Por Memória Globo

Acervo/Globo

Luiz Gonzaga Blota – ou Gonzaga Blota, como se tornaria conhecido no meio artístico – é filho de donos de cartório, ele se mudou ainda jovem com a família para a capital do estado. Primeiro, foi para São Paulo apenas um de seus três irmãos, Blota Júnior, que ingressou no rádio e começou a fazer sucesso, despertando, assim, o interesse dos demais pelo mundo artístico. Foi ele quem levou os outros irmãos para a cidade, onde Gonzaga Blota também começou no rádio, onde foi desde ator até contrarregra e sonoplasta.

Na Globo

Em 1975, ao lado de Walter Avancini e Roberto Talma, dirigiu sua primeira novela na Globo, 'O Grito', escrita por Jorge Andrade. Ambientada em São Paulo, a história retratava o crescimento desordenado das grandes cidades e os problemas de seus habitantes, através dos conflitos entre os moradores do Edifício Paraíso. O confronto principal girava em torno do menino Paulinho (Marcos Andreas), filho com problemas mentais de Marta (Glória Menezes) que costumava gritar à noite, incomodando os vizinhos. Alguns moradores, então, se mobilizavam para expulsar o menino – em uma atitude que aparentemente influenciou, na época, moradores de um edifício em Ipanema, bairro do Rio de Janeiro, a tentar expulsar uma criança portadora de necessidades especiais. O trio formado por Walter Avancini, Roberto Talma e Gonzaga Blota se repetiu em 1976, na direção da novela 'Saramandaia', de Dias Gomes. Inspirado no realismo fantástico da literatura latino-americana, o autor escreveu cenas que, pelas limitações técnicas da época, deram trabalho à equipe de diretores. O caso mais conhecido foi a cena em que a personagem Dona Redonda (Wilza Carla) explode depois de tanto comer.

Saramandaia - 1ª versão: Explosão de Dona Redonda (Wilza Carla)

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Ainda em 1976, Gonzaga Blota substituiu Daniel Filho (a partir do capítulo 41) na direção da novela 'Duas Vidas', de Janete Clair. A novela narrava a história dos moradores de uma rua no bairro carioca do Catete, desapropriada para a construção do metrô. Ao assumir a direção, Gonzaga Blota fez várias mudanças na trama, tentando superar a baixa aceitação do público e as imposições da censura. A construção do metrô era uma obra do governo federal, e não podia ser criticada na televisão.

No ano seguinte, Gonzaga Blota substituiu Daniel Filho novamente, na novela 'Espelho Mágico', de Lauro César Muniz. Desta vez, o diretor assumiu a novela a partir do capítulo 21, ao lado de Marco Aurélio Bagno. Os personagens principais eram o casal de atores Diogo Maia (Tarcísio Meira) e Leila Lombardi (Glória Menezes), que eram escalados para estrelar a novela 'Coquetel de Amor'. A existência de uma novela dentro da outra representou o principal desafio da equipe, já que a trama fictícia também demandava todos os preparativos que envolviam a produção de uma produção de verdade. Em 1977, mais uma vez, ele substituiu Daniel Filho, a partir do capítulo 31, na direção da novela 'O Astro', de Janete Clair. A produção fez grande sucesso, principalmente por conta do mistério em torno do assassinato do personagem Salomão Hayala (Dionísio Azevedo). Nesta novela, depois de anos longe da frente das câmeras, Gonzaga Blota fez uma pequena participação como ator. Ele voltaria a fazer uma ponta no ano seguinte, na novela 'Dancin’ Days', de Gilberto Braga, outro sucesso da Globo. Nesta, Gonzaga Blota também substituiu o diretor Daniel Filho, a partir do capítulo 27. Posteriormente, ele próprio seria substituído por Dennis Carvalho, Marcos Paulo e José Carlos Pieri.

Em 1978, Gonzaga Blota foi um dos diretores que substituiu Walter Avancini na novela 'Sinal de Alerta', de Dias Gomes e Walter George Durst. No ano seguinte, ao lado de Roberto Talma, novamente entrou no lugar de Walter Avancini em 'Pai Herói', de Janete Clair. Em 1979, ao lado de Walter Campos, substituiu Gracindo Júnior e Sérgio Mattar, a partir do capítulo 35, na direção de 'Marron-Glacé', de Cassiano Gabus Mendes.

Gonzaga Blota e Roberto Carlos nos bastidores de 'Marrom Glacé', 1979. — Foto: Nelson Di Rago/Memória Globo

Em 1980, Gonzaga Blota começou a ser creditado como diretor geral, em 'Chega Mais', novela de Carlos Eduardo Novaes. Os diretores eram Walter Campos e Roberto Vignati. Curiosamente, a cena do casamento dos personagens Tom (Tony Ramos) e Gelly (Sônia Braga), mostrada no primeiro capítulo, contou com a participação de garçons que eram personagens da novela 'Marron-Glacé', de 1979, também dirigida por Gonzaga Blota. Ainda em 1980, foi supervisor de direção da novela 'Plumas e Paetês', de Cassiano Gabus Mendes. No ano seguinte, acumulou a direção geral e a supervisão da novela 'O Amor É Nosso', escrita por Roberto Freire, Wilson Aguiar Filho e Walther Negrão. Depois disso, Gonzaga Blota dirigiu ainda outras novelas – 'O Homem Proibido' (1982), de Teixeira Filho, baseada na obra homônima de Nelson Rodrigues. 'Paraíso' (1982), de Benedito Ruy Barbosa, 'Pão Pão, Beijo Beijo' (1983), de Walther Negrão, 'Voltei pra Você' (1983), de Benedito Ruy Barbosa, e 'Amor com Amor se Paga' (1984), de Ivani Ribeiro – antes de assumir, com outros colegas, a direção de um dos maiores sucessos da história da Globo: a novela 'Roque Santeiro' (1985), de Dias Gomes e Aguinaldo Silva.

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Depois de 10 anos, 'Roque Santeiro' era finalmente regravada e exibida. A novela havia sido censurada em 1975, e não chegara a estrear. Nesta produção, Gonzaga Blota chegou a comandar gravações de cenas envolvendo 500 figurantes, 30 técnicos e 20 atores e atrizes. Além disso, a novela se valeu de um recurso incomum para a época: foram gravados dois finais, no estilo do filme Casablanca, nos quais a viúva Porcina (Regina Duarte) fica na dúvida se embarca com Roque Santeiro (José Wilker) em um avião ou se continua com Sinhozinho Malta (Lima Duarte) – este último prevaleceu.

Dois anos depois, em 1987, dirigiu outro sucesso da emissora, a novela 'O Outro', de Aguinaldo Silva, protagonizada por Francisco Cuoco, que vivia dois personagens idênticos fisicamente, embora sem relação entre si. Em 1988 dirigiu 'Fera Radical', de Walther Negrão, que trazia Malu Mader no papel de Claudia, uma jovem que chega à cidade interiorana de Rio Novo para investigar os culpados pela morte de sua família, ocorrida anos atrás. Gonzaga Blota dirige, em 1989, em outra novela de destaque da Globo, 'O Salvador da Pátria', de Lauro César Muniz. A novela inspirava-se na conjuntura política da época, marcada pela primeira eleição direta para presidente da República no país após quase 30 anos.

Nos anos 1990, depois de dirigir novelas como 'Gente Fina' (1990), de Luiz Carlos Fusco e Marilu Saldanha, 'Pedra Sobre Pedra' (1992), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, 'O Mapa da Mina' (1993), de Cassiano Gabus Mendes, e 'Tropicaliente' (1994), de Walther Negrão, Gonzaga Blota embarcou no projeto de 'Malhação', que estreou em 1995. Destinado ao público jovem, o programa inaugurou um novo conceito de teledramaturgia na emissora, em que a novela não tinha previsão de término. Gonzaga Blota foi um dos primeiros diretores do seriado.

Malhação (1995-1996): Abertura

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No ano seguinte, dirigiu outro programa de formato inusitado, a novela 'O Fim do Mundo', de Dias Gomes. Inicialmente, ela havia sido concebida como minissérie, mas acabou sendo levada ao ar pela emissora como uma novela em formato reduzido – foram só 35 capítulos, contra os mais de 150 que costumam durar uma novela comum.

Além de novelas, Gonzaga Blota dirigiu humorísticos como 'Chico Anysio Show', nos anos 1980, episódios do 'Caso Especial', como 'O Crime de Zé Bigorna', de 1974, e, em 1979, o seriado 'Carga Pesada'. Este último fez grande sucesso, e representou um desafio a mais para os diretores (além de Gonzaga Blota, Milton Gonçalves), já que cerca de 90% dos episódios foram gravados em externas, com muitas cenas noturnas.

Bete Mendes e Gonzaga Blota nos bastidores da 1ª versão de 'Carga Pesada', 1979. — Foto: Acervo Globo

Em meados dos anos 1990, depois de 40 anos trabalhando com televisão, Gonzaga Blota se aposentou e foi morar em Araruama, no interior do estado do Rio de Janeiro.

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O diretor morreu em novembro de 2017, aos 89 anos, em decorrência de um ataque cardíaco.

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