Marco Antonio Rodrigues, conhecido como Bodão – graças ao cavanhaque, que se tornou marca registrada – trabalhou durante mais de 40 anos na Globo. Para ser exato, 41 e seis meses. Chegou na emissora em 1979, a convite do então diretor da Central Globo de Jornalismo, Armando Nogueira, graças a uma reportagem que escrevera para o Jornal da Tarde, sobre a história do jogador Garrincha, então nos seus últimos anos de vida.
Durante anos, equilibrou-se entre o jornalismo impresso, que lhe rendeu um prêmio Esso, e a televisão. Foi editor no 'Bom Dia São Paulo', onde também apresentava o noticiário esportivo, editor-chefe do 'Globo Esporte', dos telejornais locais 'SP1' e 'SP2' e do 'Jornal Hoje'. Em 2003, assumiu a gerência de Jornalismo das Afiliadas, responsável por garantir a sinergia editorial entre os telejornais locais e a rede. Seguiu conciliando a atuação na coordenação o telejornalismo das afiliadas da rede, como o trabalho de comentarista dos programas 'Arena Sportv' e 'Bem, Amigos!', do canal Sportv. Deixou a Globo no final de 2020, ano em que participou de um dos maiores desafios da carreira: a cobertura da pandemia de Covid-19.
Início da trajetória
Marco Antonio Campos Rodrigues nasceu em Araraquara, interior do estado de São Paulo, em 09 de dezembro de 1950. Filho de um bancário e uma funcionária pública, ainda adolescente começou a se interessar por jornalismo. Sua primeira experiência na área foi em um jornal escolar, quando tinha apenas 15 anos. Em seguida, ingressou no jornal O Imparcial, um diário que até hoje existe em Araraquara.
No início dos anos 1970, foi para a capital para prestar vestibular. Em 1972, ingressou na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). No mesmo ano, conseguiu seu primeiro emprego em São Paulo, no extinto jornal Gazeta Esportiva, onde foi escalado para cobrir o dia a dia do Corinthians. Um ano e meio depois, foi chamado para ser repórter esportivo da Folha de S. Paulo.
Em 1976, transferiu-se para o Jornal da Tarde. Na época, o jornalista passou a integrar a editoria de Esporte do diário. Foi no Jornal da Tarde que ele ganhou o Prêmio Esso pela cobertura da Copa do Mundo de 1978, disputada na Argentina. Nesta Copa, entrevistou o técnico da seleção argentina, Cesar Luis Menotti, conseguindo dele uma declaração impactante, considerando que seu país estava sob ditadura: “Eu estou entre a glória e o exílio. Se eu ganhar, vou para a glória. Se eu perder, os militares vão me exilar.” Naquele ano, a Argentina acabou se sagrando campeã do mundo.
Ficou no Jornal da Tarde até 1988. A partir de 1979, no entanto, já havia começado a trabalhar paralelamente na Globo. A entrada na emissora se deveu em boa parte ao apoio do diretor da Central Globo de Jornalismo, Armando Nogueira, que havia gostado de uma reportagem que Marco Antônio Rodrigues escrevera para o Jornal da Tarde, sobre a história do jogador Garrincha, então nos seus últimos anos de vida. Na Globo, começou como editor do 'Bom Dia São Paulo', telejornal que estava no ar havia cerca de um ano. No telejornal, além de editor, acabou acumulando a função de apresentador do noticiário esportivo, entre 1979 e 1980. De forma pioneira, o 'Bom Dia São Paulo' começou a apresentar um bloco de esportes pré-gravado, com um resumo do noticiário do dia anterior. Quem o sucederia nesta função seria o hoje apresentador Fausto Silva, o Faustão. Posteriormente, o 'Globo Esporte' passaria a exibir um bloco dedicado a São Paulo, que era apresentado por J. Hawilla e editado por Marco Antônio Rodrigues. Em 1981, por causa do aumento da importância do esporte na grade da Globo, ele se transferiria de vez do 'Bom Dia São Paulo' para o 'Globo Esporte'.
Nos anos 1980, acompanhou uma série de transformações na divisão de Esporte da Globo. As notícias esportivas começaram a ganhar espaço nos vários telejornais da emissora, a área recebeu mais recursos e novos profissionais foram contratados. As matérias, incluindo as do 'Globo Esporte', ficaram mais elaboradas, passaram a apresentar mais entrevistas e buscavam explorar a trajetória pessoal dos atletas, mostrando suas limitações, obstáculos e desafios. O 'Globo Esporte' também ampliou sua cobertura, deixando de tratar apenas de temas relacionados ao futebol, que era a tônica do programa, e começou a adotar uma linha mais irreverente. As reportagens passaram a utilizar recursos como animação, grafismo e vinhetas.
Copa do Mundo e Olimpíadas
Em 1982, participou da cobertura de sua primeira Copa do Mundo pela Globo, na Espanha. O investimento da emissora foi grande, e centenas de profissionais foram enviados para cobrir o evento. Ele era o responsável pelo 'Globo na Copa', um pequeno programa que entrava no ar antes de cada partida. Nele, foram exibidas diversas reportagens sobre várias seleções que disputavam a Copa, matérias essas, muitas vezes, produzidas nos próprios países de onde vinham essas seleções.
Na divisão de Esporte, ficando no Brasil ou enviado para o exterior, participou ainda da cobertura das Olimpíadas de Los Angeles (1984), de Seul (1988), de Barcelona (1992) e de Atlanta (1996), das Copas do Mundo de 1986, no México, de 1990, na Itália, de 1994, nos Estados Unidos, e de 1998, na França, além de vários Grandes Prêmios de Fórmula 1. Presenciou momentos importantes para o esporte brasileiro, como o judoca Aurélio Miguel conquistando o ouro em Seul, o vôlei masculino sendo campeão em Barcelona, vitórias de Ayrton Senna, e a seleção brasileira voltando a conquistar um Mundial depois de 24 anos de jejum, nos Estados Unidos.
Além de mudanças no formato e na linguagem das reportagens e programas, Marco Antonio Rodrigues testemunhou uma série de transformações tecnológicas, que se evidenciavam a cada grande evento esportivo – das entradas dos telejornais ao vivo em estúdio direto da Espanha na Copa de 1982, passando pela assinatura digital do jogador que aparecia na tela após o gol, também em 1982, a adoção do tira-teima na Copa de 1986, e as externas ao vivo com apresentadores do 'Jornal Nacional' na Copa de 1994.
'SPTV'
Em 1998, convidado pelo diretor de jornalismo da Globo em São Paulo, Amauri Soares, fez uma transição em sua carreira, do esporte para o jornalismo geral, tornando-se editor-chefe das duas edições do 'SPTV'. Nelas, passou a coordenar algumas mudanças, como a cobertura mais intensa de líderes comunitários da periferia, a inclusão de quadros em que a população cobrava as autoridades, e convidados na bancada do estúdio. Entre as coberturas realizadas nesse período, destacam-se a do escândalo das obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (1998), e a da chamada Máfia dos Fiscais, série de casos de corrupção envolvendo a administração do então prefeito de São Paulo Celso Pitta (2000).
Já em outubro de 2001, foi convidado para ser editor-chefe do 'Hoje', com a orientação de implantar no telejornal um pouco da linguagem que havia ajudado a desenvolver no 'SPTV', com um tom mais informal e, eventualmente, comentários dos âncoras sobre as notícias. Uma de suas realizações nesse período foi o melhor aproveitamento de entradas ao vivo de repórteres de diversos pontos do país.
Como editor do 'SPTV', viajou pelo Brasil dando palestras para as equipes das afiliadas da Globo, demonstrando o modelo de jornalismo comunitário da emissora. Em 2003, deixou o 'Hoje' para assumir a gerência de Jornalismo das Afiliadas, responsável por zelar para que a linha editorial dos telejornais locais se afinasse com os da rede. Seguiu conciliando a atuação na coordenação o telejornalismo das afiliadas da rede, como o trabalho de comentarista dos programas Arena SporTV e Bem, Amigos!, do canal SporTV.
Bodão, como era conhecido pelos amigos – um apelido que ganhou em seus primeiros anos de jornalismo, em função do cavanhaque que nunca abandonou – deixou a emissora no final de 2020, depois de mais de 40 anos de empresa. Neste ano, participou de sua última grande cobertura na Globo: a pandemia de Covid-19.
FONTE:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Marco Antonio Rodrigues em 01/03/2007. |