Luciana Savaget cresceu nos bastidores da televisão. Na época, a TV ainda era uma aposta de empresários visionários e artistas. Filha do arquiteto Leopoldo José Teixeira Leite e de uma das primeiras apresentadoras de televisão do país, a jornalista Edna Savaget, Luciana passava as férias escolares acompanhando gravações de programas que reuniam profissionais que deram início à história da televisão brasileira. Ela mesma seguiu o exemplo e chegou atuar como apresentadora, primeiro no programa de sua mãe, na TV Tupi, depois, no infantil 'Pullman Jr', da TV Bandeirantes. Mas seu desejo era ser jornalista e foi como produtora do 'Jornal Hoje' que entrou na Globo, em 1979. De 2009 a 2020, quando deixou a emissora, esteve à frente do Arquivo N, o programa de arquivo e memórias da GloboNews.
Nascida em 22 de março de 1957, no Rio de Janeiro, Luciana Savaget assistiu a produções de emissoras como TV Tupi e TV Continental, pelos bastidores, acompanhando a mãe, Edna, uma das primeiras apresentadoras de TV do Brasil. Em 1965, quando a mãe foi contratada pela TV Globo para coordenar a programação vespertina, Luciana conheceu o embrião da empresa na qual viria a trabalhar, realizando o sonho de ser jornalista.
“A televisão está no meu DNA. Desde pequena meu sonho era ser jornalista, era uma meta. E naquela época, nós não tínhamos babá, então, eu acompanhava muito a mamãe. Daí, eu comecei a me apaixonar ainda mais pela televisão. Ficava sentadinha no banco, olhando os estúdios, o cenário, vendo aquela gente toda. Lembro da minha mãe sendo maquiada pelo Eric Rzepecki. A estrutura toda estava apenas no começo.”
Em 1977, assim que entrou para a faculdade de jornalismo, Luciana buscou estágio na TV Globo. Uma tentativa que, hoje, considera engraçada. “Eu achei que já estava pronta para trabalhar em televisão. Me lembro que vim aqui conversar com a Alice-Maria e ela disse que, por coincidência, naquele dia estava fazendo uma seleção de estagiários e perguntou se eu queria tentar. Aí fui. Só que eu sabia de televisão, luzes, mas não sabia nada de jornalismo, tinha entrado na faculdade naquele dia. No teste, eu tinha que fingir que estava narrando um assassinato na Baixada Fluminense, mas quando vi aquela gente toda me olhando, eu com o microfone da Globo na mão, não sabia o que fazer. Então, comecei a recitar uma crônica do Fernando Sabino, 'O Homem que Morreu de Fome'. Aí eles disseram: ‘não serve’. Não sei o que deu em mim de recitar o negócio. E saí com vergonha. Obviamente, não entrei na TV Globo naquele momento.”
A alternativa escolhida foi trabalhar na TV Tupi, como assistente da mãe em um programa de grande sucesso na emissora, o 'Programa Edna Savaget', onde ficou nove meses e teve suas primeiras experiências como apresentadora.
“Eu estreei na televisão, como apresentadora, no dia da morte da Clarice Lispector, em dezembro de 1977. Mamãe era muito amiga da Clarice, e faltavam pouquíssimos minutos para o programa dela entrar no ar, ao vivo, quando a secretária da direção-geral disse: ‘Olha, ligaram da sua casa agora avisando que a sua amiga Clarice Lispector morreu.’ Mamãe entrou em choque e não conseguia parar de chorar. Não teve condição de fazer o programa. E aí, fui eu lá para o estúdio e apresentei o programa da minha mãe. Deu certo, e comecei a apresentar o programa com ela. E assim eu entrei na televisão. No susto”.
Em seguida, Luciana foi apresentar um programa infantil na TV Bandeirantes, 'Pullman Jr', que lhe rendeu, em 1979, um prêmio da União Brasileira dos Escritores, o Troféu Repórter de Melhor Programa Infantil – oferecido pelo apresentador Chacrinha, que trabalhava no canal – e ainda o título de personalidade do Ano Internacional da Criança, na Academia Brasileira de Letras. Luciana também produziu outro programa infantil e programas especiais, como uma homenagem ao poeta Vinicius de Moraes, premiada pela Associação dos Críticos de Arte de São Paulo.
No dia seguinte à premiação, chegou o convite para trabalhar na TV Globo. Luciana foi contratada para ser produtora do 'Jornal Hoje', com a responsabilidade de cuidar do quadro de entrevistas, exibido aos sábados. “Na época, todo mundo só falava nessas entrevistas, com a Leda Nagle. Me senti com uma responsabilidade enorme. A primeira entrevista que eu fiz foi com Clara Nunes, sozinha, para o 'Jornal Hoje'. E havia, também aos sábados, uma sessão chamada 'Gente', que eu produzia. Nessa época começava a crescer a importância de ter um produtor em cada jornal. E eu também comecei a bolar coisas diferentes. Muitas vezes, a gente chegava no local já gravando, a Leda chegando, cumprimentando o entrevistado, e aí mostrávamos a conversa deles, os bastidores”.
A partir de 1982, as atividades no 'Jornal Hoje' começaram a ser conciliadas com a edição do programa 'Retrospectiva', mostrando os principais acontecimentos do ano. “A primeira vez que eu fiz a Retrospectiva, foi o ano da Guerra nas Malvinas. E, nessa época, quem fazia a abertura era o Hans Donner. Eu me lembro que achava o máximo, eu ali começando, e o Hans Donner vinha, trazia as vinhetas. Nesse primeiro programa fiquei enlouquecida, porque não havia preparo de material com antecedência. Já no segundo ano, que eu sabia que ia fazer o programa, comecei a arquivar o ano inteiro o que eu achava que era importante. Assim, fui criando um método de trabalho. Pegava todas as fitas, ia arrumando, com etiquetas, fazia pastas. Não havia computador. Escrevia tudo à máquina ou à mão. Não sei como eu fazia, mas saía e ficava bonito”.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
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Em 1983, Luciana passou a integrar, como produtora, a equipe do 'Globo Repórter'.
“Produzi programas do Eduardo Coutinho, do Walter Lima Jr., trabalhei com o Walter Salles. Nós tínhamos equipe própria com cinegrafistas e repórteres. E eu participei de programas muito bacanas, mesmo. Fizemos programas sobre Serra Pelada, Chico Mendes, os índios yanomamis. E na época não existia fax nem telefone celular”.
Dos cinco anos de grandes reportagens, ficaram muitas lembranças. Entre elas, a de um programa sobre trabalho infantil, que foi premiado no Festival Internacional de Nova York. “Esse programa sobre crianças trabalhadoras me marcou profissionalmente e também pessoalmente. Tudo o que vi mexeu muito comigo. Outro 'Globo Repórter' importante foi sobre crianças queimadas – fiquei uma semana num CTI para entrevistar e ver personagens para a reportagem.”
Em 1998, Luciana voltou ao 'Jornal Hoje', dessa vez como editora de Cultura. Paralelamente, ela se dedicava também à literatura, e lançava seus primeiros livros para o público infanto-juvenil. Dois anos depois, Luciana voltou ao 'Globo Repórter', um retorno que foi marcado por uma tarefa especial: fazer uma reportagem sobre os 50 anos do ídolo Roberto Carlos. “Fui fazer o programa com Glória Maria. Eu era muito fã dele. Pegamos depoimentos de amigos dele de infância, fomos a Cachoeiro de Itapemirim. Passamos dois meses acompanhando o Rei. O programa foi muito bacana, entramos ao vivo, e deu uma audiência enorme.”
Em 2002, Luciana foi convidada para trabalhar na GloboNews. Depois de três meses fazendo programas especiais, assumiu a edição do 'Almanaque', e recebeu, com a repórter Mariana Kotscho, o prêmio Vladimir Herzog por um programa sobre a história do Dops, o Departamento de Ordem Política e Social. “Fizemos a reportagem assim que abriram o Dops e fizeram um museu em São Paulo. Nós fomos receber o prêmio e eu fiquei toda feliz.”
Em 2009, Luciana assumiu novo cargo no canal a cabo – editora-chefe do 'Arquivo N'. A tarefa de comandar o programa de memórias da GloboNews foi muito bem vinda. “Está tudo dando certo, e conseguimos fazer com que o Arquivo N chegasse aos top five da GloboNews. Fico muito orgulhosa em ver que o programa tem muito prestígio”, explica a jornalista, que teve a oportunidade de produzir um programa sobre a TV Globo, no qual a mãe, Edna Savaget, é uma das personagens da história.
Foram mais de dez anos comandando o programa. Luciana deixou a empresa em dezembro de 2020.
FONTE:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Luciana Savaget em 31/10/2013 |