Por Memória Globo

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No fim dos anos 1960, quando as tramas de capa e espada davam lugar às produções que ambientavam o cotidiano da população brasileira, Janete Clair chegou à Globo. Chamada por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, na época diretor de operações da emissora, ajudou a mudar a trama da novela ‘Anastácia, a Mulher Sem Destino’ (1967). Para reduzir o excesso de personagens criados por Emiliano Queiroz, que dificultava o entendimento da trama pelo público, a autora criou um terremoto e usou como recurso uma passagem de tempo de 20 anos. O objetivo foi atingido e, dois anos depois, Janete Clair se consolidou imprimindo o dia a dia do público com ‘Véu de Noiva’ (1969). Nos 16 anos em que escreveu novelas para a Globo, apresentou aos telespectadores os conflitos pessoais, as transformações sociais e os romances que tanto caracterizavam seus folhetins.

A autora Janete Clair — Foto: Acervo/Globo

‘Irmãos Coragem’ (1970), ‘O Astro’ (1977) e ‘Pai Herói’ (1979) são exemplos de como suas novelas foram importantes para consolidar o estilo que faria sucesso dentro e fora do país. Em ‘Pecado Capital’ (1975), Janete Clair criou uma história envolvente sobre ética e honestidade envolvendo o uso de uma mala cheia de dinheiro, proveniente de um roubo a banco. Entre seus galãs, Francisco Cuoco e Tarcísio Meira se destacavam. Regina Duarte e Glória Menezes interpretavam as mocinhas que tanto cativaram o Brasil. No universo da autora, as tramas vinham acompanhadas de personagens igualmente potentes, como João Coragem, Simone Marques/Rosane Reis, Herculano Quintanilha.

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Depoimento - Regina Duarte: Janete Clair

Depoimento - Regina Duarte: Janete Clair

Nascida em 25 de abril de 1925, Janete Clair estreou na televisão na Tupi, escrevendo a novela ‘O Acusador’ (1964). O início de sua carreira, no entanto, retoma ao começo da década de 1940, quando, aos 13 anos, começou a trabalhar como datilógrafa e, aos 15, foi prestar serviços em um laboratório de análises clínicas de um hospital. Janete Clair entrou em 1943 na Tupi como radio atriz e locutora. Antes de entrar na televisão escreveu mais de 30 radionovelas. O que se seguiu na carreira televisiva da autora é tema do especial do Memória Globo. Navegue pelo universo de uma das pioneiras da dramaturgia na emissora.

'ANASTACIA, A MULHER SEM DESTINO' (1967)

A primeira experiência de Janete Clair foi reformular a trama de ‘Anastácia, a Mulher Sem Destino’. A trama, que não ia bem de audiência, passou por um terremoto e um salto de 20 anos. Estrelada por Leila Diniz, a novela conseguiu recuperar o público, que passou a se interessar pelo novo andamento da história.

Leila Diniz em 'Anastácia, a Mulher sem Destino', 1967 — Foto: Acervo/Globo

'SANGUE E AREIA' (1967)

Adaptação do romance homônimo de Vicente Blasco Ibãnez, ‘Sangue e Areia’ foi protagonizada por Tarcísio Meira e Glória Menezes. A novela se passava na Espanha e acompanhava a vida do toureiro Juan Gallardo, dividido entre o amor de Dolores (Myriam Pérsia), Pilar (Theresa Amayo) e a bela e misteriosa Doña Sol (Glória Menezes).

Tarcísio Meira em 'Sangue e Areia', 1967 — Foto: Acervo/Globo

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Webdoc novela - 'Sangue e Areia' (1967)

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'PASSO DOS VENTOS' (1968)

A trama, que se passava no Haiti, contava a história de Vivian Chevalier (Glória Menezes) e André Cristophe (Carlos Alberto). No entanto, as memórias de Rosana, a falecida esposa de André, atormentam Vivian. O relacionamento interracial de Bienaimé (Jorge Coutinho) e Hanna (Djenane Machado) foi um dos destaques da novela.

Ruth de Souza e Jorge Coutinho em 'Passo dos Ventos', 1968 — Foto: Acervo/Globo

'A ROSA REBELDE' (1969)

Na Espanha do século XIX, Rosa Malena (Glória Menezes) é líder de um grupo de resistência às tropas napoleônicas. Porém, ao se infiltrar na corte, se apaixona pelo capitão do exército do homem que deseja destruir, Sandro de Aragão (Tarcísio Meira). Glória Menezes aprendeu a usar castanholas para interpretar a protagonista que dá nome à história.

Tarcísio Meira e Glória Menezes em 'A Rosa Rebelde', 1969 — Foto: Acervo/Globo

'VÉU DE NOIVA' (1969)

“Em ‘Véu de Noiva’ tudo acontece como na realidade”. Janete Clair imprimiu na trama contemporânea os elementos que a fariam uma novelista consagrada. Diálogos coloquiais próximos à realidade brasileira e uma trama envolvente foram os ingredientes para o primeiro sucesso da autora no horário das 20h. No panorama geral, ‘Véu de Noiva’ instituiu na emissora um novo modo de produzir novelas: saem as tramas capa e espada dos países distantes e entra o dia a dia da população, que passa agora a se ver nas telinhas.

Regina Duarte em 'Véu de Noiva', 1969 — Foto: Acervo/Globo

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Webdoc novela - 'Véu de Noiva' (1969)

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'IRMÃOS CORAGEM' (1970)

João (Tarcísio Meira), Jerônimo (Cláudio Cavalcanti) e Duda (Cláudio Marzo) são os irmãos Coragem, filhos de Sebastião (Antônio Victor) e Sinhana (Zilka Sallaberry). Eles lutam contra o latifundiário Pedro Barros (Gilberto Martinho). Suas histórias na fictícia cidade de Coroado, no interior de Goiás, conquistaram o público. Misturar bangue-bangue com futebol aguçou o interesse do público masculino e, pela primeira vez, os homens admitiram assistir a uma novela.

Tarcísio Meira, Cláudio Cavalcanti, Macedo Neto e Cláudio Marzo em 'Irmãos Coragem - 1ª versão'. 1970. — Foto: Acervo/Globo

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Webdoc novela - 'Irmãos Coragem - 1ª versão' (1970)

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'O HOMEM QUE DEVE MORRER' (1971)

O médico Ciro Waldez (Tarcísio Meira) salva a vida de um homem e o ganha como inimigo. Em ‘O Homem que Deve Morrer’, ao realizar uma cirurgia em Otto Müller (Jardel Filho), Ciro vira seu inimigo, já que usa seu dom mediúnico para lhe transplantar o coração de um homem negro. Otto, superintendente de uma companhia de mineração, é racista.

Jardel Filho em 'O Homem que Deve Morrer', 1971 — Foto: Acervo/Globo

'SELVA DE PEDRA' (1972)

O amor de Cristiano Vilhena (Francisco Cuoco) e Simone (Regina Duarte) é posto à prova quando as ambições do rapaz falam mais alto. Envolvidos em uma trama em que dinheiro e poder ditam as regras, o casal experimenta os desafios da cidade grande, o que faz com que Simone não reconheça o homem que amou um dia. A seu modo, a moça reconstrói sua vida ao forjar a própria morte.

Francisco Cuoco e Regina Duarte em 'Selva de Pedra – 1ª versão', 1972 — Foto: Acervo/Globo

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Webdoc novela - 'Selva de Pedra - 1ª versão' (1972)

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'O SEMIDEUS' (1973)

Reunindo Francisco Cuoco e Tarcísio Meira, dois dos principais galãs da época, ‘O Semideus’ era uma trama de suspense sobre a substituição do industrial Hugo Leonardo (Tarcísio Meira) por seu sósia Raul, também interpretado por Tarcísio. O único que desconfia da mudança é o jornalista Alex Garcia (Francisco Cuoco).

Tarcísio Meira em 'O Semideus', 1973 — Foto: Acervo/Globo

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Webdoc novela - 'O Semideus' (1973)

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'FOGO SOBRE TERRA' (1974)

O embate entre os irmãos Pedro Azulão (Juca de Oliveira) e Diogo (Jardel Filho) se confunde com os conflitos entre os ideais de tradição e progresso. Separados na infância, eles se reencontram após 30 anos, quando Diogo retorna ao Mato Grosso para chefiar a construção de uma represa que afetaria a cidade de Divineia, onde Pedro reside. ‘Fogo Sobre Terra’ teve alterações impostas pela Censura Federal, o que dificultou o andamento da história de acordo com a autora.

Juca de Oliveira em 'Fogo Sobre Terra', 1974 — Foto: Acervo/Globo

'BRAVO!' (1975)

Com o objetivo de trazer para o público a música erudita, ‘Bravo!’ explorou o universo da ópera na história de amor de Clóvis (Carlos Alberto) e Cristina (Aracy Balabanian). Ele, um maestro bem-sucedido que sofre com constantes crises de identidade, redescobre o amor ao encontrar a moça interiorana, que não liga muito para seu sucesso profissional. A autora Janete Clair precisou deixar a produção de ‘Bravo!’ para escrever ‘Pecado Capital’, entregando a trama a seu “aluno” Gilberto Braga.

Aracy Balabanian e Carlos Alberto em 'Bravo!', 1975 — Foto: Luiz Pereira/Agência O Globo

'PECADO CAPITAL' (1975)

Quando a Censura Federal impediu ‘Roque Santeiro’, de Dias Gomes, de ir ao ar no dia da estreia, a solução encontrada foi colocar uma reprise de ‘Selva de Pedra’ no ar enquanto Janete Clair preparava uma trama com os mesmos atores da novela vetada. A história do taxista Carlão (Francisco Cuoco), a operária Lucinha (Betty Faria) e o solitário empresário Salviano Lisboa (Lima Duarte) encantou o país, e ‘Pecado Capital’ entrou para a história da dramaturgia brasileira ao exibir o desfecho do protagonista.

Francisco Cuoco e Betty Faria em 'Pecado Capital', 1975 — Foto: Acervo/Globo

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Webdoc novela - 'Pecado Capital - 1ª versão' (1975)

Webdoc novela - 'Pecado Capital - 1ª versão' (1975)

'DUAS VIDAS' (1976)

Seguindo a tendência do impacto da modernização na sociedade, ‘Duas Vidas’ foi mais uma novela contemporânea em que Janete Clair mostrou valores conflituosos. Dessa vez, as obras do metrô do Catete, na Zona Sul do Rio de Janeiro, e seu impacto como a construção afetava na vida dos moradores do bairro foi o plano de fundo das tramas que conduziam a novela.

Susana Vieira em 'Duas Vidas', 1976 — Foto: Acervo/Globo

'O ASTRO' (1977)

A ascensão do ambicioso mágico e vidente Herculano Quintanilha (Francisco Cuoco) era o mote de ‘O Astro’. Ele conhece Márcio Hayala (Tony Ramos), pertencente a uma influente e rica família, em uma de suas apresentações numa churrascaria. Eles se aproximam, e essa é a porta de entrada para que Herculano ascenda socialmente. A novela teve um remake que reinaugurou a faixa das 23h na Globo, tendo, inclusive, vencido o Emmy em 2012.

Francisco Cuoco em 'O Astro - 1ª versão', 1977 — Foto: Acervo/Globo

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Webdoc novela - 'O Astro - 1ª versão' (1977)

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'PAI HERÓI' (1979)

Tony Ramos estrelou ‘Pai Herói’, história sobre um rapaz que tenta recuperar a história do pai para provar que ele não foi um bandido, como muitos pensam. As tramas paralelas também fizeram sucesso com o público: Ana Preta (Glória Menezes) e Bruno Baldaracci (Paulo Autran) constantemente brigavam, e os embates rendiam cenas engraçadas.

Paulo Autran e Glória Menezes em 'Pai Herói', 1979 — Foto: Acervo/Globo

'CORAÇÃO ALADO' (1980)

Juca Pitanga (Tarcísio Meira) é um artista pernambucano em busca de sucesso que, sabendo que precisaria de Catucha (Débora Duarte) para ascender socialmente, casa-se com ela. Em razão do contexto político da época, ele é exilado e vai embora para o México, acompanhado do irmão Gabriel (Carlos Vereza). Reencontra Catucha anos mais tarde no Brasil. Outro destaque é a cobradora de ônibus Maria Faz-Favor, interpretada por Aracy Balabanian.

'SÉTIMO SENTIDO' (1982)

Luana Camará (Regina Duarte) é uma mulher paranormal nascida no Marrocos, mas de origem brasileira. Quando seus pais morrem, ela volta ao Brasil para reaver sua fortuna, que a essa altura está nas mãos de Antônio Rivoredo (Carlos Kroeber). Luana, em alguns momentos, assumia a personalidade de Priscila Caprice, falecida atriz italiana. As duas não tinham nada a ver, com Priscila sendo bem mais sensual e provocante do que Luana.

Regina Duarte em 'Sétimo Sentido', 1982 — Foto: Acervo/Globo

'EU PROMETO' (1983)

Última novela de Janete Clair, ‘Eu Prometo’ trouxe Francisco Cuoco e Dina Sfat na discussão sobre o preço que um deputado paga para conseguir e manter o prestígio político. Na campanha para senador, Lucas Cantomaia (Francisco Cuoco) se apaixona por Kely Romani (Renée de Vielmond), mas precisa considerar os prós e contras de abandonar sua família estruturada – e bem-vista diante do público – para viver o amor.

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