O ator, diretor e roteirista, que ficou conhecido por interpretar um típico malandro carioca, estudou teatro na década de 1950 e teve uma longa trajetória no cinema e na televisão. Iniciou sua carreira de ator em 1955, atuando como figurante no filme 'Trabalhou Bem, Genival'. Figurou em várias produções até conseguir seu primeiro papel de destaque, no filme 'Esse Rio que Eu Amo' (1960). Até o final dos anos 1950, atuou em diversas chanchadas e, paralelamente, participou de diversos programas nas principais emissoras de televisão da época. Foi trabalhar na Globo em 1967, na novela 'Anastácia, a Mulher sem Destino'. Depois de protagonizar o seriado 'Plantão de Polícia' (1979), afastou-se das telas para assumir a vice-presidência da Fundação das Artes do Rio de Janeiro, mas logo voltou a atuar. Viveu diversos personagens de sucesso na Globo e ainda atuou como autor e diretor no cinema.
Início da carreira
Hugo Carvana de Holanda nasceu em Lins de Vasconcelos, na zona norte do Rio de Janeiro. É filho de Clóvis Elói de Holanda, comandante da Marinha Mercante, e de Alice Carvana de Castro, costureira. Iniciou sua carreira de ator em 1955, atuando como figurante no filme 'Trabalhou Bem, Genival', dirigido por Lulu de Barros. Figurou em várias produções até conseguir seu primeiro papel de destaque, no filme 'Esse Rio que Eu Amo' (1960), sob a direção de Carlos Hugo Christensen, com Tônia Carreiro, Agildo Ribeiro e Daniel Filho.
Até o final dos anos 1950, Hugo Carvana atuou em diversas chanchadas, com diretores como Watson Macedo ('Sinfonia Carioca' e 'Carnaval em Marte') e Carlos Manga ('Guerra ao Samba' e 'Garotas e Samba'). Em 1962, integrou o movimento do Cinema Novo, passando a trabalhar com seus principais diretores, como Ruy Guerra ('Os Cafajestes' e 'Os Fuzis'), Paulo César Sarraceni ('O Desafio'), Leon Hirszman ('A Falecida'), Joaquim Pedro de Andrade ('Macunaíma'), Cacá Diegues ('A Grande Cidade', 'Os Herdeiros' e 'Quando o Carnaval Chegar') e Glauber Rocha ('Câncer', 'O Leão de Sete Cabeças' e 'Terra em Transe'), entre outros.
Mas foi a passagem pelo Teatro de Arena de São Paulo a experiência mais determinante na escolha de seu estilo de atuação: “Naquela época, no meio dos anos 1950, todo jovem ator queria ser um ator clássico, queria ser um ator shakespeariano, queria ser um ator que interpretasse com elegância europeia. Nos anos 1960, participei de um grupo de teatro que foi um grupo transformador, nesse sentido. Esse grupo me obrigou a voltar o olhar para um outro tipo de representação: a representação do homem brasileiro com os seus gestos, com os seus cacoetes, com o seu falar, com o seu ser, que era diferente daquela minha ambição, daquele meu devaneio de ser um ator europeu, imagina! Eu, suburbano, com sonho de ser um ator clássico, fazendo Shakespeare, O’Neill, os grandes autores do teatro. Esse grupo de teatro, chamado Teatro de Arena de São Paulo, me obrigou a mudar o meu foco. E, ao mudar o meu foco, eu me apaixonei por esse novo foco, por esse novo olhar de representação. Então, me dediquei a isso”, analisa.
Junto com o início de sua carreira no cinema, Hugo Carvana participou de diversos programas nas principais emissoras de televisão da época, entre os quais se destacam: 'Câmera Um' e 'Falcão Negro', na TV Tupi; 'Teledrama do Canal 9', na TV Continental; 'Noite de Gala' e 'Espetáculos Tonelux', na TV Rio. No teatro, integrou o Teatro de Arena de São Paulo (Revolução na América do Sul), o Teatro Nacional de Comédia ('O Pagador de Promessas' e 'Boca de Ouro') e o Grupo Opinião ('Meia Volta Vou Ver' e 'Se Correr o Bicho Pega').
Início na Globo
Convidado por Daniel Filho, foi trabalhar na Globo em 1967, na novela 'Anastácia, a Mulher sem Destino', primeiro trabalho de Janete Clair para a emissora. Em seguida, deixou o trabalho na televisão para se dedicar ao cinema. Em 1973, dirigiu seu primeiro filme, 'Vai Trabalhar, Vagabundo', que ganhou o Kikito de Ouro de Melhor Filme, no Festival de Gramado. A comédia, escrita por Carvana e Armando Costa, teve a participação de Wilson Grey, Paulo César Pereiro e Odete Lara, além do próprio Carvana, no papel do malandro Dino.
O ator voltou a trabalhar na Globo em 1975, novamente convidado por Daniel Filho, desta vez para viver o personagem Jacaré, na novela 'Cuca Legal', escrita por Marcos Rey e dirigida por Oswaldo Loureiro. “Eu tinha feito um filme que tinha se tornado um grande sucesso, chamado 'Vai Trabalhar, Vagabundo', em que dirigi e atuei. Nesse filme, involuntariamente, acabei criando um personagem que teve uma empatia com o público muito grande. E que era um personagem alegre, moleque, irreverente, um personagem solto. Ele era um clown, um palhaço. Na hora que o Daniel Filho viu o personagem Jacaré, em Cuca Legal, aí bolou de se fazer uma dupla: um galã, no caso, o Francisco Cuoco, e um amigo alegre, moleque. E eu vim fazer essa novela”, conta. Ainda naquele ano, fez uma participação especial na novela 'Gabriela', adaptação de Walter George Durst para o romance de Jorge Amado. Logo depois, afastou-se do trabalho na televisão para produzir seu segundo filme, 'Se Segura, Malandro', lançado em 1978.
Plantão de Polícia
Voltou à Globo em 1979, para protagonizar o seriado 'Plantão de Polícia', no qual interpretou o repórter policial Waldomiro Pena. O seriado, dirigido por Daniel Filho, teve 80 episódios e durou de maio de 1979 a outubro de 1981 e fazia parte das Séries Brasileiras, que incluía ainda 'Carga Pesada' (1979) e 'Malu Mulher' (1979). Hugo Carvana considera Waldomiro um de seus personagens mais marcantes da televisão. “Esse personagem está inserido na galeria dos grandes personagens populares da televisão brasileira – populares no sentido de que é um personagem que emana das classes mais inferiores –, que retratava o romantismo na imprensa, que já na época começava a entrar em declínio. (…) Ele tinha que subir o morro, tomar cachaça nas biroscas para ouvir, para poder pesquisar e descobrir onde é que estava o criminoso. Hoje já não existe mais isso. (…) Então, o Waldomiro Pena, ele era um dos últimos românticos do jornalismo brasileiro”, disse em entrevista ao Memória Globo.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc seriado - 'Plantão de Polícia' (1979)
Em seguida, o ator viveu o personagem Fonseca, na minissérie 'Quem Ama Não Mata,' escrita por Euclydes Marinho e protagonizada por Marília Pêra e Cláudio Marzo. Na sequência, deixou mais uma vez a Globo para trabalhar em seu novo filme, 'Bar Esperança'. Lançado em 1983, o filme teve Carvana como um dos autores e foi estrelado por Marília Pêra.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc minissérie - Quem Ama Não Mata (1982)
Nos dois anos seguintes, afastou-se da televisão e do cinema para assumir a vice-presidência da Fundação das Artes do Rio de Janeiro, durante o primeiro governo de Leonel Brizola no Estado do Rio de Janeiro. Em seguida, deixou o cargo para voltar a trabalhar como ator no filme 'Avaeté' (1985), de Zelito Viana, e na novela 'Corpo a Corpo' (1984), de Gilberto Braga, na qual viveu o empresário Alfredo Fraga Dantas. Logo depois, trabalhou nas novelas 'De Quina pra Lua' (1985), de Alcides Nogueira, e 'Roda de Fogo' (1986), de Lauro César Muniz, antes de se afastar novamente para filmar 'Vai Trabalhar, Vagabundo 2 – A Volta' (1991).
Na década de 1990, Hugo Carvana participou de diversas obras na Globo: 'Gente Fina' (1990), 'O Dono do Mundo' (1991), 'De Corpo e Alma' (1992), 'Fera Ferida' (1993) e 'Cara e Coroa' (1995) e as minisséries 'As Noivas de Copacabana' (1992), 'Agosto' (1993), 'Engraçadinha… Seus Amores e Seus Pecados' (1995). Em 1998, em outra novela de Antônio Calmon, 'Corpo Dourado', o ator viveu um velho comissário de polícia, parceiro do personagem vivido por Humberto Martins. Em 1999, faria de novo o papel de um jornalista, o Wagner, na novela 'Andando nas Nuvens', de Euclydes Marinho. Ainda naquele ano, foi o pianista Gouveia da minissérie 'Chiquinha Gonzaga' (1999), de Lauro César Muniz. Em 2001, lançou seu quinto filme e o primeiro em que não acumulava a direção com a atuação como protagonista. 'O Homem Nu' foi baseado no conto homônimo de Fernando Sabino, e estrelado por Cláudio Marzo.
Assassinato de Lineu
'Celebridade' (2003): Quem matou Lineu? cena em que Laura revela que matou Lineu.
Hugo Carvana voltou a participar de novelas em 'Um Anjo Caiu do Céu' (2001), de Antonio Calmon. Em seguida, fez 'Desejos de Mulher' (2002), de Euclydes Marinho, e 'Celebridade' (2003), de Gilberto Braga, na qual representou o personagem Lineu Vasconcelos, cuja morte teve grande repercussão junto ao público.
Em 2003, lançou mais um filme, 'Apolônio Brasil, o Campeão da Alegria', protagonizado pelo ator Marco Nanini. O filme foi escrito e dirigido por Carvana. No ano seguinte, viveu o personagem Sinésio Paiva, na novela 'Como uma Onda', de Walther Negrão. E, em 2006, representou o empresário carioca Jorge Sampaio na minissérie 'JK', de Maria Adelaide Amaral, Geraldo Carneiro e Alcides Nogueira.
Em 2007, Hugo Carvana voltaria a viver um personagem malandro e simpático, o Belisário Cavalcanti, na novela 'Paraíso Tropical', de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Pai do famoso empresário Antenor Cavalcanti (Tony Ramos), de quem recebe uma mesada, a despeito de manterem uma relação ruim. Belisário é casado com Virgínia, vivida por Yoná Magalhães, sua companheira em pequenos golpes, que os dois aplicam para conseguir manter certo padrão de vida.
Em 2008, estreou na novela 'Três Irmãs', de Antonio Calmon, no papel de Dr. Andrade, um advogado competente e boa-praça. Em seu último papel para a TV, em 2012, Hugo Carvana interpretou o ex-presidente Jorge Mourão na minissérie 'O Brado Retumbante'.
Cinema
Entre os mais de 60 filmes de Hugo Carvana no cinema estão: 'O Capitão Bandeira contra o Dr. Moura Brasil' (1971), escrito e produzido por ele; 'Quando o Carnaval Chegar' (1972), de sua autoria; 'Toda Nudez Será Castigada' (1973), de Arnaldo Jabor; 'Boca de Ouro' (1990), de Walter Avancini; 'Vai Trabalhar, Vagabundo II' (1991), como ator e diretor; e 'A Casa da Mãe Joana' (2008), que dirigiu.
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O ator e cineasta morreu no Rio de Janeiro em 04 de outubro de 2014.
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