Por Memória Globo, Memória Globo

Bob Paulino/Memória Globo

José Roberto Burnier gosta de grandes histórias. Quanto maior o desafio, melhor o resultado do trabalho. Para o repórter, jornalismo é uma vocação, e o diploma serve para aperfeiçoar o faro pela novidade. Sempre que conversa com estudantes, gosta de alertar: “Se não tiver essa disposição no sangue, desiste, porque não vai dar certo. Não tem burocracia nessa profissão”. Burnier está na Globo desde 1983 e gosta de dizer que foi “gestado profissionalmente em um tubo de televisão”. Tornou-se um repórter que “é pau para toda obra”, como gosta de lembrar: cria pautas, apura, produz, edita matérias e apresenta telejornais. Desde 2018, o jornalista entrou para o time da GloboNews, onde apresentou o 'GloboNews Em Ponto' e 'Conexão GloboNews'. Em 2022, voltou para a Globo, onde comanda o 'SP2'.

A vida é, absolutamente, imprevisível. Eu adoro a televisão justamente porque ela me ensinou, durante todos esses anos, que eu tenho que focar no presente, no que está acontecendo. A minha carreira foi toda recheada, desde o início, de situações absolutamente imprevistas.

José Roberto Burnier na redação durante cobertura do acidente com o voo TAM 3054 (São Paulo) — Foto: Zé Paulo Cardeal/Memória Globo

Início da carreira

José Roberto Sartori Burnier Pessoa de Mello estava quase se formando em rádio e TV na Fundação Álvaro Armando Penteado (Faap), em São Paulo, quando começou a estagiar na EPTV Campinas, afiliada da Globo. Nos anos 1980, cobriu as greves de boias-frias no interior de São Paulo, um marco na luta dos movimentos sociais no país, e descobriu que jornalismo se aprende na rua. Envolvido pela adrenalina do trabalho, confessa que a imprevisibilidade é o que rege sua carreira.

Burnier nasceu em Campinas, no interior de São Paulo, no dia 3 de novembro de 1960. Mudou-se para a capital em 1983, quando aceitou um convite irrecusável: trabalhar no 'Globo Rural'. “O programa sempre teve uma imagem muito forte. A gente costumava dizer que era uma pós-graduação em televisão, pois era feito com um esmero muito grande, uma linguagem diferente daquela do dia a dia. Convivi com Humberto Pereira, José Hamilton Ribeiro, Ivaci Matias”, reflete.

As maiores dificuldades eram não só acordar de madrugada e trabalhar de sol a sol, mas também aquelas inerentes à produção. “É aquela coisa: tentar fazer uma boiada passar numa porteira de tal jeito que o câmera possa registrar – aí não dá certo. Não tem como falar com a vaca para ela voltar. Então, tem de reunir tudo de novo, dar uma volta imensa no pasto. Lidamos com bicho ou planta; eles têm sua sensibilidade, mas não são como gente, que pode pedir para repetir”.

Em 1988, o jornalista passou a trabalhar na redação de São Paulo e participou da cobertura da Assembleia Constituinte, acompanhando a repercussão na capital paulista das decisões de Brasília. Cobriu também a eleição presidencial de 1989, quando foi escalado para seguir a campanha do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Até ser correspondente da Globo em Buenos Aires, em 2004, participou de todas as coberturas de eleições presidenciais.

Reportagem de José Roberto Burnier sobre as corujas brancas, em resposta a carta enviada por menino de Santa Catarina. 'Globo Rural', 23/08/1987.

Reportagem de José Roberto Burnier sobre as corujas brancas, em resposta a carta enviada por menino de Santa Catarina. 'Globo Rural', 23/08/1987.

Bom Dia São Paulo

Entre 1994 e 1996, Burnier foi editor-chefe e âncora do telejornal matinal 'Bom Dia São Paulo'. Acompanhou o cortejo do corpo de Ayrton Senna, em maio de 1994, que levou uma multidão às ruas da capital paulista. O que ficou mais forte em sua memória foi a reação popular à perda do ídolo.

“Um casal de cegos ficou duas horas na fila para passar na frente do caixão do Senna. Eles não podiam ver, mas ficaram. Não aguentei, chorei copiosamente. A cena me emocionou demais”.

José Roberto Burnier no 'Bom Dia SP' — Foto: Acervo Globo

De volta à reportagem, no 'Jornal Nacional', fez matérias sobre a explosão no shopping Osasco Plaza Center e a queda do avião Fokker-100, fatos ocorridos na capital paulista, em 1996. Participou, também, em 1998, da equipe de reportagem que cobriu a chamada “máfia da propina”, um caso de corrupção que envolveu autoridades municipais de São Paulo. Foram mais de 400 reportagens sobre o assunto durante um ano, e muitas ameaças recebidas.

Correspondente em Buenos Aires

Em 2004, a Globo começou a montar um escritório em Buenos Aires. Burnier aceitou o desafio e se tornou o primeiro correspondente fixo da emissora na capital argentina. “Conseguimos transformá-lo em um escritório central da América do Sul. Viajei praticamente para todos os países do Continente. Tenho muita satisfação em ver que a minha menina dos olhos já não engatinha mais, mas aprendeu a andar sozinha”.

O esforço para consolidar o escritório significou muitas vezes trabalhar até 20 horas por dia. Na época, suas matérias eram enviadas para os telejornais de rede e o SporTV, como quando cobriu o drama do craque Diego Maradona, que esteve internado em um hospital de Buenos Aires durante 40 dias.

Durante o período, ele também acompanhou viagens oficiais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por países da América do Sul e conseguiu uma entrevista exclusiva com o então presidente venezuelano Hugo Chávez a respeito do plebiscito, exibida no 'Jornal Nacional' em 2004. Em 2013, voltaria ao país para cobrir a morte do presidente. Burnier entrou, ao vivo, de Caracas para o 'Jornal Nacional'.

De volta ao Brasil

Em 2005, o repórter voltou ao Brasil e precisou se acostumar à rotina de trabalho em equipe. “Na correspondência, a gente trabalha sozinho, porque não dá para montar uma redação em cada lugar. Temos que fazer tudo do zero. Eu me acostumei a ter essa autonomia: custa caro, mas quando vem, é muito saborosa”. A adaptação foi rápida, e Burnier trouxe a experiência que adquiriu morando fora para suas reportagens, principalmente quando atuou como enviado especial: o jornalista prefere fazer ele mesmo a produção desse tipo de matéria.

Conseguir entrar em Honduras para acompanhar a deposição do presidente Manuel Zelaya, em 2009, foi um desses casos. O país caribenho estava agitado, e Burnier, acompanhado do repórter cinematográfico Ronaldo Sousa, cruzou a fronteira de carro, por El Salvador, em direção à capital. Os aeroportos estavam fechados, e o caminho por terra era o único possível. Em Tegucigalpa, a equipe teve acesso à embaixada brasileira, onde Zelaya estava abrigado, e produziu uma reportagem exclusiva para o 'Fantástico', exibida em outubro daquele ano.

Nesse período, participou de importantes coberturas em São Paulo, como a do acidente com o avião da TAM, em 2007 – quando a aeronave que saiu de Porto Alegre bateu em um prédio comercial nas proximidades do aeroporto de Congonhas, causando a morte de 199 pessoas –; o encontro do Papa Bento XVI com 400 bispos brasileiros na Catedral da Sé; e também a investigação do assassinato da menina Isabella Nardoni, em 2008.

Em 2010, José Roberto Burnier foi um dos enviados especiais da Globo ao deserto do Atacama, no Chile, para cobrir o desastre que deixou 33 mineiros chilenos soterrados em uma mina de ouro e cobre durante 17 dias. O resgate das vítimas foi acompanhado por cerca de dois mil repórteres do mundo inteiro. Ainda assim, Burnier conseguiu entrevistar o 13º mineiro a ser resgatado. A reportagem foi exibida no 'Fantástico'.

Quando chuvas fortes provocaram a morte de centenas de pessoas na Região Serrana do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011, o jornalista foi um dos primeiros a chegar às áreas de risco. Acompanhado do cinegrafista Hélio Gonçalves, ele visitou abrigos e registrou o trabalho de remoção de famílias de casas condenadas. Em julho do mesmo ano, assumiu outro desafio: acompanhar as operações policiais de combate ao tráfico de cocaína na fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru, uma reportagem que realizou em parceria com o comentarista de segurança pública Rodrigo Pimentel, para o 'Bom Dia Brasil'.

Em 2012, Burnier participou da cobertura do desabamento de três prédios comerciais no Centro do Rio, na noite de 25 de janeiro. Ele esteve no local e investigou o perfil das empresas que funcionavam naqueles edifícios, em reportagem para o 'Jornal Nacional' e o 'Jornal da Globo'.

Jornalismo como vocação

Burnier acompanhou a luta dos sobreviventes do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria, em 2013. A cobertura do 'Jornal Nacional' sobre a tragédia foi indicada à finalista do prêmio Emmy de 2014. Nesse ano, ele também participou da cobertura da Copa do Mundo no Brasil, produzindo reportagens para o SporTV, acompanhando a seleção argentina, vice-campeã do Mundial. Em agosto, ele correu para Santos para cobrir o acidente com o jatinho que causou a morte do candidato à presidência da República, Eduardo Campos. O jornalista foi um dos profissionais responsáveis por segurar a transmissão ao vivo da tragédia, mostrando o trabalho dos bombeiros. Por essa cobertura, 'Jornal Nacional' e 'Jornal Hoje' concorreram juntos ao Emmy na categoria Notícia.

Em maio de 2015, Burnier acompanhou o drama vivido pelo casal de apresentadores Luciano Huck e Angélica, que, na companhia dos filhos, sofreu um acidente de avião. O repórter conseguiu uma entrevista exclusiva com Angélica para o 'Jornal Nacional'.

José Roberto Burnier fez parte da equipe que acompanhou a Copa do Mundo da Rússia, em junho de 2018. E, a partir de julho, entrou para o time da GloboNews, passando a apresentar o telejornal 'GloboNews Em Ponto', transmitido de São Paulo, de segunda a sexta-feira, das 6h às 9h. Ficou afastado por quase seis meses do trabalho – de julho de 2019 a janeiro de 2020 – para tratar um câncer na língua. Durante a pandemia da Covid-19, o jornalista trabalhou de casa e o telejornal foi apresentado por Julia Duailibi. Ao ser imunizado, assumiu a apresentação, em julho de 2021, do 'Conexão GloboNews', acompanhado de Leilane Neubarth, do Rio de Janeiro, e de Camila Bonfim, de Brasília.

Em 27 de abril de 2022, assumiu a bancada do 'SP2' na televisão aberta, substituindo o colega Carlos Tramontina, que estava à 24 anos à frente do telejornal.

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