Por Memória Globo

Bob Paulino/Memória Globo

Foi graças a uma pelada de futebol que o jornalismo esportivo brasileiro não perdeu um excelente repórter de campo para o mundo da matemática. Quem diria que o jornalista Mauro Naves, da Globo, poderia sequer pensar em outra atividade profissional, senão a de entrevistar jogadores e atletas das mais variadas modalidades esportivas? No entanto, antes de ser conhecido simplesmente como Mauro Naves pelo grande público, Mauro César Vieira Naves estava muito bem, obrigado, trabalhando na área da estatística, na qual se formou e sempre sonhou em atuar. Ele só foi se dedicar ao jornalismo cinco anos depois de formado também em comunicação social, mesmo assim por insistência de um amigo de peladas de final de semana.

Mauro Naves — Foto: Bob Paulino/Memória Globo

Início da carreira

Mauro César nasceu em 24 de junho de 1959, no Rio de Janeiro, mas aos 13 anos foi viver com a família em Brasília. Seu pai, Mauro de Moura Naves, já falecido, era militar da Aeronáutica, e a mãe, Benedita Vieira de Moura Naves, professora e oficial da Justiça, atualmente aposentada. Apaixonado por números, formou-se em estatística pela Universidade de Brasília. Mas no meio do curso, também foi estudar comunicação social, e por isso participava das peladas no Clube da Imprensa. Cinco anos de peladas, já formado, nem havia buscado o diploma, mas recebeu um convite inesperado: o goleiro do Clube era chefe de reportagem da Globo em Brasília, e o convidou para um teste para repórter de Esportes. Foi aprovado, mas para trabalhar em outra editoria, a Geral. “Eu não queria sair da estatística, porque não sabia se comunicação seria o meu futuro, se ia dar certo. Eu estava muito bem no outro emprego. Financeiramente, também era melhor. Mas aquela coisa de televisão, de usar o diploma de comunicação, eu tinha vontade. Consegui conciliar e comecei na Globo de Brasília no dia 1º de março de 1987”, relembra.

Rede Globo

Pela manhã, Mauro César se dedicava aos números e, das 17h às 24h, cobria as matérias gerais da cidade. “Eu sempre estava sujeito a um incêndio às 23h. Era um crime, uma festa, tudo o que acontecia na cidade. Voltava às 4h, e precisava entrar no outro emprego às 8h. Chegou um ponto que eu tinha que decidir: ficava no mercado financeiro ou na Globo”, pontua. E Mauro César cedeu lugar definitivamente ao Mauro Naves: optou pela nova paixão, a televisão. Sua primeira matéria em rede, daquelas de avisar aos parentes, não foi exatamente sua; ou melhor, não foi exatamente ele: Mauro entrevistou o então futuro presidente da República, Fernando Collor, que denunciava os Marajás e ganhava fama nacional. Mas, recorda-se: “Só aparecia a minha mão entrevistando em rede. E eu falava: ‘Sou eu!’”.

Sua passagem para a editoria de Esportes, enfim, aconteceu meio que por acaso. Mauro Naves foi cobrir um torneio de tênis para o noticiário local, e um brasileiro levantou a taça. Sua matéria foi parar no Jornal Nacional. “O diretor me chamou e falou: ‘Olha, faz 17 anos que existe a Globo de Brasília e ninguém do esporte fez matéria para o Jornal Nacional. Nunca tivemos um repórter do Esporte que entrasse em rede. Os caras devem ter ido com a sua cara. Vamos investir mesmo no Esporte.’ E eu saí da Geral”, conta Mauro Naves. Mas estatístico por formação, cerebral e matemático, dono da razão, pensou muito e percebeu que, em Brasília, não iria se destacar, mesmo porque o mandavam para jogos Brasil afora, mas não nos grandes centros. “Eu comecei a fazer contatos, mandar mais matérias, foi crescendo meu gosto pelo Esporte e surgiu a necessidade de sair de Brasília”. E saiu. Pensou no Rio de Janeiro, chegou a integrar a equipe baseada na Cida que deu suporte à cobertura da Olimpíada de Seul, em 1988, mas a primeira vaga que realmente surgiu foi em São Paulo: no dia 15 de setembro de 1989, começou no departamento de Esportes de São Paulo.

Mauro Naves trabalhou com os melhores locutores da Globo, de Oliveira Andrade a Luiz Alfredo, de Cléber Machado a Luis Roberto, passando por Galvão Bueno e, faz questão de acrescentar à lista, o rei Pelé. Cobriu campeonatos de São Paulo, o Brasileirão, Copa Brasil, Libertadores, Copa América, Mundial Interclubes, Olimpíadas, Copa do Mundo – a partir de 1998, na França –, isso sem falar em outros esportes, principalmente Fórmula 1. Como São Paulo passou a sediar o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, a partir de 1990, ele teve a chance de cobrir Ayrton Senna e companhia. “Mas de tudo, o que mais me marcou foi a Fórmula 1, porque em 1994 eu fui o repórter que fez a última matéria para a televisão, e para qualquer veículo, com o Ayrton Senna.” Foi numa coletiva, a que Mauro Naves chegou atrasado e na qual acabou fazendo a derradeira entrevista. “Acabou a entrevista, ele pegou o helicóptero, foi para casa. Um mês e meio depois, em 1º de maio de 1994, sem voltar ao Brasil, Senna morreu”.

Outras aventuras

O Mauro César estatístico não havia sido totalmente enterrado e acabou fazendo a cabeça do Mauro Naves jornalista para sair da Globo, em 1992, e se dedicar a uma confecção de roupas com um primo. Achou que ia ganhar mais dinheiro e que seria muito difícil crescer na televisão – esse sim, o real motivo. Mauro Naves acabou retornando em 1993, apresentando por seis meses o programa 'Pequenas Empresas, Grandes Negócios'. “Sou o único que primeiro fez uma empresa e quebrou, para depois trabalhar no 'Pequenas Empresas, Grandes Negócios', e aprender tudo sobre impostos, sobre as dicas, como tratar funcionários. Eu tinha que ter trabalhado no programa primeiro”, brinca.

De volta ao Esporte

Mais uma vez, brilhou a estrela do jornalismo esportivo brasileiro. Mauro Naves estava de volta, foi cobrir a licença-maternidade da repórter Isabela Scalabrini por quatro meses, mas acabou ficando oito, porque a colega resolveu não mais voltar para o Esporte. E foi escalado para cobrir a Olimpíada de Atlanta, em 1996. De lá para cá, não há quem acompanhe futebol pela Globo que desconheça o repórter Mauro Naves. Outros grandes eventos do esporte em que o jornalista trabalhou foram: Copa do Mundo da Alemanha (2006), Olimpíadas de Pequim (2008), Copa da África do Sul (2010), Copa América na Argentina, Copa das Confederações no Brasil (2013), Copa do Mundo do Brasil (2014), Olimpíadas do Rio de Janeiro (2016) e Copa da Rússia (2018).

Duas reportagens que ele não esquece – e que fizeram um tremendo sucesso – foram a sua volta no mesmo voo da seleção canarinho pentacampeã e a cobertura de uma partida de futebol comemorativa, entre as seleções do Brasil e do Haiti, realizada em Porto Príncipe, em 2004. A proximidade com os jogadores fez com que conseguisse entrevistas exclusivas com Ronaldo Fenômeno, Robinho, na Copa de 2010, e Neymar, quando o jogador foi para o Barcelona.

Perfeccionista, ele se mantém constantemente interessado na evolução da linguagem televisiva, como se acompanhasse os números da bolsa de valores. Está sempre atento. “Estamos sempre tentando mudar a linguagem do Esporte. Às vezes, por pensar em como vamos agarrar o telespectador. A cada hora temos uma ideia, uma visão. Eu acho que temos sempre que fazer, quase que anualmente, uma revisão disso, de como agradar o telespectador: o que ele quer saber de nós, o que queremos informar. Porque o esporte não está sendo visto só por quem gosta de futebol”, conclui.

Mauro Naves deixou a Globo em junho de 2019.

Veja algumas reportagens:

Mauro Naves entrevista Pelé nos 20 anos do seu milésimo gol. Apresentação de Léo Batista. Globo Esporte, 18/11/1989.

Mauro Naves entrevista Pelé nos 20 anos do seu milésimo gol. Apresentação de Léo Batista. Globo Esporte, 18/11/1989.

Reportagem de Mauro Naves sobre a prova masculina da Corrida de São Silvestre de 1990, vencida pelo mexicano Arturo Barrios, Globo Esporte, 01/01/1991.

Reportagem de Mauro Naves sobre a prova masculina da Corrida de São Silvestre de 1990, vencida pelo mexicano Arturo Barrios, Globo Esporte, 01/01/1991.

Reportagem de Mauro Naves sobre a Corrida de São Silvestre de 1995, vencida pela brasileira Carmem Oliveira, Globo Esporte, 01/01/1996.

Reportagem de Mauro Naves sobre a Corrida de São Silvestre de 1995, vencida pela brasileira Carmem Oliveira, Globo Esporte, 01/01/1996.

Reportagem de Mauro Naves sobre a estreia do Brasil na Copa América 1999 no Paraguai com goleada de 7 a 0 sobre a Venezuela, 01/07/1999.

Reportagem de Mauro Naves sobre a estreia do Brasil na Copa América 1999 no Paraguai com goleada de 7 a 0 sobre a Venezuela, 01/07/1999.

Reportagem de Mauro Naves sobre a derrota do Brasil por 2 a 0 para Honduras pelas quartas de final da Copa América 2001 na Colômbia que eliminou a seleção da competição com um vexame histórico, Globo Esporte, 24/07/2001.

Reportagem de Mauro Naves sobre a derrota do Brasil por 2 a 0 para Honduras pelas quartas de final da Copa América 2001 na Colômbia que eliminou a seleção da competição com um vexame histórico, Globo Esporte, 24/07/2001.

Reportagem de Mauro Naves sobre a Corrida de São Silvestre de 2004, vencida pelos quenianos Lydia Cheromei, no feminino, e Robert Cheruiyot, no masculino, Jornal Nacional, 31/12/2004.

Reportagem de Mauro Naves sobre a Corrida de São Silvestre de 2004, vencida pelos quenianos Lydia Cheromei, no feminino, e Robert Cheruiyot, no masculino, Jornal Nacional, 31/12/2004.

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