Luís Edgar de Andrade formou-se em filosofia e em direito pela Universidade Federal do Ceará. Nos anos 1950, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se tornou repórter da revista O Cruzeiro e trabalhou com grandes nomes do jornalismo. Entrou na Globo em 1973, trabalhando como produtor especial no recém-criado programa 'Fantástico'. Assumiu o cargo de editor-chefe do 'JN' em 1979 e, três anos depois, passou a ser chefe de redação do telejornal. Foi o responsável por coordenar a cobertura da doença de Tancredo Neves, que culminou na morte do presidente eleito. Morreu em 29 de abril de 2020, depois de contrair Covid-19.
O jornalista Luís Edgar de Andrade, em entrevista exclusiva ao Memória Globo em 04/05/2009, fala sobre a censura nos anos de ditadura.
O jornalista Luís Edgar de Andrade, em entrevista exclusiva ao Memória Globo em 04/05/2009, fala sobre a censura nos anos de ditadura.
No início da década de 1960, depois de trabalhar na revista O Cruzeiro, ao lado de David Nasser e do fotógrafo Jean Manzon, entre outros grandes nomes do jornalismo, Luís Edgard de Andrade morou em Paris. Na capital francesa, atuou como correspondente e fez uma pós-graduação em jornalismo. Voltou para o Brasil em 1965, a convite do jornalista Alberto Dines, para chefiar a editoria Internacional do Jornal do Brasil, no Rio. No fim de 1967, foi demitido e embarcou por conta própria para o Vietnã, onde cobriu os dois lados do conflito. Da zona de guerra, enviou matérias para os jornais Correio da Manhã, do Rio, e Folha da Tarde, de São Paulo, além das revistas Manchete e Fatos & Fotos, ambas da editora Bloch.
Em agosto de 1969, mudou-se para São Paulo para trabalhar na revista Realidade, fundada no ano anterior. Logo em seguida, foi preso pela polícia política do regime militar e torturado, acusado injustamente de um assalto praticado por um grupo guerrilheiro. No ano seguinte, esteve no Chile e entrevistou, ainda durante a campanha, o futuro presidente Salvador Allende.
Luís Edgar de Andrade trabalhou também no jornal O Estado de S. Paulo como editor-executivo, responsável pelo fechamento da primeira página. Mais tarde, tornou-se editor-assistente da revista Exame, da editora Abril. Colaborava ainda com o jornal O Pasquim, publicação satírica carioca.
Em julho de 1973, foi chamado por Armando Nogueira, então diretor do jornalismo da Globo, para passar um mês na emissora do Rio de Janeiro acompanhando o processo de produção dos telejornais e outros programas jornalísticos. Ao final do período, recebeu o convite para ficar e deixou a revista Exame. Começou trabalhando como produtor especial no programa 'Fantástico', então recém-criado. Também redigiu boletins de programação. Em seguida, no 'Globo Repórter', colaborou com Walter Lima Jr., Paulo Gil Soares e outros documentaristas. Entre 1974 e 1975, produziu uma série sobre a independência de algumas colônias portuguesas na África (Guiné-Bissau, Angola e Moçambique), viajando pelo continente com um cinegrafista.
Depois, como chefe de redação no Jornal Internacional, Luís Edgar de Andrade continuou especializado no noticiário do exterior, que na época sofria uma censura menos rigorosa. Finalmente, entrou na equipe do 'Jornal Nacional', na função de sub-chefe. Quando houve o incêndio na sede da Globo no Jardim Botânico, em 1976, Luís Edgar de Andrade fez parte do grupo que se transferiu às pressas para São Paulo e, durante dois meses, produziu o telejornal a partir da capital paulista. Para o jornalista, o incêndio foi um verdadeiro divisor de águas na história da Globo.
“O incêndio teve consequências muito importantes. Ali, a Alice-Maria confirmou as suas qualidades de chefia. Por volta de 13h, o 'Jornal Hoje' estava no ar, e de repente começou o incêndio. A estação saiu do ar, ficou fora do ar poucos minutos, São Paulo assumiu a cabeça de rede. Nessa mesma noite o 'JN' foi ao ar normalmente em São Paulo, editado pela Alice e alguns editores aqui do Rio, que ela levou com ela.”
No ano seguinte, o jornalista foi intimado, junto com Alice-Maria (então diretora-executiva da Central Globo de Jornalismo), a prestar depoimento no Dops (Departamento de Ordem Pública e Social). Nessa ocasião, os dois foram levados pessoalmente pelo presidente da empresa, Roberto Marinho. A motivação seria um depoimento de uma pessoa, que teria dito que Luís Edgar e Alice-Maria organizariam "uma célula do partido comunista dentro da TV Globo".
Em 1979, Luís Edgar de Andrade assumiu o cargo de editor-chefe do 'JN'. Nesse período, chefiou a cobertura do processo de abertura política no Brasil, a lei de anistia e o retorno dos exilados ao país. Manteve-se no cargo até 1981, quando passou a ser chefe de redação do telejornal. Em abril de 1985, foi destacado exclusivamente para coordenar a cobertura da doença de Tancredo Neves, que culminou com a morte do presidente eleito.
Edgar de Andrade se lembra com emoção da matéria sobre o enterro, que foi ao ar no 'JN' do dia 22 de abril. Segundo ele, quando o coveiro iniciara o enterro, o único barulho que se ouvia era o da terra sobre o caixão. “Aquela imagem, o silêncio, a eloquência do silêncio. Nessa noite, eu mandei um memorando, uma carta à redação, agradecendo a colaboração dos diferentes profissionais que realizaram um verdadeiro mutirão de jornalistas.”
Após deixar a Globo, o jornalista trabalhou como diretor de redação da TV Manchete e gerente de jornalismo na TVE do Rio de Janeiro. É autor dos livros' Bao Chi, Bao Chi', romance sobre a Guerra do Vietnã, e 'Quatorze Santos de Emergência', sobre uma aparição mística na Baviera medieval.
Luís Edgar de Andrade morreu em abril de 2020, aos 88 anos, no Rio de Janeiro, após contrair Covid-19.
FONTES:
Depoimentos concedidos por Luís Edgar de Andrade ao Memória Globo em 06/02/2003 e 30/03/2009. |