Mylena Ciribelli é filha da dona de casa Myrna e do funcionário do Banco do Brasil Jomar Ciribelli. Seu pai se tornou um importante personagem para o esporte amador de Niterói (RJ): fundou na cidade o Clube Olímpico, que funcionava no estádio Caio Martins, tornando-se uma referência para muita gente. "Nesse clube ele recebia quem quisesse praticar o atletismo, e levava embaixo do braço dardo, martelo, enfim, todos os aparelhos para a prática desse esporte. Ele era corredor, amigo do (bicampeão olímpico) Adhemar Ferreira da Silva. Meu pai contava muitas histórias dessa época para a gente", lembra ela.
A menina Mylena cresceu curtindo esporte, por influência do pai, e música, principal foco de interesse do irmão mais velho, Marvio. Sua primeira experiência profissional foi ligada à segunda paixão, antes mesmo de entrar para a faculdade de Comunicação, na UFF. Um amigo comentou sobre uma vaga de estágio na Rádio Fluminense FM – a rádio de Niterói, conhecida como Maldita, foi criada em março de 1982 e marcou época por lançar todas as bandas do Rock Brasil, como Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Capital Inicial etc., além de dar espaço para as mulheres na locução. Mylena fez o teste e conseguiu o emprego, trabalhando na rádio de 83 até 87.
"Era uma rádio de rock and roll numa época em que não existiam vozes femininas. Você tinha duas locutoras na época, a Maravilha Rodrigues, na JB FM, e a Eunice Khoury na Rádio Imprensa. Mas elas eram mais senhoras, elas tinham uma locução séria, sóbria. Aí criaram a Fluminense, que era uma rádio de garotada, adolescentes começando a trabalhar, e foi lá que a gente aprendeu tudo. Lá eu tive a chance de descobrir do que realmente gostava, porque desde a época da escola eu adorava escrever redações e ler em voz alta."
Mylena chegou a fazer alguns trabalhos como modelo, mas seguiu firme na comunicação. Em 1985, acumulou o trabalho na rádio Fluminense e TV Manchete, onde apresentou o programa 'Som Maior' e alguns especiais de música. Da Maldita, foi para a Rádio Cidade em 1987, num programa voltado também para o rock, ‘O Baú do Rock’. A esta altura, cursava a faculdade de Publicidade, mas por já estar trabalhando na TV resolveu concluir também o curso de Jornalismo.
Foi na Manchete a primeira experiência com esporte. Mylena trabalhou na linha de shows até 1988, quando foi convocada para ler os boletins sobre as Olimpíadas de Seul, numa bancada, ao vivo. Logo teve uma prova de fogo: chegou, por fax, a notícia de que uma estrela do atletismo, o canadense Ben Johnson, havia sido pego num exame antidoping. "Aí o diretor, Mauro Costa, me falou no intervalo do boletim: 'Mylena, é o seguinte, aconteceu isso, ele foi pego com substâncias proibidas, vamos voltar do intervalo e precisamos dar essa notícia antes das outras emissoras'. E saiu direitinho, consegui passar a informação, e este foi meu passaporte para ser aprovada definitivamente no esporte."
Logo ela passaria a fazer também o boletim sobre Fórmula 1, 'Grid de Largada'. Dali em diante, faria vários programas na Manchete, até ser chamada, em 1991, para a TV Globo.
Início na Globo
Mylena foi convidada por seu jeito descontraído de apresentar. Após vê-la na Manchete, foi Léo Batista quem deu a dica a Ciro José, diretor de Esportes na época, que estava buscando mais um âncora para os programas do segmento. Foi uma aventura desbravar um ambiente muito masculino, após as experiências em rádios de rock. Mylena conta que foi sondada nesse começo, inclusive, para experimentar fazer narração de futebol, já que vinha com experiência de rádio. Mas a ideia de fazer um piloto nunca se concretizava. “Fiquei com essa vontade, mas infelizmente a gente sabe como é, demorou, mas esse espaço foi aos pouquinhos se abrindo para as mulheres.”
A rotina de apresentação dos programas esportivos acontecia em esquema de revezamento. "Eu comecei a fazer o 'Esporte Espetacular' aos sábados com o Vannucci e na semana seguinte alguém falou: 'Apresenta também o Globo Esporte!'. Aí era um apresentador só. Então eu fazia o ‘Globo Esporte’ segundas e terças, o Léo nas quartas e quintas e o Vannucci sextas e sábados. Porque além do 'EE', que nessa época era nos sábados, tinha o 'Placar Eletrônico' no domingo à noite". O programa noturno costumava ser apresentado pelos dois colegas, mas eventualmente Mylena também substituía um deles.
Ser bem recebida por Léo Batista e Vannucci foi fundamental na sua estreia no 'Esporte Espetacular', em 3 de agosto de 1991. Para além do nervosismo natural, houve um contratempo: o teleprompter simplesmente não funcionou. "O Vannucci passou para mim, e nada do TP entrar. Eu pensei: 'Não estou crendo nisso, logo na minha vez de estrear na TV Globo'. Mas mantive a calma, ninguém notou, e ali passei no teste com certeza."
Esporte Espetacular: Estreia de Mylena Ciribelli (03/08/1991)
Foi nesse período que a dupla Mylena e Vannucci fez história, a ponto de a jornalista contar que sempre é abordada por pessoas que consideram a dobradinha mais bem-sucedida do jornalismo esportivo. "O Vannucci criou um slogan, o 'Alô, você!', e eu depois comecei a usar o 'A gente se vê', então as pessoas se identificavam", lembra-se.
A sintonia era grande na frente e atrás das câmeras, com muita espontaneidade, alguns cacos e até mesmo esquetes de humor durante o 'EE'. Essas experimentações chegaram a render um convite do diretor Paulo Ubiratan para Mylena se aventurar na teledramaturgia. "O Ciro José me segurou, e acho que o esporte era muito mais a minha praia mesmo. Fiquei feliz com o convite, e por ver que as brincadeiras que fazíamos estavam dando certo."
Nesses primeiros anos, Mylena acompanhou a evolução do esporte brasileiro em grandes competições. Em 1992, vibrou ao ver a seleção masculina de vôlei -- seu esporte favorito -- ganhar a medalha de ouro nas Olimpíadas de Barcelona, chegando a entrevistar o técnico José Roberto Guimarães após o feito. Ela observa que a Globo foi importante para a popularização do esporte no país. "O Luiz Fernando Lima (repórter que mais tarde se tornou diretor de esporte) sempre foi um apaixonado pelo vôlei, e ele fez parte das comissões para pensar no vôlei como um esporte mais televisivo. Porque tinha a regra da vantagem e isso fazia o jogo ser mais longo. Aí eles mudaram as regras [a partir de 1999] para a transmissão pela TV ser mais viável. Hoje ainda somos o país do futebol, mas o vôlei está ali, pertinho."
A rotina seguiu intercalando 'EE' e 'GE' até 1998, quando Mylena foi convocada para apresentar diariamente o bloco dedicado aos esportes no 'Jornal Hoje'. Integrava o grupo de comentaristas ou apresentadoras temáticas que era chamado informalmente de ‘Luluzinhas’: "Entrava a Miriam Leitão falando de economia,a Regina Martelli de moda e eu de esportes", conta. "Foi muito legal o tempo que eu fiquei no 'Jornal Hoje', aprendi muito, passei a ser mais repórter, a fazer mais matérias, foi muito importante para mim."
Nessa época, foi convidada para participar da cobertura da Copa de 1998, na França. Lá, fez reportagens de comportamento, além de mostrar exposições e shows sobre o Brasil, e apresentava o bloco da Copa no 'Bom Dia, Brasil', além de fazer o ‘Jornal Hoje’ e o ‘Esporte Espetacular’ diretamente do estúdio em Paris: "Lembro que fui fazer uma matéria sobre o preço do café da manhã na França, aí chegou um garçom com um bigode enroladinho, bem francês mesmo, e não resisti, falei: 'Que belo bigode'. Isso naquela época não era comum, interagir ao vivo assim. O Renato Machado (apresentador do 'Bom Dia, Brasil' naquele momento), que adorava meus cacos, deu gargalhadas."
Mylena Ciribelli apresenta o boletim da Copa no 'Jornal Hoje'. 16/06/1998.
Mylena Ciribelli fala, ao vivo, de Paris, da exposição sobre o Brasil no Museu do Louvre durante a Copa do Mundo de 1998. ‘Bom Dia Brasil’, 16/06/1998.
Reportagem de Mylena Ciribelli com entrevista de Gilberto Gil, Gal Costa e Ivete Sangalo após show em Paris, na véspera do início da Copa do Mundo de 1998. Bom Dia Brasil, 10/06/1998.
Reportagem de Mylena Ciribelli sobre Saint Dennis, a cidade do Stade de France, sede da final da Copa de 1998. 'Esporte Espetacular', 05/07/1998.
Em determinado momento da cobertura, foi pega de surpresa com um pedido: Mônica Waldvogel, jornalista que apresentava o 'Jornal da Globo' de Paris, teve um problema no olho, e Mylena foi convocada às pressas para ancorar o telejornal da noite. "Foi uma experiência bacana."
Retomando a rotina no Brasil após a Copa, Mylena continua apresentando o esporte dentro do ‘Jornal Hoje’. Mas sua falta no ‘Esporte Espetacular’ foi sentida não só pelo público. "Aí o Boni perguntou: 'Cadê a Mylena e o Vannucci? Volta com eles para o 'Esporte Espetacular', e a gente voltou." Mas outras mudanças viriam em breve. Com a saída de Vannucci da emissora em dezembro de 1998, em 1999 a apresentadora, que acabara de voltar da licença-maternidade, passou a ficar à frente do 'Globo Esporte' de segunda a sexta. "Nessa época, eu fiquei no jornal diário, que era um outro pique, uma coisa mais ágil, diferente da revista que era o 'Esporte Espetacular'." Mylena ainda voltaria ao 'EE' alguns anos mais tarde, em 2008, quando dividiu a apresentação do programa semanal com Cristiane Dias e Luís Ernesto Lacombe.
Mas foi o 'Globo Esporte' que, acredita Mylena, garantiu a ela um lugar fixo na memória afetiva de muita gente, por fazer parte da rotina diária das famílias. Ela conta que uma das frases que mais ouve até hoje é: "Eu te assisto desde criança". E mais de uma vez, algumas mães a paravam na rua para contar coisas do tipo: “Meu filho não fica quieto, eu só consigo dar comida para ele na hora que você entra no ‘Globo Esporte’, ele fica ali hipnotizado".
Outros eventos esportivos
Se a experiência internacional de cobrir a Copa do Mundo de 1998 na França teve a frustração de não ver o Brasil campeão, já que perdemos a final para os anfitriões, a redenção viria no torneio seguinte. Mylena participou da cobertura da Copa de 2002, da Coreia e do Japão, nos estúdios no Rio de Janeiro.
Ela teve oportunidade de assistir à final do mundial junto de um time de craques: o ex-jogador e ex-técnico Zagallo, o ex-jogador Dadá Maravilha, o comentarista Sérgio Noronha e sua colega Glenda Koslowski e o locutor Luis Roberto celebraram o feito juntos, no estúdio da emissora no Rio. "Lembro do Zagallo comentando: ’Agora todo o mundo vai ter que nos engolir!". A gente estava ali torcendo para não ter 'Esporte Espetacular', porque só teria o programa se o Brasil tivesse perdido".
Nos estúdios da Globo no Brasil, os apresentadores Mylena Ciribelli, Luis Roberto, Glenda Koslowski e os comentaristas Dario, Sérgio Noronha e Zagallo, comemoram a vitória brasileira na Copa do Mundo de 2002.
Foi assim também, participando a partir dos estúdios no Rio, que Mylena marcou presença nos eventos esportivos seguintes, como as Olimpíadas de 2000 em Sydney, as de 2004 em Atenas e a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Em várias ocasiões, teve oportunidade de entrevistar os atletas após a volta ao Brasil.
Olimpíadas de Sidney (2000): Mylena Ciribelli apresenta o boletim olímpico no 'Bom Dia Brasil'. 19/09/2000
Com a experiência de acompanhar tantos eventos, Mylena mergulhou de cabeça na cobertura do Pan-Americano de 2007, no Rio – evento que foi fundamental para o amadurecimento do país para receber os Jogos Olímpicos em 2016.
No Pan do Rio, Mylena entrevistou medalhistas como os judocas Luciano Corrêa e Tiago Camilo e a estrela do salto com vara Fabiana Mürer. Ela lembra, emocionada, de ver competições e atletas em ação em companhia da família, sobretudo do pai, tão apaixonado por esportes. "O Luiz Fernando Lima, que estava na chefia na época, dizia que os jornalistas não deviam ficar só no estúdio. Ele acreditava que precisávamos assistir às competições ao vivo", conta.
Ao vivo, do estúdio do 'Globo Esporte', Mylena Ciribelli entrevista os judocas medalhistas Luciano Corrêa e Tiago Camilo sobre suas vitórias nos Jogos Panamericanos de 2007. 21/07/2007.
Ao vivo, do estúdio do 'Globo Esporte', Mylena Ciribelli entrevista os judocas medalhistas Luciano Corrêa e Tiago Camilo sobre suas vitórias nos Jogos Panamericanos de 2007. 21/07/2007.
50 anos do Maracanã
Entre tantos eventos importantes, Mylena se mantinha na rotina de apresentação dos programas esportivos, mas também adorava inventar oportunidades de ancorar o programa fora do estúdio. Em 2000, nas comemorações dos 50 anos do Maracanã, começou a apresentação do 'Globo Esporte' diretamente de um helicóptero que sobrevoava o estádio.
Globo Esporte ancorado do estádio do Maracanã. Apresentação de Maurício Torres e Mylena Ciribelli, Globo Esporte, 17/06/2000.
Naquele ano, conheceu um pouco do mundo dos rodeios, fazendo uma reportagem sobre o tema no interior de São Paulo. Eventualmente, realizava também reportagens de aventura.
Reportagem de Mylena Ciribelli sobre o mundo dos rodeios. 'Esporte Espetacular', 27/08/2000.
Apostando na leveza e até no humor, durante o período em que esteve no ‘EE’, Mylena apresentou também quadros divertidos e curiosos. Em 'O armário do ídolo', por exemplo, mostrava a intimidade de grandes nomes do esporte, como o jogador de vôlei Mauricio.
Na estreia do quadro 'Armário do Ídolo', Mylena Ciribelli mostra o guarda-roupa de Maurício Lima, jogador da seleção brasileira de vôlei. 'Esporte Espetacular', 18/01/1998.
Em 2009, Mylena aceitou o convite para trabalhar na Rede Record. Queria cobrir uma edição das Olimpíadas in loco, e os Jogos de 2012 tiveram direitos de exibição comprados por aquela emissora. Ficou lá até o final de 2023. "Sempre adorei apresentar, tive a chance de fazer todos os programas de esportes nas TVs, posso dizer que fui feliz nas duas casas", resume ela.
FONTES:
Depoimentos de Mylena Ciribelli ao Memória Globo em 03/11/2008 e 21/05/2024. Página do 'Esporte Espetacular' no Memória Globo. In: https://memoriaglobo.globo.com/esporte/telejornais-e-programas/esporte-espetacular/; Página do 'Globo Esporte' no Memória Globo. In: https://memoriaglobo.globo.com/esporte/telejornais-e-programas/globo-esporte/; "Federação de vôlei muda contagem de pontos". In: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk29109821.htm, acessado em 06/2024. |