Por Memória Globo

Renato Velasco/Memória Globo

Na infância, uma das distrações favoritas de Marita Graça era ir com os primos para a porta da Globo, no Jardim Botânico, ver artistas entrando e saindo da emissora, que, na época, sediava ali seus estúdios de gravação de novelas. Noveleira, capaz de lembrar de títulos e detalhes de diversas produções exibidas ao longo da história da emissora, Marita desde cedo teve olhos atentos também para as coberturas jornalísticas que, mais tarde, se tornariam seu campo de trabalho. Marita começou na Globo como assistente de produção, em 1984. Nos oito anos que se seguiram, passou pelos cargos de pauteira e produtora até assumir a função de editora, primeiro no Jornal Hoje e, depois, no Jornal da Globo.  De 1992 a 1997 trabalhou com a Fundação Roberto Marinho, editando programas como  Globo Ecologia e Globo Ciência. Em 1997, entrou na GloboNews, onde é editora de programas, com ênfase em internacional. Marita Graça editou os documentários premiados Kobani vive (2015), Síria em fuga (2016) e Aliados (2019), em parceria com Gabriel Chaim.

Tudo que você sabe na vida serve de recurso para ser um bom editor. Como ver filme e ouvir música. Existe sempre uma parte criativa e interessante nesse trabalho, mesmo com o jornalismo hardnews.

Bastidores da entrevista de Marita Graça ao Memória Globo, 2016. — Foto: Renato Velasco/Memória Globo

Início da carreira

Marita Graça Feijó Bittencourt nasceu em Copacabana, no Rio de Janeiro, em 28 de maio de 1963. Filha de Jorge Arthur Graça - “um dentista boa praça, que tinha muitos amigos e era bem conhecido no Rio” -, e da dona de casa Maria Alice Cesarino Graça - “uma pessoa muito divertida” -, Marita viveu em uma casa cercada de alegria. Estudou Jornalismo na PUC, onde, mais tarde, fez também curso de tradução simultânea e pós-graduação em tradução escrita. Conhecimentos que até hoje são aplicados em sua vida profissional.

O desejo de atuar no Jornalismo da Globo se concretizou quando Marita concluía o último ano da faculdade. “Minha mãe pediu um estágio pra mim ao João Araújo, pai do Cazuza, que era amigo do papai desde sempre. E ele pediu ao [diretor de Jornalismo] Armando Nogueira, que me abriu as portas. Fiquei acompanhando a retrospectiva de 1983, comandada pela Diléa Frate, que era diretora de criação. Quando acabou, me deixaram ficar acompanhando o Jornal Nacional. Foi um grande privilégio, porque era uma redação com pessoas do mais alto gabarito. Havia nomes como Ronan Soares, uma pessoa inteligentíssima, que cobriu política muitos anos; Luís Edgar de Andrade, chefe de redação e Prêmio Esso do Jornalismo, que cobriu a Guerra do Vietnã. Só fera, só gente muito inteligente e interessante. O editor-chefe, na época, era o Eduardo Simbalista. Depois eu peguei uma segunda fase, com o Fabbio Perez, que comandava o Jornal Nacional com uma serenidade impressionante.”

Em 1984, após sete meses acompanhando o trabalho dos profissionais, Marita foi contratada como assistente de produção. O domínio da língua inglesa encurtou o caminho para uma promoção. “O Henrique Coutinho, que era o editor de Internacional do Jornal Nacional e também o coordenador de Inter, centralizando os pedidos de matérias do Globo Repórter, do Fantástico e dos demais telejornais, me chamou para trabalhar com ele. Foi ótimo, porque logo virei coordenadora de produção. Eu ainda não era editora, que era o meu sonho, mas fiquei trabalhando de perto com os jornais, ajudando a produzir as matérias, num setor chamado CPN, Centro de Produção de Notícias.”

Nos oito anos que se seguiram, Marita passou pelos cargos de pauteira e produtora até assumir a função de editora, primeiro no Jornal Hoje e, depois, no Jornal da Globo. Desde o início de sua jornada profissional, participou de importantes coberturas, como a da morte de Tancredo Neves, em 1985.

“A gente tinha um esquema de plantão e ficava madrugadas inteiras se revezando para aguardar o que todos àquela altura já sabiam ser inevitável. Passávamos a noite e saíamos às oito da manhã. Foi um momento da história muito chocante. Me lembro que estava de plantão com o [apresentador] Sérgio Chapelin e a [então repórter] Leilane Neubarth na noite anterior ao domingo em que ele morreu. Eu não estava no centro dos acontecimentos, não estava em Brasília, não estava no hospital, mas participei dessa expectativa, desse arranjo da cobertura, de como tudo foi montado, de como as pessoas se prepararam para esse fato, e foi um aprendizado muito importante para mim ter visto como as coisas foram armadas para dar certo. E, de fato, deram”

Em 1992, Marita saiu da Globo. Durante os cinco anos em que ficou fora da emissora, editou os programas Globo Ecologia e Globo Ciência, da Fundação Roberto Marinho, atuou como produtora da Rio-92 para uma TV australiana, e foi editora do GNT. “A Globosat estava começando, tinha um jornal de uma hora só com notícias internacionais, chamava-se O Mundo Hoje. Eu fiquei lá três anos. Depois fui para o Multishow, fiz uns especiais e outras coisas interessantes. Quando estavam formando a GloboNews, me chamaram.”

O começo na GloboNews

A entrada na GloboNews aconteceu em meados de 1997, antes mesmo do canal completar seu primeiro ano. Marita começou editando reportagens para o Arquivo N e outros programas especiais. “Depois virei editora de matérias para todos os telejornais. Acho que foi a época em que eu mais enlouqueci. Houve dias em que editei dez matérias. Aí, eu falei: ‘Gente, não dá, não é possível uma pessoa sozinha fazer isso.’ Nessa época, a GloboNews estava começando, as pessoas ainda estavam dimensionando as coisas.”

Marita passou então a trabalhar no Jornal das Dez, na época apresentado por André Trigueiro. A morte do pai, no entanto, acabou provocando uma nova mudança em sua trajetória na GloboNews. “Eu tinha 35 anos e era ligadíssima a ele. Tirei férias e, quando voltei, estava muito magra, muito triste. O André Trigueiro falou com a Alice-Maria [diretora de Jornalismo na época] que o Jornal das Dez estava pesado para mim naquele momento, que eu não estava feliz.”

Na ocasião, a jornalista deixou o principal telejornal diário do canal para ser editora do Conta Corrente. Ao assumir o novo trabalho, fez um curso de formação em economia para tratar com propriedade de temas complexos, de macroeconomia até matemática financeira. “O Conta Corrente é um jornal diário, e não pode errar número, tem que entender os conceitos, tem que saber analisar tudo muito rápido.”

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

GloboNews - Conta Corrente (1996)

GloboNews - Conta Corrente (1996)

A criação do Mundo S/A

Em 2006, Marita se viu à frente de mais um desafio: cuidar de um novo programa de economia. A proposta, feita pelas diretoras Alice-Maria e Rosa Magalhães, ficou ecoando na mente da jornalista. “Fui pra casa e fiquei pensando. Os anos de Conta Corrente me fizeram perceber como a Bolsa de Nova York, ao contrário da Bolsa daqui, era movida por empresas. Aqui é muito movida pelos números da economia, inflação. Propus: ‘Por que a gente não faz um programa sobre empresas de sucesso? Só tem uma coisa, a gente não pode fazer esse programa sem dizer o nome das empresas’. Elas se olharam assustadíssimas, porque a Globo não dizia o nome de empresa alguma. Falei ainda: ‘A gente também pode contar a história de brasileiros que conseguiram fazer sucesso lá fora.’ Elas compraram a ideia, e o [repórter] Rodrigo Alvarez, que participaria do programa em Nova York, também gostou. E a gente fez o Mundo S/A.”

Criado e capitaneado por Marita, o Mundo S/A foi vencedor do Grande Prêmio Abear de Jornalismo, em 2014, com o programa “Vai Voando”, sobre uma agência de viagens voltada para passageiros de baixa renda. Nesse mesmo ano, Marita voltou ao Conta Corrente.

Documentários premiados

Marita também editou diversos programas especiais, entre eles o documentário Kobani Vive – A Cidade que Derrotou o Estado Islâmico, que ganhou medalha de prata no News York Festivals, na categoria Current Affairs.

Ao lado do produtor Cláudio Renato, Marita fez também o GloboNews Especial A sentença – 35 anos, que conquistou o Prêmio Vladimir Hezog na categoria hors-concours, em 2014.

Em 2016, Síria em Fuga, também filmado por Gabriel Chaim e editado por Marita, foi indicado ao Emmy Internacional, na categoria Atualidade. Foi um desafio maior para a jornalista por tratar dos confrontos em Aleppo, uma cidade que está no centro das notícias da Síria. Em 2020, o documentário Aliados, que acompanha as Forças Democráticas Sírias, também de Gabriel Chaim e Marita Graça, levou medalha de ouro na categoria “Documentário sobre Atualidade”, no New York Festival TV & Film Awards. Além disso, foi indicado como finalista para o Prêmio Emmy Internacional, na categoria Atualidades.

Documentário “Síria em Fuga” reúne personagens impressionantes

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GloboNews concorre ao Emmy Internacional com o documentário 'Síria em Fuga'

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GloboNews recebe medalha de ouro no New York Festival com 'Síria em fuga'

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Experiência diversificada

Mesmo com participação em projetos de imersão, Marita ainda coloca em prática seus conhecimentos em tradução simultânea em transmissões de eventos internacionais. Em 2015, também passou a integrar o núcleo da GloboNews que fazia a cobertura da Operação Lava-Jato.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

GloboNews - N de Notícia (1996) e GloboNews Especial (2011)

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