorava. Quando ele trouxe o portfolio, vi que ele queria implantar a terceira dimensão. Enquanto nós ainda usávamos tudo chapado, branco, preto.”
A barreira do idioma atrapalhava: Nilton não falava inglês, nem Hans falava português. Mas o trabalho de criação quebrou o gelo: “Eu queria mudar todo o visual do Fantástico. E fiz alguns logotipos. Comecei a prender aquilo na parede. Quando Hans bateu o olho, perguntou se tinham sido feitos por mim. Eu disse que sim. Ele elogiou. E não parou mais: ele começou a pedir coisas, eu fui fazendo. E formamos uma dupla fantástica.”
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Em depoimento exclusivo ao Memória Globo, Nilton Nunes, diretor de arte, fala sobre a abertura do programa “O Planeta dos Homens”.
Não por coincidência, os dois foram responsáveis pela famosa abertura do Fantástico, na qual um laser cortava uma pirâmide metálica, produzida em 1984.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Vídeo produzido pelo Memória Globo sobre a abertura do Fantástico de 1984, com entrevistas exclusivas de Hans Donner e Nilton Nunes.
Vídeo produzido pelo Memória Globo sobre a abertura do Fantástico de 1987, com entrevista exclusiva do diretor de arte Nilton Nunes.
Outros trabalhos e logotipo da Globo
Outro trabalho da dupla que ficou famoso foi a abertura da novela 'Tieta', em 1989. A partir de modernos recursos de computação gráfica, coordenados pelo engenheiro José Dias, pedras, árvores e folhas se retorciam dando origem ao corpo da modelo Isadora Ribeiro. A vinheta revolucionou a programação visual do início da década de 1990.
A dupla foi responsável pela abertura de diversas novelas de grande sucesso da Globo. De 'Roque Santeiro' a 'Rainha da Sucata', passando por 'Brega & Chique', 'Top Model', e muitas outras. Todas feitas sob a supervisão de Boni: “Quem aprovava era o Boni. Ele centralizava tudo: desde a criação, a aprovação, até para botar no ar”. Em 1992, criaram a abertura da novela 'Deus nos Acuda', na qual uma grande festa sendo invadida por um mar de lama que levava o mapa do Brasil para um ralo e escoava para o fundo do globo terrestre.
Diretor de arte da Rede Globo, Nilton Nunes também esteve à frente da modernização do logotipo da emissora, ao lado de Hans Donner. A vinheta, que na primeira versão exibia um globo terrestre plano na tela com seus meridianos, passou a ser tridimensional. A logomarca, que desde 1976 é formada por três peças, sugere a Terra englobando uma tela de televisão, que por sua vez reproduz a imagem do próprio planeta.
Nilton Nunes foi diretor de arte da emissora até 2005.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc sobre o programa Viva o Gordo com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
FONTE:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Nilton Nunes em 13/03/2001. |