Por Memória Globo

Zé Paulo Cardeal/Memória Globo

Humberto Pereira na redação do Globo Rural, 2015 — Foto: Bob Paulino/Memória Globo

No século XXI, o gado ainda viaja a pé. O 'Globo Rural' acompanhou 900 animais pelo Pantanal durante dois meses, desde que os vaqueiros juntaram a boiada no curral até ela chegar ao pasto de engorda. Num domingo de manhã, em Aquidauana (MS), o cortejo passou diante de um bar onde os fregueses também viam pela TV a caminhada desses bois na semana anterior. Essa é uma das coberturas citadas por Humberto Pereira, editor-chefe do 'Globo Rural', quando se refere a grandes momentos do programa. Produzido e levado ao ar, sem interrupções, desde janeiro de 1980, o 'Globo Rural' é hoje referência para o telespectador que vive no campo e, também, para quem mora na cidade e se interessa por temas ligados à agricultura, cultivo de alimentos e paisagens naturais.

Início da carreira

Humberto Geraldo Pereira, ao concluir seus estudos secundários, já trabalhava como redator publicitário. Durante 11 anos viveu em mosteiros da Ordem dos Frades Dominicanos, vanguarda da Igreja Católica na época. Os dominicanos preocupavam-se com questões sociais, políticas, econômicas e culturais, e, ainda frade, Humberto fez um curso de cinema de dois anos.

“O pecado está mudando” foi uma das chamadas de capa da revista Realidade de maio de 1968. O autor Humberto Pereira relembra: “Eu tentava mostrar que a noção de pecado estava saindo da moralidade, da preocupação com o sexo e partindo para considerar pecaminosos temas como a injustiça social e a exploração das pessoas”.

A prática de editar publicidade lhe foi muito útil quando entrou para a Globo.

Mudei na minha cabeça a chave do espaço, usada para fazer imprensa falada, para a chavinha do tempo, que a gente usa em televisão”
— Humberto Pereira

O jornalista foi editor do 'Jornal Nacional', 'Jornal Hoje', 'Amanhã' e 'Jornal da Globo' e trabalhou no 'Fantástico'. Participou da edição das primeiras coberturas de eleições diretas ocorridas no país após o regime militar. E ajudou a criar o que chama de “reportagens pedagógicas”, que procuravam ensinar o eleitor como usar seu título e a formular suas opiniões sobre os candidatos. Ele afirma: “Foi importante colocar no ar as eleições não como um evento cheio de números, mas investindo na ótica: ‘eu tenho o direito de votar na pessoa que quero que comande esta cidade, este estado, este país. Não quero mais uma orientação que vem de cima’”.

'Globo Rural'

Humberto Pereira participou diretamente da criação do 'Globo Rural'. Tornou-se editor-chefe e um dos principais formuladores de um programa cuja linha editorial procura dar informações objetivas, serviço, reportagens técnicas sobre cultivos e também tratar da natureza e das paisagens brasileiras. Ele foi concebido e executado como um veículo em rede, transmitido para todo o país, abordando temas técnicos sem termos complexos, tentando aproximar a pesquisa científica do cotidiano rural. A sede da redação fica em São Paulo.

A preocupação com o meio ambiente entrou no ar num momento em que a ecologia começava a ganhar espaço no noticiário e na vida das pessoas. O resultado foi uma empatia com o telespectador, seja ele anônimo ou uma figura conhecida. Romeu Tuma, na época em que foi diretor do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops), encontrou-se com o apresentador e disse: “Vem cá, eu tenho uma criação de porco. Queria conversar com você”.

“Nós fazemos um programa jornalístico”, enfatiza Humberto Pereira. “Não é um veículo de agronomia nem de economia doméstica. Agrônomos e veterinários são importantes como consultores, mas a preocupação é informar. O texto tem que ser o mais claro e simples possível”.

No cotidiano do 'Globo Rural', as pautas se multiplicam, desde as triviais até aquelas que a equipe costuma chamar de “sonhos”, que às vezes precisam esperar anos para serem executadas. A cobertura sazonal acompanha as principais culturas e períodos agrários do país e há muita informação chegando o tempo todo, segundo o editor-chefe: “Recebemos milhares de cartas com sugestões, e também telefonemas, mensagens pela internet e de redes de instituições de pesquisa. E temos pautas que são sonhos; alguns realizáveis, outros não”.

Um sonho realizado foi a série sobre tropeiros, valorizando uma atividade ancestral e que também continua viva no século XXI. Já uma cobertura pioneira no Pantanal começou com a denúncia de que uma usina seria instalada no frágil e rico ecossistema de uma das maiores áreas alagadas do planeta.

Nélson Araújo, Humberto Pereira e Helen Martins no cenário do Globo Rural, 2014 — Foto: Zé Paulo Cardeal/Globo

Entre os temas do programa, o telespectador pode encontrar desde uma matéria sobre as sete plantas que os brasileiros acreditam serem capazes de prevenir o mau-olhado até o aumento da área cultivada com soja na Bahia ou, ainda, uma cobertura que mostra o aumento do número de mulheres à frente de propriedades rurais produtivas no interior de São Paulo.

Humberto Pereira também participou da criação do 'Globo Rural diário', um pouco diferente do semanal na medida em que informa sobre fatos mais imediatos, como a chuva do dia anterior; ou o preço, na terça-feira, do boi que o homem do campo pretende vender na quinta-feira. A revista Globo Rural também nasceu a partir do programa de TV e acompanha e detalha temas tratados por ele.

O agronegócio é uma corrente complexa de muitos elos. O fazendeiro é um deles. Ele poupa aos outros homens o sacrifício de plantar e colher. Por isso nós, aqui na cidade, podemos ser jornalistas, publicitários, industriais, artistas e até astronautas que vão à Lua”.
— Humberto Pereira

Em 2017, Humberto teve participação fundamental no planejamento de séries para outros programas como a viagem pelo Rio Nilo, com Sônia Bridi e Paulo Zero, para o 'Fantástico'.

O jornalista deixou a Globo em dezembro de 2017.

FONTE:

Depoimento concedido ao Memória Globo por Humberto Pereira em 06/06/2007.
Mais do memoriaglobo
Projeto Resgate

Malhação reestreou em maio de 2001 com uma trama mais dramática que o habitual e investindo mais nas campanhas de responsabilidade social.

'Malhação Múltipla Escolha 2001' estreia no Globoplay  - Foto: (Memoria Globo)
Projeto Resgate do Globoplay

Adaptação de obra homônima de Antonio Callado, 'A Madona de Cedro' relata o drama de um homem religioso que contraria seus valores morais em nome do amor.

O roubo de uma obra de arte movimenta 'A Madona de Cedro' - Foto: (Jorge Baumann/Globo)
Dia de alegria!

A atriz Adriana Esteves nasceu no Rio de Janeiro. Estreou na Globo em um quadro do 'Domingão do Faustão', em 1989. No mesmo ano estreou em sua primeira novela, 'Top Model'.

Parabéns, Adriana Esteves! - Foto: (Ique Esteves/Globo)
O telejornal que acorda com o país

Com uma linguagem leve e informal, o telejornal informa as primeiras notícias do Brasil e do mundo para um público que acorda ainda de madrugada.

'Hora 1' completa 10 anos apostando no dinamismo e credibilidade  - Foto: (Arte/Memória Globo)
Fundador da TV Globo

O jornalista e empresário Roberto Marinho nasceu no Rio de Janeiro, em 3 de dezembro de 1904. Foi diretor-redator-chefe do jornal O Globo, aos 26 anos. Criou a TV Globo em 1965 e, em 1991, a Globosat, produtora de conteúdo para canais de TV por assinatura. Morreu em 2003, aos 98 anos.

Roberto Marinho nasceu há 120 anos: relembre a vida do jornalista e empresário - Foto: (Acervo Roberto Marinho)
"Quem cultiva a semente do amor..."

A novela exalta o poder feminino por meio da trajetória de Maria da Paz e traz uma história contemporânea de amor, coragem e esperança.

Relembre Maria da Paz, 'A Dona do Pedaço' - Foto: (João Miguel Júnior/Globo)
Projeto Fragmentos do Globoplay

A novela celebrava o centenário de morte de José de Alencar e se baseava em três obras do autor: A Viuvinha, Til e O Sertanejo.

'Sinhazinha Flô' teve Bete Mendes como protagonista  - Foto: (Nelson Di Rago/Globo)