Ida Szafran veio para o Brasil ainda jovem. Começou sua carreira como radioatriz, adotando o nome de Ida Gomes. Trabalhou na Rádio Tupi e depois na TV Tupi, em programas como o 'Grande Teatro Tupi', 'Câmera Um', além das novelas 'O Morro dos Ventos Uivantes' e 'A Canção de Bernadete', entre outros. Na Globo, o primeiro trabalho foi na novela 'A Rainha Louca'. Ao longo de cinco décadas, atuou em mais de 30 novelas na emissora.
Início da carreira
Ida Szafran nasceu na Polônia, em 25 de setembro de 1923 e, ainda criança, emigrou com os pais para a França, país onde morou até os 13 anos. Com a ameaça da 2ª Guerra Mundial, a família decidiu emigrar novamente, desta vez para o Brasil. Logo que chegaram, a família morou em Niterói, na casa de amigos, e depois se estabeleceram na cidade do Rio de Janeiro.
Na época em que morou em Paris, e durante a escola primária, Ida era sempre a escolhida para declamar textos. Anos mais tarde, já no Brasil, esse talento a levou a tentar a sorte em um concurso promovido pela Rádio Nacional: “Era um programa que se fazia muito naquela época em rádio. [...] um programa de calouros que incluía poesia, música, instrumentistas [...] eu me lembro do poema que eu disse na Rádio Nacional, no Em Busca de Talentos, que se chamava Súplica de Um Menino Pobre. E eu tirei o primeiro lugar. E fiquei profundamente espantada, quer dizer, espantada em termos, porque havia outros candidatos muito bons e eu falava um português que achava que não era ainda perfeito, com dois anos de Brasil. E eu tinha 15 anos exatamente, e eu já gostava disso”, relembrou a atriz. Incentivada com a premiação, Ida participou de outros concursos até que conseguiu um emprego como radioatriz na Rádio Tupi. Começava assim a carreira de Ida Gomes, nome artístico adotado pela atriz.
TV Tupi
Ida Gomes estava na Rádio Tupi quando a TV Tupi começou, em 1951, e a transição de um veículo para o outro foi natural. “Eu acho que devido ao fato de ter sido radioatriz é que eu consegui, digamos assim, eu consegui praticamente passar para a televisão de uma maneira fácil. Porque eu tinha a prática de ler e essa prática de radioteatro. No radioteatro você tinha um ensaio rápido e você tinha que pegar as coisas imediatamente, não tinha tempo”. Essa facilidade com o texto a ajudou a conseguir seu primeiro papel na recém-inaugurada televisão: “O Chianca de Garcia queria começar um determinado teleteatro - não havia novelas ainda, nem nada disso. E o teleteatro clássico, acho que era a História do Teatro Universal, eu não garanto, ele queria fazer Electra, e nenhuma das atrizes de rádio daquele tempo conseguiu decorar aquele texto meio poético de Electra, e eu disse: "Eu vou decorar e vou fazer". Aí eu decorei, passei pelo crivo do Chianca de Garcia e ele disse: "Você vai fazer". Na Tupi, Ida conheceu diversos atores e diretores e participou de vários programas, como o ‘Câmera Um’, dirigido por Jacy Campos, e das novelas ‘O Morro dos Ventos Uivantes’ e 'A Canção de Bernadete', entre outros.
TV Globo
Através do diretor Daniel Filho, que Ida havia conhecido na TV Tupi, a atriz conseguiu seu primeiro trabalho na Globo, uma participação na novela ‘A Rainha Louca’ (1967), da autora cubana Glória Magadan. A partir daí, seguiram-se vários outros trabalhos. Da mesma autora, Ida fez também ‘A Gata de Vison’ (1968) e 'A Última Valsa' (1969). Ainda em 1969, viveu a personagem Lídia em ‘A Ponte dos Suspiros’, primeira novela de Dias Gomes na Globo, escrita sob o pseudônimo de Stela Calderón. Ida acompanhou de perto a mudança na teledramaturgia da emissora, até então marcada pelo estilo capa e espada de Glória Magadan. Já nesse novo formato de tramas mais atuais, a atriz interpretou a vilã Jandira em 'Verão Vermelho' (1970).
Outra transição que Ida acompanhou de perto foi a chegada da cor na televisão. Em 1973, a atriz fez parte do elenco da primeira novela em cores transmitida no Brasil, 'O Bem-Amado', de Dias Gomes. Foi o papel de maior repercussão na carreira da atriz: interpretar a vereadora Dorotéia, uma das três irmãs Cajazeiras – as outras irmãs eram vividas pelas atrizes Dirce Migliaccio e Dorinha Duval –, solteironas reprimidas, amigas do prefeito de Sucupira, e que defendiam a moral e os bons costumes. Alguns anos mais tarde, a atriz reviveu a personagem no seriado 'O Bem-Amado', outro sucesso de público e crítica e que foi ao ar entre 1980 e 1984.
Webdoc sobre a novela O Bem-Amado (1973) com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
Ao longo de cinco décadas, Ida participou de mais de 30 novelas na Globo e trabalhou com diversos autores: Janete Clair: 'O Homem que Deve Morrer' (1971), 'Selva de Pedra' (1972), 'Fogo sobre Terra' (1974) e 'O Astro' (1977); Gilberto Braga em 'Dona Xepa' (em 1977) e 'Corpo a Corpo' (1984); Walcyr Carrasco: em 'Cara & Coroa' (1995) e 'A Padroeira' (2001); entre outros.
A atriz também atuou em minisséries – 'Memórias de um Gigolô '(1986), 'República' (1989) e 'JK' (2006) – e fez participações especiais em séries, seriados e humorísticos como 'Caso Verdade,' 'Você Decide',' Delegacia de Mulheres', 'Malhação', 'Os Normais', 'A Diarista' e 'Sob Nova Direção'.
Cinema e teatro
A carreira de Ida Gomes também se estende ao teatro e ao cinema. Sua estreia nos palcos foi como integrante do Teatro do Estudante, com Paschoal Carlos Magno. Em 1986, trabalhou ao lado de Eva Todor na peça ‘Lily, Lily’ e, em 1989, fundou o Teatro Israelita de Comédia, com o objetivo de difundir a obra e a dramaturgia dos autores judeus. No cinema, fez os filmes ‘A Penúltima Donzela’ (1969), de Fernando Amaral, e ‘Copacabana’ (2001), de Carla Camurati. A atriz também fez a dublagem de dezenas de produções americanas, emprestando a sua voz a personagens de atrizes como Joan Crawford, Bette Davis e Ida Lupino.
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Ida Gomes morreu no dia 22 de fevereiro de 2009, vítima de uma parada cardíaca.
Relembre cenas com a atriz Ida Gomes:
Novela Helena: Leitura do testamento
Novela Helena: chegada na casa de Estácio
Novela O Bem-Amado: Odorico e as irmãs Cajazeiras
Novela De Corpo e Alma: O coração de Betina é doado para Paloma
Novela Pé na Jaca: Elizabeth terá que pedir dinheiro ao pai
FONTES:
Depoimento de Ida Gomes ao Memória Globo em 23/04/2001; in O Globo - 23/09/2023;Revista da Academia Carioca de Letras: edição comemorativa dos 90 anos, 2016: http://www.academiacariocadeletras.org.br/imagens/Revista.pdf; https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa455956/ida-gomes; https://globoplay.globo.com/v/6431048/ |