Por Memória Globo

Memória Globo

José de Arimatéa Barros, filho de Maria Silva Barros e Benedito Emanuel Barros, perdeu a mãe muito cedo, aos seis anos, e com 12 anos veio morar com um tio no Rio de Janeiro. Na cidade, estudava e trabalhava, primeiro em uma lanchonete e depois como contínuo, ainda menor de idade. A empresa que lhe deu esse último emprego era a responsável pelo programa 'Amaral Netto, o Repórter', exibido na Globo. Encantado com o universo televisivo, recebeu do cinegrafista Chucho Narvaez todo o apoio para aprender sobre câmeras, montagem e iluminação, depois do expediente. Foi adotado profissionalmente e conseguiu uma vaga como assistente no programa. Com o fim da atração, em 1978, passou oito anos na TV Bandeirantes, já como repórter cinematográfico, até ser contratado pela Globo, em 1987.

No jornalismo, você vai em busca do sim o tempo todo, tem que ser positivo. Sempre levei isso em conta na minha vida profissional

Na emissora, participou de diversas reportagens investigativas e viveu momentos de tensão ao revelar a crescente violência no Rio de Janeiro. Em mais de três décadas na Globo, fez trabalhos de destaque para todos os telejornais, além do 'Fantástico' e do 'Globo Repórter', aprendendo rapidamente a se valer de novos equipamentos e tecnologias para levar ao público, de forma corajosa, informação de qualidade. Em 2015, por seu compromisso e dedicação, foi um dos profissionais homenageados pela emissora, que completava então 50 anos.

Trajetória

Contratado como assistente de 'Amaral Netto, o Repórter', a primeira atividade de José de Arimatéa foi participar da cobertura da inauguração do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Em seguida, teve a chance de viajar para sua terra natal. “Quase que eu caio pra trás, porque eu saí de São Luís aos 12 anos, com uma maletinha na mão, e com 17 para 18 eu voltava para o Maranhão na equipe do programa”, relembra.

'Amaral Netto, o Repórter' mostrava sobretudo a Amazônia, estado mais visitado pela reportagem. Com uma câmera Bell & Howell, chamada de “mudinha” por não registrar sons, ele integrou a equipe que apresentou ao país o fenômeno da pororoca, acompanhado de perto por um helicóptero.

Com o fim do programa, José de Arimatéa se transferiu para a TV Bandeirantes, onde ficou de 1978 até 1986. Sua promoção para cinegrafista aconteceu em função dos problemas gerados por manifestações políticas e pela repressão do Exército, em 1979, no Rio de Janeiro. Como havia ruas bloqueadas e os cinegrafistas da emissora não conseguiam chegar para trabalhar, o diretor de Jornalismo pediu que ele pegasse o equipamento e saísse com o jornalista José Roberto Tedesco para registrar os fatos.

“Cheguei na Central do Brasil e os caras estavam virando os carros, estava uma loucura a cidade. Eu filmei ali, depois fomos para a Praça XV, enfim, filmei o dia todo. Nós conseguimos colocar nesse dia uma matéria de dez minutos na Bandeirantes. A partir dali começou a minha vida como cinegrafista.”

Início na Globo

Nessa fase, Arimatéa chegou a trabalhar ao mesmo tempo na Bandeirantes e na TV Manchete, até ser contratado pela Globo, em 1987. Sua primeira matéria na nova emissora foi feita para o 'RJ1', numa época em que a programação cultural da cidade tinha grande visibilidade no telejornal. Ele encontrou a cantora Leci Brandão para divulgar seu show. Na gravação, fez um plano sequência para mostrá-la chegando e entrando no teatro. Ganhou um elogio do chefe na época, Toninho Marins, pela escolha.

José de Arimatéa — Foto: Memória Globo

Aos poucos, José de Arimatéa conquistou espaço e passou a atuar em outros programas, como o 'Globo Repórter'. Nessa época, lembra-se de uma reportagem extensa sobre Copacabana, tratada não mais como “a princesinha do mar”, porque os problemas do bairro se avolumavam. Em 1991, participou da cobertura do segundo Rock in Rio e, no ano seguinte, da Rio-92, dois eventos de porte.

Chacina em Vigário Geral

Matéria de destaque em 1993, a chacina de Vigário Geral, em que trabalhou ao lado da repórter Sônia Bridi, o chocou especialmente. “Você vê aqueles corpos, é uma cena terrível. Nesse tipo de matéria, você tem que ter certo cuidado para trazer as imagens de uma forma que elas possam ir para o ar”, ensina. Em 1995, ao lado do repórter Tim Lopes, o cinegrafista flagrou outro episódio violento e de grande repercussão: o atropelamento de um menino de rua que, após fazer um roubo, foi perseguido a tiros por um taxista e acabou atingido por um ônibus. Durante três dias, a equipe trabalhou disfarçada na Central do Brasil para registrar um assalto, frequente na região.

Reportagens de Sônia Bridi e Domingos Meirelles sobre a chacina em Vigário Geral, Jornal Nacional, 29/08/1993.

Reportagens de Sônia Bridi e Domingos Meirelles sobre a chacina em Vigário Geral, Jornal Nacional, 29/08/1993.

Também marcantes foram as coberturas do desabamento do edifício Palace II, em 1998, quando acompanhou as histórias das famílias que tiveram de se mudar para um hotel, e dos desdobramentos do sequestro do ônibus 174, em 2000, ocorrido próximo da sede da emissora, no Jardim Botânico. “Foi muito forte, aquela menina terminou morrendo pelo erro do policial de fazer a abordagem no momento errado. Aquilo foi forte, mas contou com a participação na verdade de uma equipe, como no Palace também, eram várias equipes e eu estava ali inserido naquele contexto”, explica.

Cobertura da violência

Ao longo da carreira, José de Arimatéa esteve envolvido em muitas outras coberturas de episódios de violência na cidade. Numa reportagem no Morro da Providência, realizada com Marcelo Rezende para o 'Globo Repórter', recebeu ameaças de integrantes de uma facção criminosa. Os bandidos estavam armados e obrigaram a equipe a descer o morro correndo.

A morte do jornalista Tim Lopes, em 2002, serviu de alerta para que os profissionais da emissora redobrassem os cuidados e evitassem se expor em áreas de conflito. “Hoje existem garotos de 12, 14 anos com fuzil na mão, uma mudança grande de 40 anos para cá. A gente tem um esquema de segurança que antes não havia”, assegura.

Viagens com o 'Globo Repórter'

Em seus trabalhos para o 'Globo Repórter', o cinegrafista teve a chance de voltar à Floresta Amazônica, onde praticamente iniciou sua carreira. Das viagens, ficaram lembranças como a reportagem feita com Vinícius Dônola no Lago do Cuniã (RO), um dos locais com mais jacarés do planeta. Para o programa, também se deslocou ao exterior e percorreu uma grande extensão na África do Sul para revelar o país aos brasileiros. Em uma etapa do trajeto, registrou a captura de rinocerontes, com tranquilizantes.

“Havia mais de 60 homens para segurar o rinoceronte. Nisso eu percebi o olhar do bicho, fecho no olho dele e sai aquela lágrima. Foi uma imagem que me marcou.”

Imagem exclusiva de Obama

Escalado para pautas em diversos jornais e programas da Globo, inclusive na TV fechada, como a cobertura do primeiro mandato de Michelle Bachelet, no Chile, realizada ao lado do repórter Tonico Pereira para a GloboNews, José de Arimatéa continuou a atuar em telejornais locais, participando de reportagens de repercussão, como os deslizamentos provocados pela chuva em Angra dos Reis, em 2010.

Na visita do presidente Obama ao Brasil, em 2011, o repórter cinematográfico conseguiu uma imagem exclusiva. Subiu em uma escada, na Cidade de Deus, e ficou esperando uma oportunidade até que deu a sorte de o presidente virar-se em direção a câmera dele, quando estava junto à população. Dois anos depois, acompanhou o Papa Francisco durante sua estada no Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude, e em 2014 novamente pôde fazer a diferença na vida de pessoas que precisavam da imprensa para retratar seus dramas.

“Sempre gostei de trabalhar em matérias de ação, contar a história daquele momento, lidar com o personagem. Você chega ali e vê a dor das pessoas, então eu sempre tive um trabalho voltado para esse lado. E é muito bom quando você faz algo assim e diz: ‘Bom, eu pude ajudar aquela pessoa, a minha imagem ajudou aquela pessoa naquela situação’”

Prêmio Tim Lopes

Com a repórter Monica Marques, denunciou no 'Fantástico' a exploração sexual de crianças feita pelo prefeito de Coari (AM). O depoimento contundente de uma das meninas abusadas se mostrou de importância fundamental para a condenação do político. A reportagem rendeu à equipe, composta também por Giuliana Girardi, Walter Nunes, Abiatar Arruda, Bruno Della Latta, Bruno Mauro e Claudio Gutierres, o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, em 2015.

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Copa do Mundo

Ao longo de sua carreira, José de Arimatéa foi convocado para a Copa do Mundo da França, em 1998. Ficou três meses no país e trabalhou com o jornalista Marcelo Canellas, com quem produziu um 'Globo Repórter' sobre a preparação para a competição.

“Uma coisa forte na Copa do Mundo é ver o mundo inteiro entrando nos estúdios da Globo para conhecer nossa estrutura, porque, na minha visão, nós somos os primeiros do mundo em versatilidade, em jornalismo rápido”, avalia. Na Copa do Mundo de 2014 e na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, também participou da cobertura dos eventos, mas não na equipe que estava nos jogos e competições. Seu trabalho era buscar personagens e acompanhar a movimentação na cidade.

Homenagem e Mudanças Tecnológicas

Com mais de 40 anos de profissão, José de Arimatéa vivenciou mudanças tecnológicas que o levaram a um permanente aprendizado. Dos 100 pés de cota de filmes preto e branco para gravar matérias, nos anos 1970, aos discos que registram 50 minutos em alta definição, hoje, viu o desenvolvimento de equipamentos que tornaram seu trabalho mais ágil.

“Quando preciso, peço ajuda aos meus filhos, que já nasceram com uma tecnologia mais avançada, e é nesse mundo que a gente está vivendo. Conseguir manter um padrão usando esses novos equipamentos é fundamental. A gente tem que estar o tempo todo correndo atrás da velocidade das novas mídias”, garante. Por essa determinação, esteve entre os profissionais homenageados quando a Globo completou 50 anos, em 2015.

José de Arimatéa deixou a Globo em junho de 2022.

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