Jorge Nóbrega conta que demorou a decidir qual profissão gostaria de seguir. Tinha apenas duas certezas: não queria ser nem advogado, nem jornalista – profissões exercidas pelo pai. Escolheu estudar administração de empresas, mas por ironia da vida trabalharia cercado justamente de advogados e jornalistas. Presidente da Globo desde dezembro de 2017, sendo o primeiro executivo de fora da família Marinho a ocupar o cargo, teve seu primeiro contato com a empresa como consultor, em 1997. Em novembro do ano seguinte, os irmãos Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto Marinho deixaram os cargos executivos que ocupavam nas empresas, passando a desempenhar funções estratégicas. A partir desta reformulação, Jorge Nóbrega ocupou o cargo de diretor de coordenação estratégica das então Organizações Globo. Em 2007, foi responsável pela criação da direção de gestão corporativa da organização, cargo que ocupou até ser promovido a vice-presidente executivo em 2012. Em fevereiro de 2022, após a conclusão do programa Uma Só Globo, deixou a empresa. Paulo Marinho, neto do fundador da empresa, assumiu seu lugar na presidência, enquanto João Roberto Marinho foi conduzido à presidência do Grupo Globo.
Início da carreira
Jorge Luiz de Barros Nóbrega nasceu no Rio de Janeiro, em 3 de maio de 1954, filho de um advogado que também atuava como jornalista – chegou a cobrir notícias relacionadas ao mundo jurídico para o Diário de Notícias – e uma dona de casa. Formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas, começou sua carreira profissional na General Eletric, onde ingressou como trainee num programa para formação de executivos da área de finanças. Fez mestrado em Engenharia Industrial na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e chegou a atuar como professor universitário – na Fundação Getulio Vargas e na Faculdade de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
No início da década de 1980, foi convidado pelo Banco Mundial para coordenar alguns projetos desenvolvidos no Brasil, o que o levou a morar em Rondônia e em Brasília. Em Brasília também trabalhou no Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), entre 1986 e 1987. Transferiu-se depois para Assunção, no Paraguai, onde trabalhou como coordenador de um projeto do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Uma viagem de carro ao Brasil, enquanto vivia no Paraguai, acabaria por colocá-lo no caminho que mudaria sua trajetória profissional. Encontrou o amigo Érico Magalhães, que lhe fez um convite para trabalhar com ele na rede de lojas Mesbla. Interessado em voltar para a iniciativa privada, retornou ao Brasil em 1989 e permaneceu na área de recursos humanos da empresa até 1992. De lá, foi para Xerox do Brasil, onde atuou como gerente e depois diretor de Educação até 1995, quando decidiu, finalmente, abrir sua própria consultoria.
Entrada na Globo
Na Mesbla, Jorge Nóbrega conheceria Marluce Dias. A então diretora de Recursos Humanos e Organização da rede de lojas viria a ser diretora geral da Globo anos depois. Foi dela que veio o convite para começar um projeto na Globo: o desenvolvimento de um plano para que a terceira geração da família Marinho fosse inserida de forma racional e eficiente nos negócios.
Consultor especializado empresas familiares, Nóbrega auxiliou a família Marinho na compreensão da natureza de seu negócio e no desenho de estratégias – organizacionais e de posicionamento – que levassem em conta os valores sobre os quais o grupo de empresas estava calcado, mas também sua eficiência empresarial.
A partir de 1997, Nóbrega passou a participar do processo de reestruturação das então Organizações Globo – na época compostas por um grupo de empresas com pouca integração administrativa entre si. Em novembro do ano seguinte, os filhos de Roberto Marinho – Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto Marinho – deixaram os cargos executivos que ocupavam nas empresas, passando a desempenhar funções estratégicas a partir de um Conselho de Administração. Depois desta reformulação, Jorge Nóbrega passou a ocupar o cargo de diretor de coordenação estratégica do grupo, zelando pela articulação e coerência entre as estratégias de negócios das empresas que o compunham. Uma das decisões tomadas nesse período foi que a Globo deveria focar sua atuação no setor de mídia, entendido como sua verdadeira vocação.
Jorge Nóbrega teve papel fundamental no processo de reestruturação financeira da Globo, atuando ao lado do então presidente Roberto Irineu Marinho. O sucesso na condução da renegociação da dívida que a empresa tinha à época levou-a a resolver sua situação em 2006 – o que lhe rendeu o prêmio internacional Latin Finance de reestruturação empresarial daquele ano.
Gestão corporativa
Sob liderança de Jorge Nóbrega, a Globo deu um importante passo no que toca à eficiência administrativa. Em 2007, foi criada a Diretoria de Gestão Corporativa (DGCorp), sob sua gestão, centralizando as áreas de gestão corporativa – assuntos envolvendo finanças, jurídico, planejamento e controle; em suma, o que toca os negócios – das empresas do grupo. “Institucionalizou-se um processo centralizado de aprovar orçamentos, investimentos das empresas, acompanhamento de projetos mais importantes, reportando-se ao Conselho de Administração”, explica.
Em 2012, foi criado um novo desenho legal, societário e organizacional para as então Organizações Globo. A nova estrutura previa cargos de presidente, ocupado por Roberto Irineu Marinho, e de vice-presidente, para o qual foi convidado Jorge Nóbrega.
Neste mesmo ano, o executivo decidiu fazer uma pós-graduação em literatura, na PUC-Rio. Como resultado, escreveu uma coleção de livros infantis: "Pedro fugiu de casa".
Grupo Globo
Juntos e amparados pelo Conselho de Administração, do qual participavam também João Roberto Marinho e José Roberto Marinho, além de outros membros da família e do mercado, Roberto Irineu e Jorge Nóbrega seguiram empreendendo esforços no sentido de uma integração cada vez maior e mais eficiente entre todas as empresas do grupo.
O ano de 2014 foi um marco desse trabalho. Primeiro, houve a mudança na denominação de Organizações Globo para Grupo Globo: “Nós criamos processos de cooperação entre as empresas, criamos instâncias, comitês, grupos de trabalho, áreas em que todas trabalhavam em conjunto. Então, a mudança de Organizações Globo para Grupo Globo foi no sentido de provocar ainda mais integração e mais união”, comenta Nóbrega. Aliado a isso, houve também a revisão do documento Essência Globo, nas palavras do executivo, “os nossos valores, construídos através da história”. E completa: “Somos uma empresa quase centenária e, nesse tempo, fomos construindo uma cultura: o que estamos chamando de Essência Globo. São os nossos valores, aquelas coisas que a gente acredita que nos trouxeram até aqui – e que vão nos ajudar a ir mais longe. Ou seja, aquilo que não muda enquanto todas as outras coisas estão mudando”.
Três anos depois, ao completar 70 anos, Roberto Irineu Marinho decidiu afastar-se do cotidiano executivo das empresas, mantendo-se como presidente do Conselho de Administração do Grupo Globo e conduzindo Jorge Nóbrega ao cargo de presidente. Pela primeira vez na história da empresa, a partir de 2018, a liderança do grupo ficava a cargo de alguém de fora da família fundadora. A mensagem oficial divulgada por Roberto Irineu reafirmava as responsabilidades e compromissos do cargo: “Jorge terá responsabilidade pelos resultados de todos os negócios do Grupo, pelos novos projetos e por implementar o processo de transformação já em curso”.
Jornal Nacional: Jorge Nóbrega assume presidência executiva do Grupo Globo.
No dia 14 de dezembro de 2017, William Bonner e Renata Vasconcellos anunciam o afastamento de Roberto Irineu Marinho da presidência-executiva da Globo e a condução de Jorge Nóbrega, então vice-presidente do grupo, ao cargo .
Uma Só Globo
Honrando o compromisso de empreender um processo de transformação capaz de preparar a Globo para o futuro das comunicações, mantendo os valores que a levaram a ser o mais importante grupo de mídia do país, em outubro de 2018, Jorge Nóbrega lançou o programa Uma Só Globo. “O Grupo Globo tem uma história vitoriosa de transformações e mudanças. Ao longo de nossa existência, criamos empresas e negócios, enfrentamos e vencemos dificuldades, inovamos, erramos e aprendemos com nossos erros. Mudar e evoluir, portanto, é parte do que somos”, afirmou o executivo no lançamento do programa.
A iniciativa previa a unificação das empresas TV Globo, Globosat, Som Livre, Globo.com e DGCorp, otimizando processos, recursos e, sobretudo, compartilhando as boas práticas de cada uma delas, em prol da eficiência e inovação. Com a mudança, que levaria cerca de três anos para estar plenamente concluída, a Globo se tornaria uma mediatech, na qual tecnologia passa a ser vista em sintonia com o conteúdo.
O novo organograma da Globo, uma única empresa com diversos serviços e capaz de criar experiências e conteúdo para diferentes plataformas, foi formalizado em janeiro de 2020, tendo Jorge Nóbrega como presidente. O executivo permaneceu no cargo até o final de janeiro de 2022, quando foi substituído por Paulo Marinho, neto do fundador Roberto Marinho. Em seu lugar como presidente do Grupo Globo, assumiu João Roberto Marinho.
Fontes