Por Memória Globo

Memoria Globo

Nilton Álvaro Canavezes – o “Cana”, como se tornaria conhecido na Globo – nasceu no bairro de Irajá, no Rio de Janeiro. Filho de um sapateiro e de uma dona de casa, começou a trabalhar na oficina do pai, aos 18 anos, depois que esse morreu. Aos 23 anos, ingressou na televisão, trabalhando como contínuo na TV Tupi. Neste período, passou por diversas funções, como iluminador, operador de áudio e câmera, mas acabou se interessando pela profissão de assistente de estúdio. Trabalhou no programa musical 'Espetáculos Tonelux' e também nas transmissões de comerciais que, na época, eram feitas ao vivo. 

Nilton Canavezes — Foto: Acervo/Globo

Por intermédio de Jurandir Vilela, seu chefe na TV Tupi, Nilton Canavezes foi para a TV Excelsior, onde trabalhou como assistente de estúdio em programas jornalísticos e de variedades. Durante algum tempo, também foi o assistente da Missa Dominical exibida pela TV Excelsior. Nos sete anos em que ficou na emissora, Nilton Canavezes aprendeu noções de marcação de cena. Como os programas eram todos ao vivo, havia sempre dois ensaios (um artístico e um técnico) antes que eles fossem ao ar. Mesmo assim, erros eram relativamente comuns. Esse problema só seria solucionado a partir da introdução do videoteipe, que Nilton Canavezes viu aparecer ainda na TV Excelsior.

Após a falência da emissora, fez alguns trabalhos com o cantor, compositor e radialista César de Alencar, e em shows do cantor Pedro Celestino. Também trabalhou na companhia Souza Cruz, como faxineiro. Posteriormente, em 1971, estimulado pelo mesmo Jurandir Vilela que fora seu chefe na TV Tupi e na TV Excelsior, fez um teste na Globo para assistente de estúdio da novela 'O Homem que Deve Morrer', de Janete Clair, dirigida por Daniel Filho e Milton Gonçalves. Aprovado, trabalhou ao mesmo tempo nessa novela e em 'Minha Doce Namorada', de Vicente Sesso, também com direção de Daniel Filho e de Régis Cardoso. A primeira novela na qual ele trabalharia do início ao fim foi, no entanto, 'O Primeiro Amor' (1972), de Walther Negrão, com direção de Régis Cardoso e Walter Campos. Desde então, Nilton Canavezes atuou como assistente de estúdio em dezenas de novelas e várias outras produções da emissora.

Logo que entrou na Globo, ainda em 1971, foi apresentado a uma novidade: a claquete. Como na TV Tupi e na TV Excelsior tudo era ao vivo, o assistente apenas dizia “atenção” e fazia sinal para que os atores ou apresentadores falassem. Na Globo, onde já se utilizava o videoteipe, começou-se a usar a claquete como ferramenta de identificação das cenas. Naquela época, o esquema de gravações de programas de dramaturgia já era como hoje: por cenário, sem ligação com a cronologia da história. O roteiro de gravação já era, naquele tempo, determinado pelo produtor e passado ao assistente de estúdio, que, eventualmente, fazia alterações de última hora em função da ausência de algum ator.

Em 1973, Nilton Canavazes trabalhou na primeira novela em cores na televisão brasileira, 'O Bem-Amado', de Dias Gomes. A direção era de Régis Cardoso. Inicialmente, a introdução da cor causou uma série de pequenos transtornos, como dificuldades técnicas no uso dos novos equipamentos e no ajuste das tonalidades – problemas que Nilton Canavezes, como assistente de estúdio, também ajudava a resolver. A atriz Ida Gomes, por exemplo, tinha pernas tão claras que a equipe precisava passar nelas cremes antirreflexo, porque o branco saturava no vídeo.

Na década de 1970, Nilton Canavezes estabeleceu uma parceria constante com o diretor Régis Cardoso – além das já citadas 'Minha Doce Namorada', 'O Primeiro Amor' e 'O Bem-Amado', ele foi seu assistente de estúdio nas novelas 'Escalada' (1975), de Lauro César Muniz, Anjo Mau (1976), de Cassiano Gabus Mendes, 'Estúpido Cupido', de Mário Prata, 'Sem Lenço, Sem Documento' (1977), também de Mário Prata, e 'Os Gigantes' (1979), de Lauro César Muniz. Também trabalhou com diretores como Walter Avancini, na novela 'O Rebu' (1974), e Paulo Ubiratan, em 'Feijão Maravilha' (1979), ambas de Bráulio Pedroso.

'Caso Especial': Sarapalha. Com Stenio Garcia e Juca de Oliveira, Nilton de vermelho — Foto: Acervo/ Globo

Nos anos 1980, além de várias novelas, Nilton Canavezes fez minisséries como 'Quem Ama Não Mata' (1982), com texto de Euclydes Marinho e direção de Daniel Filho e Dennis Carvalho, e 'Rabo de Saia' (1984), escrita por Walter George Durst, José Antonio de Souza e Tairone Feitosa, e dirigida por Walter Avancini. Em pelo menos duas minisséries, viajou para atuar como assistente em externas: 'O Tempo e o Vento' (1985), de Doc Comparato, baseada na obra de Érico Verissimo, e 'Tenda dos Milagres' (1985), de Aguinaldo Silva e Regina Braga, adaptação da obra de Jorge Amado. Na primeira, com direção de Paulo José, Denise Saraceni e Walter Campos, Nilton Canavezes foi para o Sul do Brasil, enquanto na outra, dirigida por Paulo Afonso Grisolli, Maurício Farias e Ignácio Coqueiro, foi para a Bahia. O núcleo de minisséries e seriados, na época, era na Tijuca, e não na sede da emissora no Jardim Botânico.

Entre as novelas daquela década, Nilton Canavezes participou de grandes sucessos da história da Globo: 'Roque Santeiro' (1985), de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, dirigida por Paulo Ubiratan, Jayme Monjardim, Gonzaga Blota e Marcos Paulo; 'O Outro' (1987), de Aguinaldo Silva, dirigida por Gonzaga Blota, Fred Confalonieri, Ignácio Coqueiro e Ricardo Waddington; e 'Tieta' (1989), adaptação de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares do romance 'Tieta do Agreste', de Jorge Amado, com direção de Paulo Ubiratan, Reynaldo Boury e Luiz Fernando Carvalho.

Em 1995, depois de seis anos de construção, a Globo inaugurou os estúdios do Projac, em Jacarepaguá. O centro de produção foi um marco para os profissionais da casa que trabalhavam com gravações. Para os assistentes de produção como Nilton Canavezes, uma das muitas facilidades que vieram com o Projac foi a possibilidade de convocar atores e equipe técnica para o estúdio por um sistema de alto-falantes. A primeira novela na qual Nilton Canavezes trabalhou no Projac foi 'História de Amor' (1995), de Manoel Carlos, com direção de Ricardo Waddington, Roberto Naar e Alexandre Avancini. A novela começou a ser gravada na sede e terminou no Projac.

Ainda na década de 1990, Nilton Canavezes trabalhou em novelas de sucesso como 'Quatro por Quatro' (1994), de Carlos Lombardi, com direção de Ricardo Waddington, Alexandre Avancini e Luís Henrique Rios, e 'Terra Nostra' (1999), de Benedito Ruy Barbosa, com direção de Jayme Monjardim, Carlos Magalhães e Marcelo Travesso. Fora do núcleo de dramaturgia, Nilton Canavezes também atuou como assistente de estúdio em humorísticos como 'A Grande Família' (2001) e 'Sob Nova Direção' (2004).

FONTE:

Depoimento concedido ao Memória Globo por Nilton Canavezes em 13/07/2009.



Depoimento concedido ao Memória Globo por Nilton Canavezes em 13/07/2009.

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