— Foto: Globo

Diretora do G1, Márcia Menezes acredita que credibilidade e inovação são os principais elementos para manter o portal de notícias da Globo como líder de audiência na categoria na web. Para ela, ao mesmo tempo em que é necessário dar o furo de reportagem e não errar, é importante estar na vanguarda dos formatos de apresentação da notícia. “A preocupação eterna com o formato é o nosso desafio – as coisas mudam com muita velocidade. Temos que garantir a relevância de conteúdo, posicionamento de marca, e agilidade de informação. Uma falha te joga lá para baixo”. É um eterno trabalho de aprender e reaprender técnicas e linguagens.

Para Márcia, o que mais surpreende um repórter de televisão que se aventura a fazer internet é que a web “nunca está totalmente pronta: você vai fazendo e vai subindo”. É preciso entender que “acabou a época de controle e comando, você não vai aprovar antes. Lançamos mais de mil matérias por dia. Não podemos perder agilidade”. Porque, como ela costuma descrever: “fazer internet é um susto, principalmente para quem vem de televisão.” A mudança radical na carreira da jornalista ocorreu em 2006, quando o G1 foi lançado pela Globo.com. A esta altura, ela já tinha sólida carreira na televisão: foi editora do Jornal da Globo, chefe de produção da rede, editora-chefe adjunta do Jornal Nacional e editora-chefe do Jornal das Dez, da GloboNews.A partir de fevereiro de 2020, Márcia passou a integrar, como diretora, a equipe de Produtos e Serviços Digitais, comandada por Erick Brêtas.

Fazer internet é um susto, principalmente para quem vem de televisão

INÍCIO DA CARREIRA

Márcia Francisca de Alvarenga Menezes nasceu em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, em 9 de fevereiro de 1968. Filha de Deise Azevedo de Alvarenga Menezes, professora, e Dirceu Mafaldo de Alvarenga Menezes, farmacêutico, se formou em Jornalismo na PUC-Rio em 1988 e, no mesmo ano, ingressou na Globo pelo programa Estagiar.

Antes de ser efetivada, teve grandes professores na emissora, como Alice-Maria, então diretora de jornalismo da Globo, que ajudava os iniciantes com dicas para texto, dicção e apresentação. Quando era estagiária, Márcia Menezes participou da cobertura do naufrágio do Bateau Mouche IV, que afundou na Baía da Guanabara, no Rio, no réveillon de 1989, matando 55 pessoas. A jovem voltava de uma viagem de férias com amigas e foi direto para a redação, oferecer ajuda à equipe de plantão.

Assim que foi efetivada, Márcia Menezes integrou a equipe da editoria Rio, onde permaneceu até 1990, quando foi para a TV Manchete, a convite de Alice-Maria, que assumira a direção de jornalismo da emissora concorrente. No ano seguinte, a jovem seria contratada pelo recém-criado GNT, canal da Globosat. Márcia ainda se lembra das dificuldades de produzir conteúdo para um canal em fase de testes: “O projeto era de jornalismo, diferente desse formato mais feminino que tem hoje. A gente trabalhava no Rio Comprido, e sentava no chão com máquina de escrever para fazer o texto. Editávamos de madrugada nuns contêineres que ficavam no pátio da Globo, sem ilha pronta”. A jornalista conta que, nesta fase inicial, a equipe editava material comprado da BBC e replicava o sinal da Globo para coberturas importantes, como o impeachment do presidente Fernando Collor, em setembro de 1992.

Em 1993, Márcia Menezes retornou à Globo, direto para a redação do Fantástico. Nessa época, o programa era comandado por Hedyl Valle Jr. e Luizinho Nascimento. Segundo ela, editar o Fantástico era um desafio, a equipe estava sempre em busca de novos formatos, tentando explicar para o público temas difíceis, em uma linguagem simples para melhor assimilação.

Em 1995, a jornalista pediu demissão e foi fazer um curso de jornalismo em Paris. Quando voltou ao Brasil, em 1996, trabalhou em uma produtora que fazia projetos para a Globosat, incluindo um programa de informática chamado Hipermídia, realizado pelo jornalista Celso Freitas, para o GNT. Ela acredita que esta experiência lhe abriu portas para, dez anos mais tarde, aceitar o desafio de integrar a equipe que traçava as bases do G1.

A temporada na produtora durou pouco. Em 1997, a jornalista ingressou na Globo, como editora no Jornal da Globo, no Rio de Janeiro. “A gente buscava trabalhar formatos, até porque o JG fechava em São Paulo, então as coisas mais trabalhosas ficavam por lá. Nós utilizávamos muitas matérias feitas para os telejornais locais e refazíamos a edição com a visão do JG, com gravações de off, por exemplo”.

Em julho de 1999, Márcia aceitou o desafio de se tornar chefe de produção da rede, após uma breve passagem pelo Jornal Nacional. Nesta função, ela ressalta a importância do planejamento para viagens dos repórteres, em coberturas nacionais ou internacionais. “É uma área muito importante para todos os telejornais, ainda mais naquela época em que a gente estava começando a enxergar uma produção mais compartilhada, pensando na distribuição para a rede”.

SEGURANÇA EM PRIMEIRO LUGAR

Um episódio que a marcou muito neste período foi a queda de um helicóptero do Ibama, no norte do país. Naquele mesmo dia, ela havia autorizado uma viagem do repórter Jonas Campos pela Amazônia, a bordo de um transporte aéreo similar. Depois de horas de angústia e tentativa de localização do repórter, conseguiram confirmar que ele estava em uma pousada, são e salvo. “Quando você manda um repórter e uma equipe para algum lugar, você é responsável por isso. Hoje, a Globo pensa mil vezes ao mandar uma equipe para algum lugar, porque às vezes a melhor pauta do planeta pode ser muito arriscada.”

Como chefe de produção de rede, fazia parte de suas atribuições a escolha dos repórteres que entram nos telejornais de rede, entre as opções da turma que cobre os eventos locais, pelas afiliadas. O que contava era “ter bom texto, saber contar histórias e ter experiência forte em alguma cobertura. A gente pegava fitas e fitas e mostrava para o editor-chefe. O repórter aparecia devagarzinho, primeiro no fim de semana, até virar repórter de rede.”

Em 2001, Márcia Menezes se tornou editora-chefe adjunta do Jornal Nacional, permanecendo ali até 2005. Um dos momentos mais marcantes desta fase da carreira ocorreu durante a coordenação da cobertura da Guerra do Iraque, em 2003, em que Marcos Uchoa e o repórter cinematográfico Sérgio Gilz estrearam o kit correspondente – tecnologia que facilitou a captação e geração de imagens produzidas fora do Brasil. “Eu lembro que um dia, o Uchoa queria cruzar a fronteira do Iraque, e ligou de madrugada falando: ‘Eu vou tentar entrar’. E a gente com ordem para ele não tentar. Ele disse que eu não precisava contar para ninguém, e eu falei: ‘Uchoa, você quer que eu me responsabilize? E se acontece alguma coisa? Nem morta, não entra! ’”, relata. Nessa ocasião, a equipe estava no Kuwait e só pôde cruzar a fronteira quando as tropas aliadas tomaram o país, em abril daquele ano. Após receberem a autorização da produção, os correspondentes se instalaram na capital, Bagdá.

Webdoc sobre a cobertura da Globo da Guerra no Iraque (2003)

Webdoc sobre a cobertura da Globo da Guerra no Iraque (2003)

Ela ressalta a correria para fechar as chamadas de política que iriam ao ar no JN e a pressão por não cometer erros, sempre tendo que manter o texto final o mais objetivo possível.

O que eu mais vivi no JN foi uma vontade absurda de acertar. Nunca teve uma decisão editorial personalizada. Cada palavra que a gente bota no ar tem sempre alguém tentando interpretar de uma maneira diferente. Então as orientações são sempre claras: correção, equilíbrio, tentar acertar.

Em 2005, Márcia Menezes se tornou editora-chefe do Jornal das Dez, da GloboNews, onde permaneceu por um ano. Sua principal missão foi adequar o telejornal a uma estrutura de produção similar aos telejornais de rede, da Globo. A experiência durou pouco, logo ela aceitou o convite de Álvaro Pereira Jr. para integrar a equipe que começava a estruturar o novo portal de notícias da Globo, o G1.

NASCE O G1

Uma das primeiras decisões da equipe foi estruturar a redação do G1 em São Paulo, já que o público de internet na cidade era maior. Por isso, a ideia era conquistar primeiro o mercado paulista e partir para o Brasil. O objetivo principal era unificar a produção de notícias para a web do Grupo Globo, concentrando tudo em um portal, que poderia também chamar para os demais sites, como revista Época e jornal O Globo.

O conceito número um era que, além de fazer internet e ter redação própria, teríamos acesso a tudo o que a TV produzia, para evitar retrabalho e desinformação. Trabalhamos com uma ferramenta de publicação e edição parecida com a da TV.

Tudo pronto, e o G1 foi inaugurado em setembro de 2006, com uma redação principal em São Paulo e uma sucursal pequena, no Rio de Janeiro. No susto, como a jornalista costuma descrever a experiência de fazer internet, uma das primeiras coberturas do portal de notícias foi realizada. E foi um sucesso. A queda do avião da Gol, que desapareceu na Floresta Amazônica com 154 pessoas a bordo, mobilizou toda a equipe. Era o maior acidente aéreo brasileiro até então. Aos poucos, o G1 foi conquistando credibilidade na internet, apoiando-se em furos de reportagem e cuidado para não replicar informações incorretas.

Webdoc: G1 15 Anos. Vídeo com depoimentos sobre a criação do portal.

Webdoc: G1 15 Anos. Vídeo com depoimentos sobre a criação do portal.

Para Márcia Menezes, em 2009 o portal conseguiu chegar ao topo. Passou a ter sucursais nas principais cidades brasileiras e expandir a cobertura para fatos regionais e locais. Hoje, o G1 tem estrutura para enviar repórteres ao local dos acontecimentos e aposta em tecnologia móvel para publicar o conteúdo rapidamente. Como ocorreu em janeiro de 2011, durante a cobertura das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro, que provocaram deslizamentos de terra, enchentes e a morte de centenas de pessoas. Márcia Menezes lembra que ali iniciou uma parceria interessante com os telejornais locais, após uma iniciativa do G1 em publicar uma página com o nome dos desaparecidos na tragédia, para ajudar no serviço de localização. A página ganhou chamada no RJTV. “Vimos uma oportunidade de fazer uma prestação de serviços em tempo real, disponível para a população 24 horas. Essa cobertura foi difícil, era um lugar que não tinha conexão. Quando a gente tem uma tragédia grande fora da capital, temos que ser rápidos. Ao longo dos anos, a gente foi melhorando porque teve um aumento na banda larga e celulares mais ágeis, mas o início era complicado", lembra.

APOSTA EM AGILIDADE E NOVOS FORMATOS

Mas há de ter cuidado. A lição que a jornalista aprendeu enquanto era chefe de produção de rede, de zelar pela segurança dos repórteres, é mantida. Monitorar os locais de apuração dos jovens repórteres e evitar que se arrisquem por uma cobertura é uma missão importante. “Precisamos contratar e treinar bem o profissional. Na internet, mudamos muito de funcionário e eles são muito jovens. Falamos sempre sobre segurança, para eles não se exporem e não irem a lugares não permitidos”, observa.

Ao insistir em novos formatos, Márcia Menezes revela que a cobertura de eleições – principalmente municipais – é uma das mais complexas e difíceis de se fazer no portal. Porque há um boom de acessos quando o resultado é anunciado e o servidor precisa suportar a navegação. Além disso, o G1 mapeia o resultado de todos os municípios do Brasil, com apoio das sucursais. Uma obra que mobiliza a equipe inteira durante o ano.

Eleição é o momento histórico, a gente aprende a evoluir, corre riscos controlados, com entrevistas ao vivo nas redes sociais. Temos que surpreender fazendo infográficos e games novos. Consome um trabalho das equipes preparando arte, matérias.

Apoiando-se em uma ideia de eterna transformação da mídia, Márcia Menezes afirma que o trabalho do G1 é nunca se acomodar na experiência. Os desafios sempre mudam, no compasso das tecnologias. A partir de 2015, o maior trabalho da equipe passou a ser pensar em adaptar o conteúdo para telas menores: qual será a melhor forma de consumir a informação? Para ela, “o desafio é texto, formato e agora uma migração para celular, todo mundo saindo do desktop. A estratégia é reaprender a fazer notícia para ser lida e consumida em telas menores, porque para informar temos que pensar em quem está recebendo a informação. Acho que foi uma senhora caminhada de uma visão que era criar um produto e uma estrutura de portal, para hoje lutar para uma visão de negócios”.

A luta pela inovação, formato e conteúdo levou o G1 nas Eleições, em 2018, a usar jornalismo de dados e interatividade para informar os brasileiros durante as eleições presidenciais.

Em 2019, o G1 ganhou um pacote de podcasts com 13 programas comandados por jornalistas da Globo. Nomes como Renata Lo Prete, Natuza Nery, Maju Coutinho, Andrea Sadi, Julia Duailibi, entre outros, levavam conteúdo diverso e intensificam a presença da marca no ambiente digital. “Já acompanhamos o consumidor em todos os seus momentos, em todas as plataformas, oferecendo informação relevante, de qualidade, atualizada 24 horas por dia. Os podcasts aumentam essa conexão com os brasileiros, além de completar o portfólio de produtos digitais”, explica Márcia Menezes.

O G1 é o maior site de notícias do Brasil, com mais de 70 milhões de usuários únicos e o número de visitantes do portal não para de crescer. O primeiro semestre de 2019 obteve uma média diária de visitas 26% maior do que o mesmo período do ano passado.

PRODUTOS DIGITAIS

A partir de fevereiro de 2020, Márcia Menezes passou a integrar, como diretora, a equipe de Produtos e Serviços Digitais, dirigida por Erick Brêtas, após uma reformulação da estrutura de trabalho da Globo. Na nova função, passou a ser responsável pela estratégia de distribuição, desenvolvimento da audiência e a visão de longo prazo do G1, enquanto o conteúdo jornalístico e as decisões editoriais ficam a cargo da diretoria de Jornalismo. Dois anos depois, em junho de 2020, Márcia Menezes assumiu um novo desafio junto a área de produtos de publishing, dentro da diretoria de Produtos e Serviços Digitais.

FONTES

Entrevistas de Márcia Menezes concedidas ao Memória Globo, em 03/11/2014 e 15/12/2014.
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