Por Memória Globo

Renato Velasco/Memória Globo

A paixão pela notícia estava no sangue. Filha da jornalista Áurea Brito Weissenberg e do alemão Franz Gunter Weissenberg, Kiki Weissenberg ingressou na Globo em um dos primeiros cursos para estagiários em jornalismo, idealizados por Alice-Maria e Nilson Viana, editor-chefe do 'Jornal Nacional' entre os anos 1973 a 1979. Dos 25 estudantes que iniciaram o curso restaram apenas dez. Kiki era um deles.

Depoimento de Kiki Weissenberg ao Memória Globo, 2016 — Foto: Renato Velasco/Memória Globo

Início da carreira

Kiki Weissenberg nasceu Maria Cecília Brito Weissenberg em São Paulo, no dia 18 de junho de 1956, filha da jornalista Áurea Brito Weissenberg e do alemão Franz Gunter Weissenberg, funcionário de uma firma europeia que funcionava no Brasil. Quando Kiki tinha apenas um mês de idade, a família mudou-se para o Rio de Janeiro, por isso brinca: “Me considero carioca. Sou paulistana só na carteira de identidade”. Ingressou, ainda estudante da PUC-Rio, em 1978, em um dos primeiros cursos para estagiários em jornalismo da Globo, idealizados por Alice-Maria e Nilson Viana, editor-chefe do Jornal Nacional entre os anos 1973 a 1979, para estimular a formação de novos talentos para a televisão. Todos aprendiam a filmar, editar, apresentar e fazer reportagem. “A gente fazia de tudo,” lembra Kiki.

Com uma boa bagagem no currículo, Kiki percorreu todas as etapas do jornalismo da Globo, onde permaneceu por 12 anos. Da apuração de uma notícia à produção de pautas, da coordenação das entradas ao vivo de repórteres nos telejornais e em grandes eventos.

'Globinho'

Antes do hardnews, Kiki teve uma passagem como repórter no programa 'Globinho', apresentado por Paula Saldanha. O telejornal era voltado para o público infantil, tinha uma linguagem acessível para crianças e adolescentes e estimulava o envolvimento delas com as artes e atividades culturais. A experiência durou dois anos e é repleta de boas lembranças. “Era uma delícia. A editora-chefe do programa era a Fernanda Marinho. Lembro que fizemos uma festa pelos 100 anos do Monteiro Lobato e a turma do Sítio do Picapau Amarelo apareceu. Tínhamos tanta ligação com as crianças que no Natal, recebíamos cartas pedindo presentes e nós mandávamos. Uma época fantástica”.

Coberturas marcantes

A campanha pelas Diretas Já, o acidente com o Bateau Mouche, o Plano Collor, Rock In Rio, Carnaval, Réveillon e a internação, morte e enterro de Tancredo Neves são algumas das coberturas que Kiki participou intensamente. “No caso de Tancredo Neves eu viajei com uma malinha e fiquei fora de casa por quase 40 dias até o enterro em São João Del Rey, Minas Gerais. As pessoas choravam, se aglomeravam. Era complicado fazer o vivo com tantas entradas e em todos os telejornais da emissora. Uma correria. Eu descia de uma entrevista, corria para o outro lado da rua e já pensava na próxima entrada para outro telejornal. Todas as emissoras também entravam ao vivo em uma cobertura dura, difícil e que acabou entrando para a história do jornalismo brasileiro”.

A carreira de Kiki tem outros episódios marcantes, como o naufrágio do Bateau Mouche na noite de 31 de dezembro de 1988. Faltavam dez minutos para a meia-noite quando o barco naufragou em direção à praia de Copacabana, matando 55 pessoas. A jornalista participava de uma festa e o telefone tocou. Era um colega informando o acidente na Baía de Guanabara. “Todos corremos para a Globo do jeito que estávamos e iniciamos a cobertura de uma das maiores tragédias do Rio de Janeiro”.

Rock in Rio

A carreira de Kiki Weissenberg também é cheia de momentos curiosos. Um deles entrou para a história pessoal da jornalista. O ano era 1985. A cidade do Rio de Janeiro recebia o primeiro Rock in Rio. Kiki comandava as entrevistas dos artistas principais, aqueles que ocupariam o palco do evento. “E foi aí que eu dei de cara com o James Taylor de calça jeans, sem camisa, descalço, andando pelo palco à tarde, todo zen. Perguntei se ele podia dar uma entrevista e ele disse ‘Agora não’, aí eu falei: 'Pode me dar um beijo?', ele deu um beijinho e eu falei que não ia mais lavar o rosto”, diverte-se.

Outra passagem que leva à jornalista às gargalhadas: as coberturas de carnaval no Sambódromo. Foram nove ao todo. A cada ano, uma “briga” com os repórteres, mas depois tudo passava. Kiki ficava no meio da bateria e não ouvia as orientações dos diretores. “No meio da bateria você não ouve nada. O diretor falava: 'Fulana entrevista o diretor de bateria' e ela não entrava. Eu nunca ouvia quando chamavam os repórteres e depois levava a maior bronca”.

GloboNews e 'Via Brasil'

Kiki Weissenberg saiu da Globo em 1990 e foi em busca de novas propostas profissionais. Passou pelo SBT, Manchete, TVE, MultiRio, Multishow até que seis anos depois, em 1996, de novo pelas mãos de Alice-Maria, foi convidada a ingressar na GloboNews, onde permaneceu por 20 anos.

Na época, Alice-Maria e Leticia Muhana, que era diretora do GNT, estavam formando a grade do canal a cabo. Kiki começou a fazer o programa piloto do 'Conta Corrente' quando percebeu que muitas reportagens que vinham das afiliadas da Globo não eram hardnews. Alice-Maria pediu, então, que ela fosse juntando material e formatasse um programa com o que não entraria nos telejornais. Nascia o 'Via Brasil', nome criado por Muhana. “Fui montando um programa que mostrasse a cara do Brasil. Não que fosse com o que sobrou de reportagens, mas um programa que mostrasse essa diversidade. Tinha a Alice, a Leticia, que depois voltou para o GNT, a Rosa Magalhães e a Vera Íris Paternostro. Estávamos muito animadas e o programa foi apresentado por oito anos pelo Celso Freitas. O entusiasmo era a marca da GloboNews”.

Webdoc sobre o programa Via Brasil com depoimentos exclusivos ao Memória Globo.

Webdoc sobre o programa Via Brasil com depoimentos exclusivos ao Memória Globo.

O 'Via Brasil' mostra reportagens que revelam a diversidade cultural brasileira. Entre as que Kiki destaca está a de uma cidade no interior do Maranhão em que os habitantes acreditam na existência do lobisomem. Em noite de lua cheia, ninguém sai de casa. “Eles acreditam mesmo em lobisomem. As portas das casas são pintadas de azul com uma cruz branca. As camas são altas como palafitas, porque se o lobisomem entrar eles tem como se esconder…”. O programa é exibido também na grade da Globo.

Kiki Weissenberg deixou a Globo em 2016.

FONTE:

Depoimento de Kiki Weissenberg ao Memória Globo em 27/06/2016.
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