Por Memória Brasil

Cedoc/ TV Globo

Jovem da classe baixa americana, Joseph Wallach estudou em colégios e faculdade públicos, tendo se especializado em contabilidade. Mas a sua primeira experiência profissional foi na lavanderia dos seus pais. Durante a vida universitária, trabalhou em uma sorveteria, em uma gráfica e, no terceiro ano de faculdade, em um escritório de contabilidade.

A Segunda Guerra Mundial atrapalhou sua trajetória acadêmica. Antes de concluir o curso universitário, ele teve de se apresentar ao exército norte-americano. Foram três anos e meio na Guerra, longe de casa, na Europa. Ele tinha 19 anos e ingressou como oficial da infantaria. Aos 21, foi mandado para a Bélgica, onde foi ferido. Mas o incidente não o impediu de se tornar tenente da Polícia Militar. Durante o conflito, apaixonou-se por uma integrante do exército polonês e, logo após o fim da Guerra, casou-se em Paris. Ela não sabia inglês, nem ele polonês. Eles se comunicavam em um francês precário.

Joe em seu segundo depoimento ao Memória Globo, em 2011 — Foto: Renato Velasco

Joe Wallach ingressou na televisão por acaso, quando se mudou da Pensilvânia para a Califórnia, por causa das crises de asma da sua esposa. Depois de trabalhar em indústrias de borracha e aço, foi contratado para atuar no setor administrativo de uma pequena estação de TV em San Diego. Ele foi empregado como assistente da gerência, mas logo foi promovido a gerente. Quando o grupo de comunicação norte-americano Time-Life comprou a emissora, ele foi incorporado e assumiu o cargo de diretor de televisão da empresa.

Em 1965, Roberto Marinho inaugurou a Globo graças a um acordo com esse mesmo grupo, que lhe deu assessoria técnica. No contrato, a Time-Life se comprometeu a enviar à Globo, na qualidade de assessor da diretoria, um profissional que ficaria responsável pela contabilidade da emissora. A Time-Life asseguraria, ainda, o treinamento da equipe da Globo nas especialidades necessárias à operação técnica. E foi assim que Joe Wallach veio ao Brasil.

J.U. Arce, J.B. de Oliveira Sobrinho, Roberto Marinho, Walter Clark e Joe Wallach — Foto: Memória Globo

Aliando sua experiência com o jeito brasileiro de se fazer TV, ele se tornou um importante nome na história da televisão brasileira. Mas ele quase sempre se manteve longe dos holofotes. De sua sala, ele controlava o setor mais importante para uma operação de sucesso: o caixa. Ele tornou-se o consultor administrativo da Globo.

Mas a adaptação foi difícil. Wallach não falava português e tentava se comunicar em espanhol, no pouco que entendia da língua. Sua função se restringiu a implantar um sistema de gerenciamento financeiro que impedisse prejuízos à emissora, e ele não interferia na programação. Foi Wallach quem convenceu Roberto Marinho a dar a Walter Clark o cargo de diretor-geral da Globo.

Os acordos firmados pela Globo com a empresa norte-americana tiveram a sua legalidade questionada, já que o artigo 160 da Constituição brasileira proibia a participação de capital estrangeiro na gestão ou propriedade de empresas de comunicação. Foi aberta, então, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. Wallach depôs por cinco horas no Congresso. O parecer final considerou que não havia sociedade entre as empresas.

Wallach participou do processo de encerramento do contrato com o Time-Life, em julho de 1971. Ele foi um dos que convenceu Roberto Marinho a ressarcir o grupo do dinheiro investido, o que garantiria a independência da Globo. Internamente, conseguiu aprovar a adoção de critérios contábeis visando o controle financeiro da emissora.

Em 1969, desgastado pela falta de autonomia para implantar os seus conceitos de administração financeira na emissora, pensou em voltar para os Estados Unidos. Mudou de ideia após a garantia de que suas técnicas de gerenciamento seriam postas em prática.

Diretoria da Globo: Boni, Walter Clark, Joe Wallach, José Ulisses Arce — Foto: Memória Globo

Ainda em 1971, Joe Wallach naturalizou-se brasileiro e chegou a renunciar à cidadania americana, até que o Brasil passou a permitir dupla cidadania. Com o fim do acordo com a Time-Life, tornou-se diretor executivo da Globo, posto que o levou a integrar o Conselho Executivo da emissora. Nesse período, trabalhou junto a Boni, na época diretor de programação e produção, na implantação do sistema de transmissão das ondas de TV, o começo do modelo de rede. Como não havia satélite, as transmissões eram feitas por microondas. Wallach contribuiu, ainda, para a formação da Rede Globo através do programa de adesão das afiliadas espalhadas pelo país, e das Centrais Globo, núcleos como o de Jornalismo, o de Produção e o de Engenharia.

Nesse mesmo período, assumiu o cargo de superintendente executivo da emissora. Ainda nos anos 1970, participou da expansão dos negócios da Rede Globo para o mercado internacional: iniciava-se a comercialização de novelas e séries para outros países.

Herbert Fiuza e Joe Wallach no dia do depoimento de Joe ao Memória Globo, em 2011 — Foto: Renato Velasco/ Memória Globo

Joe Wallach deixou a Globo em 1980 e passou cinco anos longe da televisão. Em 1985, fundou, em Los Angeles, a Telemundo, uma emissora dirigida à comunidade latina nos Estados Unidos. Três anos depois, tornou-se consultor da Globo na Telemontecarlo, originalmente uma subsidiária da emissora brasileira na Itália. De volta ao Brasil, em 1991, integrou o grupo responsável pala criação da Globosat. Em cinco meses, ajudou a colocar no ar quatro canais: Multishow, Telecine, GNT e SporTV.

Depois desse projeto, Wallach voltou aos Estados Unidos e passou a conciliar a gerência de uma produtora de programas televisivos com os estudos na faculdade de História na University of California, em Los Angeles (UCLA).

Em 2011, aos 86 anos, Joe Wallach lançou 'Meu Capítulo na TV Globo', pela editora Topbooks, livro de memórias em que ele revela os bastidores dos 15 anos em que foi alto executivo da emissora.

FONTES:

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por Joe Wallach em 19/12/2001 e 25/05/2011
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