Desde criança, Luiz Carlos Miele frequentava o ambiente das emissoras de rádio e televisão, acompanhando o trabalho da mãe, a atriz e cantora Irma Miele. Aos 12 anos, participou do programa 'Meu Filho, Meu Orgulho', na Rádio Excelsior de São Paulo. Depois, na TV Tupi, atuou no programa infantil 'Clube do Canguru Mirim'. Começou a carreira profissional como locutor das rádios Nacional, Excelsior e Tupi. Em meados dos anos 1950, sua intimidade com o ambiente dos estúdios lhe valeu um convite para trabalhar no programa 'Teledrama Três Leões'. Começou como assistente de estúdio e passou por diversas outras funções na emissora. Em 1959, mudou-se para o Rio de Janeiro e conheceu Ronaldo Bôscoli, um dos nomes envolvidos na divulgação da Bossa Nova. Com o tempo, se tornaram uma das mais bem-sucedidas parcerias do show business brasileiro. Em abril de 1965, foram contratados pela Globo, onde produziram e dirigiram vários programas, além de se responsabilizarem pela parte musical do 'Fantástico'. Miele também atuou como humorista na maior parte da década de 1970. Faleceu em 2015.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Entrevista exclusiva do ator Luiz Carlos Miele ao Memória Globo sobre o início da carreira, no rádio.
Entrevista exclusiva de Luiz Carlos Miele ao Memória Globo sobre seu início na Globo, na direção dos musicais “Alô, Dolly” e “Dick & Betty 17”, que estrearam no mesmo dia: 29/04/1965.
O ano de 1959 foi um marco na carreira de Luiz Carlos Miele. Deixou São Paulo em direção ao Rio de Janeiro depois de trabalhar como locutor das rádios Nacional, Excelsior e Tupi e desempenhar várias funções atrás das câmeras na TV Paulista. Na cidade maravilhosa, trabalhou na TV Continental, primeiro como diretor de estúdio, depois assistente de direção. A emissora enfrentava problemas financeiros, e os funcionários se viam forçados a receber seus salários na forma de produtos doados pelos patrocinadores da emissora, como pneus ou gêneros alimentícios. Na época, Miele dividia um pequeno apartamento no Catete com seis outros rapazes, entre eles o ator Francisco Milani. Mas, em pouco tempo, descobriu Ipanema e passou a fazer parte do grupo de artistas e intelectuais que frequentavam o bairro. Vários deles foram convidados para o programa 'Documentário de Arte', que Miele produzia na Continental.
Foi também em 1959 que Miele conheceu Ronaldo Bôscoli, repórter da revista Manchete, letrista e um dos nomes envolvidos na divulgação da Bossa Nova, que começava a surgir. Os dois passaram a dividir um apartamento em Copacabana, com mais três pessoas. Um ano depois, Miele dirigiu um especial com Silvinha Telles, João Gilberto e vários outros artistas da Bossa Nova para o programa Noite de Gala, da TV Rio. Empolgado com o programa, Bôscoli convidou Miele para trabalhar na produção dos shows apresentados no Beco das Garrafas, célebre reduto da música brasileira no Rio de Janeiro, onde se apresentaram artistas como Sérgio Mendes, Tamba Trio, Elis Regina e Wilson Simonal.
Com o tempo, Miele e Bôscoli se tornaram uma das mais bem-sucedidas parcerias do show business brasileiro, sendo responsáveis pela produção e direção de espetáculos de artistas como Wilson Simonal, Sérgio Mendes, Sarah Vaughan e Roberto Carlos, entre muitos outros. Entre 1970 e 1974, os dois também foram proprietários do Monsieur Pujol, boate no Rio de Janeiro por onde passaram, entre outros artistas, a cantora Dione Warwick, os músicos Burt Bacharach, Ivan Lins e Stevie Wonder e o mímico Marcel Marceau.
Em abril de 1965, Miele e Bôscoli foram contratados pela Globo. Juntos, produziram os programas 'Alô, Dolly' – no qual o cantor Hilton Prado e as atrizes Márcia de Windsor, Marli Tavares e Darlene Glória apresentavam números musicais arranjados pelo maestro Eumir Deodato; 'Dick & Betty 17' – espécie de sitcom musical estrelada pelo cantor Dick Farney e pela atriz Betty Faria; e 'Um Cantor por Dez milhões, Dez Milhões por uma Canção' – show de atrações e concurso musical, patrocinado pela rede de lojas O Rei da Voz.
Até final dos anos 1960, Miele e Boscoli produziram e dirigiram vários programas nas principais emissoras da época: na TV Rio, fizeram o 'Cara & Coroa'; na TV Excelsior, trabalharam em 'Dois no Balanço', 'Se Meu Apartamento Falasse', 'Rio Rei', 'Os 7 Pecados' e 'Musical em Bossa 9'; e na TV Record, promoveram o famoso 'O Fino da Bossa'.
De volta à Globo em 1970, Miele substituiu Agildo Ribeiro na apresentação do 'Mister Show', no qual contracenava com o ratinho Topo Gigio. Junto com Bôscoli, produziu e dirigiu dois especiais de Elis Regina, em 1971 e 1972. Também em 1972, dirigiu Marília Pêra no programa mensal 'Viva Marília', que unia shows e atualidades; e compôs a música de abertura do Show da Girafa, programa de variedades apresentado por Murilo Néri e Sandra Bréa.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Em depoimento exclusivo ao Memória Globo, Luiz Carlos Miele fala sobre o musical “Sandra & Miele”.
A partir de 1973, e durante alguns anos, Miele foi responsável junto com Ronaldo Bôscoli pela parte musical do Fantástico. Em 1976, apresentou ao lado da atriz Sandra Bréa o musical Sandra & Miele, inspirado no universo dos shows da Broadway e filmes de Hollywood, que era dirigido por Augusto César Vannucci.
Sandra & Miele (1976): Abertura
Humor
Miele também atuou como humorista na maior parte da década de 1970. Fez participações nos programas 'Faça Humor, Não Faça Guerra' (1970), 'Satiricom' (1973) e 'Planeta dos Homens' (1976). Também protagonizou alguns monólogos no 'Fantástico'. Dirigiu o especial 'Raul Solnado – O Descobrimento do Brasil', estrelado pelo famoso humorista português, em 1973. Em 1977, ocupou o banco da 'Praça da Alegria', contracenando com nomes consagrados do humor, como Walter D’Ávila e Ronald Golias, entre muitos outros.
'Satiricom': Esquete em que Jô Soares, Paulo Silvino e Miele fazem uma sátira dos comentaristas de futebol.
'O Planeta dos Homens': Esquete com Miele, Jô Soares e o bordão: “Mui Amigo”.
Em 1979, Miele produziu com Bôscoli um especial com o cantor Sérgio Mendes. Nos anos seguintes, foi apresentador dos festivais de música MPB 80 (março a agosto de 1980) e MPB Shell 81 (março a setembro de 1981). Também em 1981, ao lado de Sandra Bréa, Edwin Luisi e Zezé Motta, foi um dos apresentadores do 'Show do Mês', musical dirigido por Augusto César Vannucci. Em 1983, apresentou o 'Batalha dos Astros', dirigido por Oswaldo Loureiro, programa em que atores, diretores de cinema, humoristas, jogadores de futebol, músicos e cantores disputavam uma partida de jogo-da-velha.
Relembre a estreia do programa Batalha dos Astros
Em 1985, Miele deixou a Globo e foi trabalhar na TV Manchete, onde apresentou os programas 'Miele & Cia.' e 'Ele & Ela', com Leila Richers. Em 1992, no SBT, apresentou o programa 'Coquetel'. Em 1997, atuou no filme 'O Homem Nu', de Hugo Carvana, baseado no livro de Fernando Sabino. Depois de uma temporada afastado da televisão, retornou em 2002, para apresentar o programa de entrevistas 'A Vida é um Show', na TV Educativa do Rio.
Em 2004, Miele assinou a direção de um DVD com uma apresentação sua no Tom Brasil, em São Paulo. No mesmo ano, lançou o livro 'Poeira de Estrelas: Histórias de Boemia', 'Humor e Músicas', publicado pela Ediouro; e organizou o 'Bossa Nova in Concert', espetáculo realizado no Canecão, Rio de Janeiro, com a participação de Roberto Menescal, Wanda Sá, Johnny Alf, João Donato, Carlos Lyra, Durval Ferreira, Pery Ribeiro, Eliane Elias, Leny Andrade, Marcos Valle, Os Cariocas e Bossacucanova.
Luiz Carlos Miele retomou sua carreira na televisão em meados dos anos 2000. Em 2005, viveu o advogado Wexler, no seriado 'Mandrake', baseado nos contos de Rubem Fonseca e produzido pela Conspiração Filmes para o canal por assinatura HBO. Na Globo, em 2008, participou de um episódio do seriado 'Casos & Acasos' e, em 2011, do seriado 'Tapas & Beijos', como Giusepe, o pai do personagem de Vladimir Brichta. No ano seguinte, interpretou um poderoso e corrupto político na minissérie 'O Brado Retumbante', de Euclydes Marinho. De tão emblemático, seu personagem era apenas chamado de Senador. Em 2014, Miele trabalhou em duas produção da Globo. Na minissérie 'A Teia', interpretou o ex-senador Walter Game, e na novela 'Geração Brasil', o milionário Jack Parker. Sua última participação na emissora foi no programa 'Tomara que Caia', em setembro de 2015.
Durante mais de dez anos, Luiz Carlos Miele foi o apresentador oficial do Moliére, maior prêmio do teatro brasileiro. Entre outras atividades, gravou com Cauby Peixoto e Elis Regina e se apresentou como crooner da Rio Jazz Orquestra. Em 2005, apresentou-se com Roberto Menescal e Wanda Sá no espetáculo Bênção Bossa Nova e lançou o DVD 'Miele, um Showman Brasileiro'. Também foi diretor artístico da Casa de Cultura da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.
'O Brado Retumbante': Cena em que o senador Nicodemo Cabral (Miele) diz que Ventura (Domingos Montagner) não durará no cargo.
Em 2008, atuou no filme 'A Casa da Mãe Joana', de Hugo Carvana. Em 2012, participou de 'As Aventuras de Agamenon, o Repórter', de Victor Lopes, e de 'Os Penetras', de Andrucha Waddington. Em 2014, participou da 'Dança dos Famosos' no Domingão do Faustão.
Luiz Carlos Miele morreu no dia 14 de outubro de 2015.
Homenagem do Video Show a Luiz Carlos Miele:
'Video show' faz homenagem a Luís Carlos Miele, 31/05/2018
FONTE:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Luiz Carlos Miele em 29/08/2005. |