Por Memória Globo

Val Santana/Memória Globo

A Central Globo de Jornalismo passava por uma grande reestruturação quando a gaúcha Jô Mazzarolo desembarcou em Pernambuco no ano 2000, com uma missão que lhe fora confiada pelo então diretor Evandro Carlos de Andrade (1931-2001): imprimir sua marca à Globo Recife. “Ele me disse: ‘Eu não estou mudando por problemas com a atual diretora ou com a audiência, estou mudando o conceito, e por isso estou escolhendo você’. A redação era pequena, tinha 65 pessoas, hoje tem 96. Tinha quatro ilhas de edição que quebravam muito, tinha carro e câmera que quebravam muito. Mas aí a gente foi melhorando aos poucos e fomos crescendo juntos”, lembra. Jô Mazzarolo foi a responsável pelo lançamento de programas locais de sucesso como o Lance Final e o Nordeste, Viver e Preservar.

Joanilda Mazzarolo nasceu em 31 de janeiro de 1960, na cidade de Veranópolis, numa família de 14 irmãos. Seu primeiro emprego foi como recepcionista num convento de estudantes capuchinhos que tinha uma rádio. “Eu resolvi fazer transmissões externas. Então, acho que esse foi o meu primeiro caminho na comunicação”, conta. Também foi bancária, e estudou Jornalismo na PUC de Porto Alegre. Começou sua carreira como assessora de imprensa de uma ONG, e em 1982 foi contratada pela TV Bandeirantes. “Eu fui repórter durante seis, sete meses, mas não me agradou. Não tive nenhuma vocação para permanecer na reportagem”, diz. Em 1984, foi para a RBS, como editora do telejornal 'Terceira Edição'. Na afiliada da Globo no Sul, onde ficou até 1988, foi também editora da sucursal para o 'Jornal Hoje' e o 'Jornal Nacional' e subchefe de redação, além de ter implantado a TV Santa Cruz do Sul, na cidade homônima.

Entrevista de Jô Mazzarolo ao Memória Globo, 2011. — Foto: Val Santana/Memória Globo

Convidada por Carlos Henrique Schroder, então diretor-geral de Jornalismo e Esportes, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde começou como editora do 'Jornal Hoje'. Passou em seguida para o 'Jornal da Globo' e o 'Jornal Nacional', onde assumiu a chefia de produção. Nessa época, coordenou coberturas importantes, como a da Rio-92. “Nós montamos um grande centro jornalístico no Riocentro, de onde abastecíamos os telejornais. Certa vez, o Francisco José mergulhou na Baía de Guanabara e entrou ao vivo, debaixo d’água, enquanto a gente fazia um link com a floresta”, lembra. Também teve participação ativa nas reportagens sobre o massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996. “Foi aquela coisa de intuição, estava indo para casa e resolvi ligar para a Belém, pois havia o rumor de que poderia ter um conflito no sul do Pará. Era umas 22h e disseram: ‘Talvez tenha o início de uma confusão lá’. A gente deu a informação no 'Jornal da Globo', mas não tinha ideia do tamanho da tragédia, porque a comunicação de Belém com Eldorado dos Carajás era feita via polícia e via rádio. Não tinha telefone e nem existiam satélites naquela época”. Também fez parte do projeto Uniglobo, que tem como objetivo treinar profissionais das afiliadas.

Conheci quase todas as emissoras do Brasil. Eu comecei em Cornélio Procópio, no Paraná, e terminei em Porto Velho

Globo Recife

Charles Tricot, Fernando Rêgo, Mônica Silveira, Beatriz Castro, Francisco José, Eduardo Riecken, Karla Almeida e Jô Mazzarolo, 2009 — Foto: Roberio Rodriges/Globo

Depois de uma rápida passagem pela Paraná, onde assumiu a gestão da afiliada da Globo em Londrina, a jornalista teve a oportunidade de usar toda essa experiência acumulada como diretora de Jornalismo da Globo Recife. Sua primeira tarefa foi unificar as várias afiliadas do Nordeste. “Tive que convencer a redação de que todos somos Globo, com bandeira de TV Paraíba, de TV Gazeta, de TV Bahia, que o nosso concorrente é outro. E aí nós criamos projetos em rede de grande sucesso, como o São João do Nordeste”, conta. Procurou também aproximar mais o espectador da emissora. “Copiamos o Rio, o Bairro que Eu Quero na Vida Real, em que íamos para as comunidades e mostrávamos o que elas tinham de bom e de ruim. Fizemos uma pesquisa junto ao espectador nordestino, que apontou que, para ele, a Globo não cobrava, não voltava, não se comprometia, nem se envolvia. A gente até fazia, mas isso não era percebido. Materializamos isso com um calendário. O prefeito diz que vai fazer uma obra em tantos dias e nós voltávamos lá no dia marcado para cobrar. Nós começamos em 2009 e em um ano foram 42 obras.”

Equipe do Jornal Nacional em Recife (da esquerda para a direita): Karla Almeida (repórter), Duda Amaral ( chefe de redação), Mônica Silveira (repórter), Fernando Rêgo Barros (repórter), Eduardo Riecken ( supervisor dos cinegrafistas), Jô Mazzarolo (diretora) — Foto: TV Globo

Marcos Losekann, Jô Mazzarolo e Eduardo Riecken na festa de 50 Anos do Jornal Nacional. — Foto: Paulo Belote/Globo

Jô Mazzarolo implantou projetos para agilizar o jornalismo e a apresentação de programas tradicionais como o NETV e o 'Bom Dia Pernambuco'; investiu nas coberturas do carnaval e da Paixão de Cristo; coordenou coberturas marcantes, como a da queda do avião da Air France; e criou o portal da internet PE360 Graus e projetos de sucesso – “de público e de renda!”, diz – como o Pernambuco Quero Te Ver, um mergulho na cultura local, com participação do escritor Ariano Suassuna, que durou de maio de 2004 a dezembro de 2005. Não é à toa que a gaúcha de Veranópolis ganhou da Assembleia Legislativa do estado o título de Cidadã Pernambucana.

“Eu acho que na televisão tem espaço para todos, do Alceu Valença ao sanfoneiro que veio lá de Carpina para animar uma festa de idosos.”

A jornalista deixou a emissora em abril de 2023.

FONTE:

Depoimento concedido ao Memória Globo por Jô Mazzarolo em 28/09/2011
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