O que esperar de um adolescente de 15 anos que se diverte editando um jornal? A resposta não é tão difícil. Ainda na escola, Luis Roberto foi convidado para ser repórter de uma pequena rádio do interior de São Paulo. E quando ele se destacava como narrador de futebol, surge novo convite. Desta vez para trabalhar em uma grande rádio, com estreia em um torneio internacional, na Itália, envolvendo times campeões do mundo. O que esperar de um jovem que, mal terminara a faculdade de Jornalismo, já era um tarimbado locutor e repórter esportivo da Rádio Globo, dono de vasta bagagem internacional, incluindo Copa do Mundo e Grande Prêmio de Fórmula 1? Espera-se, no mínimo, um grande profissional. E foi exatamente isso que aconteceu com o jornalista Luis Roberto, hoje considerado um dos mais conceituados e experientes narradores esportivos do Brasil.
Início da carreira
Luis Roberto de Múcio tem uma carreira notável. Sua primeira experiência profissional foi na Rádio Piratininga, de São João da Boa Vista, onde morava. O convite, primeiro, era para ler no ar a coluna que escrevia sobre futebol dente-de-leite. “Como não estava satisfeito, comecei a entrevistar os meninos. Aí ficou legal, ganhei espaço, e, com 15 anos, fui convidado a ser repórter da rádio. Fui cobrir o time profissional da cidade. Dali foi um pulo para virar narrador”, conta. Na época, já estava cursando jornalismo em Campinas. Por conta de um convite para narrar jogos numa rádio de Santos, mudou-se para a cidade litorânea, onde afinal concluiria o terceiro grau. “Foi engraçado. Eu fui para Santos e, logo de cara, viajei para um torneio internacional, na Itália. Era um torneio de quatro campeões mundiais: o Santos, o Internacional, o Milan e o Real Madri. Foi bem legal essa experiência. Foi minha primeira viagem internacional, em 1981, quando estava no primeiro ano da faculdade”, relembra.
Pela Rádio Cultura de Santos, Luis Roberto chegou a cobrir a edição de 1984 da Copa Libertadores. No fim daquele ano, transferiu-se para a Rádio Gazeta de São Paulo, na qual chegou a narrar jogos da Copa do Mundo de 1986. Essa foi a senha para o segundo grande salto de sua carreira: Luis Roberto foi convidado para trabalhar na Rádio Globo, onde ficou por longos 11 anos. “A Rádio Globo me deu oportunidades belíssimas. Eu agradeço todos os dias por isso. Foi um momento ainda muito efervescente do rádio, com possibilidades de você avançar. Criamos um monte de coisas, mesmo em termos de mudança de linguagem, como o giro de manchetes, uma série de coisas que o rádio não fazia”, diz.
Na Rádio Globo, Luis Roberto fez coberturas muito importantes em sua carreira, como as das Copas do Mundo de 1990 e de 1994, de uma série de Grandes Prêmios de Fórmula 1 e de outros eventos esportivos de primeira linha. Ele cita como uma das coberturas mais emocionantes a do Grande Prêmio de San Marino, em 1994, marcado pelo falecimento do piloto brasileiro Ayrton Senna.
Por algum tempo, esse paulistano, filho de um técnico em eletricidade e uma dona de casa, acumulou o trabalho na Rádio Globo com suas primeiras experiências em televisão. Primeiro, uma rápida passagem pela hoje extinta TV Manchete, onde destaca os comentários que fez na famosa vitória da Colômbia sobre a Argentina, no Monumental de Nuñez, nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1994. Depois, na ESPN, onde narrou uma série sem fim de jogos, inclusive internacionais, e participou da cobertura da Olimpíada de Atlanta, mas narrando as competições desde a redação em São Paulo. “Na época da Rádio Gazeta, cheguei a participar de um programa chamado 'Sábado Esporte', que era exibido aos sábados. Era uma mesa redonda. O apresentador desse programa era o Cléber Machado, que usava barba. Lá mesmo, também apresentei um programa de auditório, de esportes, chamado 'Show de Bola'. Era bem legal, fizemos uma edição com um campeonato com as torcidas organizadas”, relembra.
Entrada na Globo
Dois momentos em seu trabalho até então lhe valeram um convite para trabalhar na Globo. Certa vez, um jogo do campeonato paulista entre São Paulo e Santos, no Pacaembu, atrasou em uma hora e meia, por causa da chuva. E Luis Roberto, o comentarista Walter Casagrande Júnior e o repórter Pedro Bassan tiveram que segurar sozinhos a transmissão, até que o jogo começasse de fato. “Os três, depois, foram convidados para a Globo”, diverte-se. O outro momento foi a narração de uma luta do boxeador Oscar de la Hoya. Os titulares do programa 'A Noite do Boxe' não poderiam narrar, e Luis Roberto foi escalado de última hora. “Marco Mora, diretor executivo do Esporte em São Paulo, e Luiz Fernando Lima, diretor da Central Globo de Esportes, me convidaram no dia 7 de novembro de 1997 para trabalhar na TV Globo”, lembra com exatidão, revelando a importância que o convite teve para ele.
Para quem é jornalista e vive da notícia, sua estreia na emissora não podia ter sido melhor. Luis Roberto foi convocado para narrar um jogo entre as seleções do Brasil e da Itália de futebol de areia, no Rio de Janeiro. Júnior, hoje comentarista, que trabalha ao seu lado, era um dos craques da seleção canarinho. “Era um negócio, parava tudo. Era um mundial! Mas naquele fim de semana, no sábado, caiu um prédio na Barra da Tijuca [o desmoronamento do edifício Palace II]. Então, tinha que chamar repórter toda hora. E, para mim, foi legal essa possibilidade de me movimentar, de mostrar um pouco de jogo de cintura”, relembra.
Copas e Olimpíadas
Luis Roberto trabalhou na Copa do Mundo da França, em 1998. Mas um dos momentos mais emocionantes, em sua opinião, não foi narrado por ele: “Irã e Estados Unidos, por exemplo. Foi o Galvão quem narrou. Vivia-se toda uma apreensão por conta desse jogo. E acabou sendo uma coisa linda: americanos e iranianos se abraçando antes de a bola rolar. O futebol, na acepção mesmo do seu papel de condutor da paz, é bem legal. Foi uma Copa bem legal”, classifica. Ele não esteve na Copa da Coreia e do Japão, em 2002, mas lembra que ficava no ar de forma ininterrupta, em um estúdio no Brasil. “Talvez tenha sido o embrião do 'Central da Copa' ”, acredita. “Começávamos de madrugada, após o 'Programa do Jô', o primeiro jogo era 1h30. Depois tinha jogo às 3h30m, tinha o das 6h30 e, às vezes, 8h30. Narrei muitos jogos do nosso estúdio”, conta.
Já na Copa da Alemanha, em 2006, Luis Roberto esteve presente. Mas sua principal recordação não é nada boa: a morte do humorista Bussunda. “Perder um companheiro numa empreitada dessas foi uma tragédia para a televisão brasileira”, diz. Em relação à Copa da África, na qual também esteve, ele relembra das vuvuzelas, que incomodavam bastante quem trabalhava, como ele, narrando o jogo. “Incomodava, mas era legal”, avalia. Participou ainda de mais duas Copas do Mundo: a de 2014, no Brasil, e a de 2018, sediada na Rússia.
Além das Copas, Luis Roberto destaca seu trabalho em Olimpíadas. Ele esteve, por exemplo, nos Jogos de Sidney, em 2000. “É muito diferente. Primeiro, para quem vai narrar, o período de preparação é maior, e mais intenso, porque o futebol está implícito na nossa vida, você acompanha o dia a dia do futebol. Na Olimpíada, são 200 e tantos países, naquelas modalidades todas, cada uma com suas regras, com suas peculiaridades. Agora, certamente é um privilégio. Sidney fez uma Olimpíada belíssima. Uma Olimpíada muito alegre, muito divertida. Ter tudo isso, reunido numa cidade só, é um encanto!”, explica. Nos Jogos de Pequim, em 2009, apenas Galvão Bueno viajou para narrar as principais competições, mas Luis Roberto e Cléber Machado quase se mudaram para o estúdio da Globo, tamanho foi o volume de trabalho. “Estávamos em tudo que era evento envolvendo brasileiros, com imagens e muito imediatismo”, ilustra.
Carnaval
Mas a vida profissional de Luis Roberto não se resume a futebol e a outros eventos esportivos. Em 2010, 2011 e 2012, além da Copa do Mundo da África, ele narrou o desfile das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. “Em 2011, fizemos diferente. Não teve comentarista falando ao longo da transmissão, tivemos uma transmissão linear. Existe um desgaste físico forte, vocal certamente. Como tem um barulho muito grande, você usa um tom às vezes inadequado, por mais que se controle. Então, é uma concentração complexa para quem está ali sentado, tentando manter o discernimento o tempo todo, a mesma agilidade mental. É uma competição, é um jogo, tem regras, regulamento. Por isso, a primeira coisa que faço é saber o regulamento, e isso foi o esporte quem me ensinou. Para mim, não só o desfile, mas a construção do carnaval como um todo é uma manifestação cultural fantástica, de talentos maravilhosos. É sensacional transmitir o carnaval, sensacional”, garante. O jornalista também faz inserções no 'RJTV', no 'Jornal da Globo' e em programas do SporTV, inclusive substituindo Galvão Bueno no 'Bem, Amigos' sempre que necessário.
“A Globo faz hoje uma cobertura, do ponto de vista jornalístico, muito intensa. Os profissionais estão sempre acompanhando o que está acontecendo de importante no esporte brasileiro. Tratamos o esporte de uma forma mais lúdica, nos divertimos um pouco mais com os acontecimentos, sem perder o lado jornalístico. Tivemos um avanço superlegal do ponto de vista tecnológico também. Tudo isso ajuda no dia a dia. Acho que estamos num grande momento”, avalia aquele que é hour concours do Prêmio Comunique-se, pois já o ganhou três vezes: em 2005, 2007 e 2009. Aquele menino, que aos 15 anos já era repórter de rádio, agora ajuda a fazer a história do jornalismo esportivo da televisão brasileira.
Em 2022, Luis Roberto está no time de narradores da Copa do Mundo do Catar, com inserções da Globo e na programação do SporTV.
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