Ator de teatro e cinema, colaborador em argumentos e roteiros, Jorge Dória estreou na televisão em 1970, na extinta TV Tupi, no elenco da novela E Nós, Aonde Vamos?. Transferiu-se para a Globo em 1972 para participar da primeira versão do seriado 'A Grande Família', o que lhe trouxe grande reconhecimento. A primeira novela na emissora, 'O Noviço', foi em 1975. Depois de um intervalo em que retornou à Tupi e dedicou-se ao teatro e ao cinema, voltou à Globo no início dos anos 1980 e permaneceu na emissora nas duas décadas seguintes. Entre os papéis de maior destaque está o Conselheiro Vanoli na novela 'Que Rei Sou Eu?' (1989). Também participou de humorísticos como 'Sai de Baixo', 'Os Normais' e 'Zorra Total'. Faleceu em 2013.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Depoimento exclusivo de Jorge Dória ao Memória Globo, 11/03/2002, comentando seu trabalho na primeira versão do seriado A Grande Família
Início da carreira
Se dependesse da família, Jorge Pires Ferreira, ou melhor, Jorge Dória, teria feito carreira como funcionário público do Ministério da Fazenda. E o teatro, o cinema e a TV teriam perdido um de seus atores de carreira mais longa e exitosa. Filho do oficial de cavalaria Alquindar Pires Ferreira e da dona de casa Ruth Pereira Pires Ferreira, Dória, carioca do Maracanã, nascido em 12 de dezembro de 1920, teve educação rigorosa, à moda da época, e formou-se no Colégio Militar. Com pouco mais de 20 anos, na década de 1940, abandonou o emprego estável para seguir a carreira artística, para desespero da família. Fez sua estreia no teatro, trabalhando na companhia de Eva Todor e Luis Iglesias, da qual foi integrante por 10 anos, alternando atuações como comediante e ator dramático.
O começo no cinema foi em um papel coadjuvante no melodrama 'Mãe' (1947), do radialista Teófilo de Barros. Um dos mais importantes estúdios brasileiros dos anos 1940 e 1950, a Atlântida, o contratou para o melodrama antirracista 'Também Somos Irmãos' (1950) e o policial 'Maior que o Ódio' (1951), ambos de José Carlos Burle. Nesse último, interpretou o papel principal e escreveu o argumento, iniciando sua atividade como argumentista cinematográfico. Em 1962, foi um delegado linha-dura no premiado 'Assalto ao Trem Pagador', de Roberto Faria, que lhe rendeu o Prêmio Saci de Melhor Ator Coadjuvante.
Fã de filmes policiais, criou o argumento e colaborou no roteiro de mais dois filmes do gênero:' Amei um Bicheiro' (1952), de Jorge Ileli e Paulo Wanderlei; e 'Mulheres e Milhões' (1961), de Ileli. Assinou também o argumento da chanchada 'Absolutamente Certo' (1957), de Anselmo Duarte, e de outras dezenas de filmes. Apesar disso, não escreveu para os palcos. “Nunca tive a oportunidade de escrever para teatro, porque é um pouquinho mais difícil”, comentou.
Estreia na TV
Estreou na televisão em 1970, na extinta TV Tupi, no elenco da novela 'E Nós, Aonde Vamos?', da cubana Glória Magadan. Foi contratado pela Globo em 1972, para atuar na primeira versão do seriado 'A Grande Família', escrita por Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes. Dória interpretou o funcionário público Lineu, que, na segunda versão, foi vivido por Marco Nanini. “Foi um grande sucesso. Era um programa diferente, todas as cenas se passavam dentro de um ambiente, como se fosse um teatro. É impressionante o heroísmo do personagem na dificuldade financeira, tendo que carregar a duras penas aquela família, com todos os problemas, morando naquela casa”. Com o seriado, o ator teve uma projeção que jamais havia conseguido em outros meios. “Lineu se tornou um personagem muito popular no Brasil. E eu me tornei conhecido. Isso eu agradeço à televisão, ela me divulgou”, comenta.
Sua primeira novela na Globo foi em 1975. Ele era o vigarista Ambrósio de 'O Noviço', adaptação de Mário Lago para a peça homônima de Martins Pena. Depois de um breve período na TV Tupi, em que atuou na novela 'Aritana' (1978), de Ivani Ribeiro, voltou à Globo em 1978, para protagonizar 'O Pulo do Gato'. Na trama de Bráulio Pedroso, ele era o playboy mulherengo Bubi Mariano.
Teatro e cinema
No teatro, destacou-se na peça 'Procura-se uma Rosa', na década de 1960, escrita por Vinicius de Moraes, Pedro Bloch e Gláucio Gill, com direção de Léo Jusi. Os anos 1970 também foram produtivos para o ator no teatro e no cinema. Em 1974, viveu George na primeira montagem da comédia 'A Gaiola das Loucas', de Jean Poiret, com adaptação e direção de João Bethencourt. No cinema, estrelou várias pornochanchadas. “Quando veio o Golpe de 1964, o cinema se paralisou, porque não havia dinheiro, e o governo não apoiava a produção. Então, começaram a fazer pornochanchadas, que eram de uma ingenuidade enorme. Participei muito desses filmes – e me orgulho disso”, comentou. Entre eles, destacaram-se 'Como é Boa a Nossa Empregada' (1973), de Victor Di Mello; 'Oh, que Delícia de Patrão!' (1974), de Alberto Pieralise; e 'Com as Calças na Mão' (1975), de Carlos Mossy. Nos anos 1980, formou parceria nos palcos com o diretor Domingos de Oliveira. Juntos, fizeram 'Escola de Mulheres' (1984), A 'Morte do Caixeiro Viajante' (1986) e 'Os Prazeres da Vida Segundo Jorge Dória'. Estrelou também 'Belas Figuras' (1983), de Ziraldo, e 'A Presidenta' (1988), de Bricaire e Lasaygues.
No cinema, em 'A Dama do Lotação' (1978), viveu Dr. Alexandre, sogro de Solange (Sônia Braga), casada com Carlos (Nuno Leal Maia). Também se destacou em 'O Homem do Ano' (2003), 'Traição' (1998), 'A Dama do Cine Shanghai' (1987), 'Pedro Mico' (1985), 'O Sequestro' (1981),' Perdoa-me por me Traíres' (1980), 'Assim era a Pornanchanchada' (1978), A's Secretárias… que Fazem de Tudo' (1975), entre outros.
Veia cômica
Jorge Dória voltou à Globo no início dos anos 1980 e permaneceu na emissora nas duas décadas seguintes. Desse período, ganhou um de seus papéis de maior sucesso: o Conselheiro Vanoli, de Que 'Rei Sou Eu?' (1989), novela de Cassiano Gabus Mendes. “Eu era o conselheiro chefe dos corruptos. Foi uma novela muito inteligente. De todas as em que trabalhei, 'Que Rei Sou Eu?' é a que o público lembra com mais saudades”. Pela atuação, foi eleito Melhor Ator pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Destacou-se também nas novelas 'O Amor é Nosso' (1981), de Roberto Freire e Wilson Aguiar Filho, e 'Champagne' (1983), de Cassiano Gabus Mendes, em que o seu personagem, Zé Brandão, era um dos suspeitos de assassinar a copeira Zaíde (Suzane Carvalho).
Em 1990, formou uma dupla cômica com Zilda Cardoso em 'Meu Bem, Meu Mal', de Cassiano Gabus Mendes. Na trama, Dória era o Seu Emílio, e Zilda, Dona Elza: o proprietário e a inquilina de um apartamento da periferia paulistana que estavam sempre brigando. Ao longo da década de 1990, participou de diversas novelas e manteve uma grande popularidade, escorada, quase sempre, em personagens cômicos como o interesseiro Ângelo Pietro, em 'Zazá' (1997), de Lauro César Muniz; e Rodolfo “Ruddy” Reis, em 'Era Uma Vez…' (1998), de Walther Negrão. 'Em Suave Veneno' (1999), de Aguinaldo Silva, mesmo aparecendo só a partir do meio da novela, roubou a cena com o carismático Genival, o pai do vidente charlatão Uálber (Diogo Vilela).
Além de participar de telenovelas da Globo, Jorge Dória também atuou em seriados e programas humorísticos da emissora. Participou do programa 'Sai de Baixo', interpretando o personagem Alfredão, no episódio 'Luneta Indiscreta'; e do seriado 'Os Normais', estrelado por Fernanda Torres e Luis Fernando Guimarães, no episódio 'Fazer as Pazes é Normal'. Em 2001, integrou a oitava temporada do infantojuvenil 'Malhação', no papel de Carmelo.
Zorra Total: "Mas onde foi que eu errei?"
Ainda no início dos anos 2000, foi convidado para integrar o elenco do humorístico 'Zorra Total'. No programa, viveu um pai machão desgostoso com o filho homossexual. O bordão “Mas onde foi que eu errei?” caiu na boca do povo. “O comediante, para conseguir o riso da plateia, precisa achar o ritmo, falar diretamente com ela. Tenho muito prazer em fazer humor”, comenta. Em 2005, afastou-se do programa por problemas de saúde, decorrentes de um acidente vascular cerebral.
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Jorge Dória foi hospitalizado no dia 27 de setembro de 2013, no Rio de Janeiro, para tratar de uma infecção respiratória. No dia 22 de outubro, o quadro piorou. O ator teve complicações renais e passou a ser tratado com remédios para manter a pressão cardíaca estável. Morreu no dia 6 de novembro do mesmo ano, aos 92 anos, após complicações cardiorrespiratórias e renais.
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