Em dez anos de trabalho na Globo, a jornalista Marilena Chiarelli viveu muitas experiências e ajudou a escrever um pouco da história do telejornalismo brasileiro. Ela fez parte da primeira equipe de repórteres de vídeo da emissora, trabalhando ao lado de profissionais como Sandra Passarinho, Marília Gabriela, Carlos Monforte e Costa Manso. E foi, ainda, a primeira repórter da TV brasileira a cobrir política em Brasília – até 1974, uma área restrita aos homens.
Marilena Chiarelli nasceu em 28 de outubro de 1948, na cidade de São Paulo. Filha do contador Salvador Chiarelli e da dona de casa Laurinda Chiarelli, ambos descendentes de italianos, foi criada na capital paulista, onde viveu e, mais tarde, se formaria em museologia.
Iniciou sua carreira profissional como assistente do historiador, marchand e crítico de arte Pietro Maria Bardi, então diretor do Museu de Arte de São Paulo. Durante a abertura de uma exposição do pintor Cândido Portinari no Masp, Marilena Chiarelli foi entrevistada pela TV Gazeta e, em seguida, convidada a apresentar um programa sobre música clássica naquela emissora. Um ano depois, Marilena Chiarelli mudou-se para Brasília, onde estudaria jornalismo e se formaria na Universidade de Brasília (UnB). Em 1973, foi chamada por Wilson Ibiapina, então chefe de redação da Globo na capital federal, para fazer um teste para o 'Jornal Hoje'. Conseguiu a vaga de apresentadora local do telejornal, e deu início à carreira de dez anos na emissora.
“Em seguida, veio a ideia revolucionária do repórter de vídeo. A televisão brasileira não trabalhava com isso naquela época: era o apresentador do telejornal, e acabou. Ninguém aparecia no vídeo, a não ser os apresentadores. Em 1974, Armando Nogueira e Alice-Maria, diretores do jornalismo, resolveram fazer reportagem de vídeo.”
Repórteres de vídeos já eram conhecidos nas TVs norte-americanas, mas coube à equipe montada pela Globo encontrar a versão brasileira desse formato. Essa equipe inicial, treinada no Rio de Janeiro pela própria Alice-Maria, era formada pelos jornalistas Sandra Passarinho, Costa Manso, Carlos Marchi e Marilena Chiarelli. “Sandra era a única correspondente internacional, em Londres. Em Brasília, estreamos assim: Costa Manso cobria política externa, Itamaraty – ele já fazia isso no jornal. Marchi cobria o Congresso. E eu cobria o Executivo: um pouco de Palácio e um pouco de ministérios”, lembra.
Como repórter, Marilena Chiarelli participou de coberturas importantes nas décadas de 1970 e 1980. Uma delas foi o enterro do ex-presidente Juscelino Kubitschek: ”Era um dia muito quente. As pessoas começaram a entrar, entrar, entrar, entrar e aí todo mundo começou a passar mal. As pessoas desmaiavam. Eu quase desmaiei, estava sei lá, uns 45 graus. Sem ventilação, sem nada. E aquela comoção nacional e a gente tentando fazer uma cobertura e sendo espremido completamente, não tendo local nem para ficar, nem para segurar o microfone. As pessoas te empurrando, te jogando. Foi uma coisa emocionante, mas muito difícil de fazer”.
A repórter também acompanhou as eleições municipais de 1976 e a sanção da Lei do Divórcio. “Essa foi importantíssima. Eu me lembro que foi no plenário da Câmara dos Deputados. Era um plenário lotado. O Brasil inteiro esperando isso.”
Outras coberturas marcantes para Marilena Chiarelli foram as eleições de 1982, a campanha por eleições diretas e a votação da emenda Dante de Oliveira. Durante o governo Figueiredo, a jornalista trabalhou como enviada especial da Globo em duas viagens presidenciais, ao Chile e a países da África. ”Foi uma viagem realmente muito interessante e de extrema dificuldade essa da África. Não tinha satélite lá para onde nos mandaram. Você fazia as matérias, tinha que mandar a fita para o escritório de Londres e de Londres gerar para o Brasil. Chegava no dia seguinte, você tinha que fazer o texto atualizado para o dia que ia chegar".
Em 1984, mudou-se para os Estados Unidos, passando a ocupar o cargo de correspondente da Globo em Washington, no lugar do jornalista Sérgio Motta Mello. Passou dois anos na capital norte-americana, trabalhando com o cinegrafista Paulo Zero. Em seguida, voltou ao Brasil e deixou a Globo. Transferiu-se então para a sucursal da TV Manchete em Brasília, onde trabalhou ao lado de Alexandre Garcia apresentando o programa 'Brasil Constituinte'. Trabalhou também no 'Jornal da Manchete', ao lado do comentarista Carlos Chagas.
No início da década de 1990, assumiu o posto de diretora de jornalismo da TV Record em Brasília. Trabalhou dois anos na emissora, apresentando o bloco local do 'Jornal da Record' como comentarista da área de política, e comandando o programa Brasília ao Vivo. Deixou a Record em 1992, durante a cobertura do impeachment do ex-presidente Fernando Collor.
Os correspondentes da Globo em Londres, Luís Fernando Silva Pinto e Marilena Chiarelli, falam sobre a reação da Inglaterra à ocupação das Ilhas Malvinas, 'Jornal Nacional', 02/04/1982.
Nos anos seguintes, Marilena Chiarelli prestou concurso público e começou a trabalhar na área de Comunicação Social do Senado Federal. Foi uma das criadoras do projeto de comunicação do Congresso Nacional, que incluiu o lançamento, em 1996, da TV Senado, da qual foi diretora até 2005.
Marilena Chiarelli chefiou a equipe que lançou, em 2010, a TV Brasil Internacional, canal voltado à população brasileira que reside no exterior, administrado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Desligou-se da emissora no final daquele ano. Desde então, atua como jornalista freelancer.
FONTE:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Marilena Chiarelli em 17/02/2004. |