Jogador amador de vôlei na adolescência, João Pedro Paes Leme desistiu das quadras quando percebeu que não seria um grande atleta. O destino, porém, tratou de levá-lo ao encontro dos maiores ídolos do esporte mundial, em viagens mundo afora. Como repórter, cobriu temporadas de Fórmula-1, Jogos Olímpicos e Pan-americanos. Assistiu ao pentacampeonato brasileiro na Copa do Mundo de 2002 e ao bicampeonato do tenista Gustavo Kuerten em Roland Garros. Entrevistou o craque francês Zinedine Zidane, cantou karaokê com Michael Schumacher e recebeu, em frente às câmeras, um afetuoso abraço do técnico Bernardinho logo após a conquista da medalha de ouro olímpica pela seleção brasileira masculina de vôlei em 2004. Foi diretor-executivo da Central Globo de Esportes de 2008 a 2016, quando pode usar a bagagem esportiva e a experiência adquirida como correspondente internacional da Globo em Londres e Paris para orientar a produção de reportagens e cuidar do planejamento da cobertura dos grandes eventos esportivos.
Início da carreira
Filho de um advogado e uma tradutora, João Pedro Senise Paes, ainda criança, mudou-se com a família para Miguel Pereira, na região serrana do estado, onde viveu até os 17 anos. Lá, descobriu que queria ser entomólogo, um especialista em insetos. Chegou a estudar cinco semestres de biologia na Universidade Santa Úrsula, no Rio. “Até hoje, sei de cabeça todas as ordens de insetos e alguns nomes científicos”, garante. Ainda cursou um semestre de psicologia, antes de se decidir pelo jornalismo, que estudou nas Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha).
Prestes a terminar a faculdade, começou a estagiar no Jornal do Brasil. Trabalhou no Caderno B, na Revista Domingo e na editoria Internacional, antes de ser contratado pela seção de Esportes. Logo assumiu a cobertura das modalidades olímpicas e começou a ganhar destaque. Em 1995, foi enviado aos Jogos Pan-americanos de Mar del Plata e cobriu o GP de Fórmula-1 em São Paulo. Chateado por ser cortado da equipe que faria os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, pediu demissão do JB e viajou para assistir à competição. Na volta, veio o convite para trabalhar no Esporte da Globo.
Na Globo
Depois de um mês trabalhando como editor de texto, começou a fazer algumas experiências como repórter. “Era uma época de mudanças no Esporte, que ganhava cada vez mais espaço nos telejornais. Queriam trazer pessoas de jornal que dessem mais consistência ao texto da TV”, diz João Pedro, que lembra as dificuldades com o tamanho das reportagens. Julgava-se tímido demais para aparecer em frente às câmeras. “Meu maior problema no início era ser conciso. Estava habituado a escrever muito mais. Depois, descobri que gostava de ser repórter de TV. Você vira um roteirista, escreve uma historinha, dirige a cena em alguns momentos”.
Adaptado, passou a cobrir a temporada de Fórmula-1 em 1998 e virou correspondente internacional, baseado no escritório da Globo em Londres, com ênfase em esportes e comportamento. “Meu desafio na Fórmula-1 era humanizar a imagem dos pilotos e criar um ambiente para as matérias mais próximo do esporte olímpico. Queria mostrar pessoas mais reais, autênticas”, explica. “Fiz boas matérias com o Schumacher, que tem um espírito brincalhão fora da pista. Até participamos de karaokês juntos”.
A passagem de João Pedro por Londres também foi marcada por uma matéria sobre o filho desconhecido de Garrincha na Suécia, fruto de uma aventura amorosa na Copa de 1958, e pela cobertura das vitórias do tenista Gustavo Kuerten, que caminhava rumo ao topo do ranking. “Guga foi o grande ídolo esportivo brasileiro, substituiu um pouco a figura do Senna, era o nosso herói aos domingos. Durante um período de cinco anos, ele teve um desempenho impressionante”, avalia.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc Fórmula 1 (2ª parte: 1991-2008)
Depoimento de João Pedro Paes Leme sobre o tricampeonato de Guga em Roland Garros (2001)
De volta ao Brasil em 2000, João Pedro continuou a acompanhar a Fórmula-1 por mais quatro temporadas. Em meio às viagens, produzia matérias e especiais para os telejornais da emissora e edições do 'Globo Repórter', como os programas sobre a dor e sobre os trabalhadores brasileiros no Japão. A despedida da cobertura do automobilismo veio com a série Ayrton Senna do Brasil, que lembrava os 10 anos da morte do piloto, em 2004. Dividida em três programas – seis edições do 'Jornal Nacional', uma do 'Esporte Espetacular' e outra do 'Globo Repórter' –, a reportagem, feita em coautoria com Pedro Bassan e Sônia Bridi, levou João Pedro a viajar por dois meses atrás de amigos, companheiros e familiares de Senna.
Dos grandes eventos à direção
Fora da Fórmula-1, participou das equipes de cobertura dos Jogos Olímpicos de 2000 e de 2004 e das Copas do Mundo de 2002 e de 2006, além do Pan-americano de Santo Domingo, em 2003. Em 2005, recebeu o convite para ser correspondente em Paris. Sediado na capital francesa por um ano e meio, acompanhou quatro visitas do então presidente Lula à Europa e fez uma entrevista exclusiva com o presidente da França, Jacques Chirac. No entanto, o período ficou marcado pela cobertura que fez do assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes em Londres, morto em uma ação equivocada da Scotland Yard em uma estação de metrô. “Foi um massacre ver um família de brasileiros humildes expostos daquele jeito, enquanto a polícia local buscava encobrir seus erros”, lembra.
Às vésperas da Copa do Mundo de 2006, foi convidado para assumir, após a competição, a chefia de redação do Esporte. Logo no primeiro ano, participou efetivamente do planejamento da cobertura dos Jogos Pan-americanos do Rio, em 2007. “Foi o maior evento esportivo realizado pela Globo. Geralmente, temos 120 pessoas envolvidas em uma Olimpíada, 200 em uma Copa. Lá, tivemos mil colaboradores. Mais do que esporte, falávamos sobre a cidade, a infraestrutura, os serviços. Virou um marco que inspira hoje o nosso planejamento de Copa e Olimpíadas”, destaca.
Em 2008, João Pedro foi convidado a ocupar o cargo de diretor executivo da Central Globo de Esportes e ficou responsável pela elaboração da cobertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e da Copa do Mundo de 2010. “Mais do que apenas cobrir o desempenho dos nossos atletas, o desafio era mostrar também uma cultura e contextualizar o que significa aquele evento na realidade do país. Queríamos transportar o público brasileiro para lá”, afirma. No torneio de futebol, foi criada a 'Central da Copa', programa de sucesso que conferiu uma linguagem mais jovem e descontraída ao programa que apresentava o dia a dia e os melhores momentos da competição. “É um projeto de presente e futuro, em que a pessoa fala para a outra e não para a televisão”, avalia.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc sobre a Copa da Coreia do Sul e do Japão (2002)
Webdoc sobre a Copa da África do Sul (2010)
Em 2010, Paes Leme recebeu pela equipe envolvida na reportagem 'A Morte do Brasileiro no Monte Mulanje no Malawi', o Prêmio Jornalismo TV Globo, na categoria Reportagem Factual de Jornalismo Esportivo.
Em janeiro de 2016, com a extinção da Direção Executiva de Eventos, o jornalista assumiu a Direção Executiva de Esportes e passou a responder pelas duas áreas. Em setembro do mesmo ano, desligou-se da empresa para se dedicar a um projeto pessoal fora do Brasil.
Fora das telas, João Pedro ainda encontra tempo para comandar o Super Ação, projeto social criado em 2004 em sociedade com o técnico de vôlei Bernardinho, que atende jovens da região de Miguel Pereira, com aulas de informática e esporte – cerca de mil crianças são beneficiadas. Bisneto de um crítico literário e filho de uma tradutora, também deu vazão à sua verve literária em 2001, com o lançamento de um livro de contos chamado As Oito Mortes do Imortal (7 Letras, 2001).
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